Volume 4
Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ①
Naquela manhã de terça-feira, todos decidimos acompanhar o treino matinal de Rentaro. Foi difícil manter o ritmo do trote, mas tentei ao máximo ficar na velocidade que Rentaro manteve. Avançamos alguns metros, e Teru ficou extremamente exausto. Tatsuhiro e Makoto também mostraram sinais de cansaço, eu incluso. Não sou acostumado a ficar tanto tempo correndo.
As garotas também nos acompanharam. Pensei que, após conversar com Yonagi, minhas incertezas sobre nossa relação seriam esclarecidas e resolvidas. Assim, poderia encarar normalmente como fazia antes. Mas isso se provou impossível.
Ainda mais pela questão de ela estar evitando se aproximar de mim.
Ela corria junto às garotas, mas focou-se em correr e não em conversar. E desviava o olhar rapidamente quando olhávamos na mesma direção. Também fiquei bem desconfortável e era uma sensação estranha, mas ao menos tive certeza de que não foi por algo ruim que tinha dito. Quer dizer, foi isso, certo?
Portanto, decidi me concentrar na corrida.
Kuroi e Himegi corriam juntas, conversando sobre todo tipo de coisa e rindo. Teru tentava se aproximar delas, mas Kuroi apressava o passo, deixando-o para trás. Que problema...
Além disso, não houve como fazer Teru mudar de ideia sobre querer se confessar para ela no teste de coragem. Que seja, também decidi fazer o meu movimento.
Tanta pressão social era assustadora, mas me influenciou estranhamente. Meu coração batia até mais forte... oh, talvez seja pela corrida. Opa, parece que comecei a respirar de maneira irregular, então melhor reduzir meu ritmo...
Me afastei de Rentaro e quase no mesmo instante as garotas se aproximaram dele. Sakuya e Tomoyo deixavam Yonagi ao lado do atleta e subitamente os deixavam sozinhos. Elas queriam tanto que os dois conversem assim?
Ah, perdi o ritmo de novo. Pensar naquela conversa de ontem me desestabilizou... que droga, tentar entender tudo o que ela me disse parecia até o enigma do milênio... era um péssimo hábito de ler as entrelinhas...
Cambaleei um pouco, mas consegui me manter em pé. Havíamos cruzamos algumas quadras depois do ryokan. Basicamente estávamos seguindo até o parque como da outra vez, daríamos uma pequena volta nele e voltaríamos para irmos ao jogo. Rentaro era bem rigoroso com o treinamento, e pelo visto Yonagi levou a sério do mesmo jeito. Sua postura era perfeita e mal mostrava sinais de cansaço.
Eles conversavam tranquilamente enquanto mantinham o trote, e as primas de Yonagi riam animadas atrás deles. Em pouco tempo chegamos no parque e começamos o trajeto de seu contorno. Estranhamente ver todo aquele cenário verde era revigorante e dava vontade de continuar correndo. Seria isso o que chamam de “sentir a natureza”?
Em dado momento, realmente gastei minhas energias correndo e parei um pouco para descansar, e ao olhar para trás percebi que o resto do pessoal fizeram o mesmo. Yonagi e Rentaro continuaram trotando, no entanto. O percurso do parque tinha várias trilhas decoradas pelas árvores e ornamentos, dando uma bela paisagem e, admito, um local romântico. Os dois pareciam felizes acompanhando um ao outro, fazendo as garotas ressoarem de empolgação. Makoto e Tatsuhiro também pareciam gostar da cena, o que me fez refletir sobre essa visão.
***
Retornando ao ryokan, nos organizamos para sair. Rentaro foi na frente para se encontrar com o time. A van do tio Ikishi ficou cheia e agitada mais uma vez, isso porque agora incluiu Kiyoshi, que insistiu em ficar ao meu lado, de Makoto e Teru.
O que esse irmão mais velho metido quer tanto comigo, afinal?
— Esta é a fileira dos garotos, certo? — brincou Kiyoshi.
— Não fala isso... — murmurou Tatsuhiro. Ele teve que ir na fileira de trás com Himegi, Kuroi e Ayase.
Na última fileira foram novamente Yonagi, Rentaro, Tomoyo e Sakuya. As duas primas riam juntos e faziam brincadeiras, agitando todo mundo. Somente tio Ugawa não foi conosco (até porque não tinha mais espaço), sua cara ficou pior do que ontem e pareceu meio resfriado. As noites sem dormir o deixaram ainda mais desgastado por causa do filho, senti a própria Yonagi intrigada de querer saber mais a respeito.
