Volume 2

Capítulo 3: A jovem espadachim (2) (versão antiga)

 

— Drake! Quis fazer uma surpresa pra mim? — ela dizia enquanto o rapaz se aproximava e a cumprimentava com um beijo.

— Percebeu? — ele dava uns passos para trás e pegava um dos capacetes encostados na moto, tinha uma cor roxa e com símbolos de alfabeto japonês. — Chegou.

— Ah, valeu! — respondia Mary enquanto pegava e analisava seu presente. Ela também reparava que a moto de Drake tinha algumas modificações desde a última vez. — Você queria estrear as novas alterações?

— Bom, na verdade eu só queria mesmo ver você e passar um tempo. Estrear é só um bônus. — o rapaz dizia com um sorriso e alisando o cabelo dela, deixando-a um pouco envergonhada.

— Ah, para vai... — ela nem sabia como responder, apenas olhava para os lados enquanto arrumava uma mecha para tentar disfarçar.

— Me concede essa corrida? — ele perguntava estendendo a mão para a albina, que naquele momento se sentia praticamente uma princesa. Não era o comum dela ser tão sentimental, mas não conseguia esconder isso de Drake.

Então, sorrindo, Mary retirava seus óculos, colocava seu novo capacete e subia na moto logo após seu amado. Ele ligava o veículo e acelerava, a albina entrelaçava os braços em sua barriga e depositava a cabeça em suas costas, como se, pelo menos por alguns momentos, ela deixasse seu destino nas mãos de quem confiava.

Os dois passeavam pela cidade, que naquele período, começaria a ficar com trânsito, afinal era horário de pico, então, quando eles chegaram a um semáforo, Drake decidiu ser mais ousado e utilizar seu poder para não ter que esperar atrás de um carro.

Ele não freou enquanto continuava em direção ao veículo, e num piscar de olhos, os dois apareceram na frente do carro, como se tivessem sido teletransportados. O sinal estava fechado, portanto, outros estavam cruzando a avenida, então era se jogar pra morte uma atitude dessas.

Porém, assim como na primeira vez, eles simplesmente apareceram do outro lado da avenida, podendo prosseguir tranquilamente a viagem. Uma situação curiosa que ocorreu, foi que os motoristas que supostamente acabariam atropelando Drake, ficaram confusos e quase perderam o controle ao passarem pelo cruzamento mais rápido do que se esperava.

— Drake. Você não pode usar seus poderes assim no nada, você sabe o que acontece. — a albina tentava o alertar.

— Eu sei, mas não se preocupe, coisas pequenas como essa eles não vão ficar sabendo. — ele respondia como se estivesse se gabando.

—Ainda é bem arriscado. — Mary às vezes se perguntava por que ela se apaixonou por alguém impulsivo assim.

Enquanto Drake dirigia em direção a um lugar, a albina aproveitava a vista que tinha ao seu lado, que era justamente do mar com um belo pôr do sol, o que fazia ela lembrar dos momentos de sua adolescência, quando ela conheceu Drake.

4 anos atrás.

Mary sempre teve um espírito meio aventureiro e curioso, desde criança ela questionava seu pai sobre os ensinamentos da espada, ela queria se tornar uma guerreira, que nem ele, e não apenas para criar responsabilidade e senso de dever. A espada era para matar, e ela entendia isso, afinal, cresceu rodeada de singulares explodindo coisas e reduzindo cidades a ruínas.

Com 14 anos, decidiu, mesmo que seu pai não aprovasse, treinar sozinha a técnica da espada, que além de inspirada por relatos de seu parente, também se baseava em filmes que havia visto. Claro que tentando com um pedaço de madeira, não iria adiantar muito, então, após discutir com sua esposa, o pai de Mary decidiu pelo menos treiná-la corretamente em seu dojô, para ela no mínimo não se machucar.

Enquanto treinava, várias vezes Mary precisou de um sermão do pai para entender que aquilo era apenas isso, um treino, não um combate até a morte. Ela teria que seguir as regras do dojô se quisesse ser treinada, então mesmo com a rebeldia ardendo em seu peito, a albina decidiu abaixar cabeça e seguir conforme os ensinamentos.

