Volume 1 – Arco 1
Capítulo 9: Mestre das Estrelas
Quanto tempo estamos aqui…?
Não sei.
Mas Elia continuava ali aprendendo sobre coisas que nunca pensou em ter acesso.
O plano astral era algo que ela não conseguia entender em sua totalidade, na verdade achava que ninguém conseguiria.
— O plano astral é como se fosse uma uma ponte que liga todos os planos, existem mais planos fora esse e o físico, afinal o físico é onde tudo culmina. Mas existem até mesmo ramificações dentro do plano astral, uma delas é essa, o limbo, onde pessoas que estão entre a vida e a morte estão.
Elia finalmente levantou a mão:
— Não deveriam ter mais pessoas aqui?
— É uma ótima pergunta, a verdade é que quando se tem domínio mais avançado do astral você consegue criar pequenos recantos para si mesmo, a única explicação que tenho para você estar aqui é que você tem talento natural para isso. E por isso eu quero te ensinar o pouco que sei.
Pollux não podia andar muito por ali, os grilhões a impedia de ir muito longe, o que parecia ser uma pena, ela queria andar:
— Não sou uma mestra entre planos, mas sei lidar com outros ramos de magia, como humana você tem uma facilidade de aprender qualquer tipo de magia, uma versatilidade que outras raças não tem, por isso quero te ensinar a magia das estrelas.
— Magia das estrelas? Existem poucos magos humanos que conseguem dominá-la por ser instável demais, e depois… Como vai me ensinar isso se não tem certeza se irei despertar?
Pollux sorriu olhando para a criança, enigmática como sempre:
— Apenas aprenda o que eu tenho para ensinar, criança.
— Caramba, você fala muito e não diz nada.
— Eliassandra, quem é você?
Silêncio.
Foi como se todo o barulho suave que tinha ali cessasse totalmente enquanto a criatura dita com Pollux olhava a humana dita como Eliassandra, como se ambos soubessem que tinham segredos que não queriam falar, duas pessoas que escondiam muito mais do que aparentavam.
Foi como um acordo silencioso que ambas travaram entre si, Elia deu de ombros, não queria falar, então não podia pedir tal coisa sobre Pollux:
— Certo. Me diz ai o que vamos fazer.
Pollux sorriu e sinalizou para que Elia se sentasse à sua frente, para que assim começasse ensinar a criança:
— Diga, o que você sabe sobre a magia das estrelas?
— A magia mais rara entre as compartilhadas, eu nunca a vi pessoalmente.
— Certo, entende o básico do básico, mas sim, a magia astral é em primeira linha a magia das estrelas, para isso você precisa conhecer as estrelas, conhecendo as estrelas você consegue dominar essa magia, mas antes precisamos lidar com mana.
— Mana eu já sei lidar.
— Ah, é mesmo? Então me mostre.
Elia ficou em silêncio encarando Pollux que sorria como se já soubesse o que ela estava tentando pular uma aula:
— Heh, como eu imaginei.
E o treinamento básico começou.
Como uma maga extremamente poderosa em sua vida anterior, lidar com mana deveria ser fácil, mas a verdade era que como uma maga nascida nunca precisou aprender de fato como manipulava mana, e agora estava ali.
Quem diria que algo tão simples quanto respirar para ela seria algo tão complicado agora, ao menos estava sem aquela barreira de impurezas que a impediam de sentir a própria mana, e também a mana daquele local.
Então aquele treino que deveria durar alguns minutos parecia durar anos, naquele lugar não sentia passagem de tempo ou coisa assim, não fisicamente, mas sua mente sentia, era como se tivesse passado séculos ou mais, talvez por ser algo tão tedioso para si quanto aprender a andar de novo.
Era tão… Chato e tedioso.
Pollux reclamava sempre que errava a respiração, ou algo assim, mas então começou a parte mais complicada:
— O tempo todo?
— Sim quero que mantenha a proteção de mana que eu te ensinei.
— Isso é magia básica! Não é nada parecido com magia astral, isso é magia que se ensina pra crianças.
— E exatamente o que você é mesmo, Eliassandra?
Elia fez bico cruzando os braços como a perfeita criança que era, às vezes esquecia que tinha reencarnado e não era mais uma adulta que era antes.
