Volume 8
Capítulo 26: Sétimo Andar de Aincrad
26
O SOM DAS ONDAS ia e vinha. A brisa do mar trazia consigo o perfume das flores. A areia branca e fina acariciava meus pés descalços. Finalmente, havia chegado o nosso tão esperado momento de descanso na praia. Faltava apenas uma coisa: o sol escaldante queimando nossa pele sob um céu azul sem nuvens. Mas eu não podia ter isso — ou viraria cinzas.
Era nove da noite do dia 8 de janeiro.
Estava na cozinha simples da praia particular pertencente ao Grande Cassino de Volupta, descascando frutas com uma faca. O cesto grande sobre a mesa de trabalho estava abarrotado de frutas variadas. Peguei uma, enfiei a faca em um ângulo adequado e girei a fruta com precisão. A casca saiu com uma facilidade extremamente satisfatória.
Entreguei a fruta a «Kio», que a cortou em cubos com habilidade e jogou os pedaços dentro de uma enorme tigela de cristal. A tigela já estava cheia de uma mistura meio a meio de vinho tinto e espumante doce. A cada punhado de frutas jogado ali, o aroma doce e floral se intensificava.
A única luz que nos guiava vinha do lampião pendurado no teto e dos raios de lua que atravessavam a entrada sem porta — mas isso não era problema para mim. Eu apenas focava o olhar em um ponto e minha visão ajustava automaticamente o brilho. A habilidade «Search» já me concedia uma boa visão noturna, mas a versão vampírica era algo de outro nível. A desvantagem, é claro, era que só de ver a luz do dia através da janela eu já gritava e cobria os olhos.
Não era só minha visão noturna que havia sido fortalecida. Sentia que a proficiência de várias habilidades que eu nem sequer havia aprendido ainda já estava elevada, sem esforço algum. Normalmente, descascar aquelas frutas não seria tão fácil sem alguns níveis nas habilidades de «Cooking» e «Daggers».
Isso me deixava curioso sobre que outras habilidades estavam sendo impulsionadas por esse efeito, mas não podia me empolgar demais. Com grandes poderes vêm… Bem, você sabe. Coisas com as quais eu nunca me preocupei antes — principalmente, luz do sol e prata — agora eram fraquezas fatais. Em termos práticos, o problema mais comum eram as moedas de prata de cem col, que queimavam minha pele só de tocar.
Asuna, sempre diligente, sugeriu que revisássemos todos os nossos pertences e jogássemos fora tudo que fosse feito de prata. Eu não achava que precisávamos ir tão longe… Mas talvez devêssemos. Se eu virasse cinzas por causa de uma arma de prata ou da luz do sol, meu cérebro biológico seria fritado pelas micro-ondas potentes do NerveGear.
O que fazer, o que fazer, pensei, descascando rapidamente a fruta. Shwik-shwik-toss, shwik-shwik-toss. De repente, «Kio» parou de fatiar as frutas e perguntou baixinho.
— Ainda não pensou em mudar de ideia?
— Hã? Ah… Você quer dizer aquilo.
Parei de descascar e olhei direto à frente. Era difícil encarar «Kio» diretamente — ela não usava seu habitual uniforme de empregada com armadura, mas sim um maiô preto de uma peça só, com um avental branco por cima. E ainda carregava sua estocada.
Em vez disso, encarei a fruta parecida com manga em minha mão e pigarreei.
— Bom… A Asuna e eu somos aventureiros. Temos que chegar ao topo de Aincrad…
— E o que você espera encontrar lá?
— Eu-eu não sei… Não saberia dizer… — murmurei, mas a verdade é que eu sabia.
No primeiro dia do lançamento oficial de SAO, Akihiko Kayaba surgiu como mestre do jogo, vestindo um manto vermelho, e disse.
"Há apenas uma condição para que vocês sejam libertos deste jogo. Basta alcançar o centésimo andar no topo de Aincrad e derrotar o boss final que os aguarda. Nesse instante, todos os jogadores sobreviventes poderão fazer logout com segurança novamente."
