Sinfonias Galáticas Brasileira

Autor(a): Yago.H.P


Volume 1

Capítulo 4: Na nave inimiga

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Nave inimiga 

Alguém de importância aparentava ter chegado, evidenciado por uma entrada triunfal e pelas reações dos presentes no local.

— Você é o chefe deles? — Eu ainda me mantinha encostado na parede de metal, com as mãos nos bolsos do sobretudo. 

À minha frente, um homem aparentando 29 ou 30 anos, vestindo uma indumentária tática.

“Um militar desertor? Talvez”, pensava comigo mesmo, esses tipos de vestimentas eram comuns entre militares, e outras profissões que envolvessem batalhas. 

Além disso, tinha aqueles olhos azuis, com uma frieza incomum, lembravam-me das intensas expressões de Sofia, ao me encarar seriamente.

— Estou apenas encarregado de ordenar esses homens. — Uma resposta fria e pouco reveladora.

Poul e Victor permaneciam imóveis, possivelmente aguardando minhas ordens, mas a prudência era essencial diante da alteração no clima causada pela chegada desse indivíduo. Sua presença transmitia uma força considerável.

“Droga, não consigo analisar seu corpo”. 

Adicionalmente, minhas lentes cibernéticas não conseguiam analisar aquele cara, como se algo estivesse as bloqueando, o que era incomum, pois até o chumbo não impedia o funcionamento dessas lentes.

— Te peguei! — Victor surgiu ao lado do cara, sua notável velocidade impulsionada pelos nanobots musculares que aceleravam consideravelmente seus movimentos, o fez aproximar-se rapidamente quase imperceptível.

Contudo, ele cometeu um ato que sempre desaprovei: arruinar o ataque surpresa ao proferir palavras segundos antes. Era a mesma imprudência relacionada a poderes; não se deve anunciar habilidades, era uma falta de inteligência.

Com maestria, o indivíduo habilmente curvou-se para trás, evocando imagens à la "Matrix", esquivando-se do soco de Victor que se aproximava. O golpe passou direto, fixando-se sobre o peito do cara. Nos instantes em que Victor recuava seu braço, o indivíduo executou uma mortal para trás, acertando o braço de Victor no processo.

— Merda! Victor! — Não houve tempo para o aviso; no instante em que mencionei o nome dele, pude ouvir o estalo provocado por um osso quebrado.

Argh! — Ele apenas experimentou a dor imediata, sem tempo para remoer, pois o indivíduo, pousando com estilo após a acrobacia, desferiu um chute diagonal, atingindo o peito de Victor e o fazendo voar para longe. — Aaaaah! — A experiência de ser arremessado por alguns metros, fez Victor soltar um grito de desespero.

— Victor! — Poul que já estava melhor, correu para acudi-lo. — Tudo bem, cara?

Algo estava errado; além de incapacitar Victor, o indivíduo exibiu uma força assustadora. Victor estava sob a influência dos nanobots musculares, e para causar qualquer efeito mínimo nele, a força do indivíduo teria que ultrapassar a de um impacto de uma bala sônica. 

“Merda! O que eu faço!?... Terei que lutar”. 

Sem opções, precisava entrar na luta. Desencostei-me da parede, apesar de ter testemunhado tudo. Mantive as aparências, sem expressar surpresa ou receio. Minha expressão oscilava entre a neutralidade e a confiança. O único momento em que algo diferente escapou foi quando gritei pelo Victor. 

Uma batalha vai além dos golpes trocados; a forma como nos portamos fornece respostas ao adversário. E, até o momento, o indivíduo não demonstrou qualquer reação ou emoção aparente, colocando-me em uma posição complicada. Por isso, fiz o mesmo.

— Ei, você nos traz até aqui e ainda ataca meus oficiais? Talvez, só talvez, mas acho que seus pais tenham esquecido de te ensinar boas maneiras. — Tentei provocá-lo, na esperança de despertar reações fora do comum.

— Só reagi. — Uma resposta seca, sem qualquer emoção ou entonação incomum.

“Esse cara vai ser complicado” Ele não demonstrava nada.

— Ezekiel! Resolva isso rápido! — gritava Poul, ao lado de Victor desacordado. — Victor não está nada bem!

Era fácil falar, difícil de se fazer. Aquele cara me parecia impassível, e continha uma força muito acima do normal. Só de olhar percebia isso. 

