Volume 2

Capítulo 2: A jovem espadachim (versão antiga)

 

Londres, 20xx

Mary se olhava no espelho do banheiro, com uma aparência mais jovem, mas já dando a impressão de maturidade. Ela lavava seu rosto e o secava com uma toalha, logo em seguida ela amarrava seu cabelo num rabo de cavalo e colocava seus óculos de grau.

A albina dava uns tapas em seu rosto e respirava fundo, era seu primeiro dia na faculdade, então estava ansiosa. Ela saía do banheiro e descia as escadas, chegando um pouco apressada na cozinha. Não era uma casa luxuosa, mas isso nunca foi motivo de incômodo para ela.

— Bom dia, querida. Pegou tudo já? — uma mulher de cabelos escuros perguntava para Mary, enquanto preparava alguns sanduíches e os deixava na mesa em cima de um prato.

— Sim. — a albina respondia enquanto tomava um gole de café e via as mensagens em seu celular.

Ela recebia algumas de seu grupo de amigas, perguntando se viram que na Turquia, uma cidade inteira foi arrasada pelo confronto de dois singulares. Uma delas perguntava se ainda tinham singulares desse nível, pensava que eles já eram águas passadas.

Outra amiga respondia que sendo aleatórios, nada seria águas passadas. Mary então perguntava a respeito dos anjos e demônios, afinal nunca mais os viram, e deixava as amigas ainda mais confusas naquela discussão.

A albina tomava seu café e comia seu sanduíche, enquanto um garoto menor que ela andava de maneira sonolenta até a mesa.

— Não vai se atrasar? — Mary perguntava enquanto continuava olhando para a tela.

— Recesso. — ele dizia enquanto se sentava na mesa e esfregava um pouco os olhos. Sua voz dava a impressão de ter por volta dos 13 anos.

— Duas vezes na semana? — a mais velha questionava, um pouco confusa.

— Um aluno ontem descobriu seus poderes. — Arthur respondia.

— Ah, mais algum sinal em você? — ela voltava a falar normalmente.

— Mary. — sua mãe chamava a atenção, apesar de não parecer brava.

— Claro ó, bem aqui. — ele mostrava o dedo do meio para sua irmã, fazendo-o duplicar por alguns instantes enquanto bocejava.

— Beleza, eu vou indo já. — Mary terminava seu sanduíche e pegava sua mochila pendurada na cadeira, logo depois dava um beijo na cabeça de Arthur e ia até sua mãe. — Vou voltar um pouco mais tarde, o Drake me chamou pra sair. — em seguida ela dava um beijo na bochecha de sua mãe e ia até um armário próximo.

— Tá bom, juízo hein. — ela respondia e depois ela mesma ia até a mesa tomar seu café.

Mary abria o armário e pegava um objeto comprido dentro de uma bolsa, colocava a alça no ombro e depois se dirigia pra saída.

— Tchau, amo vocês. — a albina dizia enquanto colocava seus tênis.

— Também querida. Ah, conversa com seu pai depois também, tá? — a mãe dava uma tarefa a mais.

— Ok.

Após isso, Mary saía de casa e ia para uma placa do outro lado da rua, enquanto se dirigia ao ponto, ela respirava fundo, estava nervosa. A moça dizia mentalmente para se acalmar, era só uma faculdade, ia dar tudo certo, ela já passou pelo mais difícil, agora era manter.

Para se acalmar um pouco, decidiu colocar uma música em seus fones de ouvido, e sem muita demora, o ônibus chegava, Mary adentrava e procurava um lugar, não estava tão cheio, então foi fácil.

No caminho até a faculdade, ela escutava a melodia e observava a janela, vendo a cidade e ao passar por uma ponte, ainda se podia ver um corpo sendo retirado da água, com certeza de um humano, com a diferença dele ter 20 metros. Era possível ver que seu pescoço estava retorcido, o que chegava a ser um pouco assustador.

Isso fez Mary lembrar de uma dúvida, fazendo-a pegar o celular e perguntar para as amigas se já tinham descoberto quem matou o herói “Velikan”, as teorias não eram claras, mas apontavam que o singular veio da Alemanha, mas ainda era estranho ele ter conseguido quebrar o pescoço de Velikan, visto que não tinha como ficar do mesmo tamanho dele.