Eu não conseguia imaginar o nome ou aparência daquele boss final, mas uma coisa era certa: havia um último boss nos esperando no topo. Se o derrotássemos, todos os jogadores sobreviventes seriam libertos desse jogo mortal e despertariam no mundo real — e, muito provavelmente, Aincrad e todos os NPCs que viviam nele desapareceriam.
Ela percebeu a pontada súbita de dor em meu peito.
— Por que persegue algo que talvez nem exista? — perguntou, encarando a fruta cortada pela metade na tábua. — Tenho uma dívida vitalícia não só com minha mestra, mas com você também. Em «Volupta», você pode levar uma vida tranquila, sem se expor ao sol. Há muitos remédios e ferramentas para os lordes da noite, e agora temos um estoque completo de sangue de dragão, então você pode sobreviver sem precisar de sangue humano. Você devia ter aceitado a proposta da Lady «Nirrnir». Fique e viva aqui com a Asuna.
Seria mentira dizer que não considerei isso — ainda que só por um instante. Mas eu não podia aceitar essa opção. Se eu desistisse de vencer esse jogo mortal agora, estaria traindo todos os jogadores que morreram até aqui, todos os que esperam no primeiro andar pela conclusão do jogo, todos os companheiros que lutam ao nosso lado… e, claro, Argo e Asuna.
— Eu preciso ir. Eu tenho que ir — falei simplesmente, retomando o ritmo ao descascar. Depois de um tempo, o som da faca cortando voltou a preencher o ambiente. Por trás dele, ouvi «Kio» murmurar.
— Entendo…
Continuamos nosso trabalho em silêncio e, em três minutos, todas as frutas estavam descascadas e cortadas na tigela. Peguei o enorme recipiente de ponche e deixei a cozinha simples no canto da praia, que não passava de uma torneira e uma mesa de preparo.
Imediatamente, fui recebido por uma visão de tirar o fôlego.
A areia branca se estendia por cerca de quinhentos metros. Além dela, o mar exibia um azul escuro e profundo, refletindo o luar com intensidade. Dezenas de tochas alinhadas ao longo da praia em intervalos regulares criavam um contraste perfeito entre o laranja das chamas e o azul da noite e da água.
Na beira d’água, brincando e rindo, estavam quatro mulheres.
— Está tudo pronto! — anunciei, enquanto nós dois caminhávamos até lá. As quatro olharam para nós e acenaram.
Asuna, Argo, «Kizmel» e «Nirrnir» usavam maiôs que a própria Asuna confeccionou com sua habilidade de Tailoring. Era uma visão difícil para um garoto do ensino fundamental como eu encarar, mas consegui manter o foco dizendo a mim mesmo "Sou um vampiro agora!", como se isso explicasse alguma coisa.
Pouco antes da beira da água, havia uma mesa branca cercada por dez espreguiçadeiras da mesma cor. Coloquei a tigela de cristal sobre a mesa, enquanto «Kio» tirava copos grandes da cesta que carregava na outra mão, alinhando-os cuidadosamente.
Asuna e Argo deixavam pegadas na areia molhada enquanto corriam até a mesa, maravilhadas com a apresentação extravagante da ponche de frutas. «Kizmel» soltou um impressionado.
— Oooh...
E «Nirrnir» opinou.
— Uma apresentação muito impressionante.
Eu me esforçava ao máximo para não encarar diretamente os trajes de banho delas com minha visão noturna aguçada, quando uma voz grave exclamou.
— Uau, olha só isso!
Quatro homens corpulentos se levantaram dos assentos no lado esquerdo da mesa. Agil, Wolfgang, Naijan e Lowbacca optaram por não subir a escadaria em espiral até o oitavo andar, preferindo nos escoltar de volta a «Volupta» a partir da torre do labirinto. Como forma de agradecimento, «Nirrnir» os convidou para aproveitar a praia conosco.