— Você me forçou a isso, não vai reclamar depois, militar. — Sua expressão teve uma leve alteração, talvez tenha atingido um ponto dolorido, pelo menos alguma informação útil obtive.

— Forcei o que exatamente?

Ele me havia compelido a recorrer às minhas armas, aos meus poderes, à essência do meu ser. Forçou-me a lutar, algo que não era comum para mim, já que Poul e Victor sempre cuidavam dessa parte.

O brilho azul luminescente em meu braço implantado começou a irradiar, minhas pernas seguiram o exemplo. 

Avancei rapidamente em sua direção, concentrando-me em esquivar dos golpes e, sempre que possível, aplicar golpes precisos. Desperdiçar não era uma opção. 

“Esse cara!” Mesmo comigo avançando em sua direção, ele permanecia imóvel com uma expressão apática em seu rosto. 

Ao diminuir a distância física, senti confiança para executar um golpe. E, assim fiz, saltando na parede à esquerda, me impulsionei em sua direção, esticando meu braço, com o punho fechado, viajando a velocidades exorbitantes. 

Meu alvo estava claro: a cabeça adornada com cabelos prateados. A essa velocidade, um golpe direto naquela região o derrubaria.

“Que porra!!” Aqueles olhos frios como a neve, estavam me fitando de canto. Já não tinha como parar o golpe.

Ele segurou meu punho com apenas uma mão e, aproveitando meu impulso, arremessou-me para o outro lado. Não deu tempo nem de perceber; apenas senti o impacto com algo maciço e ouvi o som de metal sendo atingido. 

Argh! — Instantaneamente surgiu uma dor aguda nas costas. — Merda… Que reflexos assustadores.. Ha, ha.

Qual era a daquele cara? Ele simplesmente pegou meu golpe em pleno ar, a uma velocidade avassaladora. Me levantei, batendo a poeira e me preparando para mais uma investida. 

Era tudo ou nada; meu corpo não suportaria outro ataque assim, esse já destruiu minhas costas. Sentia como se minha lombar estivesse estilhaçada. 

O clima permanecia frio, nossas respirações formavam nuvens de fumaça. O ar estava pesado, muito pesado. Ao encarar aquele indivíduo, percebi na merda em que me encontrava. Ele nem havia se movido; estava na entrada, como se tudo que acontecera fosse nada mais que uma brisa leve.

“Minhas armas ficaram na nave” 

Fomos invocados ou teletransportados aqui sem aviso prévio; nos preparar não foi um privilégio concedido. Todas as armas que eu costumava usar estavam na nave.

— Tenho que admitir que você é duro na queda. — Mesmo apanhando, não podia demonstrar fraqueza. — Tentei aplicar um golpe em você, sem usar meus nanobots… — Sentia-me amedrontado, inseguro; se existir uma alma, a minha oscilava. — Mas tenho que ser humilde e admitir quando perco. — A insegurança estava me prendendo; ela impede qualquer um de demonstrar seu verdadeiro potencial. — Então, meu “eu” comum foi derrotado… — Por isso, prometi nunca mais demonstrar tais sentimentos, até que desaparecessem por completo da minha personalidade. — Contudo, meu “eu” com poder, não… — Esses sentimentos não podiam pairar na mente de um comandante, e não o fariam. Um sorriso confiante surgiu em meu rosto. — E, ele não irá perder.

Sem armas, eu estava enfraquecido, mas não debilitado. Iniciei o avanço, ativando os nanobots. Tudo ao meu redor desacelerou ou eu me tornei mais rápido. 

Em questão de segundos, alcancei o indivíduo e desferi o primeiro ataque frontal com o braço natural. Diferentemente das vezes anteriores, ele não conseguiu se defender com calma inexpressiva. Sua face demonstrou surpresa e sua única reação rápida, foi cruzar os braços à frente, parando meu punho, mas ao custo de ser arremessado para trás violentamente.

Normalmente, um golpe dessa magnitude usando o braço natural causaria uma dor insuportável, mas graças aos nanobots, não senti nada; era puro êxtase, como se o mundo brilhasse à minha frente.

— Ezekiel, ficou alucinado? — perguntou Victor abrindo os olhos vagarosamente.

— Victor!! — Poul o abraçou intensamente. 

— Abraçando outro homem assim tão forte? — caçoou Victor.

Agindo por impulso no calor das emoções, Poul, abraçou Victor. Assim que elas se dissiparam, o soltou instantaneamente, deixando-o no chão.

