Volume 1
Capítulo 25: Os Senhores da Tempestade
— Você acredita nos males do Velho Mundo? — perguntou uma menina-demônio de longos cabelos loiros que serpenteavam sobre os ombros de seu vestido cinza, avaliando o despreocupado colega com olhos doces e vermelhos.
— Quem se importa com isso? — respondeu o garoto sentado no piso, com as costas apoiadas em uma das colunas, que aproveitava a brisa que soprava com um ar preguiçoso. Usava vestes escuras e uma máscara cinza, com o desenho de uma lua negra que cortava verticalmente o lado esquerdo de sua face, cercada por algumas estrelas da mesma cor.
— Duvido que nunca se perguntou sobre o que realmente existe do outro lado.
O garoto se voltou para a colega que o encarava com um olhar zeloso, mas sentia que algo a mais estava escondido atrás daqueles olhos profundos e sedutores.
Virou o rosto meio sem jeito e passou a encarar as gravuras que escalavam as paredes do castelo. Estavam em um imponente salão que honrava a história dos antigos imperadores de Vespaguem, de frente para a sacada.
— Os Humanos, não é? — disse, enquanto passava a avaliar a imagem de uma besta bípede e gigantesca, que, apesar de ostentar uma grande couraça rochosa, era dono de uma fisionomia atlética e de uma presença imponente, capaz de atormentar qualquer Demônio. Uma das representações dos grandes terrores que, segundo as velhas lendas, reinavam muito além da Grande Barreira.
— Pensar no que aconteceu. Pensar no que está pela frente… tudo isso me assusta — alegou ao encolher as pernas e agarrar os joelhos em um abraço. — Já não sei mais o que realmente importa.
O jovem mascarado se aproximou da sacada e encarou o horizonte como se escolhesse com cuidado as palavras.
— Todos temos medo de algo… Por mais que seja duro admitir, não somos diferentes. — Ele abaixou a cabeça olhando o abismo a seus pés. — Disso não podemos fugir. Se quer mesmo algo para se agarrar, devore tudo em seu caminho. — Olhou para o lado como se quisesse que a Demônia se aproximasse. — Até mesmo dentro de seus sonhos.
Ela soltou um pequeno sorriso debochado.
— Falando assim, você não parece muito diferente dos monstros lá fora.
O garoto se virou, revelando seus profundos olhos castanhos que, naquele momento, pareceram enfeitiçá-la.
— Nesse caso, talvez eu seja um Humano também.
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As chamas intensas e vorazes reinavam sobre as pedras quentes, lançando um bafo escaldante pelas redondezas e os destroços incandescentes do Sombrio, pego pela fúria da imperatriz, se perdiam ao vento, enquanto via a criatura encouraçada no céu sumir no horizonte cinzento.
A onda de destruição à volta, gerada pela pequena demostração de seu poder, parecia ter alimentado ainda mais o ímpeto das tropas que já começavam a recobrar a compostura. Sabia que as forças imperiais controlariam sem grandes dificuldades o restante da horda de Sombrios que agora, sem os comandos de um Humano, já não se movia de forma coordenada.
Com um olhar melancólico, ela bateu suavemente seu longo cetro contra o chão, assim, um círculo de fogo com gravuras tortuosas e dançantes ganhou forma. Sem demora, a soberana e toda área dentro do pequeno círculo à volta de seus pés foram tomadas por densas e revoltosas labaredas, as quais não pareciam incomodá-la. Elas se alastraram e tragaram Turcarian, que sumiu entre as chamas.
Dessa forma, dentro de Vespaguem, em uma grande torre situada nas cercanias da Grande Barreira, a mais alta da região, uma pequena chama surgiu sobre o piso. Ela cresceu exponencialmente conforme avançava em linha reta até dar forma a uma silhueta flamejante. Dela, se revelaram as curvas e as feições de Turcarian, emanando, em sua chegada, uma aura pesada e impetuosa.
— Vejo que já está de volta — disse Faenis, acomodada sobre uma poltrona, manipulando, com o dedo indicador, uma taça de cobre, em círculos.
— Você me parece nenhum pouco preocupada.
— Já imagino o que aconteceu lá fora.
Turcarian a encarou, contrariada.
— Como esperávamos, os extramuros apareceram…
— E então?
— Era apenas uma horda de reconhecimento. Eles ainda estão tentando entender o que está acontecendo. — Turcarian levou uma das mãos sobre a testa e com a outra se apoiou na parede, antes de apertar o punho, com raiva. — O que aquela peste pensaria de tudo isso?
Faenis não conseguiu esconder um sorriso presunçoso.
— Certamente em algo que causaria mais problemas.
— Como se nós precisássemos disso. — Inquieta, Turcarian caminhou até a sacada. — Não demorará para Vespaguem seguir caminhos tortuosos.
— Está bem com isso? Imaginei que ficaria mais aflita com todo esse caos. — Faenis se levantou. — Se estivesse, não a culparia.
— Talvez seja porque muita coisa já aconteceu nos últimos meses.
Faenis andou alguns passos, apoiou um dos ombros na entrada que acessava a sacada e admirou as costas da soberana.
— O que você fará agora?
Em um movimento lento e sedutor, os olhos vermelhos e intensos de Turcarian se voltaram para a Guardiã. A luz do entardecer banhava sua face e o vento forte que soprava no alto da torre esvoaçava seus longos cabelos dourados e a cauda de seu vestido rubro-negro.
— Nos prepararemos para a tempestade.
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