Tudo bem até aí, mas por que todos eles decidiram não usar sungas comuns como eu, e sim sungas-fio dental extremamente reveladoras? A musculatura deles já parecia prestes a explodir mesmo quando estavam completamente equipados; agora, toda aquela pressão física não tinha mais nada para contê-la.
Felizmente, nem «Nirrnir», nem «Kio», nem «Kizmel» pareciam se importar. O fato de Asuna e Argo parecerem evitar olhá-los me disse que, para minha surpresa, a Rata ainda mantinha certa modéstia por dentro.
Eu estava pegando a concha de cristal para começar a servir a ponche de frutas quando Argo disse.
— Não tão rápido.
Ela abriu a janela e retirou cinco esferas azul pálido: Brotos de Árvore de Neve. Isso aconteceu depois de ela ter distribuído brotos para quase cinquenta membros da raid. Eu perguntei a ela.
— Quantos desses negócios você tem?
Mas Argo apenas sorriu de lado e jogou os cinco brotos na tigela.
— Isso é tudo. Vou precisar pegar mais — ela disse.
Os brotos começaram a estourar e abrir, revelando pétalas que pareciam cristais de gelo. «Nirrnir», que estava dormindo durante a exibição antes da batalha contra o boss, exclamou.
— Uau...
Sua expressão de inocente maravilha combinava perfeitamente com seus traços.
No final da batalha matutina contra o boss do andar, depois que eu liberei aquele golpe em forma de cruz do «Doleful Nocturne» que derrotou «Aghyellr The Igneous Wyrm’s», e sua enorme forma se despedaçou em um milhão de fragmentos como todos os outros bosses, havia um pensamento que me impediu de qualquer comemoração.
Ele explodiu! E o sangue de dragão?
Panei por um momento, me perguntando se deveríamos capturar o dragão sem matá-lo e usar algum tipo de ferramenta para extrair o sangue. Felizmente, SAO não era tão cruel. Entre os itens que o boss dropou, havia dezessete potes de Sangue de Dragão de Fogo.
Asuna e Argo pegaram cerca de dez potes para si, mas a Bro Squad não recebeu nenhum, o que me sugeriu que apenas jogadores envolvidos na missão de «Nirrnir» estavam configurados para recebê-los. Joguei a espada no meu inventário, materializei um dos potes e corri até o lado de «Nirrnir».
Quase 30% de sua saúde havia se recuperado com o meu sangue, mas o envenenamento por prata ainda não havia desaparecido. «Kio» acordou e mergulhou o dedo no pote de sangue, permitindo que «Nirrnir» se alimentasse dessa forma. No quinto gotejamento, o ícone de debuff do envenenamento por prata desapareceu. O alívio que senti naquele momento rivalizou com o que senti no quinto andar, quando me reuni com Asuna depois que ela caiu pela armadilha nas catacumbas.
Deixando Kio e Asuna cuidando de «Nirrnir», virei para lidar com os outros preparativos pós-batalha. Desta vez, eu não poderia ficar de braços cruzados assistindo a ALS e DKB se desentendendo. Precisava decidir qual dos dois "ajudou mais" e oferecer a essa guilda a bandeira da guilda ou a «Sword of Volupta» (Doleful Nocturne).
Ou assim eu pensava.
Enquanto eu estava ocupado, Kibaou e Lind já haviam discutido sobre o assunto, aparentemente. O Kibaou de cabelo espetado fez uma careta e disse.
— Você pode decidir a qual guilda vender a bandeira ou a espada no próximo boss.
Minha boca se abriu. Lind deu de ombros e acrescentou.
— Depois da bagunça que fizemos dessa vez, parece mais do que impertinente argumentar que qualquer um de nós realmente "ajudou".
As guildas foram até a escada que apareceu na parte de trás da câmara e subiram para o oitavo andar.
Honestamente, isso me trouxe um grande alívio; eu não acho que poderia ter escolhido um vencedor entre a ALS e a DKB. Mas era apenas uma maneira de adiar a decisão. Eu ainda não havia explicado para eles sobre o custo terrível de usar o «Doleful Nocturne»: seu dreno de pontos de experiência.
