Volume 4
Epílogo: Durante a Festa ②
Mesmo sabendo da localização da loja de conveniência mais próxima, ainda tive dificuldade de me aproximar.
Cheguei ao local extasiado, e perguntei à atendente alarmado sobre uma garota de cabelos escuros. Achei a descrição dada muito vaga por não me lembrar da vestimenta de Yonagi, apenas de seu rosto, porém, a atendente respondeu prontamente a direção em que ela foi pressionada a tomar.
Fiquei aliviado e tornei a agir com mais cautela, pois os arredores estavam em silêncio.
Se eu fizer qualquer ruído desesperado, eles poderão ouvir e mudar sua posição. Tenho que descobrir onde estão sem chamar atenção!
Minha respiração ofegava por causa da corrida que dei, e durante alguns segundos apenas ouvi meu próprio coração batendo e o som da chuva incessante ecoando, mas em dado momento ouvi alguém gritando. Era uma voz masculina. Apertei o passo.
Evitei poças de chuva para não fazer ruído, e me encontrei em uma via adjacente onde Yonagi e Oguro se encontram. Eles estão a poucos metros, mas posso ver o quanto ela está assustada. Tinha um, dois... três caras ali?
O que devo fazer?! Não posso chamar a polícia. Mesmo que estivessem próximos, vai levar muito tempo. Não tem como enfrentar três pessoas com bastões, não está balanceado.
E mais importante ainda.... não devo mostrar minha aparência. Vim com o casaco cinzento que comprei no shopping, o boné de beisebol e de máscara. Se eles descobrirem quem sou, podem usar isso contra Yonagi ou contra os outros.
Pessoas assim são seres repugnantes do pior tipo. Nutrem qualquer resquício de vingança, seja o menor que fosse.
Além disso, não quero que Yonagi saiba que seja eu. Havia a possibilidade de que ela não tome coragem para fugir, e a prioridade máxima era essa.
Oh, não! Eles começaram a brigar e agora Oguro está se aproximando para atacá-la! Não tenho tempo de pensar em um plano!
Minhas pernas apenas se moveram mais rápido que a mente.
Em segundos cheguei ao beco e impedi o bastão de aço de acertar Yonagi com um chute pela lateral. Oguro soltou o bastão pelo susto, fazendo barulho ao cair do chão. Os outros dois comparsas se surpreenderam, incluindo Yonagi.
— Shi...?!
— Corre daqui! — intervi, berrando o mais alto que consegui. — Foge daqui! Corra o mais rápido que puder!
Isso pareceu tirá-la de sua paralisia, pois ela começou a correr. Logo desapareceu pelo beco.
— Droga! Vão pegá-la! — berrou Oguro. — Não a deixem escapar!
Os outros dois começaram a correr atrás dela, mas peguei o bastão de aço no chão e o desferi contra a perna de um deles, que caiu com tudo. O golpe pareceu ter acertado o fêmur, pois o cara segurava a perna com uma expressão de pura dor.
O outro esqueceu de correr atrás de Yonagi e tentou me acertar com o seu bastão, mas me esquivei curvando o corpo e o tirei com um golpe do meu, lançando-o para longe. Oguro aproveitou para me atacar de surpresa, mas desviei do ataque, o que o fez pegar o bastão do amigo caído.
— Quem é você, maldito?! — exclamou Oguro.
— Pode me chamar de maldito se quiser, idiota... — retruquei, arfando.
— É um conhecido de Yonagi, presumo. Ela quase disse seu nome.
— ...
Falhei totalmente no disfarce. Acredito que foi por causa da máscara, ou pelas olheiras?
— E então? Shi-alguma-coisa?
— Shimada. Este é meu nome — menti. Girei o bastão para demonstrar confiança. — Você deve ser Oguro, o primo problemático.
— Ora, que apelido carinhoso que me deram... — Ele riu, mas sua pose se manteve séria.
— Se bem que maldito combina melhor com essa cara de fuinha...
— O que você sabe sobre mim?
— O bastante para saber que você não passa de um canalha... — provoquei. — Achei que fosse mais esperto do que isso.
