72 SEASONS
Capítulo 20: Estação das Rosas Vermelhas
O silêncio tomou conta de repente. Com o corpo que tanto desejava jogado aos seus pés, Vloid carecia de razões para perder mais tempo antes de iniciar seu ritual. Perguntava-se, então, a razão de demorar fazê-lo.
Rag Forge, o Cardeal, estava morto, isto era um fato mais do que certo. Seu sangue se espalhava pelo chão, um espelho que aumentava e permitia Vloid ver seu reflexo e se questionar:
"Por que eu estou inquieto?"
Algo estava errado suar frio deste jeito — até porque era um cadáver. Para sorte ou azar, ganhou a resposta para este mistério.
Uma criatura esquelética como um tipo de gato humanoide desnutrido surgiu sobre a barriga do garoto, agachado sobre o cadáver sem apresentar qualquer tipo de respeito.
Que patético.
Uma voz rouca e um tanto irritante, como um velho rabugento com algo preso na garganta. Apesar de claramente ágil, se movia lentamente, caminhando a passos curtos em direção ao rosto do cadáver.
Agora é hora de cumprir a sua parte do acordo!
A pequena mão rugosa deslizou sobre a testa do cardeal e cobriu a ferida da bala, que desapareceu. Em seguida, deu uma ordem: Erga-se!
Rag abriu os olhos outra vez e Vloid saltou para trás, ambos compartilhando uma mistura de susto e surpresa.
"Ele reviveu?! Ma-Mas ele nem se tornou um vampiro, ainda é humano! Como isso é possível? O que era aquela criatura??"
O agora ex-cadáver se levantou, as pernas bambas, a mente ainda processando o fato de que foi puxada para longe dos portões do paraíso e presa novamente nesta casca orgânica.
Rag fitou Vloid, agora mais distante. Olhou ao redor, confirmando estar vivo ao tocar uma das rosas do mar vermelho. Por fim, pensou em voz alta enquanto mirava seu inimigo:
— Esse cara… ele é impressionante.
Havia entendido, enfim. Os ataques atingiam o vampiro, mas todos podiam ser anulados com um simples estalar de dedos devido a natureza deles. Poderia até ser um vampiro, mas ele ainda era o Papa oficial do momento, e ao considerar este detalhe, foi possível fazer uma relação específica.
O Papa era um entidade santa por definição, dignificada em todo o seu ser, enquanto Rag utilizava de símbolos e criaturas estranhas para adquirir um poder pagão. Isto é, na perspectiva do próprio vampiro. Sempre que estalava os dedos, apenas as invocações e objetos utilizados por Rag com a intenção de feri-lo que desapareciam.
"Eu não sei quanto ao fato dos ataques estarem mais fracos, mas a [Rosenrot] deve ser a responsável por este efeito!"
Qualquer coisa danosa, ou em outras palavras, qualquer pecado direcionado ao Papa seria facilmente anulado com um simples estalar de dedos. Isto também explicava a razão do 30° Selo não ter funcionado no início da luta, pois se Rag não desaparecia junto de seus Selos, significava que sua existência não era considerada um pecado para o Vloid, muito menos como um inimigo.
Pensar que derrotaria alguém como ele apenas com os selos normais foi uma ideia errônea desde sua concepção.
E então? Morrer foi o bastante para te mostrar a realidade? Talvez você devesse tentar mais alguma coisa. Quem sabe ele fica com pena se você se desmembrar.
Rag coçou a testa, sentindo ainda os efeitos de ter o cérebro atravessado por uma bala. Sem dúvidas uma experiência que não gostaria de repetir, mas que Vloid parecia disposto a fazer.
— O que foi isto que aconteceu? Eu nunca nenhum poder semelhante. Poderia me explicar?
Apesar de manter uma distância, Vloid não apresentava medo em sua voz, mas sim uma curiosidade semelhante a de uma criança.
Era um pouco difícil para os dois se ouvirem devido a distância que o Papa havia aberto, mas continuaram a falar em tom de voz normal como se estivessem a centímetros de distância. De alguma forma funcionou.
— Bem, honestamente, nem eu sei dizer ao certo o que aconteceu…
— Como assim? Está utilizando poderes que desconhece a origem? Isso é bastante imprudente. Como pretende me derrotar assim?
— Como exatamente, isso eu não sei… — Sorriu, não forçado, mas determinado. — mas eu não vou poupar nenhum esforço.