Se o efeito de drenagem absorvesse a experiência acumulada de uma pessoa, mas nada mais, poderia ser algo que você contornaria. Mas, se drenasse até que você chegasse a zero e nivelasse o avatar para baixo, ninguém iria querer usá-lo. A única solução seria se tornar um vampiro como eu, mas isso trazia um novo problema.
De acordo com «Nirrnir», quando um Dominus Nocte chupava seu sangue, você não recebia todo o poder de seu novo mestre. Seu título real seria Civis Nocte, ou Cidadão da Noite, e seu poder de combate era inferior em todos os aspectos — embora, com o aumento que eu tinha recebido, eu não conseguisse imaginar o quão poderoso um Lorde da Noite seria — e a maior diferença era que você não poderia criar seguidores. Eu tinha presas, então podia sugar sangue, e sugar sangue humano restauraria alguns pontos de HP, mas qualquer jogador ou NPC de quem eu me alimentasse não se tornaria um Cidadão da Noite.
Ou seja, se alguém da DKB ou da ALS quisesse se tornar um vampiro para usar o Doleful Nocturne sem penalidades, teria que ser alvo da Lady da Noite, «Nirrnir», e seria muito improvável de aceitar. Ela passou pelo menos dez anos — provavelmente muito mais — sem beber sangue humano, e mesmo quando sua vida estava por um fio, ela resistiu a beber de mim por tanto tempo.
De qualquer forma...
A grande decisão foi adiada para o oitavo andar, e eu voltei para os outros ainda segurando ambos os itens "quebrados". Minha parceira parecia ter várias coisas a dizer sobre o que eu fiz, mas por enquanto, ela me deixou em paz com nada mais do que um tapinha nas costas.
Eu queria voltar a «Volupta» imediatamente, mas não podíamos sair apressadamente para o exterior com a luz da manhã brilhando ao nosso redor. Ainda faltavam mais de dez horas até o pôr do sol, o que apresentava uma decisão a ser tomada. Para minha surpresa, porém, «Nirrnir» sugeriu que continuássemos explorando as partes inexploradas da torre em busca do esconderijo dos Elfos Caídos.
Nenhum de nós protestou, e a Bro Squad até se ofereceu para ajudar, então continuamos preenchendo o mapa com uma grande equipe de dez, cortando e picando mobs enquanto avançávamos. Depois de cerca de três horas disso, os sentidos de «Nirrnir» se aguçaram, e ela avistou uma porta secreta no final de um corredor apertado que nem Argo conseguiu perceber.
É isso! Pensei.
Quando todos estavam totalmente prontos para a batalha, abrimos a porta secreta, mas a pequena sala além dela estava vazia, contendo nada mais do que o que parecia um altar antigo. Nem Asuna, nem Argo, nem mesmo «Kizmel» sabiam o que era, mas depois de uma cuidadosa análise, «Nirrnir» teve a resposta.
— Isso é um dispositivo de teletransporte antigo — ela disse.
Enquanto me reclinava na cadeira de praia, saboreando um copo de ponche de frutas resfriado com flores de árvore de neve, olhei para o céu noturno a oeste. Com a ajuda da minha visão noturna, eu podia até ver o contorno distante da torre do labirinto.
Se conseguíssemos descobrir como usar aquele dispositivo de teletransporte, deveríamos ser capazes de chegar ao esconderijo dos Elfos Caídos, de uma vez por todas. Mas, provavelmente, esse esconderijo estava no oitavo andar, não no sétimo. Não havia outra razão para colocarem o dispositivo lá no topo da torre.
«Nirrnir» disse que procuraria como usar o dispositivo em alguns livros antigos, assim que voltássemos para o hotel. Depois que tivéssemos essa informação, provavelmente deixaríamos este andar para trás.
