Volume 1 – Arco 1
Capítulo 8: Purificação?
Quevel passava seus dias cuidando da criança desacordada, com ajuda de Ahrija mantinha a pequena casa bem arrumada enquanto isso.
Fazia pequenos rituais para fazer ela cuspir mais daquela impureza que estavam no seu corpo, mesmo cuspindo tanto parecia que ela não estava nem perto de acordar, o que o preocupava muito.
Não demonstrava isso na frente do garotinho dracônico que ainda não tinha nem seus chifres crescidos, era uma criança um pouco mais velha que a princesa, que faria seus 4 anos em breve.
E seus pais estavam preocupados.
Queriam saber se ela já acordou, como estava a retirada de impurezas, mesmo que Quevel não quisesse falar, aquilo estava demorando bem mais do que previu, parecia que algo não queria que ela fosse feiticeira, mas como isso começou afinal?
— Senhor, vamos comer. — Ahrija chamou após colocar a comida na mesa.
Quevel suspirou se levantando de onde estava sentado, precisava se alimentar de qualquer modo, não podia preocupar o menor.
Mesmo que Ahrija fosse a pessoa que mais lhe conhecesse no momento, e ele sabia quando Quevel estava preocupado, por isso não pedia nada, não falava nada e deixava a casa o mais arrumada e calma possível.
Ahrija era um garoto pequeno para os padrões dracônicos, mas era claramente mais alto que uma criança humana comum, os cabelos bem escuros, a pele ainda sem escamas e os olhos esverdeados eram o que compunham seus visual.
Era um garoto bom, segundo Quevel, não sabia quem eram seus pais, então acabou adotando ele como sua figura familiar, e sabia quando ele ficava amuado ou preocupado, e agora ele estava assim:
— Como ela está?
— Ainda não acordou, mas parece saudável. — Quevel falou com um sorriso, mesmo que cansado.
Não podia fazer nada pois precisava esperar o tempo da criança, mesmo que algumas semanas já tivessem passado algumas semanas, quase um mês inteiro e ela continuava dormindo sem mostrar qualquer sinal de acordar. Mas mais uma vez ela começou a tossir, fazendo Quevel se levantar, Ahrija se levantou para ver também.
Tinha certo medo da garota se engasgar com aquela gosma preta, então sempre que ela começava a tossir tinham cuidado para colocar ela de lado e cuspir aquilo no balde ao lado de cama:
— Senhor, dracônicos também tem isso?
— Eu nunca vi, talvez tenham, mas dracônicos nascem com núcleos já feitos, humanos tendem a passar pelo despertar, mesmo assim já dá pra saber quando uma criança humana tem predisposição para magia. Quando eles não tem é porque suas veias de mana estão entupidas por impurezas.
A garota parou de tossir, sendo colocada de volta na cama deitada com calma, estava em paz de novo, com o rosto calmo enquanto voltava a respirar mais calma:
— E eles podem colocar pra fora assim?
— Sim, mas normalmente quando estão mais velhos, não quando estão pequenos assim. — Fez carinho nos cabelos de Elia.
— Como será que ela está dentro da cabecinha dela?
Ahrija cutucou a cabeça de Elia, e então Quevel deu risada se virando para voltar para a cozinha terminar seu almoço, mas o garoto tinha uma questão: como será que ela estava dentro daquela cabecinha?
Para Eliassandra era como se afogar.
Se afogar numa gosma preta que a deixava quase sempre submersa, quando voltava a superfície acabava tossindo e cuspindo aquela gosma, o fazia fora de sua cabeça, era uma situação horrível de se estar.
Mas eles não viam isso, apenas uma criança que tossia e cuspia ocasionalmente gosma preta.
Claro que os rituais estavam ajudando, mas ela tinha um corpo frágil, não podiam ir muito além da primeira vomitada, tinham medo dela se machucar e talvez não voltar mais, era importante que ela ficasse bem.
Mas o que poderia fazer além de um processo lento e claramente demorado, não queriam causar dor a criança:
— Senhor, como funciona a magia entre humanos?
— Como?
Quevel estava movimentando as pernas da princesa, tinha medo que se ela ficasse muito tempo se mover-se, seus músculos ficassem atrofiados e dificultasse sua volta à normalidade quando ela acordasse:
— Como dracônicos temos uma enorme facilidade com elementos, até com os mais incomuns e raros, e a nossa magia vem dos núcleos, não é?
— Sim, está certo. — Quevel trocou a perna que movimentava, mas estava curioso para saber onde seu pupilo chegaria.
