Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 4

Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ③

O jogo terminou com a vitória esmagadora da Yoriyoi. Houve uma imensa comemoração de metade da arquibancada. Não assisti ao restante da partida, apenas ouvi a cacofonia estridente da multidão. Fogos de artifício zumbiam aos céus, ecoando suas explosões sonoras, enquanto confete era jogado no ar.

Um dos finalistas da final do interescolar foi decidido, e sinceramente achei que todo esse reboliço desnecessário por não ser o jogo final..., mas, deixa pra lá. Não há dúvidas de que o time de Rentaro era o favorito para ganhar o interescolar.

Antes da evasão nas arquibancadas, todos começaram a limpar sua própria bagunça. Me levantei e subitamente decidi ajudar a recolher o lixo, sem me dar importância em me sujar. Pouco tempo depois, Himegi e os outros me encontram, que indagou:

— Onde esteve por todo este tempo?! Ficamos preocupados! Perdeu o fim do jogo!

De soslaio, vi todos me encarando curiosos. Não parei pra analisar quanto tempo me ausentei... oh, agora me recordo. Suspirei e respondi:

— Encontrei uma criança perdida e fui ajudá-la. Acabei me perdendo depois e assisti ao jogo por onde fiquei. Foi isso.

— Fala sério! Não fique zanzando por aí, que incômodo...!

Sakuya reclamou, assim como Tomoyo. Geralmente, Yonagi que me provocava com algum comentário, mas permaneceu em silêncio dessa vez.

Himegi me olhou incrédula, decidindo se acreditaria ou não no que disse. Não posso julgá-la, minhas ações por raciocínio a perturbaram várias vezes desde que nos conhecemos. Pra ser sincero, até fiquei surpreso que consegui formular o resto da frase sem titubear... será que estou me tornando tão hábil assim em contar mentiras?

Mesmo que desta vez tenha sido uma meia verdade...

— E onde a Kirisaki foi parar? Vocês saíram juntos e ela não voltou desde então... suas amigas saíram depois e Ichika se afastou, pensei até que tivesse acontecido alguma coisa...

Vamos, apenas formule como da outra vez. Assim como o _____ me ensinou uma vez, devo botar em prática. Ignore os danos, circule o problema fundamental e elabore uma máscara. Assim como sempre fez.

— Ela e suas amigas já tinham planos para irem a outro lugar. Inclusive... ela me pediu para avisar vocês de que não iria retornar. Foi só isso.

Sem hesitação, proferi. Meu estômago doía, o frio que senti antes passou logo depois, mas inferiu um desconforto efetivo o suficiente para que apenas reaja assumindo posições automáticas, até mesmo na voz.

— Aconteceu alguma coisa? — Himegi se inclinou. — Vocês ficaram amigos, certo? Deve ter ficado triste pelo fato dela ir embora, certo?

Apesar de sua tentativa em descontrair o momento, tudo o que considerei fazer foi balançar a cabeça e murmurar alguma resposta satisfatória.

Ah... estou cansado. Vou apenas reagir de acordo com cada parâmetro que surgir e evitar de chamar mais atenção.

***

Com todos reunidos ao acharmos o Shiroyama, saímos para o estacionamento. Tio Ikishi nos esperava junto a tio Ugawa, em que conversavam ruidosamente. Desde que chegamos, venho tentado poder falar com meu outro tio, mas sem sucesso.

Ele tem esse jeito de querer esconder o que o aflige para os outros não sofrerem... o amo muito, mas estou começando a ficar cada vez mais preocupada. Nem parece que está comendo direito...

Poucos minutos depois, Rentaro surgiu com o resto do time e animou mais ainda o pessoal.

— Vocês foram incríveis! — exclamou Sakuya. — Principalmente você, Rentaro!

— De jeito nenhum. Não teríamos conseguido nada disso se não fosse o trabalho de equipe de todos do time.

Eles bateram as mãos em uníssono, foi bom vê-los felizes e por tudo ter ido bem. Depois da noite anterior, cheguei a cogitar que a situação ficaria mais estranha do que antes... e, no entanto, o jogo foi incrível e não aconteceu nenhum imprevisto.

Só faltou o Shiroyama falar algo como: — Este é o sentimento de camaradagem que os times sentem uns pelos outros? —, de tão típico. E subitamente o fitei esperando por alguma bobeira do tipo, mas pisquei várias vezes e desviei o olhar. O que estou pensando?

O fato de termos conversado tanto ontem a noite deve ter me deixado fora do ar... mesmo assim, suas palavras ditas a Himegi quando o encontramos foram construídas para que não a ultrapassemos. Será que é por isso que me sinto tão curiosa em relação ao que aconteceu durante o jogo com ele e... Kirisaki, não é?

