Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 4

Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ②

O jogo entrou em seu intervalo, com o placar em 2x1 para o time de Rentaro. Aparentemente, Kirisaki combinou de ver a partida com suas amigas. Elas apareceram um pouco antes da pausa e pela impressão que se causou pelo desvio de atenção, seu humor ficou bem mais leve.

Por sinal, Senjou não está em lugar nenhum.

— A Senjou não gosta muito de partidas de futebol... — comentou Kirisaki, cochichando em meu ouvido devido à barulheira da torcida ao nosso redor. — Geralmente ela só aparece quando há algum garoto da qual está interessada...

Impressionante como muitas garotas se alinham em tantas questões diversas...

Outro detalhe muito importante que deve ser mencionado é a presença de mais alguém inesperado ali. Entre suas amigas, estranhamente Ichika Yari está entre elas... tão destoante quanto uma maçã entre várias laranjas...

Himegi conversava animadamente com Kirisaki quando a chamou, mas quando Ichika e as outras amigas chegaram, ela ficou assustadoramente quieta junto de Kuroi e Teru. Essa garota é uma das comparsas de Kumiko que fizeram parte do antigo clube de jornalismo e nos causaram vários problemas.

Não sei por qual razão essa garota está presente ali no momento e justamente com Kirisaki. Porém, por mais que pessoas como ela atraem confusão por onde passam, não estamos na escola. Aparentemente, Ichika está sozinha e não possui intenções de causar conflito conosco.

Na verdade... ela nem nos cumprimentou ou prestou atenção na gente desde que chegou. Bom, isso não importa de qualquer forma.

Troquei mensagens com Hiyatetsu durante o jogo de ontem, e o que obtive de informações foi: Kumiko não está presente e; Ichika Yari veio para cá com suas próprias intenções.

Some isso ao fato dela estar nos ignorando e isso a faz alguém inofensiva. Pela cautela de Himegi, poderia até lhe repassar essa informação, mas com Kirisaki próxima pode ser complicado.

— Por sinal, eu gostei... — continuou ela.

— Gostou? Gostou do quê?

— Do seu desenho. Achei fofo! — expressou-a, sorrindo. Ela tirou um pedaço de papel dobrado de seu bolso, revelando o desenho. — Você é bem talentoso. Eu também vi o desenho da competição de artes.

— Ah...

Havia esquecido completamente que aquele desenho ainda está em exposição...

— Oh, aquele desenho monocromático era seu?! — exclamou uma das amigas dela.

Eu fiz um aceno de cabeça, envergonhado.

— Ficou realmente bonito, mas porque fez uma expressão triste como aquela? — indagou outra garota.

— Bem, eu...

— É... acho que teria ficado muito melhor se tivesse sido mais colorido! — opinou a terceira. — Tenho certeza se tivesse feito isso teria ganho o primeiro lugar.

Aquelas três continuaram a comentar enquanto Ichika permaneceu em silêncio, concentrada no jogo. No entanto, era fácil de notar que ria em intervalos de cada comentário. Pelo visto não quis evitar de zombar de mim nos pensamentos...

— Mas o desenho ficou bom de qualquer jeito, viu... — concluiu Kirisaki.

Apenas consegui rir de tão nervoso. Que patético.

Não decidam uma competição apenas em seus gostos pessoais, idiotas... apesar disso, houve uma série de elogios por parte delas, o que me fez sentir que o clima ali ficou mais leve entre nós. Era uma sensação aconchegante estar próximo dela, me aliviei profundamente por ela estar sorrindo.

Do outro lado, as primas de Yonagi planejaram comprar lanches. Himegi e Kuroi se ofereceram para irem pegar — provavelmente para se desvencilharem da presença de Ichika —, e Teru se voluntariou logo depois.

— O que vai decidir, Shiro? — perguntou Himegi a mim, ao meu lado. No entanto, subitamente meus olhos se encontraram com os de Yonagi.

— Ah, acho que também vou... — murmurei. — Ah! Quer dizer...

— Oh, vão comprar lanches? Eu vou também! — expressou Kirisaki. — Vou pegar para as minhas amigas.

