Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


72 SEASONS

Capítulo 21: O Rei Eterno II

Logo que acordou, Rag esticou as pernas e encarou o céu enquanto esperava o formigamento terminar. O céu com poucas nuvens exibia um azul límpido e brilhante. Tirou a sujeira no canto do olho, deu um longo bocejo e enfim se pôs sentado. Mesmo que a cama fosse um chão de concreto, foi seu sono mais confortável em um certo tempo.

Seu olhar vagou pelos arredores. Antes coberta pelo tapete de rosas, a grande praça voltou ao normal, sem sinal das flores ou do grande navio cargueiro.

As pessoas que se ajoelhavam ao lado umas das outras agora andavam livres, muitas num trabalho voluntário de apagar o círculo vermelho com pedaços que rasgaram das roupas ou até com os próprios pés. Qualquer coisa valia desde que os símbolos desaparecessem o mais breve possível.

Dentre os indivíduos, os mais próximos se colocaram logo ao seu lado.

— Você acordou, rapaz! Está se sentindo bem?

Duas pessoas lhe ajudaram a levantar, e aos poucos mais indivíduos se aproximavam. Localizado no centro da roda, Rag enfrentou a confusão de ter tantos sorrisos direcionados a sua pessoa.

— Estamos felizes que acordou, jovem. Não precisa ficar tenso, não há mais vampiros na região. O templo está completamente limpo.

Outro complementou: — Sim, também já nos avisaram que precisa ir, não precisa se preocupar. Nós vamos ficar bem.

Ainda acordando, o Cardeal se esforçou para entender o que se passava. Queria procurar pela mulher misteriosa para agradecê-la, mas contentou-se em o fazer mentalmente.

Confirmou a ausência de qualquer aura vampírica ao redor, passando o olhar pelas pessoas uma última vez.

— Obrigado a todos vocês. — Sorriu, já se afastando a passos curtos. — Então, se me dão licença, eu preciso ir.

— Tem certeza de que consegue ir sozinho?

— Sim, não se preocupem.

Foi direto para o Grande Templo, e cada passo seu resultava num sorriso vindo dos transeuntes. Estivesse ao seu lado ou até do outro lado da praça, sentiu olhares que pela primeira vez não lhe feriram.

Quando o chão de concreto foi substituído por um mármore branco reluzente, Rag fez uma pausa na caminhada e olhou para trás. Mesmo que parcialmente coberto pela sombra do Grande Templo, sentir os raros raios de sol foi uma ótima maneira de saber que estava vivo.

Você… A voz de Solomon como segunda prova. O que você fez? Era para eu assumir o controle naquela hora!

Pela primeira vez em toda sua vida, foi Rag quem resmungou vitorioso para a criatura.

— A única coisa que eu disse no contrato era que eu usaria o ataque, eu nunca citei sobre você assumir o controle.

Tsc! Não vá se achando o esperto…

— Aliás, eu pensei que o preço pelo 73° Selo seria maior. O que aconteceu?

Rag passou a mão sobre o lado esquerdo da face, sentindo a veias sobressaltadas ao redor de seu olho agora cego.

Eu devorei uma parte do cadáver daquele vampiro antes que desaparecesse por completo, então ele contou como parte do sacrifício. Hunf! Você é tão inútil que até um cadáver consegue te salvar.

Isso foi algo que não negou. Se solto para fazer o que quisesse, Solomon sem dúvidas iria matar Vloid e começar a matar as pessoas na praça logo em seguida.

O plano de Rag desde o início era usar o próprio corpo como sacrifício pelo uso da habilidade. Pelos cálculos que fez, ficaria completamento cego e provavelmente surdo também, e se apenas uma parte do cadáver de Vloid foi o suficiente para limitar a penitência ao olho esquerdo, então poderia se questionar o quanto de poder o Vampiro Original realmente havia usado na batalha.

"Acho que o importante é que eu venci."

Sem dúvidas, no fim das contas era o vencedor quem escrevia a história, então alterar uns fatos aqui e ali para dizer que foi mais habilidade do que sorte não machucaria ninguém.

Enfim, deveria seguir em frente, mas se permitiu olhar uma última vez para a praça. As pessoas lhe olhavam, agradecidas, a maioria acenando.

Desta vez, nenhum teto lhe impedia de ver o céu limpo e o único sangue no chão era o seu próprio. Mais importante de tudo, se sentia bem.

De relance, foi capaz de encontrar duas silhuetas familiares no meio da multidão. Acenavam tão intensamente quanto qualquer outra pessoa, e seu sorrisos eram os mais brilhantes. O orgulho de ver até onde o pequeno pupilo tímido havia chegado.

Rag acenou de volta enquanto lacrimejava. Finalmente, pensava, livre de um peso que há muito carregava sem ajuda. Após tanto tempo, alcançou as pessoas que sempre foram seu exemplo de vida, não em questão de força, mas em algo muito mais poderoso e gratificante que isso.