— Huhu! Jovens adoram surpreender. Pois bem, venha! Me ataque com tudo que lhe resta! Estou ansioso para descobrir do que este seu misterioso poder é capaz!
Rag gritou um sim como se chamado para treinar com seu mestre. Nisto, uma pequena atitude passou despercebida pelo vampiro, que foi o único e curto que deu para trás num instinto primitivo.
Em mente, sabia apenas que o indivíduo diante de seus olhos era diferente do cardeal que iniciou a luta. Ia muito além disso.
Os olhos de Rag tomaram a forma de espirais. Saliva transbordou de forma descontrolada de sua boca, como um predador faminto que finalmente encontrou uma presa depois de dias passando fome.
A criatura raquítica logo surgiu em seu ombro. A verdadeira voz da maldade.
Vamos! Use aquilo! Você sabe que não vai vencer se não usar esse ataque! Vamos! Vamos, Rag! Use o ataque!!
— Entendo! — O vampiro riu. — Vai apelar para algo que não possui controle sobre, certo? Está longe de ser a primeira vez que vejo algo assim. Vai apenas perder mais tempo.
Errado! A confiança na voz do garoto aumentou sua curiosidade.
— Esta habilidade, eu realmente já perdi o controle dela antes, mas desta vez ela não é uma simples carta na manga ou saída de emergência! Me diga, você anula todos os ataques que considera como pecados, não é?
Viu um arquear de sobrancelha.
— Haha! Sim, exatamente. Estou impressionado com o quão preciso você foi nesta suposição. Eu usei a minha história de vida para tentar te distrair, mas pelo jeito eu falhei. — Coçou o queixo, pensativo. — Por acaso seu próximo truque se baseia neste conceito? Talvez em alguma falha que eu nunca tenha percebido?
— É, pode-se dizer que sim. Depois que eu entendi como sua habilidade funciona, eu pensei: se ele consegue anular qualquer pecado que vá contra ele, então eu só preciso ir contra o pecado!
— Isso não fez absolutamente nenhum sentido, mas tudo bem. Vamos ver o que consegue fazer.
Rag ajeitou a postura, indo contra qualquer ideia do vampiro e abrindo a guarda ao juntar as mãos em reza e fechar os olhos. Então, iniciou:
Não me negue nada que meus olhos desejarem…
A mão de Vloid tremeu, os dedos num movimento instintivo para formar seu próprio selo mesmo que a [Rosenrot] já estivesse ativa. Sua reação foi um aumento do sorriso. Algumas meras palavras e seu corpo já reagiu. A ânsia de saber o que acontecia o impediu de interromper.
Não recuse mais os prazeres que desejas meu coração…
Vamos, vamos!! Quase fez uma torcida organizada para o rapaz, e esta animação era substituída por outro sentimento ao passo que o cântico era recitado.
Alegra-me por todo o trabalho, recompensa-me por todo o meu esforço…
Isso é ruim! A premonição ainda afogada por sua curiosidade. Suas mãos começaram a tremer de verdade. O imenso navio ainda estava ali para intimidar qualquer que fosse a coisa prestes a surgir, ou era isto que ele esperava acontecer.
Uma névoa negra foi expelida das páginas do Livro de Selos ainda preso na cintura do rapaz, se acumulando no corpo e tomando uma nova forma.
As mãos e os pés se tornaram animalescos, com o dobro do tamanho normal e dotados de dedos afiados como garras.
Os olhos de sua face permaneceram inalterados em cor, mas suas pupilas se tornaram gêmeas. No centro de seu tronco surgiu um terceiro olho de esclera amarelada e pupilas tão negras quanto carvão. Linhas verticais vermelhas desceram a partir de seus olhos até alcançar o pescoço, enquanto a horizontal em sua testa transmutou-se numa coroa de espinhos. Por fim, flutuando como um auréola sobre sua cabeça estava a grande tiara de ferro com seus sete espinhos dourados.
Com esta ordem, eu invoco…
Septuagésimo Terceiro Selo (73°)
GOVERNANTE DOS SETE REINOS: SOLOMON!!
Uma intensa ventania de efeito puramente dramático atingiu Vloid. A transformação estava completa, e sua curiosidade atingiu o nível máximo junto com o êxtase em presenciar o nascimento de algo desconhecido.
A forma de ataque, como revidar, estratégias a se tomar. Muitas possibilidades passaram por sua cabeça e sem mais querer esperar, levou um dos braços à frente, pronto para anular qualquer ataque num simples estalar de dedos.