— Há! Parece que temos mais um que se acha mais esperto do que todos! Ponha os seus pés no chão, seu otário! Somos de mundos diferentes! Eu vivi a verdadeira realidade da sociedade! E Kaede vai pagar por tudo o que me fez!
— E ficar gritando essas coisas te coloca em uma posição melhor que a dos outros? Essa é nova para mim, viu...
Ele se aproximou e brandamos nossos bastões, que se travaram em uma disputa de força bruta.
— Farei todos aqueles que me fizeram sofrer pagarem! — exclamou Oguro. — Não importa quem seja!
Os bastões mantiveram o atrito. Qualquer descuido se mostrará fatal... ele está realmente avançando com uma intenção mortal. Não sei quanto tempo consigo arranjar para Yonagi até que chegue às viaturas, só preciso que foquem sua atenção totalmente em mim!
Mas uma coisa surgiu em minha mente.
Houve um conflito desse tipo no passado.
O guardei em um canto obscuro na minha mente, mas o lapso dessa confusão as trouxe à tona como um Déjà Vu mais vívido do que nunca.
“O que eu farei se o visse?”
No fim das contas, agi por impulso, mas notei que esse pensamento foi totalmente errôneo. Não era sobre ele, nunca foi. E sim com as minhas lembranças... as memórias e erros cometidos.
Nunca soube o que faria se os trouxesse à tona.
E por isso, aquele sentimento surgiu.
Oguro era forte. Sua força não tinha comparação, e por isso não posso ganhar. Eu, que não tenho nenhuma qualidade física.
Mas... usei isso ao meu favor.
Naquele instante, me rendi à fúria em relembrar aquela cena horrorosa que por muito tempo quis esquecer. Quero apagá-la... destruí-la!
Meus braços soltaram o bastão que nos travavam pela força e o ataquei. Oguro se desequilibrou para frente por causa da reação surpresa e esperou que o atacasse pelo abdômen ou seus membros. Sua expressão refletiu esta previsão. Mas não foi isso que fiz.
Oguro tinha muitos músculos, o típico delinquente durão, então agi no único local que poderia usar seus músculos contra ele.
Minhas mãos se pressionaram em seu pescoço, apertando sua garganta.
— ?!
Ele resfolegou e, neste momento, prendi sua saliva na garganta. Nos segundos seguintes, causei um estado de asfixia em seu corpo que o deixou assustado, deixando a guarda baixa. Movi minha perna e o desequilibrei, e momentos antes de colidir no chão, pressionei sua garganta com ainda mais força.
— !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ele se engasgou e se convulsionou, sem conseguir se mexer. O amigo ao seu lado guinchou assustado.
— O... O que você fez?!
— Não tenho músculos como os dele, mas no corpo humano há o que chamam de tensão muscular. Se você passar por um período de estresse de uma só vez, pode sentir até paralisia em certos casos. Some isso ao fato de ser enforcado e acontece isso. Para se proteger, o corpo entra em um estado de paralisia muscular até se recuperar da lesão sofrida.
— Na... não consigo... me mexer... meu corpo está doendo...!!!!!
Oguro se contorcia, mas seus braços não se moviam, e seus olhos lacrimejavam.
Ele não vai se mexer durante algum tempo, e era exatamente o que precisava. O amigo dele se moveu para cima de mim, e desferi um chute em sua canela, acertando seu osso.
— Isso é golpe baixo! — berrou o cara, tornando a se afastar.
— Você não ia esperar que fosse jogar limpo com vocês, certo? — recuei passo a passo.
Nisso, o punk começou a se aproximar enfurecido. Apertei o passo e saí do beco, momentos antes de ser perseguido e o outro cara caído no chão socorrer Oguro.
Avançamos vários metros, com aquele cara em meu encalço. Dei a volta pelo quarteirão, de modo que segui em uma direção adjacente da que Yonagi tomou. A chuva se agravou, ressoando um chiado forte pelo ar, mas o punk berrava injúrias e logo me alcançaria, o golpe na perna não foi o suficiente.