Na faculdade já, Mary via que chegou adiantada, então poderia ir sem pressa, ver o local e aproveitar aquele momento somente dela, pensar quando que deveria revelar ao governo que também era uma singular, afinal ela sabia toda a burocracia que teria ao contar.

 Também não poderia guardar isso para sempre, hora ou outra descobririam, principalmente por estar usando aqueles óculos mas nem precisar mais, tanto que nem eram de grau. O que ela diria ao seu oftalmologista se aparecesse do nada enxergando tudo corretamente nos exames?

Mas talvez ela pudesse deixar isso para outra hora, aquele dia era o começo de outra etapa de sua vida, a vida adulta, quantas responsabilidades já caíram sobre ela somente por ter feito 18 anos. Fora isso, ela também pensava mais na frente, já estava namorando a dois anos, e Drake sempre se deu bem com crianças, será que isso implicaria que eventualmente ele iria querer?

Mary ficava um pouco envergonhada ao pensar nessa possibilidade, isso ainda teria que ser discutido com ele, por hora, era melhor ela se concentrar no primeiro dia de aula.

Terminado a faculdade, já era hora do almoço, e a albina ficava decepcionada que no primeiro dia não teve absolutamente nada de relevante, apenas apresentações para os professores, teve tarefas, porém nada que pudesse realmente chamar de aprendizado.

Ela olhava seu celular, depois de almoçar, teria o treino com seu pai, e depois, sair com Drake. Falando nele, a mensagem confirmava com Mary o horário, que seria mais para o final da tarde.

Enquanto almoçava no restaurante próxima à saída da faculdade, ela pensava, os relatos de Drake sobre o que precisou fazer e toda a burocracia por trás, fazia ela ficar até com preguiça de revelar seus poderes oficialmente, e ser reconhecida como singular. Sabia que hora ou outra precisaria revelar, mas a que custo também.

Junto a isso, ficava preocupada com seu irmão, ele também havia descoberto seus poderes, mas assim como Mary, não foi na escola, então ainda não tinha revelado, e pelo que tinham visto, era algo poderoso sim, mas isso poderia implicar que ele não teria escolha senão se juntar ao exército.

Eram muitas coisas, a moça respirava fundo e se acalmava, porém nesse processo ela deixava o garfo cair da mesa. Por um momento, ela olhava o talher, depois olhava para os lados, nenhum funcionário passando, então ela, sutilmente, abria a mão e o garfo voltava girando. O melhor era torcer para que ninguém tivesse visto, ou pelo menos que não ligasse os pontos de ela estar usando óculos.

Mary terminava seu almoço e depois de pegar mais um ônibus, ela ia em direção ao dojô de treinamento, lá ela adentrava, fazia a reverência e via um rapaz de cabelos brancos, mas não por causa da idade aparentemente, limpando o local, com a vestimenta típica de um praticante.

— Oi pai. — a albina dizia enquanto colocava seus tênis na prateleira.

— Oi filha, já libero aqui. — ele respondia, calmamente.

— Ok. Ei pai, depois do treino a gente pode conversar? — ela perguntava enquanto se dirigia ao vestiário.

— Claro.

Enquanto se arrumava, Mary respondia novamente suas amigas, dessa vez perguntando coisas recorrentes, como o novo filme que ia sair logo, uma delas perguntando se a albina já leu tal artigo sobre os singulares, isso que dava ter amigas fascinadas por eles.

Depois de colocar seu equipamento de treino de kendo, ela amarrava seu cabelo em um coque e retirava seus óculos, por um momento Mary pensava que deveria cortar, pois poderia atrapalhar querendo ou não, mas ela gostava muito dele assim, era charmoso.

Voltando ao salão de treinamento, ela abria a mochila e retirava sua shinai de dentro dela, sem o capacete, a moça começava a treinar golpes sozinha. Claro que uma espada de bambu e uma de verdade tinham pesos bem diferentes, mas primeiro ela tinha que dar um golpe sem acabar se acertando.

Mesmo sendo bem veloz, e habilidosa, o pai de Mary a olhava treinar com uma certa apreensão no olhar.

Os alunos começavam a chegar e, dado o horário, todos começavam a praticar. Como imaginava, a albina não era acertada quase nenhuma vez nos lugares que davam pontos. Alguns alunos tinham inveja disso, e outros a usavam como inspiração para melhorar.

