Volume 8
Capítulo 16: Sétimo Andar de Aincrad
16
EU ACHEI QUE LEVARIA PELO MENOS TRINTA MINUTOS, MAS BASTARAM QUINZE para que eu ouvisse passos se aproximando pela grama. Através dos galhos do arbusto, vi duas figuras descendo a colina em minha direção. Elas não podiam me ver dentro do arbusto — apenas estavam seguindo o marcador de localização no mapa — mas, por precaução, esperei até que seus cursores aparecessem para poder ler seus nomes.
O cursor verde na frente pertencia a Argo. Mas o amarelo logo atrás era de «Kio».
— Huh...?
Verifiquei os pontos de vida restantes do lykaon e saí apressado do matagal.
— Argo, aqui! — acenei. A negociadora de informações se aproximou, usando seu capuz habitual.
— Kii-boy, eu tenho que te dizer... — começou ela, parecendo exasperada. Mas eu a interrompi.
— Valeu, desculpa, falamos depois.
Então, virei-me para «Kio». A alta criada descia a colina com passos firmes, vestida para a batalha com seu peitoral, saia armadurada e estoc. Seu cabelo estava partido para o lado, e o olhar em seus olhos era o mais perigoso que eu já tinha visto nela. Eu parei abruptamente, sentindo-me levemente intimidado. «Kio» disse.
— Kirito, por que você invadiu os estábulos da família Korloy e removeu o Rusty Lykaon da posse deles?
— Eu te darei uma explicação completa depois; agora não há tempo. Trouxe o que pedi?
— Está aqui.
De uma grande sacola de couro em seu cinto, «Kio» retirou um recipiente no formato de uma garrafa de vinho. Na verdade, era uma garrafa de vinho usada. Um líquido branco leitoso a enchia até a rolha, brilhando como uma pérola sob a luz do sol. Pelo tamanho da garrafa, devia haver pelo menos meio litro ali.
— Esse é o descolorante...? Achei que você tinha dito que seria apenas um frasquinho.
— Se tivesse descansado por três horas como planejado, teria condensado para um terço desse volume. Se usarmos tudo, o efeito ainda será o mesmo — explicou «Kio».
Ela olhou da garrafa para mim e fez a pergunta inevitável.
— Eu trouxe a solução conforme Lady «Nirrnir» ordenou... mas por que você precisa dela se já retirou o lykaon do estábulo? Qual seria o sentido de devolver sua pelagem ao normal agora?
— Boa pergunta — admiti, hesitando sobre como responder. — Me deem um momento.
Olhei ao redor para garantir que não havia mais ninguém por perto e me enfiei de volta no arbusto. O lykaon ainda estava deitado de lado sob os galhos. Sua barra de HP estava reduzida a 15%. Parecia que a taxa de redução estava acelerando à medida que se aproximava do fim.
— Eu vou te salvar agora — murmurei, um incentivo que eu não podia garantir, e me arrastei até ele, deslizando minhas mãos sob o corpo do lykaon para virá-lo para o outro lado com os cotovelos e os joelhos.
Depois, recuei, segurando a criatura, e me levantei.
— Nwa! — Argo soltou um grito e pulou para trás. Parecia uma reação exagerada para um cachorro moribundo, mas, no fim das contas, era um monstro de verdade. Talvez a reação dela fosse a correta.
«Kio» parecia indiferente à cena, então me aproximei dela e expliquei rapidamente.
— Parece que o Corante de Rubrabium que usaram para tingir a pelagem dele tem propriedades tóxicas e entrou em uma ferida. Ele vai morrer em breve. Se não removermos o corante agora...
As sobrancelhas de «Kio» se franziram. Mas não era por preocupação com o lykaon.
— Rubrabium... Sim, essa flor é venenosa. Imagino que não tenham encontrado um corante melhor para combinar com a cor adequada. Mas é uma substância muito perigosa.
— Certo, então use esse descolorante para...
— Por quê?
— Hã? — fiquei boquiaberto.
Ela exclamou.