“Não o suficiente... nunca o suficiente.”
Aquelas mesmas palavras sob meu pensamento...
“Nunca é o bastante. Nunca é demais...”
Saltei correntes de água por entre as calçadas, temendo que tropeçasse em alguma área de limo ou pela própria água.
E aquele cara não parou de correr atrás de mim.
Por isso, respirei fundo.
Chegou a hora de confrontar minhas próprias escolhas.
Segurei a respiração e dei um salto para trás, ao mesmo tempo que girei meu corpo e desferi um golpe com as costas da mão sob o rosto do cara. O ataque surpresa foi efetivo e o fez baixar a guarda.
Mas ele atacou por reação, usando um chute. Eu agarrei sua perna no mesmo instante e o arrastei até uma área molhada próxima, fazendo-o escorregar ao jogar sua perna para o lado oposto.
— Droga!
Ele tentou conter a queda com as mãos, mas empurrei seu rosto contra o chão molhado. Antes que pudesse se levantar, desferi um chute em seu estômago, aturdindo-o.
Exausto, arfei constantemente.
Porém, mesmo com a chuva intensa zunindo meus ouvidos, pude ouvir as vozes dos outros punks se aproximando. Oguro e o outro cara surgiram rapidamente, mas aparentavam sinais de esforço.
— EU VOU TE MATAR, SEU MALDITO!!! — rosnou Oguro, estendendo o bastão. Seu colega fez o mesmo. Serão dois contra um e estou desarmado.
Tinha de pensar em algo, rapidamente se aproximam.
Dez metros. Cinco metros.
Segurei a respiração e tornei a correr. Minhas pernas arderam e meu corpo esfriou cada vez mais pela chuva. Me senti tão pesado que não consegui correr com mais tanta intensidade.
Oguro veio primeiro e brandou seu bastão, mas consegui o conter por estar sem forças. Ele ofegou pelo esforço, ainda aturdido.
Por outro lado, o outro cara foi mais rápido e acertou o ataque do bastão em minhas costelas pela direita. Tentei dobrar o corpo para evitar um dano direto, mas ainda senti dor.
Subitamente empurrei o bastão de Oguro contra seu comparsa e o desequilibrei, acertando-lhe um chute do peito que o fez cair no chão, cambaleado.
— Seu...! — O outro cara tentou reagir, mas desferi o golpe do bastão em seu rosto e o atordoei. Ele caiu no chão, e ataquei com o bastão em seu rosto novamente. Foi um nocaute.
Oguro tentou levantar. Me virei em sua direção e preparei o bastão.
— Seu maldito... quando eu te encontrar de novo... você vai me pagar...!
— Não quero saber! Desmaia logo! — ataquei com o bastão em seu rosto e o derrubei por completo.
Senti um peso tão grande em meus braços que larguei o bastão com tudo. Os três estão desacordados, então logo a polícia vai aparecer e os levará.
Mas não posso continuar ali, preciso fugir. Tenho que correr.
A chuva chiou constantemente em meus ouvidos...
Então... corri. Avancei o mais rápido que pude.
Aquele som torrencial era muito irritante...
Nunca esperaria que lutaria daquele jeito contra alguém.
Muito menos com alguém que tinha um uniforme escolar conhecido. Eles não são estudantes da Yoriyoi, e nem da Kanryou, a opção mais viável.
Faz algum tempo que não via o antigo uniforme escolar da Jimbocchi, a escola da qual eu vim.
Enquanto corria, amaldiçoei quem quer que causou essa situação. Aquilo definitivamente não foi a viagem de férias que queria.
A chuva escorria violentamente contra meu rosto. E minha visão se embaçou pelo cansaço. Tudo o que conseguia visualizar são faixas de luzes e gotas de água e suor escorrendo pelo rosto.
Tudo aquilo aconteceu por causa de uma única pessoa, e por causa dela estou correndo ileso de uma briga que poderia ter acabado de um jeito muito pior.
Nunca esperaria...
Que em toda a minha vida...
...eu enforcaria alguém da mesma forma que fiz com minha irmã antes.
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