Sinfonias Galáticas Brasileira

Autor(a): Yago.H.P


Volume 1

Capítulo 2: Protocolos de decolagem

— Oficial de operações, Suzuhara — chamei ela, enquanto me sentava na cadeira do comandante.

Que cadeira confortável, estrategicamente posicionada logo atrás dos controles da nave, destacava-se com seus dois degraus de branco gelo, mesma cor do piso da nave. Os adornando uma faixa azul em leve luminescência que as circulavam. Elevando-se acima desses degraus, minha cadeira, assemelhando-se a um trono de aço escuro, sobressaía-se no cenário predominantemente branco da nave. Seu assento vermelho, além de proporcionar conforto impecável, dava um toque luxuoso, quase divino.

Se eu pudesse nunca sairia de lá, mas a vida de um comandante não era fácil.

— Senhor? — Suzuhara indagou a mim, a dúvida pairava em sua face.

— Estamos prontos para zarpar? 

— Irei conferir uma última vez. — Instantaneamente, uma tela holográfica surgiu diante dela, revelando todas as informações pertinentes à nave.

A tela holográfica exibia todos os detalhes essenciais: condição da nave, níveis de combustível, presença de tripulantes, status das armas e qualquer outra informação relevante. A exclusividade de acesso à ferramenta era compartilhada apenas entre nós dois, como medida de segurança, já que conceder tal acesso a qualquer outra pessoa poderia representar um risco considerável.

Embora confiasse plenamente na equipe presente na ponte de comando, a cautela era uma aliada constante em nossa jornada pelo espaço.

— Tudo okay? — Pressionando suavemente o lóbulo da orelha, ela ativava um dispositivo avançado, muito além das antigas relíquias tecnológicas. — Senhor, tudo pronto. O carregamento de suprimentos terminou.

Finalmente, estava cansado de esperar. Esse procedimento era essencial, pois ficar à deriva no espaço sem suprimentos não era muito indicado. Mas, o abastecimento era um tédio total, burocracia pura e uma demora que só nós, humanos, conseguiríamos inventar.

Agora, a parte divertida estava prestes a começar. Com um sorriso no rosto, apontei para Victor, que estava sentado logo à minha frente.

— Já sabe, meu amigo. Bota essa belezinha para funcionar.

— Lá vamos nós. — Victor era péssimo em disfarçar sua empolgação, ainda mais quando tratava-se de pilotar a nave. — Poul, feche todas as saídas.

— Fechando as saídas. — Poul meu oficial de operações táticas, também responsável por funções na pilotagem e ponte de comando. — Atenção! Todos que ainda estão fora da nave, codinome: Elizabeth e pertencem a sua tripulação, adentre a nave, imediatamente!

Enquanto as portas ainda não se fechavam, forneci  novas ordens, desta vez dirigidas novamente a Suzuhara, que já havia se sentado ao lado de Victor.

— Suzuhara, verifique todos os sistemas.

— Sim, senhor. — A sua frente uma tela holográfica com todas as informações dos sistemas operacionais.

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[Sistemas operacionais]

Sistemas de energia: Ok

Sistemas de navegação: Ok

Sistemas de comunicação: Ok

Sistemas de suporte à vida: Ok

Sistemas de segurança: Ok 

Computadores de bordo: Ok

Sensores: Ok

Controles de vôo: Ok

Propulsão: Ok

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Ela verificou um por um; todos indicavam "OK", sinalizando que estavam em bom estado e operacionais. Próxima checagem.

— Sarah, verifique se toda tripulação está dentro da nave.  — A oficial médica, encarregada da saúde de todos, segurava uma prancheta tecnológica. Os nomes de todos os tripulantes estavam listados, e se estivessem a bordo, seus nomes ficariam verdes. 

— Todos os nomes verdes, ou seja, todos se fazem presentes.

— Okay, pode fechar as portas, Poul.

— Sim, senhor. — Poul, começou a deslizar o dedo por sua tela holográfica, fechando cada porta. — Atenção! Fechamento de portas e portões de acesso, em andamento. Para sua segurança, afaste-se!

Estar próximo enquanto um portão ou porta de acesso se fechava poderia resultar em perigo mortal. O fechamento envolvia um selamento hermético, com a pressão aplicada superando a força de esmagamento de várias toneladas. Em resumo, não era aconselhável ficar próximo durante esse processo.

— Oficial de engenheiro, Vicent. Verifique os motores. — Eu olhava para ele, ao lado esquerdo de Victor. 

— Tudo bem. — Em sua frente, a interface holográfica com as informações sobre os motores: níveis de desgastes, níveis de combustíveis, potência, entre outros. — Iniciando checagem de motores. — Ao apertar um botão na interface, o motor ligou vagarosamente e manteve-se. — Motor checado, níveis de combustíveis, okay. Pronto para decolagem.