— Por que você está tentando salvar esse lykaon? Ele não é um cachorro ou um gato de estimação, nem um animal de carga como gado ou cavalos. Ele é um verdadeiro monstro. Pode estar sob o efeito da habilidade de «Bardun Korloy» agora, mas quando isso passar, ele tentará arrancar sua garganta. E mesmo que o efeito permaneça, ele não pode ser devolvido aos estábulos dos Korloy, e como suspeitarão do envolvimento de Lady «Nirrnir», ele não pode ser entregue a ela para ser reeducado e enviado para a arena. Qual é o propósito de usar nosso valioso descolorante em sua pelagem agora?
Essa era a mesma pergunta que eu vinha me fazendo — quando pulei na jaula, quando fugi até aqui e enquanto esperava Argo nos arbustos. No fim das contas, não havia uma razão lógica para o que eu tinha feito. A melhor explicação que eu poderia dar era...
— Se Asuna estivesse aqui, ela teria feito o mesmo — murmurei. «Kio» estreitou os olhos e me lançou um olhar penetrante.
— Como pode insultar a profissão dela assim? Ela é uma aventureira como você; deve ter matado inúmeros monstros em sua jornada até «Volupta». O que torna esse lykaon que você está segurando diferente das outras feras?
— Seu orgulho. Sua dignidade — respondi. «Kio» franziu a testa novamente.
— Dignidade...?
— Os monstros que Asuna e eu derrotamos vieram até nós em plenas condições, não sob ordens de ninguém, lutando por suas vidas. Sim, eu matei muitos monstros, mas eles também tiveram a chance de me matar, e eu quase morri várias vezes. Mas essa criatura é diferente. Ela foi acorrentada dentro de uma cela subterrânea, pintada com um corante venenoso e açoitada por treinadores. Lutar contra um inimigo em condições iguais não é o mesmo que deixar um animal torturado morrer lentamente — expliquei com toda a sinceridade que pude.
Havia, no entanto, uma grande hipocrisia nas minhas palavras. Na verdade, nem todos os mobs atacavam os jogadores por vontade própria. O sistema de SAO simplesmente os instruía a fazer isso — na realidade, era provável que eles nem tivessem uma vontade individual. Ao contrário das IAs independentes como «Kio», «Nirrnir» e «Kizmel», eles eram apenas parte de um sistema muito maior, e esse lykaon não era exceção. O que eu estava fazendo não era fundamentalmente diferente de arrancar uma flor de uma árvore com uma mão e acariciá-la com a outra.
Mas, mesmo assim...
— Entendo — disse «Kio». Ela olhou para o vestido de avental, depois para mim novamente. — Sirvo Lady «Nirrnir» com lealdade absoluta, mas não estou sob o domínio da violência, da servidão ou de habilidades únicas. Suponho que seja isso que você quer dizer.
— Hã... é, mais ou menos.
— Então, se você curar esse lykaon e ele seguir sua dignidade de monstro, como você chama, para atacá-lo… você desembainharia sua espada e o mataria?
Era uma pergunta difícil, mas eu precisava respondê-la.
— Sim. Embora ele possa acabar me matando em vez disso.
— Ha.
Para minha surpresa, «Kio» riu da minha resposta.
— Ha-ha. Você é um sujeito estranho. Todos os aventureiros são assim, Argo?
A uns três metros de distância, Argo respondeu.
— Nope, ele é mais maluco que os outros.
— Isso é um alívio de ouvir... Muito bem. Não há outro uso para o descolorante neste momento. Você pode usá-lo — disse «Kio», entregando-me a garrafa de vidro.
Coloquei o lykaon na grama aos meus pés e peguei a garrafa com as duas mãos. Talvez o líquido em si fosse pesado, pois parecia maior do que uma garrafa de vinho comum do mesmo tamanho.
— Hã... eu não deveria usar um pincel ou algo assim?
— Não. Apenas derrame o líquido sobre ele da cabeça até a cauda, devagar e de maneira uniforme.
— Tudo bem — disse eu, puxando a rolha.
Por hábito, dei uma cheirada. O peculiar aroma apimentado e doce da fruta narsos quase havia desaparecido. Agachei-me sobre o lykaon e inclinei a garrafa cuidadosamente.
O líquido perolado, ligeiramente viscoso, escorreu sobre a cabeça do lykaon. Suas orelhas arredondadas se contraíram, mas ele não reagiu de outra forma. Mudei a garrafa para a direita, deixando o líquido cair sobre seu pescoço e corpo.