— É-é que bom que está vivo… — Ele então olhou para mim, eu estava com um sorriso maléfico no rosto e uma expressão tão horrível quanto. — Sim, Ezekiel está alucinado.

O homem à minha frente, duro na queda como  mencionado, levantou-se rapidamente e avançou ligeiramente em minha direção como um rinoceronte. Envolvendo seus braços em minha cintura, começou a forçar um empurrão para trás. Firmei o pé no chão, a fim de impedir isso.

— Que golpe desesperado… — zombei, era um golpe, no mínimo, imprudente. Acreditar nisso foi meu erro.

O que inicialmente parecia um golpe impulsivo, revelou-se totalmente planejado. Só percebi isso, ao notar dezenas de homens ao meu redor, prontos para me atacar. Fui ingênuo demais; numa batalha, não se pode confiar na honra do inimigo.

— Ezekiel! — Poul notou o que estava prestes a acontecer, e tentou ativar seu poder de fogo, mas sua vontade travou no alerta de faltas de nanobots. — Merda!!! De novo, sem poder fazer nada! Inferno!!!

Poul, era o tipo de pessoa que odiava sentir-se impotente, talvez por seu passado. Bom, no fim, existiam três tipos de pessoas: as imprudentes e as precavidas. Bom, o terceiro tipo era como eu... O meio-termo.

— Te peguei, idiota. — Da palma da minha mão implantada emergiu uma ponta reluzente. Rapidamente, virei-a em direção às costas do indivíduo e a enfiei até onde conseguia. 

Com isso, ele me soltou, e quando os homens estavam prestes a me agarrar, recuei com um salto. Sabia que não seria muito, e logo ele se curaria, mas não esperava aquilo…

À minha frente, estendia-se um mar de corpos; alguns sem cabeça, outros com ela esmagada, alguns carbonizados e o sangue desses corpos escorrendo até meus pés. Era uma visão deprimente; não sentia pena, afinal, foram eles que nos atacaram. Mas, ao observar tal cenário, me dei conta de algo... 

“Cadê o cara!?”

Apenas senti um ar gélido em minhas costas e uma presença emergindo. Ao tentar saltar para frente, parecia tarde demais…

Então, uma parede de gelo surgiu entre mim e o indivíduo.

— Comandante! — Ah, aquela voz, uma voz que sonhei em ouvir, a voz que nos tiraria daquela situação: Sofia.

— Sofia! — Nunca estive tão feliz por ouvir e, em seguida, admirar aquela mulher. 

Pow!Pow!Pow! 

A tropa especial veio logo atrás, impiedosamente alvejando todos que se moviam naquela área. Em instantes, restávamos apenas eu, Victor, Poul, Sofia, a tropa especial... E ele.

Rapidamente, ele apareceu por trás da Sofia, algo tão repentino e veloz que até a tropa especial, que reagiria imediatamente, ficou atônita. Contudo, Sofia era diferente; habilmente jogou seu corpo para frente e o girou, direcionando-o para o indivíduo. Uma estaca de gelo se formou em sua mão, e quando ela finalmente o acertaria... ela travou.

— Sofia! — A mão do cara não portava nada, mas eu, mais que ninguém, tinha o conhecimento de que um acerto direto em um corpo menos reforçado que o meu ou do Victor, causaria sérios problemas. 

A minha compreensão sobre o que havia acontecido era nula. Sofia nunca foi de hesitar, nem mesmo em me olhar friamente…

“Olhar friamente…” Os poucos segundos que me restavam na viagem até o corpo dela, me permitiram ver aquele olhar amarelado, antes apático, frio e sem muita vida, arregalar-se com talvez surpresa, espanto ou perplexidade. 

Eu não tinha muito o que pensar sobre isso no momento, pois o punho do indivíduo viajava em direção aos peitos de Sofia. Um acerto e provavelmente a iria varar, nem a roupa das tropas especiais aguentaria o impacto que feriu Victor. 

Eu não tinha tempo, então precisava otimizar o que me restava. Concentrei a energia do meu corpo nas pernas, deixando algumas funções motoras das partes superiores em suspensão. As partes azuis luminescentes nas minhas pernas irradiaram intensamente, e com isso, minha velocidade triplicou.

— Vamos, vamos. — Apenas observava aquele punho se aproximando cada vez mais dos peitos dela, e a ansiedade e desespero cresciam a cada instante, mais e mais. — Vamos! Vamos!

