Volume 4
Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ④
Saímos do Shopping perto das 19h. Voltamos de metrô ao ryokan. O dia seguinte será a final do interescolar, um dia muito importante.
Pensar sobre isso me fez lembrar que também será o último dia dessa estadia, me veio uma estranha melancolia e indecisão sobre querer sair dali o quanto antes e permanecer, fitando o jardim.
Antes que voltasse a refletir profundamente, a porta do ryokan abriu de repente, e um tio Ugawa apareceu mancando com uma cara de dor. Tia Mikoto foi até ele para ajudá-lo a se sentar.
— O que aconteceu?! — exclamou tio Ikishi. — Você saiu sozinho de novo para procurá-lo?!
— Fui com Kiyoshi, e...
Tio Ugawa gemeu um pouco quando tia Mikoto colocou uma compressa de gelo no joelho machucado.
— Eu... eu o achei, mas...
Todos da sala ficaram em silêncio. Oguro foi encontrado, mas a consequência disso...?
— O foi que aconteceu?! — repetiu tio Ikishi, mais nervoso.
— Ele apareceu com um bastão de aço e o bateu com força em mim... — contou tio Ugawa. — Fui com Kiyoshi, e... fomos surpreendidos em um dos becos da cidade por uma gangue. Ele estava entre eles... e foi o que me atacou.
As garotas se horrorizaram, e Yonagi, paralisou-se completamente.
— Kiyoshi tentou ir atrás..., mas, sem sucesso.
— Onde eles está?! — exaltou tia Mikoto.
— Está lá fora. Não se preocupe... ele está bem.
Ela e Yonagi foram lá fora vê-lo.
— Acha que amanhã eles irão até a final do jogo? — indagou Rentaro.
— Não sei. Hoje não foram pela segurança, mas não é uma impossibilidade. Uma comoção do mesmo nível que a do arrastão outro dia pode ser mais do que a segurança do campo pode aguentar. Sinceramente... não sei o que pode acontecer.
Que problema. Se a própria segurança do local era dúvida de proteção, se tornou incerto se poderá evitar que mais atrocidades aconteçam. Por uma questão de sorte ninguém se feriu no dia do arrastão.
— E essa gangue com quem ele se envolveu? — continuou Rentaro. — Como eram?
— Terríveis. Estavam todos armados com bastões de aço e muito agressivos. No que foi que meu filho foi se meter?!
Tio Ugawa revelou todo seu desespero. Ele não sabia mais o que fazer, e muito menos a gente.
Kiyoshi, Yonagi e tia Mikoto apareceram na entrada.
— Acho que devemos cogitar evitar de ir neste jogo... — murmurou tia Mikoto.
Todos exclamaram.
— De jeito nenhum! Não quero ficar aqui trancada por causa desse primo idiota! — retrucou Sakuya.
— Sim, isso mesmo! Viemos aqui pra curtir! Não vamos ficar aqui sentadas sem fazer nada! — completou Tomoyo.
— Viemos aqui ver o nosso amigo jogar, e é o que faremos! — expressou Makoto, e Ayase concordou.
Himegi e Kuroi não souberam como reagir.
Teru levantou sua mão.
— Talvez devêssemos optar por alguns ficarem aqui. Os parentes de Yonagi se reuniram como família, mas o resto de nós somos apenas amigos. Não ligo se tiver que ficar aqui.
— ...
Não tive o que dizer. Afinal, Teru não está errado. Ele disse algo coerente, pra variar. Os tios de Yonagi estão responsáveis filhos que não são seus, e garantir sua segurança neste cenário se viu complicado em circunstâncias normais.
— Eu agradeço a compreensão de vocês... — respondeu tia Mikoto. — Sakuya e Tomoyo querem ir. E você, Tatsuhiro?
— Vou ficar aqui. Afinal, não se sabe se Oguro virar aqui também, não é?
Foi uma resposta inteligente. Já que Oguro deve saber da hospedaria, nada o impediria. A maior questão que me atormentava era justamente a não compreensão do seu objetivo. O que ele queria, afinal?
E foi decidido que eu, Himegi, Kuroi, Teru e Tatsuhiro ficarão no Ryokan. E o resto irá ao jogo. E após isso, terá a festa no parque de Yokohama. Todos vão se encontrar para encerrar a noite.