Mesmo os resmungos entediados de Solomon eram incapazes de estragar seu bom humor, ele deve ter percebido isso e por tal razão ficou calado.

Sozinho e mal acompanhado — mas muito determinado —, Rag caminhou pelos largos corredores do Grande Templo. Seus passos ecoavam por toda a estrutura e retornavam aos seus ouvidos. Num caminho reto, alcançou em poucos minutos o que procurava.

Numa troca brusca de cor e atmosfera, o mármore branco, as estátuas, vitrais e imagens sagradas, tudo era substituído por um largo corredor em forma retangular. Largas placas de um metal negro desconhecido cobriam do chão ao teto, e a única decoração era a própria escuridão.

Rag olhou ao redor uma última vez, como se esperasse alguém aparecer para lhe dizer que o caminho certo era outro, o que não aconteceu.

Respirou fundo e, com um primeiro passo pesado, impulsionou o corpo para uma caminhada sem hora para acabar, logo envolvido no manto negro do corredor.

Ainda no Grande Templo, recostada num pilar próximo e com braços cruzados numa espera que pensou que nunca iria terminar, Carmilla sorriu na direção do portal, declarando:

— Aí está o primeiro, Majestade.

 

***

 

Quando o templo branco desapareceu e tudo ao seu redor era desconhecido, Rag entendeu que o mais seguro era apenas seguir em frente.

Só com o olhar podia dizer que o metal que compunha todo o ambiente era o mais resistente que se poderia encontrar, ao mesmo tempo, algumas extremidades que se dobravam para fora revelavamm ser um material tão fino quanto uma folha de papel. Além disso, o som emitido por seus passos não era metálico, mas suave como de um campo gramado.

Engoliu seu desconforto e seguiu, por horas, minutos ou segundos, era difícil dizer o tempo exato, mas comprovou que estava em movimento quando chegou a uma sala.

Uma luz vinda de cima dissipava as trevas. Havia chegado num grande salão. As trevas ainda impediam de ter noção do tamanho do local, mas isso sequer importava, pois o mais importante estava bem no centro de tudo.

É ele!! Rag teve a certeza só de olhar. Sentava-se numa cadeira simples de madeira, como quem aguarda uma consulta no dentista, com as pernas cruzadas elegantemente e as mãos depositadas sobre suas coxas. Apesar de logo abaixo da luz divina, toda sua figura era uma densa silhueta, sendo somente os olhos tricolor — nas cores vermelho, azul e prata — visíveis em sua imagem.

— Por favor, aproxime-se — disse num alegre tom convidativo.

Assim o fez, acatando à uma ordem que praticamente forçou interpretar. Passos curtos, temerosos, a ignorar por completo o calor aconchegante que irradiava da figura na forma de uma aura. Falando nesta, ela surgiu assim que estava a dois metros de distância.

 

Raça Desconhecida

Força (Erro)

Agilidade (Erro)

Inteligência (Erro)

 

Habilidades Passivas:

Seria isto a onipotência?

 

Habilidades Ativas:

Seria isto a onipotência?

 

Rag nem foi capaz de cair de joelhos, o corpo travou quando o choque dos atributos colidiu com a atmosfera amigável do indivíduo. Restou perguntar:

— Vo-Você é… O Rei Eterno?

— É assim que me chamam, eu acho. E você, rapaz, qual é o seu nome?

Ficou em dúvida se deveria reverenciar de alguma forma, quem sabe fazer uma reza braba, mas nada disso parecia ser condizente, nem com a situação nem o próprio Rei. Perdido nesta confusão, Rag decidiu que manteria uma conversa normal até onde se demonstrasse possível.

— E-Eu sou… digo, meu nome é Rag Forge.

— Entendo, é um prazer. Pois bem, poderia me dizer a razão de ter vindo até aqui?

Travou por um momento, resmungou, aflito, tentando escolher entre os vários motivos que surgiram durante toda a jornada até então. Por causa deste breve momento pensando, seu olhar que vagava pelo salão vazio encontrou algo que inicialmente parecia uma decoração fora de lugar, mas cuja silhueta era impossível de se confundir.

— Prí-Príncipe Vast!?

Tropeçou em sua direção, deparando-se com uma estátua idêntica ao príncipe, sua mão direita a tocar uma esfera brilhante à sua frente.

Havia então lembrado. Seu maior objetivo para vir até a Torre antes de descobrir sobre Vloid era para resgatar o Príncipe de Von Legurn e impedir o romper de uma guerra entre Oeste e Norte. De imediato, questionou:

— E-Este é o verdadeiro príncipe!? O que aconteceu??