Ao passo do meu desespero indesejado aumentar, minhas pernas respondiam, tornando-se cada vez mais brilhantes, e com isso, minha velocidade quintuplicou. Sofia já podia sentir o ar quebrando milésimos antes do impacto do punho.

— Vamos!! — No último milésimo, eu saltei e a agarrei. Voando até o outro lado do local, acabei me chocando com a parede.

Eu podia sentir o melado do sangue escorrer pelo meu rosto, enquanto minha consciência vacilava; meu corpo não iria suportar muito mais. As funções motoras tinham se reativado no momento em que meus braços decidiram esticar para pegar Sofia. Sentia dores intensas e excruciantes. Mas, sempre fui um idiota exibido e confiante, sempre tentei parecer mais forte do que realmente era... Então, mesmo devastado, sorri. Um sorriso vermelho de sangue…

— Cara, você não pode parar um ataque assim… — falava para Sofia que estava segura em meu colo, tentava me fingir de forte, soltando piadinhas ou provocações. — Eu não poderei sempre te salvar, sabe.

— Eu-eu. — Ver aquela garota sem respostas, foi surpreendente, mas triste, eu não sabia o porquê dela estar assim. — Desculpa, eu não sei… O que aconteceu.

— Vocês lutaram bem — começou o cara. — Minha tarefa está cumprida. 

Como assim? Que tarefa? O porquê disso tudo para início de conversa? Começou com a interferência na viagem de dobra, depois o cerco de naves e o teleporte. Por que tanto trabalho conosco? Esse cara, ele não era um simples pirata.

Piratas nunca teriam tais habilidades, e se tivessem, eram raros. Piratas normalmente eram pessoas fracas que se uniam por não conseguir viver em sociedade normal, onde os fortes costumavam dominar.

“Mas esse cara é forte” Ele poderia dominar a sociedade e ascender a uma posição social alta, então por que?

A maneira dele lutar, a forma de se portar e como costumava se expressar, tudo isso remetia a grandes militares bem treinados. Tudo isso me lembrava a maneira como Sofia, agora em meu colo desamparada, se portava.

Eu nem mesmo consegui perguntar o nome dele…

“Qual o nome dele”

— Liam, acho que você estava refletindo sobre isso. — Como? Como ele sabia? não me diga que também podia ler mentes…. — Isso é tudo. Até a próxima, Ezekiel e…Sofia..

Tudo, antes claro, escureceu, e eu senti que meu corpo se movia, mesmo comigo estando parado. Então, a luz surgiu e um frio abraçou meu corpo, assim me vi novamente no meu "Trono”

— Comandante! — Em harmonia e perfeita sinfonia, todos me chamaram.

Todo mundo tinha voltado, era como se nunca tivéssemos saído dali. Contudo, tínhamos, e nossos corpos revelavam isso. Não suportei ficar consciente e vi minha visão escurecer, as vozes ficarem distantes até que um breu se apossou do meu campo de visão, e parei de sentir tudo, caindo em um sono profundo, ou melhor dizendo, desmaiando. 

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Elizabeth: Sala médica 

— Ele já vai acordar Sofia, vai descansar.

Comecei a escutar uma voz doce e simpática, um cheiro hospitalar invadia minhas narinas, um odor que eu odiava com todas as minhas forças. Me trazia péssimas lembranças. 

“Estou na sala médica?”

Então, os barulhos dos aparelhos hospitalares começaram a ecoar até meus ouvidos.. E, assim me confirmaram.

— Minha médica favorita está cuidando de mim.

Sarah portava uma bandeja com remédios na mão e pensava estar sozinha na sala. Sendo assim, o que aconteceria após eu romper o silêncio era óbvio.

Aaaaah! — Um grito fino e estridente, junto ao barulho de alumínio chocando-se contra o chão. 

Haha…Aí — Eu queria rir, mas até rir doía. Inferno de ferimentos.

Aí, ti ti ti… — Ainda caída aos chãos, colocava a mão na bunda, a queda foi freada por ela. — Ezekiel? Droga, sem meus óculos, não enxergo nada.

Ver uma doutora tão dócil e simpática falando "Droga" tem seu valor, apesar de eu me sentir culpado por sua queda. Bem, sem os óculos, ela era completamente cega. Então, eu iria precisar ajudar, o único problema era…

Aí! — O mínimo indício de me levantar era cruelmente negado pelo corpo dolorido. 

— Fique aí! Não levante!