Mas isso não a impedia de algumas vezes sair escondida para treinar sozinha, falando para Arthur que se ele não revelasse nada, lavaria a louça pelo resto da semana.

Geralmente Mary ia até uma praia próxima, e aproveitava que não era permitido entrar naquele mar, para ficar por lá e tentar melhorar, além de testar coisas que normalmente não poderia com seu pai.

Em um desses treinamentos secretos, a albina estava praticando movimentos que visivelmente não eram só de um espadachim, ela utilizava chutes, socos e até mudava a espada de posição.

Até que em um desses golpes, ela sentiu alguém se aproximando, e quando se posicionou para atacar quem estava atrás de si, a albina viu um garoto, jovem, até mais baixo que ela, se encolhendo para não levar uma.

Mary ficou confusa por alguns momentos, pois pensava que era alguém tentando fazer mal, mas era apenas um menino, que aparentava mal ter a idade dela. Enquanto abaixava sua espada, o garoto abria lentamente os olhos e observava a albina. Ele tentava abrir um sorriso para disfarçar a situação estranha que eles estavam, não foi o melhor começo.

— Quem é você? — Mary perguntava enquanto ajeitava seus óculos e tentava se mostrar mais forte do que era.

— É... é que... Eu achei muito legal seus golpes. — o menino tentava puxar um assunto. — D-drake, meu nome é Drake, e você?

— Mary... Você ia me atacar? — ela perguntava.

— Não, não, eu só... achei muito legal seus golpes. — ele tentava disfarçar que queria pedir alguma coisa, não estava ali apenas para admirar. Depois de resistir por alguns momentos, ele acabava revelando. — Eu queria saber se posso treinar com você.

— O quê? — a albina ficava confusa.

— É que... Bom, eu quero me tornar mais forte, meu poder até hoje não se manifestou. — enquanto ele dizia, Mary reparava no porte físico de Drake, ele realmente era magro, não aparentava ter muita definição, então até que fazia sentido o pedido.

— Mas eu nem sou mestre, eu... Eu só estava treinando o que me veio à cabeça.

— Mesmo assim, você é muito forte, então... Você pode me ensinar?

— Mas eu não tenho duas espadas. — ela apoiava sua shinai no ombro.

— Então... Me ensina os socos e chutes. É, se eu puder fazer isso já tá bom. — a insistência dele parecia pelo menos pressionar Mary a decidir.

Sem muito para onde correr, pois mesmo que quisesse negar, ela gostaria de uma companhia, Mary acabou concordando em ensinar o que sabia para Drake, mesmo que não fosse mestre de algo nem nada.

Drake, um garoto relativamente comum, que apesar de não ter grandes dificuldades, sempre foi uma pessoa mais contida, e nunca se importou realmente em ser forte ou algo parecido. Grande parte das pessoas desejavam e muito se tornarem singulares poderosos, torcendo para que seus poderes fossem incríveis. Para Drake isso nunca foi um desejo forte, afinal ele por si só sofria bullying e não tinha coragem de revidar, talvez por ser baixo e magro.

Mas, querendo ou não, ele tinha um desejo de pelo menos se proteger, e principalmente, conseguir proteger sua irmã mais nova, a qual, diferente dele, era extremamente popular, e no final acabava sendo ela quem o defendia das ofensas, dizendo que somente ela podia xingar o irmão.

Por mais que fosse visível que não iriam fazer nada, afinal eram crianças, Drake ainda se sentia inútil por precisar ser defendido pela irmã, ele queria pelo menos ser alguém que ela olharia e pensaria que estava tudo bem, o garoto praticamente colocava essa responsabilidade nos ombros, desde que o pai deles havia falecido numa batalha contra um singular.

Essa situação se mostrou ainda mais alarmante depois que, enquanto atravessava a rua, Drake parou para ver o que sua irmã estava fazendo lá atrás, com isso, quem percebeu acabou sendo ela, um caminhão virando bem no espaço que o garoto estava. Ficando em choque por um segundo, Drake não conseguia se mover, mas a menina sim, e foi ela quem pulou e empurrou para salvá-lo, ao custo de ser acertada em cheio pelo veículo.