No oitavo andar, eu seria forçado a me mover apenas à noite. Asuna era do tipo que gostava de dormir à noite, então nosso horário de atividades não se alinharia mais. Se ela usasse isso como razão para nos separarmos, eu certamente não poderia culpá-la.
Se eu pudesse voltar de Cidadão da Noite para humano, seria o melhor, mas nem mesmo «Nirrnir» sabia como fazer isso, infelizmente. Talvez o rei dos elfos da floresta ou a rainha dos elfos negros soubessem, ela sugeriu, mas se pisássemos na capital dos elfos da floresta no oitavo andar, provavelmente os guardas nos atacariam.
Depois de passar por várias ideias na minha cabeça, meu olhar se voltou novamente para a distante torre.
Desta vez, percebi minha parceira temporária, sentada na cadeira de praia à minha direita. Ela estava com seu próprio copo de ponche de frutas nas mãos e olhava para o mar com os olhos embaçados. Ela estava usando um simples maiô branco, mas, combinada com sua pele clara e o cabelo castanho longo sob a luz da lua, parecia que seu corpo inteiro estava brilhando. Isso não poderia ser só devido à minha visão noturna aprimorada.
Os caras beberam o ponche de uma vez antes de voltar para a pousada, e Argo simplesmente adormeceu em sua cadeira, então não havia mais ninguém para me zoar. Aproveitei a oportunidade para olhar para minha parceira por pelo menos uns dez segundos.
— Quanto tempo você vai olhando? — ela disse, o que me pegou de surpresa e eu quase caí da cadeira na areia. Felizmente, recuperei meu equilíbrio e gaguejei.
— Eu-eu só estava p-pensando que você está linda…
Ah, droga. Isso só estava alimentando o fogo. Ou esfregando sal na ferida. Ou qualquer outro ditado que se encaixasse…
Mas meu comentário descuidado teve um efeito inesperado em Asuna. Ela ficou atônita por um momento, depois se recuperou e sibilou.
— V-Você é realmente tão idiota assim? — Depois virou-se na direção oposta.
Ao lado dela estava «Nirrnir», seguida de «Kio», «Kizmel» e a Argo dormindo, mas nenhuma delas parecia ter nos ouvido. Quando olhei de novo, as três que estavam acordadas talvez estivessem sorrindo de leve, mas eu podia fingir que não vi isso.
Asuna ficou em silêncio por um tempo depois disso. Eventualmente, ela disse para «Nirrnir».
— Ouça, Lady Nirr. Se eu quisesse ser uma Lady da... Er, uma Cidadã da Noite, você beberia o meu sangue?
…! Eu respirei fundo e abri a boca, pronto para falar. Mas «Nirrnir» simplesmente balançou a cabeça.
— Não se dê ao trabalho. Você está viajando com Kirito, não está? Se ambos forem Cidadãos da Noite, quem vai proteger você durante o dia?
— Mas…
«Nirrnir» levantou a mão para silenciar Asuna. Ela se sentou na cadeira de praia. Seu corpo esguio estava vestido com um maiô preto de dois pedaços, feito por Asuna. Seu cabelo loiro luxuoso brilhava como platina sob a luz pálida da lua.
Ela levantou a mão direita, expondo a pele ao redor do pulso à luz refletida da lua. Havia duas marcas bem fracas lá: a ferida de quando a Argent Serpent a mordeu.
— Existem mais do que alguns que ousariam capturar ou matar uma Lady da Noite. Para a maioria dos humanos, somos mais parecidos com monstros do que com outras pessoas.
Ela abaixou a mão e pegou seu ponche de frutas na mesa ao lado, dando um gole. O líquido de cor rubi refletia a luz da lua e se movia com o movimento do copo.
— Meu avô, Falhari, também foi um lorde da Noite. Ele derrotou o dragão da água, Zariegha, não para salvar a garota que seria sacrificada, mas para ganhar o sangue do dragão, o que lhe daria maior força. Vocês vieram dos andares inferiores, imagino; não acharam estranho nunca terem encontrado nenhum dragão?