Ah, minha doutora Sarah, uma mulher bela e afável que, se preocupava mil vezes mais com os próprios pacientes do que consigo mesma. Assim, ao ver um paciente pensando em não respeitar as ordens médicas, transformava-se em uma fera. 

Mesmo com meu corpo simplesmente abdicando-se de me permitir levantar, eu ainda poderia virar a cabeça para o lado, apesar de escutar alguns estalos e sentir uma dor incômoda, mas suportável, no pescoço.

Que visão deslumbrante, eu nunca fui do tipo que ficava dando em cima de qualquer mulher, respeitava bastante, ainda mais minhas oficiais, mas isso não me impedia de admirar sua beleza… E que beleza.

Uma mulher ou, melhor, doutora deslumbrante, de curvas perfeitamente acentuadas, exibindo cabelos vermelhos longos, com uma estatura modesta de 1,65m. A maior parte de seu corpo permanecia natural, pois ela sempre apreciou a beleza intrínseca do corpo humano e, isso até fazia me sentir mais atraído por ela.

Ela vestia uma calça jeans preta e uma camisa da mesma tonalidade, sobreposta por um maravilhoso jaleco médico branco. Em seus ouvidos, exibia brincos com o símbolo do "Bastão de Esculápio", Seus pés eram vestidos por botinhas escuras.

— Você fica tão deslumbrante, perdidinha. — elogie, ao ver ela toda estabanada procurando desesperadamente seus óculos. 

Porque fiz isso? Nem eu sei, só quis elogiar, o que de imediato surtiu o efeito ao qual eu ansiava: suas bochechas começaram a rosar e seus olhos a se arregalaram.

— O que?? — Tateando todo chão procurando seus óculos em um desespero nunca antes visto. — preciso achar meus óculos… Achei!

Ela finalmente os havia encontrado e assim adornou aquele lindo rosto com eles. Seu rosto ainda estava ruborizado, e suas palavras eram curtas e gaguejantes.

— E-e, é… tipo…

Ver ela toda envergonhada era um deleite para meus olhos, talvez eu só estivesse sendo sádico ou malvado. Fazer o que? Era algo intrínseco do meu ser.

Hahah! Esse seu jeitinho… 

Aquele rosto que já estava ruborizado o suficiente, ao escutar minhas palavras, simplesmente avermelhou-se inteiro, um pimentão ou então igual a um tomate. Ela não sabia onde esconder a cara, virava-a incessantemente de um lado para o outro, tentando achar algo que a tirasse da situação. Eu estava apenas começando, mas então meu corpo decidiu me lembrar que eu ainda estava todo despedaçado…

Aí! — Uma dor horrível na lombar, como se tivesse alguém a golpeando diretamente. 

Sarah, ao notar meu rosto agônico, retomou os sentidos comuns, e seu rosto enrijeceu, ficando sério. Ela correu até uma máquina ao lado da minha cama, de onde originava-se o soro que descia até minhas veias.

— Você, homenzinho, me preocupou bastante.

Agora era minha vez de sofrer nas mãos daquela mulher, eu meio que pedi por isso. No final, um dia é da caça e o outro do caçador.

Oh, minha doutora, me perdoe pelos atos cometidos por esse seu paciente malvado.

Esse era um tipo de jogo onde eu tinha experiência, e ela apenas a vergonha. Descer para play comigo, era de conhecimento prévio que a derrota estava certa.

Assim, virei meu olhar lascivo para ela, um olhar cheio de desejos e vontades. Esperava deixá-la ainda mais vermelha e acanhada, mas tudo que recebi de volta foi um olhar desamparado, apreensivo e tenso.

— O que ouve? 

— Ezekiel, sua lombar… Ela. — Ela estava apoiada na máquina ao meu lado, e então soltou seu pescoço, o que fez seu olhar baixar, como se estivesse perdida ou sem qualquer esperança… — Ela está estilhaçada.

Um baque, mas até aí tudo bem. Os nanobots da Sarah podiam curar quase qualquer fratura, e em nossa nave, nesta sala médica onde me encontrava, alguns dos equipamentos de medicina mais avançados estavam disponíveis..

— Bom, só esperar que os nanobots curem — falei calmamente, afinal, era o esperado... que daqui a uns dois dias eu já estaria bem. Talvez a primeira falha de missão ocorreria, mas tudo bem; ainda assim, minha lombar estaria inteira.

Mas então ela me olhou, um olhar úmido, um olhar choroso, um olhar desprovido de boas-notícias.

— Os nanobots, estão falhando em concertar ela…

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