Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 4

Capítulo Extra: Dando Um Passo Adiante

Ao saímos da van até o shopping Motomachi, continuei de olho em meu tio Ugawa, conforme cruzamos o estacionamento e adentramos no local.

— Vamos para um restaurante italiano que gosto bastante! — entoou tio Ikishi, animado.

— Porque um restaurante italiano...? — Rentaro murmurou sem jeito próximo a mim.

O restante de seu time aproveitou para animar o local ao organizarem as mesas e a coordenar os pedidos. Minhas primas se divertiam com os garotos, apesar de Sakuya não tirar o olho de mim e Rentaro... após suas declarações claras sobre suas intenções durante a viagem inteira, decidi que no momento certo falarei com ela e Tomoyo.

Vai demorar ainda algum tempo para Himegi e os outros chegarem por causa do metrô, não sei se terei alguma oportunidade depois disso, mas decidi que era a minha vez de obter respostas. Enquanto os pedidos não chegaram, me levantei do assento e me dirigi até tio Ugawa:

— Preciso... falar com você. Tudo bem?

Meu tio sempre foi alguém gentil, claramente é o tipo de pessoa que se preocupa imensamente com aqueles ao seu redor. Desde pequena nunca deixou de me visitar e brincar... e vê-lo nesse estado por causa de meu primo e não ter lhe dito nada ardeu meu coração.

Seu rosto está tão pálido e com olhos tão afundados que sua falta de descanso me recordou uma certa pessoa.

— Oh, querida... claro que sim.

Ele se levantou lustrosamente e me acompanhou para fora do restaurante. Fomos para um lugar resguardado pela sombra de palmeiras a fim de conversarmos a sós.

— Tio... por acaso, Oguro furtou o veículo do seu cliente? Por isso teve o problema na desembargadora?

— ...

— Se ele estivesse influenciado por meros arruaceiros, então ao encontrá-lo só o deixaria furioso por causa da preocupação..., no entanto, se toda sua apreensão se der por causa de um problema maior, a história é outra.

Ele suspirou, rouco.

— Por mais que desejei do fundo do coração deixar isso oculto... não há como esconder as coisas de você, hein...

— Se Oguro estiver cooperando com uma gangue ou algo assim de uma das escolas desse interescolar, então isso explica o ataque que fizeram durante o último jogo... — continuei, pensativa. — Apesar de também não fazer tanto sentido, justamente porque não imagino minha escola tendo desordeiros nela...

— Provavelmente, a Yoriyoi também não se enquadra... — Ele complementou. — Já suspeitei que fosse a escola Kanryou, mas ao entrar em contato com a prefeitura daqui, pude conversar com o próprio diretor e... o fato de os uniformes serem diferentes os tirou de qualquer suspeita.

Esse novo detalhe sobre os punks que apareceram no primeiro jogo da Daiichi em que não estávamos se tornou um empecilho maior do que o esperado. Shiroyama tinha dito que seus uniformes não eram de nenhuma das três escolas... o que Oguro está planejando?

— Em todo caso... vou contar o que realmente aconteceu... — Tio Ugawa pigarreou. — Há algumas semanas, recebi uma ligação da desembargadora daqui de Yokohama alegando que um repasse de contrato feito lá em Hachioji foi burlado. Até então, não fazia ideia de que Oguro estava envolvido nesse problema... tive que me contatar com alguns funcionários daqui para agendar os preparativos de reparação do contrato. Meu filho me acompanhou até pegarmos a última linha de metrô antes de desaparecer...

Ele tossiu mais algumas vezes, dado seu estado. A perna ferida teve um leve inchaço e isso o dificultava na locomoção, era angustiante vê-lo nessas circunstâncias.

— ...e ao tentar resolver o problema do contrato, descobri que Oguro e sua gangue usaram o remetente como alvo para a usurpação do veículo. A própria vítima os acusou como os responsáveis por terem feito a compra.

Assustador. Se deparar com um problema dessa magnitude totalmente desprevenido deve tê-lo chocado muito. Tio Ugawa tremia, receoso. Me aproximei e o abracei graciosamente, da qual retribuiu afagando minha cabeça.