— E os humanos? Como fazem isso?
Quevel sorriu, deixou a princesa na cama para sentar numa cadeira olhando seu pupilo com certo orgulho, ele estava crescendo, e também ficando mais esperto:
— Humanos lidam com mana de forma direta, que chamam de “aura”, é assim que eles fazem magia, e por essas auras eles conseguem fazer magias.
— Mana tipo os seres celestiais e abissais?
— Exatamente como eles, mas diferente desses seres que são fadados a uma única aura, a aura de seu nascimento, humanos têm uma capacidade única de poderem praticar qualquer magia de qualquer raça e até auras divergentes.
Ahrija ficou confuso, parece que era um mundo novo para ele, como poderiam existir feiticeiros assim? Humanos eram tão versáteis assim? Era incrível!
— Não sabia que eles eram tão incríveis.
— Sim, mas também são raros, ao menos nesse continente, a proporção é de um mago a cada cinco pessoas.
Ahrija ficou ainda mais confuso, parece que mesmo sendo inteligentes, aquela matemática era avançada demais para sua cabecinha infantil, o que fez com que Quevel desse uma risada sincera, se divertindo com aquilo:
— Esquece essa última parte, mas entendeu o que eu quis dizer?
— Sim, entendi. Qual magia acha que ela vai ter?
— Não sei, estou ansioso para saber.
Se sentia mais leve, mas logo essa leveza foi tirada quando ela tossiu mais uma vez, cuspindo mais uma quantidade considerável daquela gosma preta, a fazendo tremer de novo, Quevel se ergueu para limpar a garota que acabou se sujando com aquilo.
Esperava que a criança ficasse boa logo, mas estava claro que não iria conseguir trata-la antes de seu aniversário que era daqui algumas semanas, gostaria de dar esse presente pros seus pais, mas seria impossível:
— Senhor?
— Vamos nos preparar para mais uma sessão de purificação.
Se levantou indo preparar mais uma vez aquele banho de ervas e símbolos estranhos, algo que estava acontecendo dia sim dia não há uma semana, com a ideia de adiantar o processo, mas ainda com cuidado, o corpo era frágil e poderia se machucar.
Ahrija estava andando de um lado para o outro preparando todo o local, fazendo os desenhos no chão novamente e pegando os ingredientes, era algo que virou rotina desde que a criança humana chegou.
Como dragão, seu despertar provavelmente estava se aproximando, afinal seu quinto aniversário estava se aproximando, não era incomum um jovem dragão despertar comum elemento e depois conseguir dominar outros ao longo de sua vida, mas o primeiro era sempre essencial, pois dizia como seria sua personalidade e seu caminho a ser traçado, o que precisaria buscar.
Estava ansioso.
Mas agora estava focado em fazer aquela criança acordar, ela era tão pequena e frágil, tinha medo dela não sobreviver aqueles rituais que eram tão invasivos e a deixavam ainda mais com uma aparência quebrável, o corpo molhado e trêmulo da garota, a respiração curta que parecia que iria parar a qualquer momento.
Era assustador.
Seu mestre logo estava trazendo a criança para colocar na água, e tudo acontecia exatamente igual à todas as outras vezes: As linhas brancas percorriam seus braços por alguns instantes e então ela começou a vomitar aquela gosma preta, mesmo sendo uma boa quantidade, precisavam parar antes que ela começasse a engasgar, o que algumas vezes aconteceu.
E logo acabou, em questão de trinta minutos. A menina já estava sendo tirada da água que ficou preta por conta das impurezas que saiam naquele vomito, Ahrija se habilitou para jogar aquela água fora enquanto Quevel foi secar a criança para a vestir e deitá-la de novo na cama.
Onde estava?
Não sabia.
Parecia ser um lugar cheio de cores pastéis que se misturavam, sentia seu corpo flutuar, não era como o mar negro que estava imersa até poucos minutos atrás, ou seriam dias? Não tinha qualquer noção de tempo ali.
Seu corpo pairando lhe dava certa agonia, aquilo parecia não ter fim, e além de tudo estava sozinha.
Ficou à deriva até sentir o corpo pesar e começar a cair, se é que tinha baixo ali, mas ao menos estava indo para baixo na sua perspectiva. E caiu contra o “chão” do local, batendo suas costas contra a estrutura dura:
— Ai. — Reclamou se deixando ficar jogada no chão por algum tempo.
