Volume 4
Capítulo 5: O Clímax do Interescolar ⑥
A tarde manteve-se nublada, mas não impediu que o passeio do shopping fosse bom. Himegi e Kuroi compraram casacos leves e acessórios, enquanto Teru comprou um colete para parecer descolado (?). Fui com um boné de beisebol que encontrei dentro da van (provavelmente do tio Ikishi) para não sofrer tanto com o calor. Quando recebemos o resultado do jogo, não foi nada surpreendente..., mas, também, saber que Takahashi perdeu pro Rentaro não deixou de ser algo incrível.
— Acha que vai ficar tudo bem? — indagou Himegi.
— Fala dos punks? Ou da Ichika?
— Os dois... se bem que aquela garota só veio por causa dos jogos, mesmo...
Ou no jogador que supostamente está interessada, que seja...
No entanto, a preocupação de Himegi nessa Ichika — que foi a que menos chamou atenção dentre os comparsas de Kumiko — se mostrou diferente dos demais. Durante as aparições dos outros pelo decorrer do semestre, Himegi se posicionava fortemente contra seus ideais, e desta vez gerou essa discrepância...
Será que há caroço nesse angu? Não sendo da minha conta, resolvi não me meter... o intuito de termos saído do ryokan foi para distrair nossas mentes, afinal. Estou perturbado demais pra me prender a tantos detalhes externos, no fim das contas.
Esperamos a família e os amigos de Yonagi no restaurante. Assim que chegaram, fizemos uma grande comemoração para o time de Rentaro. Durante a comemoração, recebi uma mensagem de Takahashi:
[Não foi desta vez. Mas ainda há o Festival Esportivo. Lá poderei mostrar minhas habilidades.]
Compreendo a frustração de ter perdido, e mesmo assim já estar pensando no futuro é algo louvável, de verdade.
[Inuzuka me pediu para enviar seu contato para você. Estamos combinando de praticar durante as férias? O que acha de participar?]
Agora que não há mais o interescolar do caminho, chegou o momento de me concentrar em todas as apostas que fiz. Como desafiei Inuzuka para uma corrida, basicamente consegui o passe livre de cumprir o favor para Chinatsu. Mesmo desanimado, não pude recusar o convite. Além disso, vou ter que me preparar para o Festival Esportivo de qualquer maneira.
Aquelas férias serão exaustivas...
Após a comemoração, todos irão ao parque de Yokohama. Tio Ikishi levará todos para lá, mas tio Ugawa manteve sua apreensão:
— Estava crente de que Oguro ia aparecer na final do jogo... — expressou, preocupado.
— Uma hora ele vai aparecer, Ugawa... — disse tio Ikishi. — Não adianta ficar remoendo a todo momento.
Se eu dissesse que não estou preocupado com a possibilidade estaria mentindo. Era realmente estranho não ter ocorrido nada depois do jogo.
— Chega desta conversa... — entoou tia Mikoto. — Não vamos estragar este momento valioso para Rentaro e seus amigos falando sobre isso.
Os adultos se afastaram um pouco de nós, e me peguei observando o cenário ao nosso redor. Sakuya e Tomoyo empurravam Yonagi para o lado de Rentaro, que disse em tom baixo:
— Parabéns... pela sua vitória. Quer dizer... do time.
O loiro social sorriu para ela. Todos do time os rodearam e fizeram uma série de comemorações. Se eu estivesse naquela mesma posição, podia jurar que o mundo havia parado, pois toda a atenção se voltou àquele centro. Sim, eles são a atração principal desse espaço monótono e comum.
Kuroi e Himegi participaram das comemorações. Teru devorava seu lanche, ignorando o ocorrido.
Decidi me afastar um pouco e saí do restaurante dentro do shopping, me encostando em uma pilastra do andar e verificando os arredores. Suspirei com aquela visão calma daquele lugar que não veria e não sabia quando. Aquele ryokan foi muito bom.
— Você parece até um lobo solitário se afastando dos outros deste jeito... — soou a voz de Kiyoshi. Ele se aproximou de mim calmamente. Andava de maneira descontraída, com as mãos no bolso. — Por acaso, se acovardou do lobo alfa, é?
— Uma raposa me dizendo que sou um lobo? Isso era para ser um tipo de piada? — questionei, e apenas recebi uma risada como resposta.
— E então? O que você observa desta cena toda? — indagou Kiyoshi, encostado ao meu lado. Ele se referia ao interior do restaurante, diante de toda aquela interação social.
— O que devo achar? As circunstâncias foram favoráveis e eles ganharam o jogo. Eu conheço um pouco os jogadores do time da minha escola e não são ruins. Deve ter sido um jogo incrível.
— Não estou me referindo ao jogo, e você sabe... — incitou Kiyoshi, zombeteiro.
— Sei, sim. E não tenho nada a dizer... — torci o rosto para o lado. — Não tenho nada a ver com tudo isso, sou apenas uma figura externa. Nem faço parte do grupo de amigos dela.
— Oh, não faz? — Kiyoshi fez uma expressão de surpresa, exagerada demais ao meu ver. — Será que me enganei?
— Deixa dessa atuação. A única coisa que posso dizer com clareza é que somos colegas de clube, apenas isso... — Minha voz soou mais pesada do que imaginava.
— E por qual razão você está aqui, “colega de clube”?
