Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 4

Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ⑤

Em poucos minutos, nós chegamos ao estacionamento do campo. Hoje está bem mais cheio do que o dia anterior. O time de Rentaro jogará contra minha escola, a Daiichi. Estou ansiosa de como será este jogo, vi toda sua dedicação se preparando para este dia, afinal.

Nós passamos pela revista dos seguranças e pegamos nossos lugares na arquibancada. Apesar do tempo nublado, não senti frio. Próxima a nós, vi Ichika Yari, ansiosa. Não vou negar, quando a vimos no dia anterior, fiquei um pouco receosa..., mas ao perceber que ela preferiu nos ignorar, senti um alívio imenso.

Himegi permaneceu nervosa, no entanto, procurei a acalmar durante algum tempo depois disso. Devo ter me ressentido um pouco por não me preocupar mais com a situação... ou será que não levei tão a sério por já ter tantas coisas na cabeça?

Sentei ao lado de minhas primas, que voltaram a falar daquele mesmo assunto desde que começamos a estadia no Ryokan:

— Kae, você gosta do Rentaro, não é? — perguntou Sakuya.

— Confirma isso para gente logo de uma vez! — exclamou Tomoyo. — Estivemos tentando te arrancar essa confissão desde que chegamos aqui!

Soltei um suspiro. Essa pressão é sufocante e irritante. Perto de nós, Makoto e Ayase permaneceram quietos. Talvez estivessem apreensivos para o início do jogo, assim como eu.

E, no entanto, aquelas duas vinham com aquele mesmo assunto...

— Meninas, agora não é hora para isso...

— Pare de desviar das nossas perguntas! — retrucou Sakuya. — Você não consegue ver que ele gosta de você?!

— Não sei... — respondi secamente. — E não quero perguntar a ele sobre algo assim.

— Mas...

— Rentaro e eu somos amigos. — As encarei, seriamente. — Não sei se somos algo a mais do que isso, mas estou aqui para torcer por um amigo. Por favor, parem de me pressionar com essas perguntas.

— Desculpa, Kae... não queremos te irritar... — murmurou Tomoyo.

Suspirei, mas afaguei sua cabeça. Apesar de tudo, não estou irritada com elas.

Era só que, não sei como me expressar nesse momento. Fiquei muito feliz de rever Rentaro, Makoto e Ayase nessas férias. Apenas nos encontrávamos nos finais de semana, e nem todos. Estou ansiosa para fazer sessões de filmes a noite com eles, assim como fiz com as garotas do clube de literatura. Ah, havia tanta coisa que podíamos fazer...

E com o próprio pessoal do clube de literatura, também. Só de ver os rostos tristes de Kuroi e Himegi por não virem conosco... aquilo fez meu peito doer. E eu as queria aqui comigo, por isso não estou à vontade. E minhas primas ainda me fazem aqueles tipos de perguntas me causou mais frustração. Afinal, eu que as convidei.

Meu irmão estando ali ouvindo aquelas duas falando coisas demais não era algo bom. Ele tem o péssimo hábito de fazer brincadeiras comigo das quais não gosto. Sua personalidade era bem ardilosa como uma raposa... como Shiroyama uma vez me disse.

Só de pensar na situação em si, me senti exausta. O que Oguro planeja? Por que ele está agindo daquela forma? Ainda... ainda estou chocada com o ferimento que ele fez no próprio pai. Desde que ele foi citado naquela viagem, surgiu uma angústia dentro do meu peito que não cessava. Mesmo naquele momento, era difícil respirar. Sentia como se meus ombros estivessem pesados. Tomei coragem de falar com tio Ugawa antes do incidente... e mesmo assim aqui estou tentando entender o que se passa na cabeça de meu primo...

— Oh, são eles! — exclamou tia Mikoto, que fitava o campo onde os jogadores surgiram.

Rentaro lidera o time, e do outro lado do campo está o time da minha escola. No entanto, só conheço Takahashi. O resto para mim são todos desconhecidos. Entre eles, há um garoto quase pálido que movia seus braços agitados pra chamar atenção. Em sua camisa estava escrito “Inuzuka”, e ele encarava Rentaro com olhos afiados.