Se levantou meio incerta, mas não sentia dor ou algo parecido, foi apenas uma queda metafórica aparentemente.
Olhou ao redor e à primeira vista parecia tudo completamente vazio, até perceber que tinha alguém ali, uma mulher talvez? Sua pele era pálida com alguns reflexos azuis, os olhos pareciam estar cobertos por uma venda negra, as orelhas pontudas iam do branco até o azul escuro nas pontas, assim como seus dedos, a física do local fazia os cabelos cor de lua flutuarem iguais aos de Eliassandra:
— Parece que depois de anos, eu tenho companhia. — Sorriu mostrando os dentes perfeitos.
— Que lugar é esse?
— Entrou aqui sem saber o que é? Bem você está num dos planos de existência, bem vinda ao plano astral, criança.
Já tinha lido sobre tal plano astral,mas nunca pensou que entraria nele daquele modo:
— Claro, para estar aqui não está apenas no plano astral, mas no limpo.
— O que?
— É uma situação que você está entre a vida e a morte, normalmente cada pessoa tem seu próprio limbo, mas você está aqui, deve ser um caso especial.
Elia encarou aquela figura sem acreditar, estava nessa situação? Como? Aquelas impurezas deixaram ela tão debilitada ao ponto de estar naquela situação:
— Quer contar por que está aqui?
— Primeiro me diga qual seu nome.
A figura sorriu, os dentes perfeitos que quase pareciam brilhar:
— Eu sou Pollux. E você, criança?
Elia abriu a boca para responder, mas parou para pensar um pouco, aquilo ainda era incerto, mas aos poucos era como se o seu antigo nome não fosse mais certo:
— Eliassandra, Eliassandra D’Ank.
— É um prazer lhe conhecer, senhorita D’Ank, por que não se senta comigo?
A criança pareceu meio desconfiada, mas finalmente cedeu, após longos instantes, sentado à frente de Pollux, que ainda sorria com toda aquela calma:
— Então… Você está aqui por qual motivo?
— Eu não sei, nem sabia que lugar era esse ou como chegar aqui.
— Entendo, é tão nova e já está passando por essa situação…
— O que é você?
Elia finalmente teve coragem de perguntar, e uma reação diferente do que esperou se fez presente: Pollux riu.
Riu tanto que se curvou para frente, com as mãos na barriga, rindo como se a pergunta fosse a coisa mais engraçada do mundo, e talvez fosse, mas para a criança na sua frente só foi ofensivo. Tanto que Elia se levantou emburrada, marchando para longe:
— Não! Espera! Não vai embora!
— Por que está rindo?
Pollux estava tentando se recuperar, mas era difícil, o que fazia Elia inflar as bochechas e bater o pé irritada, mesmo que fosse uma reencarnação parecia uma exata criança agora:
— É que… Você é uma criança humana. — Pollux disse. — Você poderia perguntar tantas coisas, mas o que eu sou?
— Sim, eu nunca vi nada como você!
Pollux finalmente conseguiu conter as risadas, recuperando o fôlego depois daquela leva de risadas:
— Bem, eu sou uma maga especial, por assim dizer.
Elia ficou encarando Pollux, mas cedeu, sentando no chão encarando sua nova companhia, aparentemente não tinha o que fazer, então era melhor do que ficar sozinha ali:
— Por que você está aqui?
— Estou gravemente ferida no meu corpo físico. E você?
— Acho que tentei expulsar as impurezas do meu corpo e passei mal e agora estou aqui. — Ao menos foi assim que chegou a essa conclusão.
Nem mesmo ela sabia que situação se encontrava, mas se estava no limbo então deveria estar nessa situação de vida ou morte.
Talvez se tivesse esperado mais alguns anos…
— Então por que fez isso?
— Eu queria praticar magia.
Elia falou de forma firme, encarando Pollux a sua frente, Pollux por outro lado apenas sorriu:
— Então eu posso te ensinar.
— Que? Mas eu não posso…
— Com seu corpo talvez, aqui eu posso te mostrar, que tal?
Silêncio.
Não sabia como proceder agora, de fato ela tinha um ponto, seu corpo era incapaz de praticar magia agora, mas ali não era um plano físico, talvez fosse possível realmente praticar.
Respirou fundo depois de alguns minutos em silêncio:
— Por favor, me ensine.
Pollux sorriu, mostrando todos os dentes perfeitos que tinha, se levantou mostrando que segurando ela ali, tinham grilhões nos tornozelos:
— Então, pelo tempo que ficar, seremos mestre e aprendiz.
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