Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 33: Páreo de Risco

O punho esquerdo do Laerte tira o adversário do chão com o impacto na barriga; as raízes da dispersão rompem. A realidade é avermelhada fortemente por um tremor repentino; os fios que formam o tendão no braço do pugilista cedem num ritmo em cadeia, enviando explosões de dor que fazem o seu semblante se torcer ao limite com a boca aberta, branqueando seus olhos e consciência.

Sangue é jogado fora pelos seus ferimentos, a aura não consegue mais os manterem selados, esguichando em maior quantidade pela área furada perto da clavícula e os cortes pelos braços, principalmente no esquerdo, que tem um dano profundo na área do tendão. Formas confusas à frente, tomando tudo. 

“Ainda não…!” A imagem residual dos olhos do pugilista resistem em desaparecer no branco.

O punho direito dele sobe ao máximo, acertando Jay em cheio, quebrando sua mandíbula em pedaços.

Ao pousar com os pés, o estrangeiro cospe imediatamente bastante sangue, formando uma nuvem de vermelho com o vapor e poeira. Sem mais forças, ele cai de costas no chão acompanhado das fitas de sangue.

O apito do juiz soa; o público fica estupefato, em sequência, explode em uma tempestade de comemorações.

Laerte está desacordado e em pé, parado, comemorando com o punho levantado que lhe deu a vitória, que lhe deu o passe para a final.

[13° Luta (3°F) - Jay vs Laerte

Duração - 7 m 48 s

Vencedor - Laerte

“Foi uma batalha de resistência bem terrível. Talvez, no final das contas, aquelas drogas só tenham atrapalhado o desempenho do Jay… Não que isso seja da minha conta, mas ele devia ter confiado mais em seus músculos!”, comentário do Holpos.]

 

----------

 

No andar VIP, os lutadores estão com posturas relaxadas no sofá, aliviados. Kimai está em pé com um refrigerante.

— Então ele não conseguiu… — comenta Humine, com o rosto para o alto. — Sei que estavam torcendo para Laerte, mas como foi o Jay que me derrotou, queria que fosse ele quem chegasse na final.

— Mas foi por pouco — diz Unsai. — O estilo do Jay se provou bem eficiente. Poucos movimentos decidiram esse confronto.

— Me pergunto se os irmãos vão ficar bem depois de se doparem tanto. Têm algumas drogas que causam sequelas permanentes.

— Vai saber… não sei quais foram seus motivos para apelaram a isso, mas é da responsabilidade deles arcar com as consequências.

No telão mostra a equipe médica checando a condição dos lutadores. Laerte é o primeiro a sair, recebendo o apoio de um médico para poder caminhar. Suas feridas foram enfaixadas.

— Ei… Kimai, por que você não senta? — pergunta Omnislai. — É bem estranho você ficar aí em pé, e deve está atrapalhando a visão dos outros.

— Não consigo ficar sentado quando a empolgação sobe muito. E o telão fica mais ao alto, não tem como eu estar atrapalhando alguém.

Unsai nota o seu celular brilhando no bolso, o pegando para atender uma ligação:

— Eai… Já está aqui? Certo.

Ele levanta para sair dali, voltando em pouco tempo acompanhado do Holpos. Os rapazes o cumprimentam batendo na mão dele, abrindo mais espaço pelo centro do sofá. Ao ficar próximo do seu lugar, ele paralisa ao ver Shinsai, demonstrando-se incrédulo sobre essa visão.

— Jurava que estavam brincando sobre estarem sentados com ele…

— Foi uma coincidência estranha — responde Unsai. — Até agora ainda é dureza de acreditar. 

— Sim… — Holpos coloca a mão esquerda na nuca, propondo a direita para apertar a mão do campeão, em contraste a informalidade de agora a pouco. O cumprimento é breve. — É um prazer te conhecer.

— Igualmente.

— Uah! Eles têm até pizza no cardápio! — comenta Kimai, roubando a atenção dos lutadores recém chegados. — Vou chamar a garçonete! hahaha!

— Você disse… garçonete? — O rosto de Holpos solidifica como uma rocha.

— Sim, são umas gracinhas, você vai ficar de queixo caído.

— Conte-me mais.

Unsai dá uma bufada, em seguida olha para o telão, pensando:

“Apesar daquele derrota massacrante, Holpos se recuperou rápido, isso é bom. Com certeza ele teve seu tempo dramático naquele quarto de repouso, mas não é algo que eu deva meter o nariz… Todos aqui ainda estão com o gosto ferroso da derrota escorrendo pela boca; o canto dos derrotados, huh?”