Então nos movemos para ir à lanchonete atrás da arquibancada. Ao passar por Yonagi, no entanto, a visualizei com um sorriso no rosto.

— O que foi?

— Nada demais... — Ela deu de ombros. — Mas notei que ficou confuso sobre quem torcer. Difícil, não é?

— Oh. Bem, sim... — visualizei o campo do jogo, observando os jogadores descansando e se aquecendo. — Mas não é como se tivesse vindo para torcer por alguém, pra começo de conversa.

— Bem, tem razão. Eu o forcei a sair do seu cativeiro, correto?

Apesar das brincadeiras, Yonagi manteve o bom humor.

— Deixando isso de lado, não está incomodada? — apontei com o queixo para Ichika, próxima de nós.

— Não vejo motivos pra me preocupar. Duvido muito que Kumiko a tenha enviado até Yokohama só para nos vigiar...

Mesmo diante de tudo o que aconteceu, a convicção dela permaneceu inabalada... incrível.

— Muito legal da sua parte querer aproveitar tudo dessa viagem, apesar dos empecilhos... não sei se conseguiria o mesmo.

— Você diz isso..., mas parece que você ainda consegue aproveitar os momentos à sua maneira, também.

Ela me disse aquilo, mas não olhou para mim. Sua visão se direcionava para outro local, e indiretamente procurei essa mesma direção. Então, Kirisaki passou pelo meu campo de visão e percebi que tinha que ir.

Me apressei até os outros e ao me aproximar de Ichika, a ouvi comentando:

— Porque o deixaram como zagueiro? Ele certamente teria muito mais destaque se fosse pra artilharia...

Ela se isolou das outras por causa do jogo em si, não por nós. Na verdade, mal observou as jogadas. Sua mente parecia distante dali... talvez esteja refletindo sobre o jogo de ontem, quem sabe. De todo modo, deve nos considerar como meras formigas, nada de importante. Essa garota está interessada em um dos membros do time, então? Não que seja da minha conta...

Alcancei as escadas e subi os degraus rapidamente para fora da arquibancada, e subitamente olhei para trás, encontrando o olhar de Yonagi seguindo suavemente para o céu.

Ao sair das arquibancadas, as garotas e Teru já adentraram uma das filas para pedir os lanches. Rapidamente me juntei a eles. Os calouros na frente e eu e Kirisaki atrás. Eles comentavam sobre os acontecimentos do jogo e as partes que mais gostaram, enquanto tentava me lembrar de qualquer coisa que consegui prestar atenção. Kirisaki dava risada das atitudes dos calouros.

Ela parecia emitir uma aura madura e decidida. Como uma pessoa já consciente do que ela vai almejar alcançar após a formatura, afinal este é seu último ano do ensino médio.

— Kirisaki... você sabe da festa que terá amanhã? — perguntou Himegi.

— Oh. Sei, sim. Estou animada pra ir!

Ah, verdade. Já que ela está ali, provavelmente iria mesmo para aquela festa. Logo, só poderá participar de eventos assim se estiver em alguma faculdade, certo? Era o tipo de coisa que jovens concordariam de ir, afinal. Teru está tão animado pra essa festividade devido ao plano que falava pelos cotovelos... Kuroi deu pouca atenção.

— Vocês vão? — comentou a veterana.

Todos os calouros acenaram a cabeça. E então, ela se virou para mim.

— E você, Shiroyama?

— Eu...

Minha mente parecia distante, pois não me veio uma resposta imediata.

— Oh, é a nossa vez!

Fizemos nossos pedidos e rapidamente levamos bandejas de lanches para todos. Enquanto eles conversavam animados sobre o dia seguinte, aquela pergunta perdurava em minha mente, se repetindo.

O que devo responder?

De repente, uma criança se esbarrou em mim. Era uma menina de aproximadamente dez anos de idade. Ela parecia estar apreensiva.

— O que houve? Está perdida?

A menina concordou com a cabeça, a ponto de chorar. Eu me curvei na altura dela e afaguei seu cabelo, tentando acalmá-la.

— Lembra o último lugar onde esteve com seus pais?

Ela respondeu relutante, mas então uma presença conhecida se aproximou e entregou um pedaço de papel contendo algo nele para a menina.