Desde que o interescolar começou, apenas torci para o time de Rentaro. Não tinha interesse no time da minha escola, pois há nenhum amigo meu ali. Na verdade, não quero associar nada da minha escola por causa da saída de Oguro.

A única coisa que me interessou naquele lugar foi a oferta de estudar no exterior por causa da disputa da professora Harashima. Estar naquela escola não me trazia boas lembranças...

Oguro estava sempre comigo, e fazíamos tudo juntos. Estar em um lugar onde não se conhece ninguém era desafiador e assustador. Lembro que Oguro sempre se metia em confusões com os clubes da qual participava, e de sua classe. Takahashi sempre foi aquele a apartar suas brigas. Mas, apesar de tudo, Oguro tentava me animar com um sorriso infantil no rosto. Ele não se incomodava em ficar ao meu lado, mesmo quando queria ler.

Aos poucos, fui mostrando minhas habilidades. Por aquela ser uma escola de elite, os testes sempre foram muito elevados. Mantive minha ambição de querer chegar ao topo, e em cada teste fui crescendo. Minha posição se elevou até chegar aos dez melhores.

Fui reconhecida pelos professores e os próprios alunos. Não me senti mais sufocada em um ambiente diferente. Me orgulhei das minhas habilidades e fui respeitada por isso.

Com Oguro, foi o contrário.

— Esse jogo está intenso! — exclamou Sakuya, do meu lado. Saí de meu transe.

Rentaro avançou através dos jogadores, ziguezagueando por entre passes, mas Inuzuka o interceptou e os dois travaram suas pernas para pegar a bola. Os dois se mantiveram no calcanhar um do outro intensamente, como se a vida deles estivessem em risco. Em dado momento, Takahashi apareceu e roubou a bola de Rentaro.

— Anda logo, Inuzuka! Você demorou demais!

— Avancem! Avancem logo! — exclamou o zagueiro deles.

Os dois acertaram os passes e Inuzuka acertou o gol. Os dois comemoraram antes do time da Daiichi os levantarem animados. O jogo estava empatado em 1x1. A torcida vibrava a ponto de me fazer ignorá-los.

O jogo prosseguiu, e Rentaro fez uma arrancada, avançando vários metros antes de fazer um passe para trás, mas seu companheiro fez um drible em Inuzuka e passou a bola para ele novamente, que chutou diretamente no gol.

Rentaro comemorou com seus colegas, mostrando sua bravura em querer ganhar. Podia ver o quão cansado estava. Treinou arduamente a semana toda, durante todo o começo das férias. Mas seu esforço será recompensado... disso eu tenho certeza. Afinal, os esforçados possuem o direito de receber uma recompensa.

— Como assim não vai me ajudar?! — exclamou Oguro, frustrado. — É só me passar as respostas do questionário, não consigo estudar como você!

— Então tente, ao menos! — retruquei. — Se você se esforçar, vai conseguir! Se apenas querer as coisas de bandeja, não terá nenhum ganho próprio!

Ele mordeu o lábio grunhindo e se afastou. Nunca me esquecerei da sua expressão de fúria. Enquanto fui avançando no ranking, ele decaiu cada vez mais, e só lhe restou em conseguir as respostas dos questionários que passavam aos alunos sob risco de expulsão.

— Você é minha prima! É seu dever me ajudar!

Eu ouvi essas palavras com extremo choque. Aquele não era o primo que conheci. O que aconteceu com ele? Por que ele não conseguia enxergar o quero dizer?

Em dado momento, se você alcança um lugar alto em algum ranking, há pessoas que te apoiam e quem tentam te prejudicar. Por isso, sofrer bullying por causa disso era uma consequência comum. Colocar lixo na sua caixa de sapatos, rabiscar sua carteira e destruir seu uniforme reserva são exemplos disso.

E nestes momentos, não havia ninguém ao meu lado.

Ele não ficou ao meu lado.

Eu o via todos os dias, mas comecei a vê-lo em dias esporádicos. Suas faltas se tornaram aparentes e os professores me comunicavam de que ele tinha de parar com aquelas atitudes.