Ao chegarmos no estádio, estacionamos a van em um local próximo e na entrada houve uma fila imensa, fazendo várias curvas por entre o perímetro. Visualizei vários seguranças rodeando os torcedores, fazendo revistas em seus pertences. Após a confusão que foi no dia anterior, medidas drásticas foram tomadas.
— Ação da prefeitura, sem dúvidas... — comentou tio Ikishi. — O que aqueles malucos fizeram foi demais. Passaram dos limites.
Senti um clima de apreensão pairando sobre todos. Tio Ikishi recebeu uma ligação e se afastou de nós para atender o celular ao entrarmos na fila gigantesca. Rentaro foi na frente e desapareceu entre a multidão, e hoje enfrentará um dos times de nossa escola. Caso qualquer uma das escolas perca duas vezes, será uma vitória disparada para a outra.
— Querem estender isso em dois times da mesma escola? Não faz sentido para mim... — retruquei.
— Isso é meramente para que aja a possibilidade de um empate... — explicou Yonagi. — Basicamente, querem que o público consuma mais por aqui pelo entretenimento.
— É ainda mais presunção já que o time da escola da cidade perdeu feio no primeiro dia...
Apesar da segurança rigorosa, a revista não foi demorada, já que não tínhamos levado nada como bolsas ou mochilas. Conseguimos bons lugares a tempo de o jogo começar. Sabia que o primeiro jogo daquele dia seria do time de Rentaro, mas o time de Takahashi jogará contra ele naquele jogo?
Será um jogo épico, no mínimo.
Porém, minha visão se direcionou para outra coisa que não foi o campo ou os jogadores entrando nele. Kirisaki estava próxima de nós, mas parecia não ter nos reparado. Meu coração bateu forte, mas estranhamente não foi da mesma forma das vezes anteriores... um senso de confusão surgiu em minha mente. Não soube o que fazer, ou como agir.
Realmente esperava que a veria no campo em algum momento. Pensei em várias maneiras de me aproximar e fazer perguntas comuns como: — O que está achando do jogo? —, ou: — Para quem do time está torcendo para marcar um gol?” —, ou ainda: — Não sabia que gostava de futebol... —, mas por qual razão todas essas perguntas tinham de ser sobre o esporte se nem ao menos estou interessado no resultado?!
Oh, não... se fosse excluir aquelas opções, não restou nada que possa usar para me aproximar. Droga, preciso pensar em frases prontas! Frases prontas! Hein, será que este é o mesmo sentimento de ensaiar para uma peça, afinal?
Por acaso as garotas são o público avaliador e eu sou o ator que precisa impressioná-los? Qual era a diferença?
Enquanto minha cabeça se afundava em comparações inúteis, Himegi exclamou ao meu lado para a direção dela:
— Oh, Kirisaki! Então veio ver o jogo também?!
— Himegi, não é? Que legal vê-la por aqui! — Ela fitou a todos. — Parece que todo o clube de literatura veio... até Shiroyama.
— É... oi... — levantei a mão para cumprimenta-la. Acho que minha voz baixa nem chegou em seus ouvidos por causa da multidão, mas ela balançou a cabeça de imediato.
Estava estagnado a segundos atrás, e só precisou de uma palavra dela para que me fazer agir no automático. A sensação esquisita me assolou mais pesarosamente... o que deveria estar fazendo?
Era melhor deixar para falar com ela em outro momento... sim, era o melhor...
— Kirisaki, venha ficar com a gente! — exclamou Himegi.
Aquele convite sincero dela me fez pular no mesmo lugar... oh, como odeio fazer isso...
— Não importa quantas vezes veja isso... sempre é engraçado! — Kuroi zombou.
O que está fazendo, Himegi?! Você poderia me dizer? Por acaso quer me matar de ataque cardíaco?! Seria aquilo uma frase específica escrita num Death Note para que ative minha morte? Oh, já consigo até ver um Shinigami próximo...
Kirisaki aceitou o convite de imediato e subiu para a nossa fileira. Ainda... ficou no meu lado. De repente, toda a torcida vibrou com o alinhamento dos jogadores no campo para o início do jogo. Oh, boa hora! Com isso, ela não viu minha cara de espanto e vergonha!
Com o jogo iniciado, toda a atenção de todos estavam nos jogadores. Rentaro, como sempre, avançando e fazendo passes precisos para o time. Eles não jogavam contra o time de Takahashi, então não mediavam suas tentativas para ir até o gol, e tão logo marcaram seu primeiro ponto. A torcida vibrou intensamente.