Possa ser que tenha dado um passo adiante, como disse a ele... não sei. A única coisa que sei é que... está fora de si e quer evitar de falar a respeito.

— Nós vamos comemorar nossa vitória no Shopping Motomachi! — disse Rentaro. — Combinamos de relaxar agora e apenas esperar para o jogo de amanhã.

Os calouros e os primos de Yonagi vibraram com a proposta.

— Neste caso, irei levar o time todo na van. Estão todos cansados, afinal! — exclamou tio Ikishi.

— Ótima ideia, o resto de nós vamos de metrô! — concordou tia Mikoto. Ninguém pareceu se opor a ideia.

Ninguém pareceu se opor, mas notei o momento em que Shiroyama levantou sua mão devagar, até que:

— Não tem ninguém se opondo! Vamos logo! — Himegi entrelaçou seu braço no dela, como se estivesse prendendo um gato de fugir...

Como ficou decidido, o time de Rentaro começou a se organizar para dentro da van, enquanto Makoto e Tatsuhiro verificavam as linhas de metrô e Himegi ainda prendia Shiroyama. Quando tentei me aproximar, Sakuya me segurou:

— Kaede, você vai na van comigo e Tomoyo! Ainda tem espaço!

— Hein?! Mas... — Sua abordagem com a de Tomoyo foi tão repentina que não tive como me libertar. — O que é isso, de repente?!

O time inteiro pareceu surpreso, mas nós três ficamos juntas e Sakuya cochichou:

— Não é todo dia que podemos ficar próximas de garotos tão atléticos! Temos que aproveitar essa chance, Kae!

A fitei incrédula de ter causado toda essa cena por uma razão tão fútil..., porém, não tive como sair dali. Meu tio já havia fechado a porta da van e o ronco do motor soou.

Fiquei totalmente sem jeito ao enxergar minhas amigas do lado de fora e não poder fazer nada. Decidi desviar minha atenção da atitude estranha do Shiroyama para o meu tio, no banco da frente.

Sim... talvez não seja um bom momento para tentar falar com ele novamente. O que ficou entre nós ainda é algo que preciso digerir por completo...

— Vocês, hein... — retruquei. — O que pensam que estão fazendo me afastando das minhas amigas?

— Faça-me o favor, Kae! — resmungou Sakuya. — Queremos que você aproveite essa viagem e, sinceramente, há momentos que ter tudo isso de gente só vai atrapalhar!

— Sakuya!

— Eu concordo com minha irmã! — proferiu Tomoyo. — Quer dizer, quantas vezes conseguimos ficar só com você?

Muitos mais vezes que os outros, no mínimo...

— Ah, Kae! O Kiyo está nos esperando no shopping! — exclamou tio Ikishi. — Vamos todos comemorar juntos!

Ele podia ter preferido não querer participar... provavelmente vai apenas tentar me perturbar, como sempre.

Subitamente, lembrei das palavras que Shiroyama disse sobre sua irmã mais velha e... senti um resquício de culpa por pensar isso dele, por mais que na maioria das vezes seja irritante!

— ...mesmo assim, não o odeio...

— Hum? Disse alguma coisa? — Sakuya me encarou, curiosa.

Apenas neguei, enquanto seguimos com a viagem tranquilamente. Não compreendi totalmente, mas senti meu corpo muito mais leve ao resolver encarar coisas ao meu redor que antes nunca imaginei que fosse cogitar.

***

No momento em que Rentaro disse sobre a comemoração, me senti tão incomodado que a vontade de tive era de retornar ao ryokan andando, se possível.

Não quero ir... de jeito nenhum.

Levantei o meu braço apenas para dizer que não estou bem, mas alguém se agarrou ao meu braço e gritou:

— Não tem ninguém se opondo! Vamos logo! — Himegi entrelaçou seu braço no meu.

E então, Yonagi foi tragada por suas primas a entrar na van e saíram rapidamente dali. Makoto e Tatsuhiro definiram a rota certa através do metrô e nos movimentamos sob orientação de tia Mikoto.

Pegamos um ônibus até a estação de Yokohama, da qual usamos a linha Negishi. Em vinte minutos descemos na estação de Ishikawacho e chegamos no Shopping Motomachi.

O local era um ambiente movimentado e muito estiloso. Desde as diversas lojas de roupas, há várias cafeterias também. Encontramos o time de Rentaro e Yonagi com suas primas e tios em um dos restaurantes ao redor. Só não entendi porque foi justo um restaurante italiano...

— Meu gosto é refinado demais para crianças como vocês entenderem... — gabou-se tio Ikishi.

Por terem chegado antes, pediram várias pizzas, e todos se revezavam nos sabores. No entanto, apenas peguei um pedaço pequeno e me mantive em silêncio, recolhido. Mesmo que estivesse delicioso, não queria comer.