— Sinto muito por causar tantos problemas... — Sua voz se embargou. — Tenha certeza de farei meu filho se perdoar com todos da família e seus amigos...

— Não se desculpe, tio... não é culpa sua. — Eu o encarei, enquanto afagava seus cabelos grisalhos. — A verdade... é que ainda me sinto culpada por tudo o que aconteceu ano passado. Não consigo deixar de pensar que toda essa confusão poderia nunca ter acontecido se as coisas fossem diferentes...

— Então, o melhor que você faz é descartar de vez essa ideia absurda de sua cabeça... — Alguém se aproximou de nós. — Não adianta querer assumir uma culpa de algo que seria inevitável de qualquer forma.

Kiyoshi apareceu, agindo normalmente.

— E tio... concordo com Kaede. Não é culpa sua. — Ele o fitou. — Desde sempre, aquele moleque causou problemas. Se me permitem a colocação, Oguro nunca se desvencilhou de querer ser mimado e recusou qualquer aprendizado.

— Kiyo...

Quis repreendê-lo por causa do tom, mas sei que assumiu a posição de carrasco para que meu tio não se sinta pior do que já se encontra... nós sabemos que usar de palavras duras é querer aplicar a dose da realidade nos julgamentos, e nisso, meu irmão sempre soube fazer muito bem.

— Sim... tem toda razão. Bem... essa é a história toda... — Meu tio se levantou. — Vou deixá-lo a sós. Não é justo prendê-los nas histórias de um velho acabado como eu... não demorem muito senão o pessoal vão comer todas as pizzas...

Ele se levantou e voltou ao restaurante não muito distante à leves mancadas. O observei em silêncio até quando Kiyoshi se sentou no meu lado e me acompanhou.

— Obrigada por ajudar o tio... — disse. — Sei que teria ficado ainda mais solitário se não estivesse por perto.

— Imagina. Foi o mínimo que pude fazer, no entanto... — deu de ombros. — É o que acontece quando se ganha a fama de ser sorrateiro, certo?

...

— Aliás, Kaede. Você parece bem mais tranquila do que ontem, até que foi rápido...

Não precisei pedir detalhes sobre o quis dizer... ele se refere na vez que falei demais sobre telescópios com Shiroyama e me refugiei no banheiro, por vergonha. Sinceramente, achei que agiria como um zombeteiro pra continuar me perturbando sobre o assunto, mas ele se deteve.

Eu já tomei minha decisão, não vou fugir agora. Por mais que as incertezas me consomam, preciso seguir adiante... se o que quero é olhá-lo de um jeito diferente a partir daqui.

— Kiyo... Kiyoshi. Eu quero te perguntar... — disse, rouca. — ...vo... você consertou seu telescópio?

Ele me encarou em silêncio, e após alguns segundos, sorriu.

— Entendo... ele realmente te contou, né? Esse Shiroyama é... mesmo interessante.

— Eu... quero te pedir um favor. Mas antes disso... preciso te dizer algo.

— Sou todos ouvidos.

— Obrigada, Kiyoshi.

— Hein?

Pela primeira vez, tirei sua expressão debochada do rosto. Meu irmão me encarou incrédulo, como se tivesse dito a coisa mais surpreendente do mundo.

— Você... o guardou por minha causa, não foi? — titubeei. — Por mais que critique minhas decisões para o futuro, ainda assim quer assegurar de me ajudar quando pode, certo?

— ...

Dito isso, o abracei. Não esperei por uma reação vinda dele, mas fui retribuída. Apenas durou alguns segundos, mas foi o suficiente para me acalmar.

— Nunca imaginei que logo você viria me abraçar...

— Só me dei conta de que... apesar de tudo, você se preocupa. Eu sei que faz esse papel de vilão para que seja odiado e os outros se protejam.

Kiyoshi ficou algum tempo me encarando, ainda surpreso.