Jay está sendo carregado na maca, sumindo no corredor escuro.

 

----------

 

No setor médico, o líder da equipe entra no quarto do Laerte, que está sentado na cama, recebendo uma dosagem de seringa no pulso. Suas roupas longas chamam a atenção do rapaz:

— Doutor… você fica estranho nessas roupas.

— Costumam dizer isso independente para onde vou. São o padrão de vestimenta do meu clã, possuem origens religiosas, então tenha cuidado ao se referir a elas quando topar com outro membro.

— Sou grato pelo aviso.

— Vamos ao que interessa. — Ele aponta para o braço esquerdo do rapaz. — Você não deveria participar da final, seu tendão ali está na merda.

— Notei… Enfiaram medicamentos para me impedir de mover o braço, mesmo que involuntariamente. Mas não sei o que é esse líquido laranja… Soro?

— Não o normal. É a cura para o veneno dos estrangeiros. Conseguimos desenvolver um antídoto a partir do que foi retirado do Traçal.

— Ele vai ficar frustrado ao me ver sem furos, hahaha… — Seu riso soa abafado por não abrir a boca.

— Você não pretende parar, certo?

— Exato. Irei participar da final a todo custo.

— Esperava por essa resposta, fiz meu papel como médico de te avisar, só que pessoalmente eu não dou a mínima para o que acontece com você. Enfim… Podemos consertar às pressas seu tendão com ligamentos artificiais, contanto que não coloque muita força e sempre os preencha com aura… devem aguentar algum tempo na luta antes de estourar.

— Esse é o melhor que a medicina atual pode fazer?

— A curto prazo e com esses equipamentos: sim.

— Ah… Me soa ótimo. Estava considerando que eu não poderia nem sequer contar com o braço esquerdo.

— Hehehe! Seu oponente fez um bom trabalho. Sabe quantos cortes ele fez para chegar tão fundo?

— Quatro no mesmo local…

— Acertou. Quanta atenção, seus olhos devem ser bons, que tal os vender para- — O médico se interrompe ao olhar o relógio. Em seguida se vira e vai embora. — Que porre, estava perto de fazer um negócio… Tenho trabalho a fazer. A gente se ver depois da final, Laerte.

— Até.

 

----------

 

O tempo passa, ficando cada vez mais próximo da última luta da semifinal. Na sala de controle dos fatores técnicos, estão espalhadas diversas máquinas com propósitos distintos, estando movimentado pela urgência em que os funcionários agem.

No painel que trata do contador de visualizações, está marcado um valor acima dos seis milhões — mesmo que seja um evento tarde na madrugada, com lutadores desconhecidos e demasiadamente jovens. Devido ao aproximar da final, o número de espectadores não para de subir.

 

----------

 

Diferente do público da transmissão, os que estão no edifício seguem tensos, preocupados sobre o futuro. Murmúrios soam das arquibancadas, dos guardas e até dos senhores no andar VIP, afinal, o próximo confronto cheira a tragédia.

Na sala de preparo do Traçal, ele dá alguns socos no ar, parando para checar a contração dos dedos e a movimentação das articulações dos braços. Sua condição está próxima do ideal, pois todas as feridas foram tratadas ao ponto de restarem poucos indícios de suas existências.

Kaon desce pelos degraus de uma escadaria curta, encoberto pelas sombras do local. Há luz apenas nas transições entres as escadas, algo proposital no plano de construção do Holliver.

— O que você quer comigo, Lorde? — Seus pés param.

O homem está à frente, perto da curva que leva aos próximos degraus, mantendo-se parado no alcance da luz amarela. Lorde está com um sorriso leve, sua presença não é hostil. Ao pôr uma mão no bolso, responde:

— Ainda há tempo antes de você ser chamado, que tal trocar algumas palavras com esse senhor? — O rapaz fica em silêncio, restando-lhe trocar olhares. — Você deseja muito a yrai?

— Quero lutar, foi para isso que vim.

— Ouvi dizer que passou por muito pouco nos testes de avaliação dos participantes.

— Isso não me impediu de estar aqui. Estou usando tudo o que meu mestre me ensinou para sobreviver, devo provar ao mundo a capacidade do seu estilo.

O sorriso no rosto do Lorde se desfaz.