Grunhi baixo. Dizer aquelas coisas só me faria andar em círculos no assunto dele. Nunca escaparia e não seria livre.
— Eu meio que não odeio o seu jeito de se proteger desta forma, sabe... — continuou Kiyoshi. — Claro que, como um veterano já formado, devo dizer que se manter deste jeito não vai funcionar sempre.
— E como sabe? Se nem há nada... — ressoei, irritado.
— Oh, não?
— Não há começo. Nada se iniciou, e nada está em andamento. Só há um espaço imenso ao nosso redor. O que busco de valioso não parece estar em lugar nenhum, e sinto que posso passar a vida inteira procurando, mas nunca o terei. Mesmo assim, ainda sei que pode estar ali. Se eu preservar este sentimento, em algum momento posso alcançá-lo.
— E você vai passar o resto da sua vida procurando por algo que pode não estar em lugar nenhum? É como achar uma agulha em um palheiro!
— Ou uma estrela no espaço... — completei. — Ou um lugar em que devo estar. Se tudo o que sei é que devo me esforçar para isso, então o farei.
— Por que colocar tanto esforço em algo que não é incerto?
— Por que... — Minha visão se tornou distante, como se não estivesse falando com ninguém em particular. — ...se esforçar é a única coisa que me resta, e o que sei fazer.
Kiyoshi ficou em silêncio por alguns segundos. Até começar a rir do nada.
— Fala sério... você e Kaede são mesmo muito parecidos... — Ele cobriu os olhos. — ...até mesmo nas analogias.
— ...não enche.
— A propósito, Kaede veio falar comigo sobre o telescópio... — Seus olhos sorriam de um jeito estranho. — Não sei o que foi que conversou com ela, mas parece que ela parou de me achar desagradável como antes.
— Ah, sério?
— Então, quero que saiba disso diretamente... você é bizarro.
Dizer tal coisa de um jeito tão descontraído me confunde, sabe? Isso é um elogio ou insulto?
— O que quer dizer?
— Por ora, vou apenas agradecê-lo. Não é muito, mas estamos mais próximos... e isso é tudo obra sua.
Engoli em seco. Aquela conversa a mexeu tão profundamente assim?
— Soube que você que teve a ideia de vir para o shopping antes do horário marcado. Você é mais atencioso do que aparenta, sabia?
— Evitar conflitos e desânimos desnecessários é o que qualquer um faria, certo?
— E é o que muitos não fazem, acredite... — entoou Kiyoshi. — E estes são aqueles que mais se esperam que façam tal coisa, mas a sociedade que é totalmente superficial se cobre em diversas camadas que suprimem estas necessidades temporariamente.
— Camadas?
— Se prestar atenção, poderá vê-las com clareza. Hoje em dia, ser totalmente verdadeiro traz muitas desvantagens. Ser sincero é um erro fatal, então tome cuidado. É o mesmo conselho que dou pra minha irmã. Vejo que está sempre observando, seria por estar refletindo sobre “o que é realmente verdadeiro”?
Não soube como respondê-lo, então não disse nada. Kiyoshi se espreguiçou e tornou a se afastar. Ele parecia estar interessado em olhar outras lojas.
— Eu realmente odeio pessoas que mentem para si mesmas... — disse, sem olhar para trás. — Quando você enxerga a sociedade por trás destas várias camadas, você se enoja por qualquer um que esteja no seu lado. Encontrar pessoas verdadeiras realmente é valioso, como descreveu. E por isso que deveria repensar sobre si mesmo, Shiroyama. Afinal, estamos afastados dos outros pela mesma razão.
Eu o visualizei desaparecer pela multidão após dizer aquelas palavras, que permaneceram em minha mente. Subitamente olhei para a tela do celular, em que visualizei as mensagens da minha família. Durante aquele tempo, não me comuniquei direito.
Estou enganando a mim mesmo com o pretexto de que se nada fosse dito, o tempo continuaria estagnado?
Tornei a fitar a comemoração do restaurante com olhos duvidosos. Eu estou duvidando no que há à minha frente?
***
Passamos a tarde toda no shopping, então o dia nublado deu sinais de que a noite chegava. Nós saímos juntos, mas Kiyoshi não retornou. O ato egoísta dele não parece ter incomodado os outros.
— Ele sempre age assim... — comentou Yonagi. — Ele tende a querer se divertir à sua maneira.
De repente, ela recebeu uma mensagem no celular.
— Estão precisando de ajuda com os equipamentos para a festa... — disse, franzindo o cenho. — Kiyoshi está me avisando que ele foi chamado para ajudar e está me perguntando se algum dos garotos pode ir também.
As garotas nos encararam.
— Este é o momento de vocês serem úteis em algo! — zombou Sakuya.
Decidi ignorar aquele comentário e apenas assenti com a cabeça.
— Então nos encontramos lá, então! — disse Himegi a mim.
Por uma fração de segundo, meus olhos se encontraram com o de Yonagi, mas ela não disse nada.
Sentia que deveria conversar com ela, que deveria perguntar como estava, mas não sabia das palavras certas para isso.
O tempo estagnou, ou ele avançou mais do que imaginei? Aquele espaço... ele ainda era tão imenso quanto disse à Kiyoshi?
Eu estou próximo ou distante?
Pois era como se estivesse parado e perdendo algo importante.
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