— Quebrei aquele telescópio quando comecei o ensino médio sem querer, mas na época senti até um alívio... no fundo, não passo de um ordinário. A mamãe acha exagero a dedicação do papai, mas ela em si não para de pensar no trabalho nem por um minuto por nossa causa. No fim das contas, puxei esse senso dela.

Me senti um pouco estranha de vê-lo se abrindo comigo..., mas, no fundo, sempre soube que Kiyoshi é alguém assertivo com os outros, por mais que odeie admitir isso.

— Sei que ficou triste por vê-lo quebrado... por isso que mandei pra um amigo meu arrumar. Pensei em te presentar no seu aniversário, mas bem... esperar momentos importantes é algo que somente ordinários fazem, mesmo.

Nisso, eu ri. Não pude conter a satisfação em meu peito.

— E então? O que vai decidir?

— Dê ao Shiroyama, por favor. Ele parece estar ansiando em obter um mais do que eu...

— Por mais que sua expressão diga o oposto? — retrucou Kiyoshi. — Eu sei que você está dizendo no sentido de que vai dominá-lo de qualquer jeito...

— Me... me pegou...

— Há! Há! Excêntricos são mesmo imprevisíveis, mesmo... — brincou. — O jeito que você tropeça nas palavras é do mesmo jeito do papai, aquele desastrado...

Meu pai é bem desligado nos assuntos cotidianos, constantemente se esquecendo de coisas simples como ir no mercado ou fazer a barba. Se tratando em falar sobre o espaço, passaria horas explicando o que se ocorre em uma nebulosa, por exemplo.

Ser considerada seu semelhante me enche de orgulho, mas também tenho um lado ordinário. É um constante ricochete de emoções que tento lidar, um de cada vez.

— É verdade que odiei o papai durante algum tempo, justamente por saber que nunca serei igual... — expressou ele. — Mas, saiba que tomei uma decisão que fez com que voltasse atrás de consertar aquele telescópio.

— É mesmo... e qual foi?

— Quero estar no topo do mundo, Kaede. — Meu irmão me fitou naquele mesmo tom zombeteiro. Porém, há uma intenção escondida atrás dessa expressão infantil. — Mesmo sendo um ordinário, decidi que farei o que for preciso para alcançar o topo destinado aos excêntricos. Até mesmo alguém como o papai deve compreender isso...

Senti um calafrio, mas também me animei. Há uma regra na família Yonagi da qual respeitamos a todo custo: — Dedique-se na intensidade de uma vida inteira, família ou não.

— Vamos voltar... os outros já devem estar chegando, a propósito. — Ele se espreguiçou ao levantar. — Será que devo conversar com Shiroyama a respeito?

— Por favor, não... — Enquanto caminhávamos juntos, Kiyoshi ria como uma raposa se divertindo.

— Aquele cara... geralmente, as pessoas se confundem com o meu jeito de agir, mas ele viu através de mim perfeitamente. É realmente um páreo divertido de se assistir...

— Sim, tem razão... apesar de ainda me ser surreal...

— Seu jeito sincero de ser que é surreal, isso sim. Quando conseguir o mesmo com seus sentimentos, talvez chegue no mesmo nível que o papai... por mais que possa deixá-la mais destoada do que há em sua volta.

Ser sincera com seus próprios sentimentos... será isso o que Shiroyama quis me mostrar em nossa conversa na noite anterior? Ainda não sei o que estar por vir e o que farei quando se me encontrar com Oguro, mas talvez... quem sabe não encontre mais respostas?

De uma coisa é certa, depois dessa viagem nunca mais serei a mesma pessoa de antes. Sentir e mudar o que há ao meu redor... é uma sensação nova e diferente. Se foi isso o que Shiroyama me causou quando nos falamos, farei o possível para compreender o que é todas essas emoções crescendo dentro de mim.

— Papai... tenho certeza de que terei muito o que conversar quando nos encontrarmos... — murmurei baixinho para que ninguém ouça, nem mesmo meu irmão mais velho.

Mas uma coisa devo concordar com Kiyoshi... Shiroyama Hideo realmente é alguém interessante e que me intriga com uma novidade toda vez.

— Até onde isso pode chegar... quem sabe?

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