Finalmente, chegou a hora de ligarmos essa maravilha de verdade. Voltei meu olhar para Victor e sorri; ele me fitou, devolvendo o sorriso. Estávamos conectados por uma única vontade. 

— Ligue os motores, Victor.

— Ligando motores. — Ao apertar a ignição no painel holográfico, os motores começaram a rotacionar.

Tudo pronto, motores ligados. O próximo passo, era iniciar o contato com o controle de solo.

— Suzuhara, me conecte ao controle de solo. 

— Conectando ao controle de solo — Clicou no ícone de telefone na interface holográfica. — Comunicação bem sucedida, passando para sua interface.

Diante de mim, a interface do comandante se abriu, proporcionando controle total sobre todas as capacidades da nave. Era um controle mestre exclusivo para mim; qualquer tentativa de acesso não autorizado resultaria em um choque de 200 watts, encerrando imediatamente a tela. 

— Comandante Ezekiel, código de comando 57328.

— Tudo bem, código de comando confirmado. — respondeu o responsável pelo controle de solo.

— Solicitando permissão para decolagem imediata. A nave, conhecida como Elizabeth, operando sob o código de missão 1882, está pronta para iniciar a missão de inauguração da colônia. Aguardando autorização para prosseguir.

— Autorização de decolagem concedida para a nave de codinome Elizabeth, código de missão 1882, destinada à inauguração da colônia. Boa viagem e sucesso na missão.

— Agradeço. 

E assim, estávamos prontos e autorizados para alçar voo em direção aos limites do nosso sistema solar. Um estrondo poderoso ecoou acima de nossas cabeças quando o teto da filial começou a se abrir, revelando uma passagem de 100 metros de diâmetro projetada para permitir o pouso e a decolagem de naves especiais pertencentes à filial zero. O som de metal em movimento era estridente, porém efêmero e rápido, pois a passagem se abria a uma velocidade impressionante.

Iríamos iniciar as últimas checagens de voo, para assim podermos viajar em paz. Então, apontei para Victor.

— Levante vôo baixo, para a checagem de decolagem.

E assim Victor o fez, elevando a nave a apenas 20 metros do solo. À medida que ascendíamos, podíamos sentir o chão se distanciando, embora estivéssemos pisando no solo sólido da nave. Era uma sensação única, acompanhada por aquele frio na barriga característico.

Finalmente, atingimos a marca de 20 metros acima do solo. Este procedimento era crucial para avaliar se a nave se manteria no ar e se os motores suportariam. Em caso de qualquer problema, a queda de apenas 20 metros não representaria uma ameaça significativa para esta nave.

— A nave está a 20 minutos pairando, nada ocorreu. Podemos concluir a última checagem — Apontei para Suzuhara. — Oficial de operações, verifique a rota de decolagem até 10000 pés.

A última verificação, mas uma das mais necessárias, era confirmar a rota de decolagem. Isso asseguraria que evitássemos obstáculos ou zonas restritas. Afinal, não queríamos surpresas em nosso caminho durante a decolagem. Dada a altitude que já alcançávamos, típica de aviões de passeio e alguns comerciais, negligenciar essa verificação poderia resultar em um acidente perigoso. 

Ao observar o painel holográfico ao lado, um mapa surgiu, exibindo todas as indicações, previsões e avisos de perigo. Felizmente, tudo estava conforme o esperado, sem alertas ou contratempos.

— Tudo certo, comandante — afirmou Suzuhara.

— Victor, suba até 10000 pés.

Apesar da vontade de simplesmente alçar voo, reconhecia a importância de uma decolagem calma e metódica, seguindo todos os procedimentos e checagens. Valorizava a necessidade de garantir a segurança da minha preciosa Elizabeth, priorizando o cuidado em cada etapa do processo.

Assim, iniciamos a ascensão, ultrapassando as paredes circulares que antecediam a passagem redonda. Em questão de instantes, saímos do hangar da filial zero. Nossa nave, imponente, ultrapassava tranquilamente o tamanho de 2 ou 3 quarteirões. Devido a essa magnitude, provocava uma intensa ventania e um ruído alto e irritante para quem estava do lado de fora. 

Problema deles por escolherem comprar propriedades próximas a uma filial espacial, certo? Queriam o quê, naves silenciosas?... Embora dissesse isso, também odiava acordar com a sinfonia dos motores. 

Dentro da minha bela nave, o som tornava-se relaxante, pois os ruídos exteriores eram completamente abafados pelas espessas paredes. O aroma também era agradável, difícil de descrever ou exemplificar, mas era uma fragrância "limpa", algo "novo". Tudo inspirava tecnologia e organização. 