E mesmo assim, Pollux tinha razão, ela não sabia o básico, porque saberia fazer isso se nunca foi preciso? Era uma maga tão poderosa que não precisou aprender magias de defesa, e agora estava ali aprendendo o básico que era manter uma barreira de mana enquanto fazia tudo, não que tivesse muito a fazer naquele monte de nada.
A criança sentou-se de novo no chão, encarando o nada até fechar os olhos para voltar a se concentrar na mana, não só na sua, mas ao redor de si também.
Todo o local era feito de pura mana, mas de tipos diferentes, ali era uma mana pura que mal conseguia descrever, nunca sentiu algo parecido em suas duas curtas vidas.
O tempo parecia que não passava, que estava ali a anos, mas talvez não tivesse se passado nem horas, e sabia? Não! Nada daquele lugar fazia sentido, nem mesmo a física. Segundo Pollux, aquele pequeno espaço ali era exclusivo dela, e por isso poderia modificar, então vieram as perguntas:
— Por que não modifica para algo menos desconfortável?
— Eu gosto assim. É livre.
Mas para Elia aquilo não fazia sentido, por que não fazer algo prático? Pollux era realmente um mistério para si, sabia que ela não era humana, mas que raça era? Talvez um tipo de elfo? Pensava que talvez fosse possível encontrá-la no mundo físico e assim conhecê-la melhor.
Naqueles momentos ali Elissandra finalmente estava aprendendo algo, a sua manipulação de mana finalmente era algo puro e não apenas destrutivo e para guerra como era antes, era como sua vida anterior tivesse sido… Errada:
— Sinta a mana no seu corpo, e agora tente controlar ela pela ponta de seus dedos. — Pollux continuava a instruir.
Elia fechou os olhos, após todas aquelas instruções finalmente conseguia fazer isso, sentindo a mana passar pelo corpo diminuto até chegar a ponta dos dedos infantis, e então a mana saiu, como pequenos pontos brilhantes e brancos, não pôde escrever a felicidade que sentiu quando conseguiu aquilo, como se tivesse conquistado a nota máxima em um exercício da escola.
Pollux sorriu de forma quase carinhosa para Elia, mesmo com a venda dava para sentir o olhar quase amoroso que tinha para Elia:
— Eu consegui! — A pequena princesa deu pulinhos alegres.
— Sim, você conseguiu. Estou orgulhosa.
Mesmo que parecesse apenas um pequeno avanço, um avanço mínimo para ela com todo seu conhecimento, sentia que agora estava aprendendo da maneira certa, de um jeito calmo a mais divertido.
Não estava na guerra.
Quando renasceu queria acima de tudo proteger aquela familia, mas aos poucos um novo objetivo começou a se formar, precisava viver bem, aproveitar sua vida e ser uma pessoa que a aproveitou, não só por si mesma, mas por eles.
Eles.
Seus antigos amigos que cresceram consigo, que lutaram lado a lado e no final sobrou apenas ela. Queria acreditar que alguns deles tiveram outras chances como ela, que ela não foi a única agraciada.
Aos poucos aquela sensação de anos atrás parecia voltar, aquele dia em especifico.
A chuva parecia ser sentida contra sua pele, o frio contra seu rosto, era como se estivesse naquele dia de novo.
Conseguia ouvir os gritos de orgulho, dizendo que ela fez o certo, mas a sua frente tinha um corpo caído, machucado, não havia respiração.
Estava morto.
Bom trabalho, monstrinho.
Escutava aquilo entre dezenas de aplausos, era uma voz tão perto que sentia aquele arrepio estranho passando pela sua pele.
Fria.
Assassina.
Monstro.
Onde diabos estava? Por que tinha voltado ali? Por que revivia aquele momento em específico, porque aquele?
— Criança!
Finalmente sentiu as mãos de Pollux lhe balançarem, mesmo sem ver os olhos dela podia sentir a preocupação no resto de sua expressão corporal, não notou mais nada ao redor, nem notou que chorava.
Não era um choro doloroso, era silencioso, com lágrimas grossas, choro de alguém que tinha sido quebrada por dentro:
— Elia…
Pollux não disse mais nada, abraçou aquele corpo pequeno que mal se movia, que estava com um olhar vazio e distante, de alguém tão mais velho do que poderia imaginar.
Elia ficou parada ali, sem retribuir o abraço, mas aproveitando aquele aconchego até fechar completamente os olhos, se deixando ser cuidada, mesmo tendo família, isso ainda era completamente estranho, sua nova família tinha obrigação de cuidar, Pollux não, era sua mestra e nada mais.
Após longos instantes de completo silêncio, Eliassandra finalmente falou:
— Desculpa.
Não sabia por que pedia desculpas, mas sentia que tinha feito algo de errado, mas não conseguia explicar o que.
Então veio a resposta de sua mestra:
— Você não fez nada de errado, criança.
Aquelas palavras passaram um acolhimento que nunca sentiu, nem mesmo sua mãe, o exemplo de amor que tinha, conseguia passar aquele acolhimento.
Abraçou finalmente o corpo de Pollux, mesmo com incerteza, se deixando chorar o quanto precisava, agora era um choro doloroso, um choro acumulado de anos de guerra, maus tratos, dor e sofrimento.
Finalmente conseguia soltar aquilo,
Aquele peso, sabia que não seria fácil de sair, mas lhe trazia um alívio que nunca sentiu, nem mesmo a vitória da guerra lhe deu aquele alívio, queria agradecer a Pollux, mas os soluços violentos não deixavam, era muito bom chorar.
Nunca pensou que pensaria nisso.
Chorar faz bem.
Como tudo ali, não sabia como lidar com o tempo, então ficou ali até se cansar de chorar, se afastando de sua mestra, olhando para ela com aqueles olhos chorosos:
— Certo, então… Vamos voltar ao treinamento?
— Tem certeza que está bem?
— Sim eu… Eu consigo.
Mas acabou desistindo.
Não se sentia bem para isso, seus sentimentos estavam bagunçados, mesmo que estivesse aliviada, ainda sentia aquele bolo no peito.
Se sentou naquele “chão” olhando ao redor em tons pastéis para tentar acalmar a mente, era verdade que ali dentro não se cansava, não se machucava ou sentia dor física, mas seu mental ainda cobrava de si, então se deitou, fechando os olhos para conseguir organizar seus pensamentos.
Sua respiração ainda parecia pesada, mas aos poucos ela ia ficando leve e fluida enquanto seus olhos permaneciam fechados, nunca pensou que o momento que mais sentiria alívio seria em um momento que estaria entre a vida e a morte, pois era o momento que estava agora, segundo Pollux.
Não achava que merecia uma segunda chance, mas iria aproveitar ela para conseguir se perdoar e também ter a vida que não teve em todos esses anos, na sua vida tão curta de juventude roubada.
O silêncio não era desconfortável, mas agora que sua respiração se tornou mais leve, podia abrir os olhos e encarar o “céu” em tons pastéis:
— Será que eu merecia isso?
— O que?
Pollux não entendeu, mas Elia pareceu deixar pra lá, se levantando e alongando o corpo pequeno:
— Esse lugar é estranho, parece que to vivendo aqui faz um tempão, mas lá fora pode ter passado apenas quanto tempo? Uma hora? — Ela comentou.
Os olhos cor de sangue pareciam cada vez mais sem vida, tendo um olhar tão semelhante quanto ao de sua antiga vida, mas não podia evitar:
— Eu consigo continuar agora.
— Acha que está pronta?
— Sim. O tempo aqui pode ser escasso, afinal ambas estamos numa situação de vida ou morte, podemos morrer ou acordar, então… Temos que correr né?
— Tem razão. De certa forma temos que correr.
Pollux levantou do chão, abrindo os braços e ao redor as coisas pareciam começar se modificar, sob os pés da pequena princesa grama surgiu, grama de verdade que ela conseguia sentir o cheiro, a brisa noturna bateu contra sua pele, e acima de si tinha um belo céu estrelado, um céu que misturava tons de amarelo e azul que deixava tudo ainda mais belo.
Os olhos estavam arregalados com a mudança, deu passos para trás até cair no chão completamente atônita, sem acreditar.
E mais uma surpresa veio: roupas. Desde que chegou naquele plano roupas forma irrelevantes, mas agora estava com uma camisa de algodão branco e calças marrons, Pollux também estava vestida com uma túnica azul escura cheia de pontinhos brilhantes que chamavam a atenção enquanto ela andava:
— M-Mas… Mas como!? — Elia perguntou completamente estarrecida.
Pollux sorriu, olhando para o céu estrelado:
— Eu disse que esse pedaço do limbo era meu, estou apenas modificando para ser melhor para ensinar.
Virou-se para Eliassandra que continuava sentada no chão com cara de boba, encarando sua mestra ali em pé:
— Eu vou te ensinar a magia das estrelas, criança.
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