Quando terminei de aplicar a mistura até a ponta de sua longa e fina cauda, a garrafa estava vazia. A pelagem tingida de vermelho brilhava onde o líquido a tocava, mas a cor não parecia estar saindo. Na verdade, não parecia haver líquido suficiente para concluir o trabalho...
Mas esse pensamento mal havia cruzado minha mente quando o líquido de repente começou a borbulhar violentamente. Pequenas bolhas brancas surgiram rapidamente até cobrirem todo o corpo do lykaon.
— Isso deveria estar acontecendo? — perguntei a «Kio», alarmado. A empregada armada mal levantou uma sobrancelha.
— Fica quieto e observa.
— Sim, senhora — murmurei, encolhendo o pescoço.
A espuma subiu acima dos meus joelhos, chiando e borbulhando, crescendo e se contorcendo como uma criatura viva. Fiquei preocupado que o lykaon embaixo pudesse sufocar, mas consegui ver sua barra de HP através das bolhas, e ela não estava diminuindo.
— Oh?! — Argo exclamou repentinamente de onde estava. Meus olhos também se arregalaram.
O monte de espuma começou a ficar vermelho, partindo da base. A princípio, pensei que fosse sangue do lykaon, mas quando o cheiro no ar se tornou forte e adocicado, percebi que era o Corante Rubrabium derretendo.
Quando toda a espuma ficou tingida de vermelho, ela começou a baixar, aparentemente evaporando no ar. Em questão de segundos, 70% dela desapareceu, revelando a criatura que havia engolido.
— Oooh… — Agora foi a minha vez de exclamar de admiração.
As manchas características no pelo do lykaon ainda estavam lá, mas o tom avermelhado e enferrujado sumira. O colar de metal ainda envolvia seu pescoço, mas até mesmo os pelos embaixo haviam sido descoloridos. A cor original da criatura reluzia prateada, um cinza-claro sob a luz do sol.
Depois que toda a espuma tingida borbulhou e estourou, o lykaon permaneceu deitado na grama, de olhos fechados. Mas sua respiração ofegante havia se acalmado. A diminuição constante da sua barra de HP também havia parado.
Soltei o ar que estava prendendo, e a parte inicial do nome RUSTY LYKAON desapareceu da descrição abaixo de sua barra de HP, revelando um título diferente.
STORM LYKAON. Felizmente, isso estava dentro do meu nível de inglês do ensino médio.
— Lykaon da Tempestade… Você sabe algo sobre isso, Argo? — perguntei, olhando para a minha direita. A informante balançou a cabeça.
— Nope. Nunca vi, nunca ouvi falar.
— Nem eu… Você conhece essa criatura, «Kio»? — continuei, virando-me para ela. A empregada me lançou um olhar.
— Não conheço.
— O quê…? Achei que a família Nachtoy tinha uma lista que classificava todos os monstros do sétimo andar.
— Eu não disse que eram todos os monstros — corrigiu «Kio», me encarando. — O que está listado na classificação são apenas aqueles monstros com o tamanho adequado para lutar na jaula da arena — e que não possuem métodos de ataque especiais que possam representar perigo ao público ou à estrutura.
— Ah, certo… Mas esse Storm Lykaon não se encaixaria nesses critérios? O ataque giratório que ele usou para derrotar o Bouncy Slater foi surpreendente, mas não parecia capaz de destruir a jaula.
— Eu não testemunhei esse ataque giratório de que você fala. Mas… duvido muito que os Korloy trouxessem um monstro que pudesse destruir a própria jaula. O que torna estranho que esse Storm Lykaon não esteja na lista… — murmurou «Kio», olhando para a criatura semelhante a um cão.
A barra de HP havia parado de diminuir, mas sua saúde não estava se recuperando da posição baixa. O lykaon continuava de olhos fechados, imóvel no chão.
Normalmente, quando um monstro recebia dano de um jogador em batalha e uma das partes fugia para encerrar o confronto, seu HP se recuperava rapidamente. Talvez isso acontecesse com esse Storm Lykaon se fôssemos embora, mas a situação era irregular demais para ter certeza. Se ele permanecesse assim, um jogador que estivesse treinando os níveis ao redor de «Volupta» eventualmente o encontraria e o mataria, mesmo que seu cursor fosse apenas amarelo.