Tanto Asuna quanto eu assentimos. «Nirrnir» fez o mesmo e então olhou para nós.
— Isso porque Falhari caçou todos eles. Ele morava em uma grande cidade no primeiro andar, mas foi banido por um motivo que desconheço, depois subiu para o segundo e terceiro andares, matando dragões no caminho. Aqui no sétimo andar, ele matou Zariegha, o dragão da água, e ia continuar sua jornada, como sempre fazia. Apenas as pessoas da vila que ele salvou o aclamavam como herói, mesmo sabendo que ele era um Lorde da Noite. Imagino que ele tenha achado isso agradável, porque Falhari ficou na vila, casou com a garota que foi oferecida como sacrifício ao dragão, e eles tiveram filhos gêmeos.
Isso coincidia com a história que ouvimos de «Kio» mais cedo. Engoli em seco e escutei, fascinado, enquanto a garota contava a história de tempos distantes.
— Mas quando nasce um filho de um Lorde da Noite com um humano, suas chances de se tornar outro Lorde da Noite são muito baixas. O sangue de Falhari surgiu em mim, sua neta, mas meu pai e meu irmão gêmeo mais velho eram ambos humanos. Após décadas, a mãe deles envelheceu e morreu, mas Falhari não parecia envelhecer nem um pouco. Quando seus filhos começaram a envelhecer também, eles temeram e desprezaram o pai. Não conseguiam aceitar a ideia de morrer antes dele, sem nunca receber uma herança. Eles se tornaram amargos, nada como os jovens brilhantes e elegantes de sua juventude... Então, em um dia ensolarado, eles se esgueiraram para o quarto do pai. O irmão mais velho arrancou as persianas pregadas sobre as janelas, e o irmão mais novo enfiou uma lâmina de prata no peito de Falhari. Eles o mataram com os poderes duplos do sol e da prata.
— O quê?! — eu gasperei, incapaz de me controlar. Asuna e «Kio» estavam com os olhos arregalados de surpresa. Até a serva do clã Nachtoy não sabia dessa parte da história.
— M-Mas então... toda aquela história sobre Falhari na sua velhice, pondo os filhos rivais um contra o outro em uma série de cinco batalhas contra monstros para determinar o verdadeiro herdeiro...
— Eles inventaram tudo isso.
— O quê...?
Eu estava sem palavras. De trás da cadeira de praia mais distante, veio a voz de Argo, a quem eu supunha estar ainda adormecida.
— Ah, entendi. Então a "arte secreta de comandar monstros" que Falhari supostamente aprendeu era uma habilidade especial de um Dominus Nocte, né? Os filhos dele eram humanos, mas pelo menos herdaram essa habilidade, eu suponho.
— Está certo, Argo. Os descendentes diretos dos clãs Korloy e Nachtoy, mesmo que nasçam como humanos, conseguem ao menos usar a Arte do «Employment». Então, os filhos dele usaram essa habilidade para controlar monstros que lutariam em seu lugar, numa competição para decidir quem herdaria a fortuna do herói. E o povo da cidade, sem saber que Falhari havia sido assassinado, aproveitava as lutas. Todo o resto, você já conhece.
……
Desde o momento em que segurei o «Dominus Nocturne», tive a intuição de que Falhari também era um Lorde da Noite, mas jamais imaginei que um segredo tão sangrento e cruel estivesse no centro da história fantasiosa do Grande Cassino.
Com alguma hesitação, perguntei em voz baixa.
— É por isso que «Bardun Korloy» está tentando te matar? Porque ele odeia o fato de que você vai viver mais do que ele...?
A garota refletiu por um instante e tomou outro gole do ponche.
— Pode-se dizer que sim, mas não é o único motivo. Há muito tempo, o Grande Cassino é operado conjuntamente pelas famílias Nachtoy e Korloy, mas, de certo modo, isso só acontece porque eu assim o permito.
— O que quer dizer com isso?