— VENHA, RAG FORGE! Mostre-me do que esta sua nova forma consegue fa… BLOW!!
Vloid viu o mundo ser imbuído em escuridão, capaz somente de sentir seu corpo amolecer e cair de costas no chão.
No mundo visível, Rag arfava aliviado ao ver que seu ataque foi um sucesso. Num passo rápido, conseguiu ser mais veloz do que o tempo de reação do inimigo, estourando a metade superior da cabeça com um poderoso soco. Os pedaços do cérebro que voaram se misturaram ao mar de rosas.
Outra vez, silêncio. Tão rápido quanto o golpe decisivo foi desferido, o rapaz encerrou a transformação e voltou ao normal, caindo com as costas no chão em seguida.
— O que… foi isso?
Procurou a origem da voz rouca, surpreso. Com o corpo já se tornando em cinzas carregadas pela brisa dramática, os lábios de Vloid insistiu em se mover.
Rag decidiu atender ao último pedido do vampiro.
— Isto é algo à parte da [72 Seasons], o Livro de Selos é um artefato que eu descobri ser um receptáculo para esta criatura chamada Solomon. Eu costumo dizer que é um demônio, mas ele nunca me confirmou isso, então não tenho certeza do que ele é exatamente. O pacto que fiz com ele me permite assumir uma nova forma física, quase como uma possessão, onde eu ganho a habilidade de usar todos os 72 Selos em seu poder máximo sem receber as punições a cada dois usos, sem contar também um grande aumento nas capacidades físicas.
— Eu vejo. Eu não esperava um ataque físico, então você usou isso como um ataque surpresa. Foi bem pensado, admito, mas por quê?
— Me desculpe. Eu imagino que queria ver eu atacar com força máxima e ter uma luta épica ou algo do tipo, mas o preço por usar essa habilidade é alto demais para eu mantê-la por muito tempo.
Sem dúvidas era anticlimático, mas era absoluta certeza de que acabaria morto outra vez caso não lutasse com a cabeça ao invés dos músculos — algo que por si só lhe faltava e muito. O importante era que havia acabado.
O navio se desintegrava junto de seu mestre, enquanto pétalas do mar vermelho voavam em direção ao céu, finalmente capazes de descansar, seguindo a luz que atravessava as nuvens cinzas sobre o Grande Templo.
Entre todas as palavras que Rag poderia imaginar saírem da boca de Vloid neste momento, presenciou, outra de incontáveis vezes, o Vampiro Original lhe surpreender com uma única e sincera declaração:
— Esplêndido! E pensar que haveria algo tão mais incrível que um Vampiro. Mesmo diante da morte, eu vejo que ainda há muito neste mundo para eu aprender sobre! Não existe sensação melhor que esta.
Relaxou o corpo, aceitando de vez seu destino. Da mesma forma, a mente de Rag escureceu lentamente, ainda afetada pela adrenalina que custava diminuir em suas veias.
Antes que apagasse de vez, ouviu passos atrás de si, seguidos por uma voz já distante:
Impressionante. Acho que até eu seria pega neste último ataque caso te enfrentasse despreparada. Só talvez.
Era uma mulher adulta, tinha certeza apenas disso. O tom demonstrava surpresa e satisfação, como se assistisse tudo desde o início.
Sentiu a presença dela se agachando ao seu lado. Os gélidos dedos finos a deslizar por sua pele até pressionar levemente sobre seu pescoço em busca de sinais de vida. Paralisado, Rag podia apenas torcer para ser poupado.
Ainda está vivo, parabéns! Não é qualquer um que consegue vencer um Vampiro Original. Eu te declaro aprovado no teste.
Se perguntou sobre o que ela falava exatamente. Não era uma voz familiar, então nem relação com a Ghost ela devia ter. Porém, mesmo sua imensa curiosidade de encará-la foi insuficiente para fazer os olhos abrirem.
Você pode descansar, garotinho. Já que conseguiu eliminar Vloid, eu vou garantir que nenhum outro vampiro menor chegue perto de você. Entre na Torre assim que acordar, eu irei manter o caminho limpo para você.
Amiga ou inimiga, pelo visto não importava agora. Contanto que continuasse vivo, poderia prosseguir com o avanço no dia seguinte.
"Finalmente… eu consegui!"
Então, atingido pela fadiga acumulada, Rag apagou sem nem perceber.
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