Talvez a única opção fosse levá-lo para mais longe da cidade, para um lugar onde nenhum jogador passaria tão cedo, pensei, quando «Kio» puxou outro frasco de sua bolsa.Dessa vez, era muito menor do que a garrafa de vinho em minha mão e tinha cortes multifacetados em sua superfície, como as faces de uma joia. Continha um líquido rosado com um tom alaranjado.
— Use isto — disse ela, estendendo o frasco. — É uma poção de cura para monstros.
Fitei a garrafa.
— Uhh… P-Por que você tem isso? Achei que fosse contra salvar o lykaon…
— E sou. Mas Lady «Nirrnir» me instruiu a trazê-la. Se você não for usá-la, eu a levarei de volta comigo.
— N-Não, eu vou usar! Obrigado! — agradeci sinceramente, inclinando a cabeça. Peguei a garrafa e devolvi a vazia. Então, me inclinei sobre o lykaon e perguntei.
— Hum… Isso ainda terá efeito se eu der para ele?
Eu tentava entender se precisaria de alguma habilidade específica para curar monstros sem perguntar diretamente, mas «Kio» me olhou como se eu estivesse sendo ridículo.
— A pessoa segurando o frasco faria seu conteúdo mudar? Embora, pelo que ouvi, seja necessário um pouco de habilidade para dar remédio a um monstro tão enfraquecido que mal consegue se mover.
Mais cedo, tentei dar uma poção ao lykaon, mas a criatura apenas deixou as gotas escorrerem pela língua. Se acontecesse o mesmo agora, eu me sentiria mal por «Nirrnir», que me deu não apenas o descolorante, mas também essa poção curativa, seja qual fosse sua razão.
— A propósito, «Kio», você tem essa habilidade específica? — perguntei educadamente.
A empregada respondeu prontamente, ríspida.
— Claro que não. Por acaso pareço uma tratadora de estábulos ou domadora de feras para você?
— N-Não, você não parece… — respondi sem jeito. Apenas por precaução, olhei para Argo, mas ela apenas balançou a cabeça, desanimada. Essa tarefa era minha. Ajoelhei-me ao lado da cabeça do lykaon caído. Seus olhos se abriram minimamente, e ele soltou um rosnado breve e fraco, mas nada além disso.
Suspeitava que, se tentasse pingar o líquido no canto de sua boca, o resultado seria o mesmo de antes. Precisava encontrar uma forma de fazê-lo engolir corretamente. E se houvesse algo como um conta-gotas para colocar em sua boca? Provavelmente, ele o esmagaria com suas mandíbulas poderosas.
Depois de pensar rapidamente, soube o que precisava fazer. Estalei a rolha com o polegar e, então, despejei um pouco do líquido na palma da minha mão esquerda.
O líquido de cor alaranjada era frio e quase sem cheiro. Cuidando para não derramá-lo, aproximei minha mão do focinho do lykaon. Mas ele não reagiu. Talvez eu realmente precisasse de uma habilidade especial para isso…
Foi quando o focinho do lykaon, um pouco mais curto que o de um lobo, se ergueu levemente. Seu nariz negro se esticou em direção à minha mão e farejou algumas vezes. Por um momento, quase falei com ele, mas me contive a tempo.
Eventualmente, ele ergueu a cabeça apenas alguns centímetros e estendeu a língua em direção ao líquido na minha palma. Lambeu uma vez, apenas para testar se era seguro, depois mais uma vez, e novamente.
— Oh… o HP dele! — exclamou Argo.
Olhei para o cursor do lykaon e vi que sua barra de HP estava aumentando lentamente a partir dos 10%.
Enquanto isso, o líquido na minha palma acabou, então acrescentei mais do frasco. O lykaon se ergueu com dificuldade, espalhando as patas dianteiras. Seu nariz mergulhou em minha mão por cima, lambendo o líquido ruidosamente. Logo acabou, e despejei mais. Após três rodadas disso, o frasco ficou vazio.
Levantei-me e verifiquei a barra de HP do lykaon; estava completamente cheia novamente. Senti um alívio, mas isso não significava que o problema estava resolvido. No fundo da minha mente, as palavras de «Kio» ecoaram.