Era Kirisaki mostrando o meu desenho. A menina se encantou no mesmo instante.

— Bonito, né? Foi ele que fez! — Ela apontou pra mim. — O que acha de procurarmos os seus pais e ele te fazer um desenho seu depois?

A menina concordou sorridente, o que fez a situação se aliviar totalmente. Nós dois tornamos a seguir as orientações da menina, ainda confusa. Caminhamos atrás da arquibancada durante algum tempo até encontrarmos seus pais. Como prometido, fiz um desenho rápido dela, deixando-a imensamente feliz.

Que sorriso sincero, parece até com o de outra pessoa...

Nós tínhamos nos afastado bastante dos outros, então caminhamos sem pressa por onde viemos. O jogo retomou, mas continuamos andando sem pressa.

— Ah, obrigado pela ajuda. Acho que ela tinha se assustado com o meu rosto.

— De nada. Se bem que suas olheiras estão melhores que naquele dia, hein.

Então tudo se resumiu às minhas olheiras?

Enquanto ponderava sobre isso, ela tornou a falar:

— Além disso, você parece menos contido... — Ela parou de andar por um momento. — Você mudou muito em tão pouco tempo.

— Acha mesmo?

— Sim, e Senjou disse coisas horríveis sobre você... — entoou, e se virou em direção às arquibancadas. — Mas, apesar disso, quis te observar e tirar as próprias conclusões. Por isso... você mudou bastante. Ao meu conceito, ao menos.

— Então...

Oh, o que é aquilo? Meu coração bateu mais intensamente! O que essas palavras significam? Era o que poderia estar pensando?

— ...em relação a isso, já que se referiu em tirar as próprias conclusões...

Minhas mãos formigaram e meu corpo tremeu, geralmente consigo raciocinar rapidamente em diversas situações, mas essa não foi uma delas... não me veio nada à mente, além de: — Opa! É melhor não falar! —, — Não prossiga! Não diga nada! —, — Para, para, para... — incessantemente. No entanto, sinto que estou fora do meu controle.

No entanto, vozes ressoaram:

— Kirisaki!

São suas amigas, vindo ao seu encontro. Droga! Estou ficando cada vez mais nervoso!

— Ei, vamos embora! Esse jogo está chato, parece que nossa escola vai perder, mesmo... queremos ir ao shopping!

O quê?

Elas vão embora? Agora? Ainda tenho algo importante a dizer...

Franzi o cenho. Sou mesmo um azarado... não, isso não é azar. É o que acontece quando se é rendido pela própria incapacidade, então eu... espera. Acalme-se... você não age impulsivamente, Shiroyama Hideo!

Mas desde que Kirisaki se manteve ao meu lado, não conseguia raciocinar direito. Minha mente não processava nenhum tipo de informação, e em vez disso ressaltou meus instintos.

Agir por pura pressa me deixa totalmente estressado, mas minha boca se moveu antes de poder pensar direito no assunto, e as palavras que deixei escapar e não deveria saíram com muita intensidade:

— ...quero saber... se você não gostaria de ir nessa festa comigo?

Depois disso, tudo pareceu chiado. Um silêncio se apossou dali e nem mesmo o barulho da torcida chegou aos meus ouvidos, somente um zumbido irritante que emanava dentro de mim. Oh... já sei. É o meu próprio coração batendo.

Porque é que tudo passou a se move em câmera lenta? Observei tão nitidamente as expressões das garotas presentes ali que chegou a ser irritante. Kirisaki também pareceu congelada, e suas amigas se entreolharam por espanto.

Me sinto leve e pesado, como se toda minha existência fosse um balão de gás sustentado por um cilindro de hélio... estou sufocado. Minha garganta secou e até fiquei meio desequilibrado. Nesse instante, me senti mal... uma tontura terrível me acometeu e pareceu durar uma eternidade, até a garota à minha frente quebrar esse silêncio com um sorriso forçado:

— Desculpe, Shiroyama. Já havia combinado com o meu namorado que iríamos juntos para a festa.

Não consegui responder. Na verdade, acho que esqueci mesmo de respirar. Meus pés pesaram feito chumbo e não consegui me mexer, por mais que quisesse... ser fuzilado por aqueles olhares me fez sentir pior.