— É bem simples. Como líder do clã Nachtoy, eu não morro. Já o líder dos Korloy muda a cada poucas décadas. «Bardun» teve filhos tarde, e seu único herdeiro tem apenas dez anos. Ele ainda não consegue usar bem a Arte do «Employment». Então, se «Bardun» morrer, serei eu quem controlará os monstros dos Korloy por um tempo. E, nesse caso, seria muito fácil para mim controlar o Grande Cassino sozinha. «Bardun» teme que isso aconteça.
— M-Mas — protestou Asuna, endireitando-se —, se você desaparecer, o próprio coliseu deixará de funcionar, não é? Bardun certamente sabe disso.
— Talvez ele pense que, se o clã Nachtoy vai controlar tudo após sua morte, então é melhor que tudo vire pó — disse «Nirrnir», balançando a cabeça. Ela havia recuperado toda a sua beleza de antes do envenenamento com prata, mas havia algo em sua postura... Algo exausto, vazio. Isso me fez prender a respiração.
Era provável que «Bardun Korloy» continuasse a vigiá-la. Faria de tudo para assassiná-la, enquanto vivesse. E não havia garantia de que ele não tivesse outra armadilha tão engenhosa quanto a da Argent Serpent.
— Ei... «Nirrnir» — disse, inclinando-me na espreguiçadeira para falar diretamente com a Lady da Noite —, com a minha lady, na verdade. — Você e «Kio» não querem vir conosco? Imagino que você ainda vá estar ocupada com o cassino por um tempo, e evitar o sol será difícil, mas ao menos não haverá tentativas constantes de assassinato. Talvez os andares acima tenham lugares mais fáceis para viver... E vocês podem encontrar outros Dominus Nocte... Além disso, viajar é divertido. O mundo está cheio de coisas que você nunca viu antes, coisas belas e maravilhosas.
Ela não respondeu por um bom tempo. Kizmel e Argo apenas sorriram com um ar de exasperação, e «Kio» estava boquiaberta. Asuna estava de costas para mim, então não podia ver seu rosto, mas sabia que ela aprovaria a ideia.
— Ha... ha… ha-ha-ha...
Eventualmente, os ombros pequenos de Nirrnir começaram a tremer de tanto rir. Seu riso se tornou mais forte e alegre do que quando me viu quebrar uma fruta de narsos com as próprias mãos.
— Ah-ha-ha-ha, ah-ha-ha-ha-ha-ha...
Ela continuou rindo, derramando um pouco do ponche de vez em quando. Por fim, o momento passou, ela suspirou e então olhou para mim e Asuna.
— Obrigada. Acho que foi a proposta mais tentadora que já recebi em toda a minha vida... Mas eu não posso ir com vocês.
Ela não explicou o motivo, mas senti que não devia insistir.
— Tá bom — respondi, recostando-me na espreguiçadeira. Ainda havia um pouco de ponche, então bebi o resto e mastiguei a fruta misteriosa no fundo do copo.
Uma brisa noturna ligeiramente fria soprou, acendendo as tochas à beira da praia uma por uma. O vaivém das ondas se misturava ao burburinho distante de «Volupta».
Nesse momento, um uivo ecoou ao oeste.
— Awooooooo...
Virei-me e vi, no topo de uma pedra à beira da praia, uma silhueta pequena. O corpo esguio e as orelhas arredondadas indicavam ser um monstro do tipo canino, mas estava longe demais para que seu cursor aparecesse para mim. Observando melhor, vi uma corrente curta pendendo de um anel de metal em seu pescoço.
O monstro levantou o focinho na direção do piso acima de nós e uivou com orgulho mais uma vez.
Outro monstro, um pouco menor e da mesma espécie, surgiu e se sentou ao seu lado. A luz da lua vinda da borda de Aincrad banhava os dois, criando um brilho prateado deslumbrante em sua pelagem.
Não dissemos nada. Apenas observamos as duas criaturas até que deixaram o topo da rocha rumo a um destino desconhecido.
(Fim)
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