Drake ficava praticamente sem reação, enquanto o sangue de sua irmã se espalhava pela rua e o olhar dela entregava tudo, não havia mais vida nela. Surtando por dentro, o garoto acabava entendendo que, novamente, quem o salvou, foi sua irmã mais nova, uma criança menor que ele, menos experiente que ele, menos forte que ele, porém, talvez mais decidida.

Em seu enterro, Drake era o mais em choque de todos, como se seu estado de negação continuasse, enquanto ele via sua mãe chorar sem parar, ele só conseguia prometer para si mesmo que precisava fazer algo, não podia deixar a morte de sua irmã ser em vão, ele precisava urgentemente se tornar mais forte, não apenas fisicamente.

Apesar de não saber exatamente por onde começar, foi sorte dele acabar encontrando Mary praticando.

O primeiro treino entre os dois foi meramente uma demonstração de socos no ar e chutes tortos, então quando ficaram cansados, os dois se sentaram de frente um para o outro. Mary parecia feliz de ter alguém treinando junto dela, já que seu irmão não gostava disso, e seu pai jamais permitiria isso.

— Por que você pratica sozinha? — Drake começou perguntando.

— Ninguém queria, e meu pai não gosta que eu treine fora do dojô, por isso venho escondida. — ela respondia.

— Ele te ensina kendô? Legal. — ele dizia, animado. Mary emprestava sua shinai para ver o que o menino sabia fazer com algo daquele tipo.

Drake se posicionava e realizava alguns golpes bem tortos e que honestamente, não acertariam ninguém. Aquilo acabava, surpreendentemente, fazendo a albina rir e ajudar o garoto. Porém, para a surpresa dela dessa vez, quando foi pegar a espada da mão de Drake, suas mãos se tocaram, e ficaram em choque por alguns instantes, olhando sem jeito um para o outro, até que os dois soltaram no susto.

Enfim, enquanto Mary demonstrava seus golpes de espada e até alguns golpes que aprendeu praticando sozinha, Drake ficava intrigado, pois a determinação daquela garota, lembrava muito a de sua irmã. Era admirável. Fora isso, ele reparava que, mesmo a albina sendo meio difícil de puxar assunto, não ir mesmo com o estereótipo de garota daquela idade, ela ainda assim era muito linda.

Conforme o tempo passava, era inevitável que os dois acabariam se aproximando, tanto por passarem bastante tempo juntos, quanto por se sentirem seguros de falar sobre suas dores um com o outro. Tudo se tornou mais evidente após os dois irem para a mesma escola para fazer o ensino médio.

Um dia, enquanto os dois estavam em seus grupinhos de amigos separados, eles acabaram cruzando caminho, e ao passarem, ambos podiam sentir seus corações batendo mais rápido. Drake olhava para trás enquanto continuava a andar, pensando como ele deveria contar para Mary.

Quanto à albina, arrumava uma mecha de seu cabelo e ficava com uma expressão desanimada, pois já temia pelo pior, que seus sentimentos não seriam correspondidos. Era frustrante para ela, esse assunto era um difícil de entender, ela sempre foi mais de agir, questões físicas eram seu forte, mas quando aparecia uma situação emocional, Mary sempre travava e até mesmo era cética consigo mesma.

Estava prestes a desistir, já imaginava que Drake seria somente seu amigo e continuaria assim, porém, enquanto voltava para casa naquele mesmo dia, ela viu o rapaz correndo para alcançá-la. Um pouco surpresa, ela perguntou se algo havia acontecido, e ficou ainda mais surpresa quando recebeu a resposta.

— Mary... Você quer sair comigo? — Drake dizia em meio às recuperações de fôlego.

A albina ficava em choque por alguns segundos enquanto seu cérebro processava a informação, e conforme entendia que aquilo realmente estava acontecendo, mais vermelho seu rosto ficava, até não conseguir evitar e simplesmente esconder seu rosto pela vergonha.