— Meninas, podem ir na frente? Preciso fazer algo antes.

Elas concordaram e nos deixaram a sós. Estou cabisbaixo. Não consigo vê-la. Meu corpo não se mexeu... e não pude pensar.

— Shiroyama.

Ouvi ela dizendo meu nome, e ajustei minha visão. Imaginei que pudesse estar zangada comigo ou chateada, mas sua expressão continuou normal. Ela se aproximou de mim e tocou em meu rosto.

— Desculpe por colocar as coisas desta forma, mas isso foi para que você perceba o quanto antes. Você se aproximou de mim por termos essas cicatrizes, né?

— Eu...

Não quis responder. De jeito nenhum. Aquilo não deveria sair da minha boca.

Eu sei o que você vai dizer. Eu sei disso. Sei disso muito bem. Você não precisa falar!

— É verdade que Senjou disse coisas terríveis sobre você, e também é verdade o quanto mudou em meu conceito. Mas, não totalmente.

— !!

Senti meu estômago virando o avesso, um choque me percorreu logo em seguida. O frio instantâneo me feriu, profundamente.

— As pessoas não mudam de opinião tão facilmente. Por isso, tentei procurar coisas boas em você. Quis acreditar que seria uma boa pessoa e que tudo o que aconteceu foi apenas uma trágica coincidência.

— Não... coincidências... não existem...

Foi tudo o que consegui falar.

— Mas, apesar de tudo isso... precisa aprender mais a entender os outros. E por isso é melhor terminarmos por aqui. Agradeço por toda a ajuda que deu a Senjou.

— ...

— Aprenda com o que aconteceu aqui, por favor... — murmurou Kirisaki. — Afinal, esse tipo de convite não deve ser feito com uma cara como a que fez.

!!

Minha... cara?

— Não é assim... que se deve expressar seus sentimentos.

Ah, entendi... meu estresse se escancarou, não é? Porque procurar o tempo certo de dizer tal coisa me angustiou tanto? Foi por ser a primeira vez que tentei procurar uma boa maneira de chegar nesse ponto?

Não. O meu erro foi ter pensado que as coisas apenas iriam se desenrolar se apenas mostrasse minhas qualidades e meus defeitos fossem jogados de lado.

Eu realmente achei... realmente achei...

Toquei suavemente sua mão em meu rosto, na qual ela retirou. E me curvei pedindo perdão, sem conseguir formular palavra alguma. Kirisaki não disse mais nada e se retirou dali.

Onde estão meus sentimentos? O que estou sentindo? Me encostei na grade da arquibancada e me curvei de joelhos. O que deveria estar fazendo?

Deixei de lado a coisa mais importante. Permiti escorrer pelos meus dedos algo que agora está completamente fora de meu alcance. As palavras da minha irmã ecoaram pela minha mente:

“Seja teimoso o quanto quiser, mas esta é a sua realidade. E você estragou tudo.”

“Tente ignorar o quanto quiser em achar que é especial. Acredite, você não é.”

...

Agarrei meu cabelo com tanta força que quis puxá-lo com cada vez mais força. Se foi.

Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo. Estraguei tudo.

Mas eu pensei...

Não importa! Você fez isso acontecer e acabou assim!

Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou. Acabou.

Eu realmente pensei...

Eu pensei. Pensei. Pensei. Pensei. Pensei. Pensei. Tinha certeza disso. Não, eu quis ter certeza disso. Quis acreditar... que até mesmo eu consigo. Mas, no fundo... soube que não poderia me iludir totalmente. Essa realidade não foi algo que possa ignorar e apenas agir como se tudo fosse normal.

Isso nunca pôde acontecer desta forma.

No fundo, sabia. Eu sei disso! Mas, ainda assim...

Me encolhi e pus a cabeça sobre os joelhos. Toda aquela cena passava e repassava em minha mente a todo momento.

Estou ciente..., mas, apesar disso...

Realmente achei que poderia ser assim... realmente cogitei que poderia ter uma chance...

Eu realmente, realmente achei...

— Realmente achei... que ela me entenderia...

***

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