Inuzuka cometeu outra falta no tornozelo de Rentaro. Ele recebeu cartão amarelo e Rentaro cobrou a falta. Takahashi ficou em seu percalço, mas o time da Yoriyoi se reuniu e conseguiram driblá-lo em uma questão de poucos passes.

Mas Inuzuka interviu e roubou a bola deles, avançando por entre o campo sem ninguém por perto para seu auxílio. O time da Yoriyoi tentou alcançá-lo, mas aquele garoto era veloz. Ele avançou fervorosamente até que restasse apenas o goleiro à sua frente e, com uma finta, fez o gol.

O placar agora é 2x1. Mas se ele cometesse outra falta, será expulso.

E mesmo sob este risco, Inuzuka sorriu ao máximo. Está aproveitando o momento com toda sua intensidade. Um garoto na posição de zagueiro tentou falar com ele, mas o ignorou. Ouvi um grunhido no meio da multidão e percebi que foi o de Ichika. Ela está tão incomodada com o jogo assim?

Acho que estou começando a reconhecer quem é aquele zagueiro...

Todos os jogadores arfavam cansados, mas nenhum se recusava a desistir. Isso que demonstra o espírito esportivo e o desejo de vencer.

O jogo recomeçou, e Rentaro fez um passe para trás e avançou sem olhar aos seus arredores. Os outros jogadores seguiram seu encalço, Takahashi tentou marcá-lo, mas Rentaro foi mais rápido e se virou, esperando um passe aéreo de um de seus companheiros. Ele recebeu a bola de cabeça e fez uma finta em Takahashi, que não conseguiu pegar a bola antes que Rentaro completasse o passe e jogasse diretamente no gol.

A partida entrou no intervalo. Percebi que meu celular vibrava, mensagens de Himegi. Parece que ela resolveu passear com Kuroi, Teru e Shiroyama.

Senti um sentimento de alívio de que eles tinham decidido sair para passear, em vez de ficarem no ryokan aborrecidos. A culpa de os ter arrastado nessa situação me consumia. Ao menos foram se divertir um pouco.

— Kae, você precisa recompensar o Rentaro, viu! — exclamou Sakuya.

— Recompensar? Com o quê?

— Ora, é óbvio! — acrescentou Tomoyo. — Garotos são simples! É só dar um beijo que eles ficam nas nuvens!

— !!

Fiquei toda arrepiada com aquela resposta. Não esperava algo do tipo...

— Kae corada é tão fofa! — brincou Sakuya, me abraçando.

— Na... não estou corada! E falar algo como isso é... estranho.

Não posso pensar em fazer isso com um amigo, apesar de estar feliz e torcendo imensamente por Rentaro. Por que elas não conseguem entender isso?

— Aposto que se você o puxar para conversar depois do jogo e falassem um pouco de si mesmos, isso daria um clima ótimo! — começou Tomoyo.

— Não quero causar clima nenhum... — retruquei contra.

— Seja sincera, Kae. Você nunca pensou em falar de si para alguém que possa te compreender e entender como realmente se sente? — disse Sakuya. — Isso é sério. Alguma hora isso vai acontecer com todo mundo!

— Falar sobre si para alguém...

De repente, lembrei de quando eu e Shiroyama conversamos na varanda para o jardim do ryokan naquela noite e o vi daquele jeito...

O que deveria pensar sobre esse tipo de situação?

O que ele deve ter pensado sobre essa situação?

Só sei que estou confusa sobre o que deveria pensar. Então afastei aqueles pensamentos e as deixei sem resposta.

Teria de encontrar uma resposta para aquela dúvida, mas sei que ela só virá após um longo tempo. Respostas assim não vem facilmente, temos que compreender as pessoas nas quais estamos nos relacionando.

Compreender os outros... era muito difícil.

O intervalo terminou, e o jogo voltou com uma intensidade maior. Agora será tudo ou nada. E nenhum dos lados quis ceder. Rentaro avançava com os seus passes solidários, mas Takahashi e Inuzuka os interceptavam e tentavam avançar, mas o time da Yoriyoi lia os seus movimentos e os evitavam de prosseguir. O jogo avançou neste ritmo durante praticamente todo aquele segundo tempo.