"Então, se você curar esse lykaon e ele seguir sua dignidade de monstro, como você chama, para atacá-lo… você desembainharia sua espada e o mataria?"
No momento, eu não carregava uma espada ao lado do corpo, mas, se abrisse minha janela e pressionasse o botão de «QUICK CHANGE», a «Sword of Eventide» apareceria instantaneamente.
O cão — não, o mob — ao meu alcance não era um Rusty Lykaon, do qual eu havia derrotado dezenas no beta teste, mas sim uma versão superior e desconhecida: um Storm Lykaon. Pelo que pude observar de sua luta contra o Bouncy Slater, não parecia ser perigoso o bastante para representar uma grande ameaça para nós. Mas eu não podia baixar a guarda. Se ele demonstrasse qualquer intenção de atacar, teria que equipar minha espada e dar uma resposta à pergunta de «Kio».
O Storm Lykaon, agora completamente curado, se levantou, seus membros poderosos tensionando o solo, e sacudiu o corpo. O pelo cinza-prateado, manchado de pontos negros, brilhava ao sol como neve. Não havia mais vestígios do tom avermelhado de ferrugem, e também não consegui ver as marcas dos golpes de chicote que antes estavam em seu corpo.
Ele caminhou em um arco amplo, a corrente curta balançando e tilintando em seu colar. Quando alcançou uma distância de cerca de três metros, virou-se para nós. Aqueles olhos castanhos — o único traço que permanecia inalterado — me encararam diretamente. Sua cabeça abaixou lentamente. O pelo prateado se eriçou. Rugas surgiram em seu focinho, e vislumbrei dentes afiados.
….Grrrr…
O cursor sobre o rosnante Storm Lykaon começou a piscar, alternando entre amarelo e um tom pálido de vermelho. A técnica de domesticação de «Bardun Korloy» estava se dissipando.
Growr!
Ele latiu, no exato momento em que o cursor ficou permanentemente vermelho.
Não era muito profundo, mas certamente era um tom mais escuro do que eu esperava. Para eu ver o cursor tão vermelho no nível 22, ele teria que ser o mais forte de todos os monstros comuns do sétimo andar. No mínimo, tinha que ser muito mais forte do que o Bouncy Slater contra o qual lutou na noite passada.
Então, por que havia tido tanta dificuldade na arena?
Por outro lado, «Nirrnir» disse que o lykaon havia vencido quatro batalhas seguidas antes da última noite. Isso significava que aquele corante venenoso havia sido pintado em sua pelagem todos esses dias, drenando sua força e agilidade. Em outras palavras, ele havia acabado de recuperar seu verdadeiro poder original.
E agora, seguindo seu senso de dignidade — ou os comandos do sistema de SAO —, estava se preparando para me atacar.
— Kirito.
— Kii-boy!
Ambas reagiram ao mesmo tempo: «Kio» atrás de mim e Argo à minha direita.
Entendi a mensagem delas. Queriam que eu sacasse minha espada. Era a escolha certa. Grande parte da minha armadura estava desequipada, e eu suspeitava que minha habilidade de «Martial Arts» sozinha não seria suficiente para lidar com o ataque do lykaon.
No entanto...
— Ei — chamei o monstro rosnante. — Você acabou de recuperar sua liberdade. E agora vai desperdiçá-la lutando contra mim e morrendo? É isso que você realmente quer?
Era uma pergunta sem sentido. Não havia um único monstro em Aincrad que possuísse um programa de pensamento independente. Eles apenas pareciam criaturas individuais; na verdade, faziam parte de um gigantesco sistema algorítmico.
Se essa situação durasse mais cinco segundos, eu fecharia minha janela e equiparia minha espada. Com a decisão tomada, encarei os olhos ferozes da majestosa criatura e comecei a contar os segundos mentalmente.
Um, dois, três, quatro...
Grr...
De repente, o lykaon parou de rosnar.
Manteve a cabeça baixa, ainda em posição de combate, mas recuou. Quando já estava a uns seis ou sete metros de distância, girou sobre as patas como um raio e correu em direção ao rio.