Será que Kirisaki estaria por perto? Não pode haver um único shopping ali, certo?

Eu realmente torci que não fosse o caso. De todo jeito, jogarei essa insegurança em um canto obscuro em minha mente. Como poderei esquecer?

E pensar no assunto me fez perder ainda mais o apetite. Apesar de mordiscar duas ou três vezes, joguei o pedaço fora e fui no banheiro. A dor no estômago era tanta que se tornou difícil até respirar. Mesmo que induzisse o vômito, nada sairia.

Se minha mente melhorar, meu corpo fará o mesmo. Mas, preciso esperar... quanto? Porque sempre preciso esperar?

Quando o pessoal terminou de comer, o time de Rentaro — depois de comemorarem após vários pedaços de pizza — se retiraram devido ao cansaço. Tio Ikishi se ofereceu para os levarem de volta ao hotel que estavam ficando.

— Nosso treinador da escola conseguiu arrumar pra gente... — explicou Rentaro. — Depois me junto a eles.

Nisso, tio Ikishi e Ugawa com o restante dos jogadores partiram na van. Já era meio da tarde, então o time de Takahashi deveria estar quase terminando sua partida. Decidi parar de pensar sobre mim por um tempo e lembrei desse detalhe. Eles não pareciam estar nervosos no dia anterior, então não acho que terão muita dificuldade. Na verdade, o que Rentaro estaria pensando na partida de amanhã?

E ainda haverá a festa após o jogo, então vencedores e perdedores se encontrarão. Que estranho.

        

Mesmo que queira sair dali, estou sendo observado pelos outros. Não sei se realmente me acalmei, mas minha dor diminuiu. Pude ao menos suportar a duração do passeio.

Nosso grupo passeou por entre as lojas ao redor do Shopping. Havia uma variedade de lojas de roupas, mas não conheço os tipos. Não tenho senso algum de moda, então acompanhar as garotas nestes locais é realmente tedioso.

Mas, apenas não devo pensar. Se agir como um mero boneco sendo carregado de um lado ao outro, passarei despercebido. Como não houve escolha senão entrar em uma das lojas, resolvi transitar entre as seções. Por mais que fosse a estação de verão, ainda havia uma grande quantidade de casacos a mostra.

— Parece que deve ser pela recente época de chuvas. Mesmo que seja verão, as pessoas podem pegar um resfriado com facilidade.

Não sei como era em Yokohama, mas em Chiba ocorria de alertas de tufão, com ventos violentos que podem te arrastar como se não fosse nada. Então, casacos podem vir a serem úteis em casos como esse. Apesar de ainda estar calor...

O problema é que dias quentes trazem noites frias. Por isso, não seria má ideia pegar um deles, ainda mais pela intensidade das chuvas. Era quase um milagre não ter pego um resfriado do dia anterior...

Isso, um boneco prevenido não chama atenção.

Peguei um casaco cinza um tanto volumoso, mas minha atuação discreta ainda atraiu atenção:

— Só você mesmo para querer comprar um casaco no verão... — murmurou Himegi, sarcástica.

— Bem... é bom ser precavido. Não quero pegar um resfriado e passar o resto das férias em uma cama com o nariz vermelho.

— Vermelho? É mais fácil você ficar mais pálido igual o seu sobrenome.

— Não envolva meu sobrenome. Só por ter “branco”?

— Cuidado para não pegar um Shiroyama! — brincou Kuroi.

— Meu nome não é de doença...

Enquanto aquela discussão inútil continuava, percebi alguém tremendo perto de nós. Yonagi se encolheu com seus ombros tremendo, sua risada contida parecia sussurros.

— Nariz branco... resfriado de Shiroyama...

Agora, em vez de ser provocado por dizer algo, ela resolveu rir do que me apelidam..., mas todos começaram a rir. A cena foi tão ridícula que até eu sorri, nervoso. Quem imaginaria que meu sobrenome poderia causar risadas...

— Ei... e agora? Você está melhor? — Himegi disse, próxima de mim.

— ...

— Não se esqueça, Shiro. Estamos aqui quando precisar... — Ela sorriu gentilmente. — E nesse caso, acho que posso ser egoísta quanto a isso, certo?

Não soube reagir, e sei que não diria nada. Justamente por isso, que receber tamanha consideração suavizou minha angústia, um pouco.

— É... acho que estou um pouco melhor, sim.

Ao fitar Yonagi e os outros rindo abertamente sobre a piada sem graça, logo esse sofrimento será isso também.

Resfriado de Shiroyama... que seja, agora aquele moletom cinzento será o Casaco Shiroyama!

***

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