— Comandante, chegamos a altura inicial. — confirmou Victor.

— Suzuhara, cheque novamente a rota. — Minha expressão era a de aspiração, simplesmente voar me causava isso.

— Checando. — De novo ela olhava para o painel ao lado, com o mapa e, de novo, nada anormal. — Tudo normal senhor. 

— Victor, Já sabe. — falei, estava na hora de sair da atmosfera.

— Iniciando métodos de escape atmosférico. — Ao Ao clicar no ícone das hélices, duas enormes hélices emergiram dentro de estruturas metálicas, nas laterais da nave e começaram a girar. Isso nos impulsionou, iniciando nosso movimento. — Começamos a ir para frente, virando propulsores de decolagem para trás. — Ao deslizar o ícone do propulsor, de decolagem para movimentação, os propulsores se orientaram para trás e começaram a queimar combustível, proporcionando-nos impulso na direção desejada.

Com a movimentação para frente iniciada, Victor começou a subida, inclinando levemente a ponta da nave para aproveitar a resistência do ar e impulsionar-nos, economizando combustível. Começamos a ascender, estando próximos de escapar da atmosfera.

— É agora! — exclamei, estava na hora de usar tudo para escapar da gravidade atmosférica. — Força total nos motores!

— Força total nos motores! — Ao movimentar o ícone de motores para o máximo, as hélices começaram a rotacionar ferozmente. — Último procedimento! Ligando motores principais! — E assim, Victor clicou no ícone de fogo, e as estruturas metálicas ao redor das hélices começaram a liberar fogo, sinalizando sua ativação.

Eram estruturas imponentes, utilizando um tipo de combustível especial e exclusivo que só poderia ser acionado a essa altitude. Qualquer altitude menor poderia resultar em calor extremo, atingindo as pessoas na terra, causando potenciais fatalidades.

Ascendemos rapidamente aos céus, quebrando a barreira do som. Nossos corpos não sentiam a velocidade, graças aos equipamentos que neutralizavam os efeitos das forças "G". Velozmente, cruzamos a barreira atmosférica, deixando para trás a gravidade que nos segurava.

— Conseguimos pessoal. — Eu estava feliz. Fazer isso sempre era arriscado, mesmo com tantas vezes e toda a tecnologia, ainda podia dar errado.

— Já era tempo, finalmente no espaço! — Victor, como eu, sentia a felicidade em alçar vôo.

— É, certo. — falava Vincent, esse cara era bem quieto, mesmo assim eu confiava nele. 

— Não vejo a hora de ver a madames da nova colônia… — Poul, esse era o tipo de cara que só arrumava problemas, normalmente por causa de mulher. 

— Concentração na missão, Poul. — A rainha do coração de gelo, minha almirante Sofia. Na cabeça dela, as palavras eficiência e regras, andavam lado a lado.

Uaaa, tô com sono. — Se espreguiçando inteira no assento, estava minha fiel amiga Suzuhara. Dorminhoca, esfomeada, mas, ótima oficial e pessoa.

— Vocês estão bem, pessoal? — A miss simpatia, minha médica Sarah, sempre legal com todo mundo e ótima médica. Só não queira ver ela brava.

Ah, vocês estão todos muito relaxados, mesmo. — Todos me encararam, enquanto eu admirava as janelas gigantes à minha frente. 

Eu observava uma imensidão de nada, o espaço era muito mais vazio do que se imaginava. Apenas o vácuo o preenchia, e o vácuo para mim era simplesmente solidão. Voar pelo espaço tinha seu charme, mas em partes. Mesmo assim, sentia-me alegre por estar fazendo isso. Apesar de ser apenas o vácuo interminável, os astros celestes se faziam presentes, como a imponente lua e outros planetas que, sem a atmosfera, ficavam ainda mais encantadores.

— Mas, temos esse espetáculo de nadas infinitos para cruzar.

— Para de ser melodramático, Zeke-san — falou Suzuhara. — O motor de dobra simplesmente encurta essa viagem, e os propulsores a quantum aceleram e em muito a viagem.

— É, tem essa. — Então, me lembrei de algo. — Vocês não reabasteceram seus nanobots, lembrem-se que em combate vocês precisam deles.

Todos me escutaram mas ainda não achavam necessário, quando chegássemos a colônia, fariam isso. 

— Bom, vamos rápido então. Vicent, ative o motor de dobra. 

— Tudo bem. — Ao clicar no ícone de dobra, o motor de dobra no coração da nave foi-se ativado.