— Uh... Você tá bem? — o rapaz tentava olhar para o rosto da garota, que tentava se virar para escondê-lo. Percebendo o que havia feito, ele abria um sorriso e perguntava. — Você quer um tempo pra pensar? Te deixei tão em choque assi- — antes de finalizar sua frase, Mary colocou a mão na frente de seu rosto, e quando ele olhou para o rosto da albina, conseguia ver o olho dela entre os dedos, ainda tentando esconder sua vergonha.

Finalmente, a albina decidiu acenar a cabeça e aceitar o convite, o que abriu um sorriso em Drake, que entrelaçou sua mão com a de Mary e mostrou o que aqueles anos de treino e proximidade com a albina fizeram com sua confiança. Impressionante até para um garoto de 14 anos.

— Amanhã às duas, na praça aqui perto, combinado? — ele dizia com uma expressão que além de confiança, passava admiração, e que quem ele queria era aquela garota. Aquela jovem espadachim, que podia defender-se e intimidar até alguém mais alto, mas que não sabia reagir a um mero elogio. Essa mesma garota que agora arrumava seus óculos e respondia sem conseguir olhar nos olhos de Drake ainda.

— C-combinado...

Mary nem sabia por onde começar, ela nunca tinha ido a um encontro antes, eram tantas perguntas. E se ele achasse brega a roupa dela? E se o cabelo não estivesse do agrado? E se ela suasse pelo nervosismo? Então, como nunca pensou que faria, a albina foi pedir dicas para sua mãe.

Dada a hora, Mary estava em pé no local marcado, nervosa. Ela usava uma saia preta, um suéter branco com sobretudo por cima, botas, seu cabelo agora ficava solto e ela usava um gloss em seus lábios. A albina parecia muito atenta, e sua pose sempre ficava ereta, como se estivesse sendo avaliada a todo segundo, e tudo ficou ainda mais difícil quando viu Drake se aproximando.

O rapaz trajava uma calça jeans rasgada, com correntes penduradas, uma jaqueta de couro e tênis cano alto. Achando que seria impossível ela ficar mais envergonhada do que já estava, agora Mary não conseguia mais olhar para Drake.

— Uau... E eu pensando que não tinha como ficar mais linda, Mary. — ele dizia sem nenhuma hesitação. A garota arrumava seus óculos e respondia de forma tímida.

— V-você acha? Eu... não sabia o que vestir, então eu tive que buscar ajuda da minha mãe, mas não sei, acho que talvez esse estilo não encaixa, ah meu Deus eu sabia que devia ter consultado minhas amigas ao invés dela, eu tô parecendo uma senhora desculpa eu- — ela foi silenciada pela mão de Drake encostando seu braço.

— Ei ei... Relaxa, eu te acho linda independente, e sua mãe tem bom gosto, te deixou incrível. — com essas palavras, Mary se acalmava enquanto olhava para o garoto e percebia o quanto ele era bonito, o que obviamente não a deixava menos envergonhada. — Vem, vamo lá, me disseram que essa cafeteria nova é ótima.

— Ok... — ela se colocava ao lado de Drake e os dois iam juntos.

Tempos Atuais

Mary relembrava de tudo isso, e agora, eles estavam ali, sentados no banco da praça, olhando o mar no horizonte e apenas aproveitando a companhia um do outro. Aquele momento de paz e tranquilidade, permitia a albina deitar sua cabeça no ombro de seu namorado e sorrir, desejando que aquele momento durasse para sempre.

Drake acariciava os cabelos dela enquanto também sorria, porém, após se lembrar do que deveria falar para a albina, sua expressão não ficava mais tão alegre.

Durante a volta, Mary achou estranho que Drake não estava falando nada, e já sentia que ele estava querendo dizer alguma coisa, mas estava com medo. Quando chegaram na casa dela, foi a hora perfeita de perguntar, logo após retirar seu capacete, ela tomou a iniciativa:

— Amor, aconteceu algo? — ela dizia colocando a mão no ombro dele, que após retirar o capacete também e suspirar, disse com o tom mais decepcionado que já teve em sua vida.

— Mary... Eu acho que não vamos mais nos ver.

 

 

 

 

 

 

 



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