O time de Rentaro repetiu a dose do dia anterior, impressionante. Aquele cara tinha um fôlego enorme para correr longas distâncias apenas para auxiliar seus parceiros... era uma habilidade especial despertada. Só poderia ser.
Tão logo notei que por estar entretido com o jogo, não percebi quando Kirisaki se aproximou no meu ouvido e cochichou:
— Parece que perdeu o medo de usar máscara, não é?
— !!
Oh! Oh! E... Ei! Na... Não faça isso de repente! Meu coração bateu forte agora! Oh, está batendo muito rápido! Uh, o perfume dela se aproximou no meu nariz. Seu rosto está perto! Muito perto!
— Ah... um pouco, eu acho... — disse, desviando o olhar.
— Fico feliz. Todos eles parecem ser pessoas ótimas... — Ela esboçava um sorriso sincero e gracioso. Não importa se ela havia uma cicatriz em sua boca, aquele sorriso era muito lindo.
— Bom... — Murmurei, sem jeito. — ...isso se aplica a você também, acho...
Ela deu uma risada graciosa, parecendo feliz com meu comentário.
— Se... se você estivesse... — gaguejei, ainda com o olhar sob o campo. — ...se estivesse no clube, seria muito bom também.
— Oh?
Ela realçou surpresa, enquanto tentei conter a timidez. Era muito difícil encarar o rosto dela sem corar de imediato.
Força, eu!
— Quer dizer... não tive chance de conviver muito com você...
— Pensando bem, é verdade... — expressou Kirisaki, reagindo com um sorriso nervoso. — Mas não entraria no clube. Ler não é muito o meu forte, sabe?
— Oh, sério? — indaguei, surpreso. Não esperava aquele tipo de resposta. Aquilo não era um pouco... sucinto de se dizer?
— Por isso não me juntei ao clube de jornalismo... — Ela ressoou uma risada nervosa.
Sua atenção se direcionou para outro gol do time de Rentaro, fazendo a torcida vibrar novamente. Espera, o nosso time da escola estava perdendo mesmo?
Minha atenção não residia mais ali. Ah... esqueça do jogo. Estou me sentindo acuado... e assustado? Confuso? O que está acontecendo ali? Não é nada do que eu esperava...
Será que acompanhei o sentido? Estou entendendo?
Eu poderia compreender o que ela está me dizendo ali?
Apesar de tudo, decidi que seguiria em frente. É difícil tentar entender tudo o que alguém lhe diz fora da atenção, o que pode deixar passar detalhes importantes.
Cerrei meus punhos, tentando conter meu nervosismo. Aquele sentimento é diferente do que senti há alguns instantes atrás? O que era aquilo? Como aquele clima mudou de um momento para outro? O que foi que fiz?
De qualquer jeito, não vou parar de falar. Se parar, não conseguirei retomar.
— Estar assim... é divertido, né?
Ela não me respondeu de imediato, apenas assentiu com a cabeça. Nisso, passou-se alguns segundos. O time da nossa escola avançou e atravessou a defesa do time de Rentaro, acertando um gol por escanteio. Kirisaki vibrou com aquele ponto, incluindo alguns de nós. Claro que a família Yonagi e seus amigos não ficaram satisfeitos. Era estranho fitar rostos desanimados misturados entre os rostos extasiados dos torcedores, no entanto, o rosto de Yonagi pareceu inerte. Ela apenas fitou séria o jogo, e não demonstrou alegria ou tristeza, talvez em respeito aos outros torcedores.
— Finalmente marcaram um gol! — comemorou Kirisaki. — Hum? Não está torcendo para a nossa escola?
— Oh, porque acha isso?
— Você não demonstrou emoção nenhuma pelo gol da nossa escola. A torcida do clube de literatura está no outro time?
— Na... Não é bem isso... — comentei, sem jeito. Toquei meu próprio rosto durante aquele momento, não comemorei o gol do time da Daiichi, nem estou exatamente torcendo para o time de Rentaro. Enquanto todos demonstraram suas posições, sou o único dali que assumiu posição alguma.
Sei qual foi a expressão que fiz. E foi um hábito ruim de querer observar tudo fora do sentido padrão, procurando entender seus sentimentos. Tudo aquilo era apenas um evento incomum para mim.
Como devo reagir? Qual era a maneira certa de agir naquele momento? Minha cabeça se rodeou por aqueles mesmos pensamentos, mas uma resposta não apareceu.
De todo jeito, tive que pensar claramente nas palavras que quero dizer à Kirisaki.
***
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