— Repito, o meu objetivo principal nesse torneio é de lutar em frente às câmeras. Apenas isso. — Seus passos voltam a soar, acontecendo de em pouco tempo passar pelo homem. — Sabendo disso, não precisa se preocupar, não haverá nenhum cadáver naquela arena. Esse é só mais um dia na minha vida, e tenho para onde retornar. Não vou morrer. 

Ele desaparece na escuridão da outra escadaria, abandonando o homem, que o visualiza com preocupação estampada no rosto.

 

----------

 

Faíscas jorram, a nuvem de poeira se forma, efeitos que elevam as vozes da torcida.

— Primeiro! ELE!!! —  começa Gaojung —  A FERA INDOMÁVEL!!! Todos em seu alcance são triturados e deixados de lado pelo rastro da sua destruição!!

Traçal entra na arena com o sorriso puxado ao extremo junto do grito do narrador. É destacado pelos efeitos da entrada, o mundo sente o peso da sua presença.

—  Esse é o favorito!! — ressalta Malena. —  Existe algo que possa parar seu desempenho absoluto?!

No quarto, Laerte cerra o punho direito, focando-se na imagem do rival. Considera:

“Antes eu achava que era especial com meus mais de 600 II. Foi uma lástima ter te conhecido... seu monstro.”

As luzes se intensificam no extremo oposto da arena, transbordando de vermelho.

— “Quem é esse?!” Agora o desconhecido!! O participante que escalou desesperadamente à “montanha”!! Ele derrubou um por um dos seus adversários, ficando sempre à beira do próprio fim! Estaria aqui por sorte ou habilidade?! Não há medo e nem hesitação em seus olhos!! O homem nasceu odiado pelo destino, KAAAAAOOOONN!!!

Ao invés de ser enaltecido em sua chegada, Kaon causa brados perturbados, formando um pandemônio com sua chegada. As pessoas ficam presas ao que veem, não acreditando no que seus olhos captam. Traçal desfaz o ânimo na expressão, compartilhando da mesma experiência dos à volta, incluindo o grupo na sala VIP. O chefe da equipe médica está parado em frente a uma TV.

—  Aquele idiota. — O médico suspira. — Deveria ter pedido para darmos um jeito nisso.

Cortes e rasgos retos — alguns muito torcidos — moldam os desenhos falhos de uma cruz no peitoral. Seja ombro, costas, frente, braços, pernas ou qualquer parte da face; está tudo manchado pelas milhares de cicatrizes no corpo do Kaon. Tudo está maculado pelas feridas do passado.

O rapaz olha de um lado ao outro, impassível sobre a situação, aproximando-se do centro da arena sem nenhum abalo no ritmo dos passos.

—  Q-QUAL É A DESSE CORPO?!! — Gaojung inclina-se o máximo que pode na mesa, certificando de que seus olhos não estão vendo errado.

Com os lutadores próximos, o juiz começa a repassar os avisos. A quantidade de murmúrios só aumenta.

— Hahahaha! O que há com toda essa exposição?! — fala Traçal. — Então é desse tipo, Kaon?! Não fique se achando!

— Não era meu propósito mostrar essas cicatrizes. Apenas tirei o “produto” por acidente  no banho, e não havia mais tempo para o recolocar. Um motivo tão banal não vai me impedir de pisar no campo de batalha.

—  Você é hilário! Seria algum colecionador de feridas? Agora te respeito um pouco mais! — Ele põe as mãos nos bolsos, recusando-se a tomar uma postura de batalha, ao contrário do oponente, que levanta o braço esquerdo e recua o direito para a cintura. — Tch! Mas… isso não muda a realidade. Eu serei sincero com você, caipira… Vaza daqui!

O juiz se afasta colocando o apito na boca. Os comentários das arquibancadas e narradores estão descontrolados.

— Não sei qual a sua deficiência mental para participar de um torneio com dois de aura, mas não tem como eu evitar matar alguém tão medíocre! Não será só uma cicatriz nova, se você não sair agora, sairá depois em um caixão!

— Traçal… Nessa rota em que percorre atrás do seu objetivo, eu sei que te falta algo importante.

—  Hã…? HÃ!!? — Veias se incham por seu rosto. — Você! a porcaria de um mosquito! acha que sabe algo sobre mim?! Vou te mandar para o seu maldito lugar no inferno!!

— “Qual a sua deficiência mental?”, seja uma ou não, tenho certeza do propósito da minha ambição para estar presente aqui. Eu vim para lutar.



Comentários