Oh! Vocês se conhecem ou algo do tipo? Bem, essa é realmente uma grande coincidência. Não se preocupe, eu vou te explicar tudo…

Assim foi feito, pelo menos dentro de tudo que o Rei Eterno tinha sabedoria sobre os objetivos de Vast Los Filho. Ao fim da explicação, Rag já não olhava para a estátua do príncipe com a mesma preocupação de antes.

Caralho, digo, meu Deus Ele estava aqui, petrificado, aguardando para despertar e iniciar uma última batalha desde o dia que foi dado como desaparecido.

— Ele vai ficar assim até a esfera ficar verde? Não tem nada que eu possa fazer?

O Rei coçou o queixo.

— Eu poderia despetrificá-lo facilmente, bastaria me pedir isso, mas acho que iria contra as vontades do próprio príncipe.

Rag resmungou, entreolhando entre a imagem de Vast e o Rei Eterno, que aguardava pacientemente em sua cadeira.

— Uma batalha para dar um fim definitivo ao vampirismo… — refletiu, as mãos tremendo.

Se parasse para pensar, arrastar Vast de volta para Von Legurn não mudaria nada agora. Para início de conversa, os Cardeais se tornaram em Descendentes por terem acesso ao sangue de Vloid, um Original que se infiltrou na Igreja e era Papa sabe-se lá desde quando. Nada garantia que situação não se repetiria de novo e de novo, isto é, não enquanto os vampiros existissem.

Sim, é isso! Com os cenários considerados, não havia razão para escolher um caminho diferente deste!

— Eu quero ajudá-lo! Eu vou ajudar o Príncipe Vast em seu objetivo! Se ele passou por tanta coisa para chegar aqui e tornar este desejo em realidade, eu seria uma pessoa horrível se tentasse tirá-lo daqui à força.

Oh! Tudo bem, isso foi… bem rápido. Se tomou sua decisão, basta colocar as mãos sobre a esfera brilhante e assumir uma posição confortável. Mas, antes disso, permita-me ajeitar seu olho esquerdo…

Hã!? E-Ei, não, espera!! — Interrompeu o início do movimento das mãos do Rei. — Ajeitar? Você diz, curar? Você consegue curar um olho cego?

— Sim, é bem fácil, na verdade. Pois bem, se me permite…

Não! Tanto o Rei quanto Rag em si se assustaram com o tom de ordem usado, no caso do Rei estava mais para surpresa, visto que ninguém havia falado consigo desta forma há muito tempo.

— E-Eu agradeço por oferecer essa ajuda, mas… eu vou… Eu prefiro que fique assim! Questões pessoais.

Foi possível enxergar um sorriso singelo no rosto do Rei Eterno, que com a mesma calma de toda a conversa, disse:

— Primeiro Vast, agora você, ambos são muito interessantes, ou talvez eu deveria dizer diferentes. No bom sentido, é claro. — O Rei relaxou, recebendo um sorriso agradecido do Cardeal. — Bom, onde havíamos parado? Ah, sim, a petrificação. Por favor, coloque as mãos sobre a esfera, não precisa ser as duas. Você será petrificado e entrará em estado de hibernação até que ela emita uma luz verde, algo que para vocês será um mero piscar de olhos, exatamente como dormir.

Assim o fez. Apesar de confiar no Rei Eterno, tinha um mínimo temor com a esfera como um objeto desconhecido. Ficou à esquerda do príncipe e aproximou a mão direita do objeto, enquanto a esquerda teve de servir de barreira contra a forte luz emitida.

Logo, a pele a partir da ponta de seus dedos começou a transmutar. Assumia o toque áspero de uma rocha, mas, diferente do que pensou, não sentiu nenhum incômodo.

— Eu vou ajudar o príncipe Vast, nem que eu tenha que ficar petrificado por vários anos!

— Admirável — disse o Rei Eterno —, mas não acho que vá demorar muito para que o momento da batalha chegue.

— É algum tipo de previsão do futuro.

— Não, apenas superstição. — Acenou em despedida. — Tenho certeza de que Vast vai ficar feliz em ver um rosto amigo quando acordar.

Haha! Não acho que ele vá se lembrar de alguém como eu, mas agradeço.

Sim, era impossível Vast sequer lembrar de sua pessoa, mas isso pouco importava. Se estar aqui poderia não apenas salvar La Serva, mas eliminar a maior ameaça do mundo, então daria sua vida para que isso de fato acontecesse!

A petrificação avançou pelo corpo de Rag, seu olhar caindo uma última vez sobre Vast, jurando ajudá-lo da melhor forma possível e tornar o objetivo — agora dos dois — em realidade. Em poucos segundos, seu corpo foi transformado por completo em uma estátua, incluindo o Livro de Selos.

A esfera que até então emitia uma luz branca, agora alterou para um forte tom avermelhado.

Por fim, o interior da Torre Divina voltou ao silêncio absoluto. Em seu interior, três pessoas agora aguardavam pela chegada dos próximos indivíduos, seja lá onde estivessem neste exato momento.

 

 

 


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