O motor de dobra era uma maravilha da engenharia que operava manipulando o espaço-tempo. Sua funcionalidade envolvia a criação de uma "bolha" ao redor da nave, onde o espaço era comprimido à frente e expandido atrás. Essa distorção resultava em um deslocamento rápido e eficiente pela tessitura do espaço-tempo, permitindo viagens interestelares a distâncias extraordinárias. O segredo estava na habilidade do motor de "dobrar" o espaço-tempo, uma façanha que desafiava as leis tradicionais da física.

— Victor, defina a rota. — falei fitando o Victor.

— Certo. — Logo ele mudou para interface de rotas, onde tinha o mapeamento de todo espaço ao qual os humanos já pisaram. — Rota definida com sucesso.

— Tá na hora do show. — Me levantei do “trono” e apontei para frente firmemente. — Ative a viagem de dobra!

Victor pressionou o ícone correspondente, e o motor, anteriormente apenas ligado, começou a vibrar intensamente. A nave inteira tremeu, derrubando aqueles que estavam de pé nos corredores. Os ocupantes que seguravam bebidas viram-nas se derramarem. O motor, inicialmente vermelho, tornou-se incandescente, dando a impressão de que poderia explodir a qualquer momento. O som emitido era agudo, causando dores de cabeça. Teria sido prudente orientar o uso de tampões auriculares previamente… Me xingaram bastante depois. Pelo menos, aqueles com implantes auriculares poderiam desativar a audição do ruído insuportável.

O motor emitiu um pulso que percorreu toda a extensão do espaço-tempo. Esse pulso, em seguida, contraiu-se, formando uma bolha ao redor da nave. Na ponte de comando, à frente das janelas, o espaço pareceu afinar-se ou comprimir-se, e um caminho se delineou. A nave, sem qualquer comando humano, seguia automaticamente por esse trajeto. Em viagens de dobras, não tínhamos controle direto sobre a nave.

— Tudo correndo bem… — falei cedo demais.

A nave acionou um alerta preocupante, piscando inteiramente em vermelho. Uma sirene ecoava, indicando perigo ou anormalidades. Levantei-me rapidamente para perguntar o que estava havendo.

— O que ouve!? — Meu tom era preocupado, não sabia o que podia ser.

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Alerta! Alerta! 

Viagem de dobra, interrompida forçadamente.

Alerta! Alerta!

Viagem de dobra, interrompida forçadamente. 

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O aviso pulsava em tamanho gigante em uma tela à nossa frente, indicando que algo forçou a viagem de dobra a parar. Instantaneamente, o espaço anteriormente comprimido à nossa frente expandiu-se, resultando em um impacto imenso que nos lançou para trás. Se, por acaso, a bolha ao redor da nave tivesse sido desativada, esse impacto teria destroçado tanto a nave quanto a nós. Foi o peso do espaço-tempo retornando à normalidade ao nosso redor.

— Suzuhara, o que foi isso!? 

— Não sei! Poul! — Ele olhou para ela, a sala estava piscando em vermelho, com a sirene irritante. — Vê se foi um ataque!

Poul, como oficial tático, era responsável por analisar e lidar com qualquer questão relacionada a possíveis ataques. Sua área de expertise incluía o desenvolvimento de estratégias de retaliação e a operação do sistema de armas da nave, assegurando a prontidão para enfrentar ameaças potenciais no espaço. 

— Deixa eu ver. — Ao virar seu olho para o painel holográfico ao lado direito, começou a mexer nele. — Aqui! 

— O que!? — perguntei nervoso já.

— Foi um ataque! Parece que alguém interferiu em nossa rota, obrigando uma parada. 

Ah, que beleza… Sabe dizer quem? Ou de onde veio? Qualquer coisa! — exclamei, precisávamos saber imediatamente o responsável, para prevenir, possíveis novos ataques.

— Vou tentar descobrir, hmmmm… — Analisando as informações, virou para Suzuhara. — Eu enviei para vocês os códigos, consegue decodificar, madame?

— Deixa comigo, mas quero um jantar depois viu.

Em momentos assim, apenas aqueles dois conseguiam fazer piadas. No final, era reconfortante ter pessoas que não se desesperavam em situações complicadas. Suzuhara, rapidamente, decodificou o código, era um código simples que revelava a localização do envio da interferência.

— Está logo à nossa frente…. — Forçando a vista, descobriu a localização exata. — Atrás do meteoro!

— Quantos são!? — questionei.

— São…!! — Ela não acreditava no que seus olhos liam. — 5 naves… médias.

A situação estava prestes a ficar complicada, com cinco naves médias representando um desafio considerável, especialmente se suas tripulações fossem compostas por indivíduos astutos e poderosos. A pergunta que pairava no ar era: o que eles queriam?

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Notas:

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