Sua velocidade era impressionante. Pelo menos duas vezes mais rápido do que os Rusty Lykaons contra os quais lutei no beta testa. A besta prateada diminuiu à medida que se afastava, saltou para a vegetação densa ao longo do rio e desapareceu de vista.
O cursor vermelho ainda permaneceu por alguns segundos antes de desaparecer também. Ele não estava escondido na margem do rio; continuou correndo além dela — provavelmente para o noroeste.
……
Relaxei os ombros, olhando na direção em que o Storm Lykaon partiu. Ao meu lado direito, Argo comentou.
— Ele entendeu o que você disse, Kiiboy?
Se ao menos, pensei, balançando a cabeça.
— Não... Entre os mobs do tipo animal, alguns dos mais inteligentes, como macacos e cães, fogem quando a diferença de força é muito grande. Você sabe disso, é claro. Aposto que ele percebeu que não podia nos vencer.
— O cursor dele estava bem vermelho, sabia? Eu estava pensando que seria um problema se acabasse virando uma luta.
— Sim, eu pensei o mesmo… Mas se o lykaon ficou assustado o bastante para fugir…
…Isso só mostra o quão perigosa é a empregada de batalha atrás de nós, pensei, completando a frase mentalmente. Por sua vez, «Kio» observou o lykaon desaparecer, então notou meu olhar e perguntou.
— Está satisfeito agora, Kirito?
— Er… bem, pelo menos eu não me arrependo…
Não foi a resposta mais convincente, e achei ter captado um leve sinal de exasperação em seu olhar, mas logo seu rosto voltou a ser inexpressivo como sempre. Ela pegou de volta a garrafa de vinho das minhas mãos, guardou-a na bolsa e anunciou.
— Agora, você vai retornar comigo aos aposentos de Lady «Nirrnir» e explicar por que invadiu o estábulo dos Korloy e o que aconteceu enquanto esteve lá.
— S-Sim, claro. Eu lhe devo essa explicação — respondi, assentindo. Peguei a tampa do frasco restaurador; não era simplesmente de vidro, mas tinha o peso e a densidade de um cristal natural. Cuidadosamente, encaixei-a de volta na pequena garrafa e devolvi para «Kio».
O fato de terem trazido não apenas o descolorante que pedi para Argo, mas também a poção de cura, se devia a uma ordem de «Nirrnir» para que «Kio» a levasse. Isso foi o que me permitiu salvar o lykaon, mas… como «Nirrnir» sabia que precisaríamos do item de cura? Havia outras perguntas que eu queria fazer, mas primeiro precisava me desculpar e explicar minhas ações.
— Vamos, então — disse «Kio», girando sobre os calcanhares, o avental balançando, enquanto subia a colina verde atrás de nós.
Argo e eu apressamo-nos para acompanhar a fita branca que adornava sua saia blindada preta. Depois de trinta passos, a Rata sussurrou para mim, em um tom tão baixo que «Kio» não poderia ouvir.
— Ei, Kii-boy. Você sabe que, quando se luta contra o mesmo mob individual por tempo suficiente, ele começa a reagir à sua arma e às suas habilidades com a espada, né?
— Hã? Ah, sim… Isso acontece mais com os tipos humanóides.
— O que significa que os mobs também têm a capacidade de aprender, só que não tanto quanto os NPCs. Quanto mais tempo vivem e mais batalhas enfrentam, mais personalizados se tornam como indivíduos, entende? Então, talvez aquele lykaon não tenha fugido apenas pelo algoritmo padrão, mas tenha tomado a decisão por conta própria de parar de lutar.
— Uhm… Sim, acho que… — murmurei, refletindo sobre a sugestão. Lancei um olhar para ela.
— O-O que foi?
— Ah… Acabei de perceber que você está tentando me animar…
Argo fez uma expressão estranha, arqueando as sobrancelhas e franzindo os lábios. A pintura de bigodes em seu rosto a fazia parecer um rato de verdade, e isso me fez cair na gargalhada.
— O quê? Não posso tentar te animar? — ela resmungou, emburrada.
— De-desculpa, está tudo bem. Obrigado… Vou ficar com a sua teoria, então.
— Hmph. Devia ter feito isso desde o começo.
Lá na frente, «Kio» se virou e ergueu uma sobrancelha em questionamento.
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