— De uma coisa tenho certeza: essa perturbação toda se encerrará nesta noite! — brandou tio Ikishi. — Seja durante o jogo ou nessa festa, estaremos em alerta!
Pude sentir o desânimo dos outros, já que queriam ver a final também, mas ninguém quis causar mais incômodo. Pessoalmente, não me importa em ver o jogo ou não, muito menos dessa festa. Não me há mais razão nenhuma em participar...
As garotas ficaram na sala de estar, cabisbaixas. Em dado momento, todos decidiram subir as escadas aos quartos, enquanto me mantive em pé no mesmo lugar, pensativo.
Tudo o que podia opinar sobre esse Oguro é o quão rebelde virou. Deve ter se afogado nas próprias angústias e influenciado por tudo o que destoavam sua vivência comum.
Alguém assim não me intimidaria de imediato, a não ser que envolvesse alguém conhecido, o que me causou um paradigma. Neste sentido, não era diferente do sentimento que nutro pela minha irmã mais velha. Para mim, a situação não importa muito contanto que fique tempo o bastante para não a ver.
Mas esta não é a mesma realidade dos outros. Poderia eu me abster de não pensar no lugar deles? Ou será que devo considerar isso dada a minha falta de percepção sobre o que Kirisaki me disse mais cedo? Não... não acho que esteja apto a entender isso completamente, nem tão rápido.
Yonagi permaneceu na sala de estar, sentou-se no sofá e cobriu o rosto com os joelhos. Ao perceber, me aproximei dois, três passos. Me contive no mesmo instante.
Aquela minha mão estendida não vai tocar no que deveria alcançar.
Não é o que ela precisava naquele momento.
Por isso, me contive.
Engoli em seco ao perceber. A amargura que senti mais cedo foi jogada para algum lugar dentro do meu ser, dando espaço para um novo sentimento. Subi a escadaria cada vez mais consciente disso.
Eu sei quem sou. Não quero nutrir ódio por ninguém... prefiro me manter seguro em uma zona para que possa tomar a melhor decisão de me adaptar o máximo possível. Em toda a minha vida até ali, podia contar nos dedos as pessoas que realmente odiava.
E durante esse momento, assenti internamente.
Não vi aquele Oguro uma única vez. Mas já nutri tamanho ódio por estar pisando nos sentimentos de alguém sem que veja ou perceba... e ao mesmo tempo, estou agradecido. Se não fosse por isso, me sentiria um trapo descartável querendo se afundar no primeiro buraco que encontrasse.
Em troca de evitar essa amargura, abracei esse ódio. Sei do fato dele ser alguém destrutivo e que não se importa com isso... o julguei dessa forma por ser tão facilmente influenciável a mudar para algo tão horrível.
O que sou capaz se o visse realmente... não posso me envolver com a família Yonagi desta forma. Não quero mais cometer erros, mas...
Porém, agora ele envolveu todos os presentes para se divertir, o que me incluía. Seria certo querer uma satisfação por este incômodo que trouxe? Poderia tomar uma atitude pelo meu próprio egoísmo?
E nesse caso, acho que posso ser egoísta quanto a isso, certo?
As palavras de Himegi me vieram a mente, o que ressaltou minha decisão. Meus olhos cintilavam, fitando o teto de madeira do quarto. Todos dormiam, e era o que deveria fazer também.
Meus olhos se fecharam, e uma outra frase se formou em minha mente. Relembrando a expressão de choque de Yonagi:
“Se o que move as pessoas é a determinação, então o que nos resta é o ego.”
***
Quarta-feira.
Este é o último dia de nossa estadia no ryokan em Yokohama. Pensando bem, cinco dias ali passaram voando. Estar em um outro local com outras pessoas foi uma experiência diferente, e sei que trará consequências dos dois lados.
Levantei do fúton, e minha visão sonolenta se estacionou na tela do celular, constando várias mensagens dos meus pais. Eu deveria lê-las.
No entanto, ainda não me sinto bem. Cocei minha cabeça de frustração. Subitamente senti uma frieza no recinto, ao conferir a temperatura do dia tomei um susto... 19°C!
No dia anterior a média foi de 25°C! Que mudança esquisita!
Movi as cortinas da janela e enxerguei um céu cinzento, talvez chova mais tarde. Senti um pouco de coriza nas narinas, então lavei meu rosto e desci para o saguão.