Se continuar assim, dará empate.

Rentaro começou a ficar impaciente e tornou a avançar sozinho, com o time logo atrás. Inuzuka ficou mais explosivo e fazia cada vez mais passes arriscados, atravessando barreiras para evitar impedimentos de toques. Ele inspirava bem fundo e corria com toda a força dos seus pulmões, sendo tão rápido quanto Rentaro.

Takahashi tentava acompanhar a sua velocidade, mas seu foco era os passes coerentes. Naquele momento, os dois não estavam em plena sintonia, e Rentaro aproveitou esta brecha para avançar por entre a área dos zagueiros.

— Droga, Inuzuka! — exclamou Takahashi. — Kazebayashi, me cobre aqui!

O garoto foi driblado por Rentaro e agora voltava para tentar ultrapassá-lo junto ao zagueiro. Inuzuka avançou pelo mesmo caminho e deu um salto para evitar ser pego por um dos jogadores da Yoriyoi. Porém, neste pulo acabou tropeçando em Rentaro já dentro da zona do goleiro.

O juiz apitou e decretou pênalti.

Os principais jogadores da Daiichi fizeram uma barreira contra Rentaro, que iria cobrar o ato. Ele fitou o gol seriamente, e respirou profundamente. Nós estávamos todos apreensivos por aquele resultado, o campo inteiro se silenciou. Parece que todos pararam de respirar nesse momento.

O apito ressoou e Rentaro correu.

Ele atingiu a bola em questão de segundos.

A bola fez uma parábola voadora, como se flutuasse pelo ar, passando por entre a barreira de jogadores, avançando graciosamente em direção ao gol, passando mais rápido que a reação do goleiro em levantar sua mão.

Rentaro caiu no chão. A multidão vibrou. O jogo terminou.

O time da Yoriyoi ergueu um Rentaro exausto e as arquibancadas gritaram o nome da escola. O time da Daiichi se ergueu e se apoiou, cada um com seus rostos chorando.

Aquele foi o marco final do jogo. Um jogo intenso.

Um time venceria, e o outro perderia. Mas não foi por que um time era melhor que o outro. Pôde ser uma questão de habilidades, mas os dois lados tinham jogadores habilidosos.

Foi o esforço, a dedicação.

Desde sempre, trabalho em equipe são difíceis de serem realizados. Requer muito tempo e dedicação para tal. De todo jeito, aquele que se esforçou mais foi o recompensado.

Sim, quem se esforça alcança seus objetivos. Era como sempre deveria ser.

E era o que ele deveria ter feito também.

Oguro era um aluno cabeça-quente. Não estudava direito e não tinha boas relações com seus colegas de clube nos esportes. Ele sempre arranjava problemas, mas ainda esperei que pudesse encontrar um jeito de mudar. Acreditei que essa situação poderia mudar.

Até que aquele dia veio.

Fui chamada até a sala do diretor Fubuki. Ao abrir a porta, me deparei com vários professores com cara fechada para meu primo, indiferente.

— Yonagi... — entoou o diretor. — Por favor, peço que ligue para o responsável de Oguro vir aqui pegá-lo. 

— Como assim?

— Ele passou dos limites. É isso... — respondeu o diretor. — Declaro neste momento que Oguro está expulso da Daiichi por agressão física. 

— !!

Oguro, no entanto, apenas virou a cabeça com desdém.

— Como você pode estar calmo nesta situação?! Agressão não resolve nada! — exclamei para ele, e vi que seu uniforme estava manchado de sujeira e sangue, seu rosto surrado com olhos frios. 

Naquele momento, eu entendi...

— Por que? — Ele se virou para mim. — Você sabe qual é a arma mais poderosa, Kae? 

Ele se levantou e se direcionou para o corredor. 

— Quando alguém se depara com um problema em que não há aliados, agir sem se impor não chega em lugar nenhum. Lidar com problemas usando palavras não se resolve nada.

— Oguro...

— A agressão é a resposta, é isso... — Ele olhou para mim com olhos vazios, seu rosto manchado de sangue. — Para quem foi abandonado, só o que resta é a agressão.

E depois disso, nunca mais o vi.

***

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora