Volume 1 – Arco 2

Capítulo 18: Sobre Aures

Ahrija se dava bem com outras crianças da sua idade, de todos os tipos, já Eliassandra estava mais focada em ler.

E por isso ficou na casa do líder da vila, Salis,naquela pequena biblioteca, tinham alguns livros que eram sobre magia, mas a grande maioria eram escritos à mão.

Entre os livros achou alguns sobre a tal falada magia natural, a magia dos aures. Finalmente estava tendo acesso a algo que não poderia ter na sua vida passada, afinal viam aures apenas como servos de menor qualidade, mas lendo aqueles livros percebia o quão errados estavam.

Os aures eram intermediários entre bestas de mana e seres pensantes, por tanto diferente das outras raças que passavam por um despertar, aures já nasciam mágicos, com sua mana fluindo pelos dedos sem qualquer impedimento, e por isso tinham uma ligação forte com a natureza.

Eles também eram os mais suscetíveis a ter um tipo de magia que chamavam de “Magia de Pacto”, uma magia que consistia em, como o nome dizia, fazer pactos com outros seres, às vezes outras bestas de mana, às vezes entidades de fora do plano.

Já tinha ouvido falar desse tipo de magia, mas nunca tinha prestado atenção nisso de fato, era a mais forte de seu continente e nem mesmo bestas de mana pareciam bater de frente com ela, então por que se importar? Mas agora era uma garotinha de cinco anos aprendendo tudo do zero e estava simplesmente encantada por aquele novo mundo de conhecimento.

Trocou de livro, deixando aquele aberto para procurar algum que falasse sobre as entidades, deveria ter algo assim, e de fato tinha: No alto da prateleira.

Bufou irritada, nem que arrastasse a cadeira iria conseguir, maldita seja a altura que lhe falta, encarava o livro no alto, pensando em todas as suas possibilidades para subir ali, seu sorriso tomou conta quando percebeu que poderia testar seus novos conhecimentos.

Andou pela sala até pegar o lápis de carvão que lhe deram, tirou os sapatos e desenhou o símbolo que tinha aprendido ser de flutuação na sola de seus pés, pronta para começar a flutuar.

Agora precisou testar algo novo que nunca tentou, mas nessa vida tudo era muito novo para ela, qual o problema?

Concentrou sua aura na sola dos pés, respirando fundo, sentiu aquele formigamento novo ali, precisou de toda sua força de vontade para não olhar diretamente e perder sua concentração, e então o que esperava aconteceu: Começou a flutuar, mas não deveria esperar um controle de sua mana tão assim, o que fez a garotinha passar direto do livro.

Subiu demais e bateu a cabeça contra o teto, isso doeu, até barulho fez, agora olhava para baixo com uma pergunta simples: Como raios iria descer dali?

Tentou diminuir o fluxo de mana, mas tudo que conseguiu foi cortar totalmente e quase ir de cara no chão ao despencar, voltando com aquele fluxo constante que a fez bater do teto novamente, iria sair dali com um galo na cabeça, que situação patética hein? Ainda não conseguia pensar em como iria conseguir descer ali.

Nadou no ar até chegar na prateleira e sentar ali, finalmente conseguiu parar de gastar mana flutuando, olhando para baixo, bem, provavelmente iria ficar ali até Salis ou Quevel chegar para a tirar dali de cima, então iria aproveitar para estudar.

Puxou o livro que queria dali e se sentou de uma forma menos desconfortável, porque conforto ali não teria, e se pôs a ler.

Entidades eram seres extraplanares, seres que não tem manifestação física de forma fácil e natural no plano físico, existiam alguns meios de trazê-las para o plano que estava, a primeira e mais fácil era a invocação, mas para isso precisava saber não apenas o nome, mas ter um símbolo mágico que identificava a entidade. Isso excluía a invocação de Pollux.

O segundo modo era mais complicado, que era a possessão, esse não era possível conseguir por só, precisava ser um canal aberto para o mundo astral e conseguir que a entidade certa incorporar, o que poderia ser difícil, nem sempre acontecia como queríamos.

Riscou aquilo, não queria correr o risco.

A terceira opção era o pacto, para isso você precisava de apenas um de um símbolo genérico de um dos planos astrais que quisesse acessar, concentrando sua mana ali e trazendo uma entidade do plano. Dependia da quantidade de mana que empenhasse para isso.

Essa parecia ser a melhor, poderia não fazer o pacto e só fechar o canal.

Agora realmente parecia mais certa do que fazer, mas ainda vinha um problema, na verdade era mais uma dúvida: o que raios Lynn era?

Aquele coelho parecia estar ligado a si, até mesmo conseguia o sentir perto naquela sala, dormindo entre os cadernos e folhas que Elia usou para estudar, queria saber mais sobre as entidades, mas duvidava que Lynn seria uma, não parecia ser tão forte para ser uma entidade, ao menos achava que não.

Como ainda não tinha como descer dali, continuou lendo sobre as entidades que eram conhecidas entre os aures, para eles eram três.

Diferente dos humanos que cultuavam as primordialmente um panteão de deuses, os aures cultuavam uma trindade de deuses: A rainha das fadas, o Rei feérico, e a Mãe Natureza, eram descritos como entidades diferentes, cada um com seus próprios cultos, inclusive ao que parecia, a Rainha das fadas eram amplamente cultuada.

Era considerada a deusa das mulheres em geral, protetora de tudo que era belo, o símbolo dela era amplamente desenhado em moças que estavam querendo buscar mais beleza em busca de sua benção de beleza.

O rei feérico era associado a caça e a proteção, os caçadores normalmente usam seu símbolo para abençoar uma boa caçada e se proteger na floresta, as lendas diziam que ele um dia foi um caçador no plano físico, mas uma de suas presas fora tão lendária que ele ascendeu ao plano astral como divindade. 

E agora a Mãe Natureza, ela conhecia de sua vida passada, mas em específico por conta de uma maga abençoada por essa entidade que matou, era associada a uma mulher, mas já haviam relatos de se mostrar como Pai Verde, uma entidade mais masculina, fora ser próxima dos aures, também parecia ser próxima dos elfos.

Elfos… Teve contatos com alguns, mas não tinha tantas lembranças deles serem particularmente marcantes, para ela, se esconderam com medo da guerra.

Mas isso estava começando a entediar a princesa. 

Olhou para baixo pensando em como descer da estante, talvez se tentasse dosar melhor sua mana, encarando o chão:

— O que você ‘tá fazendo aí em cima? — Quevel perguntou entrando na sala.

— Flutuei até aqui, me ajuda a descer?

O dracônico, que agora usava mais sua forma de dragão humanoide, com suas escamas vermelhas e chifres torcidos pra trás, ele ficou encarando a princesa humana até puxar uma cadeira e sentar olhando para ela empoleirada naquela estante:

— Não, se você subiu tenho certeza que conseguirá achar um jeito de descer.

Quevel era assim, já tinha reparado que Elia era uma garota inteligente, mas pouco prática muitas vezes, então deixaria ela resolver o problema que ela mesma procurou, sozinha.

A garota torceu o nariz, com uma careta indignada, por que ele não ajuda? Isso era irritante, mas não questionou, olhou para baixo de novo e bufou, sentia que não dava para discutir com ele, então tinha que pensar.

Tentou pelo jeito que parecia mais justo: pendurando devagar para pisar nas prateleiras, mas assim que pisou na primeira se arrependeu, eram distantes uma da outra, não ia conseguir descer assim!

E o pior: Como iria conseguir voltar? Estava presa! E parecia que Quevel se divertia com aqui.

Não ia pedir ajuda de novo.

Precisava se arriscar, teria que tentar algo, olhou para Quevel e então para o chão, precisava testar…

Não precisava criar coragem, apenas fez impulso com as pernas e se jogou para trás, não esperou descer, controlou sua mana para os pés para voltar a flutuar, mesmo que de cabeça pra baixo, apoiando os pés no teto, olhando para Quevel com um sorriso convencido:

— Eliassandra… Como?

— Como assim? Eu avisei que vim flutuando, não acreditou?

Mas ainda sim, ficar de cabeça para baixo era irritante, estava olhando Quevel até fechar os olhos pela posição que estava tendo:

— Lembra do símbolo? Pois é, ele tá desenhando nos meus pés, mas não sei dosar minha mana bem o suficiente para descer daqui.

Quevel ainda estava olhando maravilhado com aquilo, mesmo que já tenha entendido que Eliassandra era um gênio, a cada ato dela ficava mais surpreso, ela podia ser a mais promissora maga da raça humana atualmente, como será que ela seria quando mais velha? Não sabia! Era simplesmente incrível:

— Pode me ajudar? Sério.

— Ah sim, claro.

O dracônico se levantou para pegar finalmente a criança, Elia parou de usar sua mana e se deixou cair nos braços do médico:

— Bem, acho que já acabou seus estudos, não é?

— Na verdade não, mas foi produtivo, por que?

— Salis insistiu que fosse brincar lá fora.

— Passo.

— Não estamos pedindo. — Quevel disse carregando a criança lá pra fora.

— Que? Não! Lynn me salva!

Mas o coelhinho de antenas parecia se divertir com aquela piada, vendo sua… Dona? Não sabiam ainda como se classificavam, mas Elia sentia que aquilo estava extremamente divertido para Lynn.

O sol lá fora brilhava, conseguiu ver Ahrija brincando com outras crianças da idade dele, foi ali que Elia foi posta, de cara feia enquanto Quevel se afastava, Lynn se sentou ali como se sorrisse para a princesa:

— De que lado você está, sua coisa peluda e chata?

— Elia! — Ahrija chamou seu nome, abraçando sua amiga chegando perto.

Ele estava suado, cheirava a grama e terra, como uma criança que brincava ao ar livre:

— Está me apertando.

— Vem gente! Essa é minha melhor amiga, Eliassandra, só eu posso chamar ela de Elia! — Falava muito alto para o grupo de crianças que o seguia.

Ahrija não soltava a amiga, sujando sua roupa com a terra das mãos, mas Elia não ligou, apenas acenou para todos ali, era um grupo de cinco crianças, uma delas até parecia um tipo de pássaro. Ahrija já tinha seu grupo de amigo, não era de se espantar, o menino era bem carismático:

— Ela é baixinha. — Uma garotinha ovelha sorriu meio maldosa.

Como uma criança poderia ser maldosa? Não sabia, mas tudo que Elia fez foi revirar os olhos, abraçando Ahrija de volta, dessa vez para encher ela um pouquinho:

— Do que estão brincando? — Elia finalmente perguntou.

— Estamos brincando de luta. Ahrija ganhou de todos com seu vento. — Outro garoto falou.

— E ai Elia? Quer me desafiar?

— Eu passo. — Elia disse de forma séria.

Com aquele corpo, e as poucas magias que tinha, era difícil ganhar, especialmente contra alguém com um poder tão bruto quanto Ahrija:

— Aposto que ela tá com medo. — A garota ovelha sorriu tentando debochar.

— Ahrija é mais forte que eu. — Eliassandra disse simplesmente.

Agora que tinha voltado ao convívio de crianças percebia o quão elas podiam ser irritantes quando quiseram, e aquela menina ovelha, que Elia sequer se importou em saber, sinceramente… Por que?

Dali do meio só se importava com Ahrija.

Eliassandra estava tão focada em encher ela, que nem notou Ahrija com um sorrisão vitorioso, crianças são bobas mesmo:

— Ah, mas que tipo de magia você faz? Ahrija diz que você pode fazer luz.

— Na verdade, ele ‘tá parcialmente certo, não consigo controlar…

Todas as crianças estavam encarando Eliassandra, percebeu que não falava como uma criança normal de quatro anos, engoliu a seco meio sem jeito, afinal falava sempre assim com Quevel e Ahrija, e eles não ligavam pelo jeito que falava. De fato ficar isolada fez mal ao seu disfarce.

Olhou para os lados tentando achar algo para distrair eles, até que catou Lynn no chão perto de si:

— Eu tenho um coelho azul. Olhem!

Ergueu o bichinho sorrindo, as crianças pareceram se distrair falando o quanto Lynn era fofo, fazendo carinho nele com sorrisos, Lynn estava bravo, sentia seus pelos macios sendo sujos, mas Elia? Elia sorria como uma vingança pessoal por ele adorar quando ela foi carregada por Quevel.

Ao longe, Salis observava, mas seus olhos estavam focado em Ahrija e não em Eliassandra, ainda se preocupava dele se sentir à vontade, mas ele parecia realmente estar à vontade, fazendo amigos que não incluíam apenas aquela princesa de olhar frio.

A mesma princesa que encarava agora em sua direção, como se soubesse que ele estava ali observando, aqueles olhos bicolores e frios que pareciam penetrar a alma:

— Você acha que quando ela voltou, algo veio com ela? Essa criança é esquisita.

— Não, nada voltou, até onde sei, isso é a personalidade dela. — Quevel respondeu colocando uma xícara de chá na mesa para Salis.

— Então os pais dela são assim?

Quevel pensou um pouco, lembrando de seus momentos com Ricardo, de fato, não parecia ser algo dele, recordava do homem animado e apaixonado por sua esposa, então negou com a cabeça:

— Não, ao menos não o pai, talvez a mãe, mas ela me pareceu muito sentimental quando a conheci.

Realmente não sabia, talvez se fosse filha da outra consorte faria sentido, mas a garota era a cara de Elengaria, só mudava que seu albinismo ficou apenas nos cabelos e cílios, talvez fosse só a personalidade dela:

— Espero que essa experiência dela não a faça crescer uma preconceituosa como… Tantos outros.

— Ela não vai ser, como está sua perna? — Quevel perguntou o ajudando a se sentar na cadeira.

— Sim, ela não está doendo mais graças ao seu tratamento. — O leão deu um sorriso para o dragão.

Mesmo tendo a aparência de predador, o olhar de Salis era muito gentil e calmo, quase como um pai, ou irmão mais velho que ama todos, mas aquele olhar… Aquele olhar carinhoso e amoroso era reservado apenas para Quevel.

E o mesmo valia para o dracônico.

Mesmo sendo muito calmo e cuidadoso, como se mostrava com Ahrija e recentemente com Eliassandra, aquele traço quase romântico só apareceu aqui, com Salis e nenhuma outra pessoa:

— Quevel eu… Eu sei que não é o momento, mas eu preciso saber se…

— Sim. — Quevel interrompeu. — Esse lugar precisa de um médico, e tinha razão, viver isolado não faz bem para Ahrija… E nem pra mim. 

Mais uma vez aquele sorriso calmo, que parecia se completar com Salis, mas o do leão foi mais animado, surpreso.

Abraçou o dracônico com carinho, sentindo a pele quente pelo elemento que usava, estava mesmo feliz por ficar com Quevel:

— Oh Quevel… Obrigado.

— Não Salis, eu que agradeço por esperar esse tempo. — Quevel se abaixou para abraçar seu leão de volta.

 

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