Todos já estão despertos. Rentaro não se encontrou em lugar nenhum. O café da manhã seguiu em silêncio esmagador. A família Yonagi se arrumou para saírem antes das 9h, então o resto de nós apenas retornou aos quartos. Não tinha nada para fazer, então apenas fiquei mexendo no celular.
— Estamos indo... — entoou Tia Mikoto. — O que acham de nos encontrarmos no restaurante do shopping após o jogo terminar?
Todos concordamos. O jogo se encerrará por volta das 12h. Será bom sair um pouco antes de irmos embora.
Ah, a festa... até me esqueci dela. Eu não quero ir...
A família Yonagi — e agregados — se despediu e fecharam a porta da entrada. Apesar de ser verão, a dona do Ryokan colocou um kotatsu no saguão para nós. Kuroi estava lendo um livro, enquanto Himegi, Tatsuhiro e Teru jogavam cartas. Eles estão bem entrosados dentro do kotatsu...
Os fitei por um tempo, mas isso é o que realmente deveríamos estar fazendo? Qual era exatamente o nosso propósito de ter ido naquela viagem?
Suspirei e me virei para eles.
— Ei, vocês vão ficar aí a manhã toda?
— E o que você quer que façamos? — indagou Himegi. — Não temos nada para fazer até a hora do almoço.
— Não podemos sair daqui até o jogo terminar, certo? — disse Teru, entretido com as cartas.
— Ninguém disse que não poderíamos sair... — retruquei. — Apenas precisamos estar no restaurante quando o jogo acabar, certo?
Acho que minha voz saiu mais pretenciosa do que esperava, porque as meninas me olharam enojadas.
— Você é realmente o pior, não é? — murmurou Himegi. — O que aconteceu com o Shiro desanimado do dia anterior?
— Pretende sair com uma possível gangue vagando pelos becos? — questionou Kuroi.
— É que eu lembrei que preciso comprar lembranças para os meus pais e meu irmão... — menti. — Não sei quando virei para Yokohama novamente, então como é o último dia, não quero deixar isso para o último minuto.
— Mas...
— Além disso, o tempo mudou. Algum de vocês trouxe roupas de frio?
As meninas se entreolharam, enquanto Teru se tremia de frio.
— Bem, você tem um ponto...
— Então, vamos. Creio que algumas horas fora não vão fazer mal, certo? E é de manhã ainda.
Pelo olhar indeciso de Himegi, deu pra crer que ainda está preocupada com Ichika, mas não tem o que se fazer. Precisamos aerar nossas mentes, mesmo que apenas um pouco.
As meninas saíram do kotatsu rapidamente e me seguiram em direção as escadas, Teru apareceu logo depois dizendo:
— Ei... isso não está parecendo um tipo de encontro?!
— Só se for na sua cabeça, idiota... — retruquei, irritado. — Além disso, você vai falar com Kuroi esta noite, não é?
— Ei, Shiroyama... — A voz de Tatsuhiro surgiu. Ele entrou no quarto logo depois. — O que pretende fazer saindo agora?
— Sugiro que se coloque no nosso lugar... — disse. — Afinal, não temos nada relacionado com a sua família. Somos apenas colegas de clube, seríamos alvos se estivéssemos com alguns de vocês lá fora, certo?
— Sim, mas...
— Aquelas garotas querem se divertir em um local diferente, e queriam se divertir com Yonagi, mas isso não foi possível. Apenas quero que elas se distraiam até que tudo isso se encerre.
— Entendo. Neste caso, não vou impedi-los... — expressou Tatsuhiro. — Se meu primo não fosse assim, nada disso estaria acontecendo. Vocês não têm nada a ver com isso, mesmo.
Não quis parecer insensível, mas aquela viagem não poderia se encerrar desse jeito. Ainda não me sinto bem pelo que aconteceu com Kirisaki — vou passar o resto das férias me amargurando, com certeza... —, e ficar trancado naquele lugar apenas me fará remoer mais rápido o que aconteceu. Preciso me distrair pelo meu próprio bem.
— Cuide das garotas, vocês dois. — Tatsuhiro saiu do quarto. Ele não tinha intenção de sair conosco.
Nós quatro saímos em direção ao shopping, mas um calafrio percorria por meu corpo desde cedo. Não sei do porquê, se foi apenas a mudança de tempo ou algo assim.
Mas não consegui relaxar.
***
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