Após o final do treino, no vestiário algumas alunas tomavam banho e comentavam, dentre elas estava Mary, que estava sendo questionada sobre as técnicas que utilizou, pois eram bem avançadas para alguém nova daquele jeito. A albina não sabia responder, apenas dava risada junto delas e comentava que talvez fosse o poder dela aparecendo.

Tomado o banho, a moça olhava o horário em seu celular, daria tempo de se arrumar e conversar com seu pai ainda. Queria estrear o jeans que comprou e a camiseta de manga comprida era justa, então dava valor às suas curvas, como seus braços e abdômen, que não eram grandes, mas sim definidos. Enquanto passava sua maquiagem simples, as outras alunas no vestiário fofocavam sobre a albina estar indo num encontro.

Após todos os alunos terem saído, Mary podia finalmente ir conversar com seu pai a sós, que estava arrumando o salão e deixando tudo organizado.

— Então, sobre o que quer conversar, filha? — ele perguntava, batendo as mãos para limpar a poeira.

— É que... Bom, a mãe tá preocupada, a gente tem que revelar nossos poderes.

— É, eu sei... Eu não queria toda aquela burocracia pra vocês, e nem pra mim na verdade.

— Eu meio que não tô nem aí pra aqueles engravatados que surfam na nossa grana. Eu também só tô preocupada porque... Bem, o Arthur nunca quis ir para o exército. — Mary cruzava os braços e encostava na parede, suspirando.

— Isso me fez pensar na verdade, talvez seja melhor se nos mudarmos dessa cidade. Mas o problema é que você já entrou na faculdade, se a gente se mudar você vai ter que fazer outro exame de entrada.

— Eu sei, eu sei... Ah, que droga. — por alguns instantes, ela pensava a respeito, se deveria aceitar algo assim, passar de novo pelo inferno de admissão numa faculdade, tudo para que seu irmão não virasse um peão singular do governo. — Melhor a gente pensar nisso aos poucos.

— Sim. Aliás, essa não é a única razão pra vir ter uma conversa em particular, não é? Pode falar. — dizia o pai, que sabia ler seus filhos com a palma da mão, um aspecto que frustrava Mary, que não sabia se ela era previsível, ou se o pai dela era muito espero.

— Pai, e sobre a katana? — ela se desencostava da parede.

— Já não conversamos sobre isso? — o pai cruzava os braços.

— Eu sei mas... Pai, eu tô pronta, eu posso usar ela.

— Filha, é inegável que você é minha melhor aluna, mas pense bem, porque eu te daria uma katana? Pra você treinar sozinha? A katana é igual qualquer espada, uma arma, não um acessório.

— Eu sei, mas e se um dia eu precisar me defender? Ou precisar defender o Arthur? Eu não vou só colocar as botas e sair correndo com ele.

— Então me diz, o que uma katana faria contra alguém que ataca de longe? — ele questionava, não parecia bravo, mas queria que a filha parasse com esses pensamentos.

— Isso... Pode ser resolvido, você ainda tem a sua braçadeira.

— Mary, eu não vou te transformar numa guerreira singular. Não vale a pena, eu tô muito mais feliz agora, ensinando a técnica da espada, do que sendo um ferreiro e espadachim para os Heróis. E se algo acontecer, eu quem vou proteger vocês.

— Heróis... — Mary suspirava e relaxava, a conversa realmente não renderia o que ela desejava, então era melhor só deixar para lá. — Tá, tá bom. Pode levar a shinai pra mim? Eu vou sair com o Drake.

— A shinai é responsabilidade sua. — ele terminava a conversa e se virava para o vestiário, para se trocar.

A albina resmungava e pegava a mochila com a espada e colocava no ombro, indo em direção à saída. Enquanto colocava seus tênis, ela olhava o horário, era momento de ir se encontrar com Drake, ao menos iria relaxar um pouco depois de duas frustrações no dia.

Se levantou, arrumou um pouco seu cabelo e roupas, e logo que saiu do dojô, viu um rapaz, alto como ela, branco porém com manchas escuras evidentes e bem marcadas em seu pescoço e braços. Tinha os cabelos pretos, no estilo undercut, piercings na orelha, um moletom com as mangas dobradas, jeans e tênis cano alto.

Esse rapaz estava encostado em uma moto, com dois capacetes no banco. Ele sorria para Mary, que parecia um pouco surpresa de o ver ali.

— Oi, querida. — ele cumprimentava.



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