Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 25: Tudo É Um Mistério, O Homem Não Passa De Um Abismo

Eu acompanho Thomas até a sala de treinamento. Está fechada, mas ele consegue abrir com o seu cartão de acesso. Creio que ser um soldado duas estrelas tenha lá as suas vantagens.

Nós entramos e até agora nada de novo. Estou no mesmo espaço gigantesco e branco de sempre, com exceção de que as luzes estão apagadas.

Thomas acende uma lanterna e começa a me guiar para um canto da sala. Isso está ficando meio esquisito, até agora ele não disse uma palavra. Porém continuo seguindo ele.

— Você disse que iria me mostrar o teste final, não é isso? — pergunto, tentando acabar com o silêncio.

— Exatamente — responde. — Estamos quase chegando. É por aqui.

Vamos até um dos cantos da sala. Demorou quase dois minutos para chegar aqui porque a sala é enorme. 

Por fim não tem nada aqui. É só uma parede branca como todas as outras. Fico chateado e cada vez mais desconfiado. O que esse cara quer me levando para um canto escuro?

Thomas começa a mexer na parede como se tivessem botões nela. Mas não vejo botão algum. A parede continua branca como sempre e…

De repente fendas aparecem na parede, formando um retângulo perfeito. O retângulo recua e depois sobe, apresentando uma passagem secreta.

— Uma porta?

— Sim. Por aqui está cheio delas — responde ele. — Agora vamos, estamos quase chegando. Só cuidado para não fazer barulho.

Eu balanço a cabeça afirmativamente, afinal não quero que ninguém nos ache aqui. Só que tenho a impressão de que ele não estava se referindo a outros soldados…

Enquanto entramos no caminho, que se trata de um grande corredor de paredes brancas sem nenhuma iluminação, penso no que ele acabou de dizer: “Por aqui está cheio delas.”

Isso explicaria todas as vezes em que Vega apareceu do nada e eu nem senti a energia dele.

Na verdade, o mais estranho é que eu sinto a energia das pessoas. Mesmo de longe consigo identificar se alguém familiar está se aproximando, porque já senti a energia dela de algum lugar. 

Antigamente, antes de ganhar esses poderes, o máximo que eu poderia fazer para identificar se uma pessoa está perto ou longe é por meio da minha audição ou do olfato. Um instinto primitivo aperfeiçoado pelos anos vivendo nos setores mais pobres.

Agora tenho isso, que facilita muito a minha vida. Facilita até demais, tenho medo de acabar atrofiando meus outros sentidos por confiar demais nessa detecção de energia.

Mas não é algo tão apelão assim. Para sentir essa energia preciso estar perto da pessoa. E quando toco em alguém consigo sentir essa energia de um jeito mais… “Visível”. 

Posso ver se a pessoa está se sentindo bem, ou se sentindo mal. Como foi daquela vez em que estive com a Sol e ela estava completamente cansada. Eu senti a energia dela.

Agora mesmo, por exemplo, estou sentindo a presença de Thomas. Ele está meio inquieto, eu acho. Mas o problema é que toda a vez que eu o vi ele estava assim. Acho que é porque eu sou um condutor e supostamente ele não pode estar me ajudando.

Mas afinal, qual o motivo da ajuda dele? Não posso acreditar que seja só por conta de um favor que deve ao meu pai. No fim deve ter algo por trás, alguma motivação.

— Você gosta dos classe S, Thomas?

Thomas está na minha frente e parece tomar um susto com a pergunta, porém logo se acalma.

— Por que a pergunta? Preocupado com alguma coisa?

— É que, sendo sincero, eu não gosto muito daqui. Eles tem um sistema estranho. Vivem se escondendo do público. Até um tempo atrás eu nem sabia que existia a classe S. Essa galera seria muito útil para o mundo, só que preferem se esconder para “combater o mal maior” ou coisa do tipo.

Thomas não vacila.

— Você esquece que eu também sou classe S.

— D-desculpe, não quis ofender… É só que…

— Entendo que você esteja em dúvida de como a nossa classe funciona. Mas lembre-se que nós estamos aqui para enfrentar forças maiores, forças que vão além da compreensão das pessoas comuns. Nossa causa é justa e não há motivo algum para se envergonhar por isso.

Por mais que ele esteja de costas para mim, andando pelo grande corredor branco e sem luz, essa é a primeira vez em que noto ele tão determinado. 

Pelo visto ele realmente acredita na classe S, o que significa que não é como se ele estivesse tentando passar por cima de suas regras e se rebelar. Mesmo assim, isso só torna ainda mais estranho o fato dele estar me mostrando algo que não deveria.

— Já estamos chegando — diz ele. 

Quando começo a reparar em volta, já não estamos mais em um corredor branco com paredes bem feitas e projetadas de forma linear. Agora estamos andando em um corredor com paredes de pedra. É como se estivéssemos adentrando uma…

— Uma caverna? — pergunto.

Finalmente saímos do corredor. Estamos agora na entrada de uma enorme caverna. Ela é tão grande que mal consigo ver o teto. Aqui tem alguma iluminação, mas mesmo assim é bem difícil de enxergar tudo.

— Sim. 

Ele continua seguindo em frente, onde tem um elevador nem um pouco confiável. Thomas clica no botão e espera enquanto me explica o que é aquele lugar.

— Esse é o chamado Porão da nossa instalação. Aqui é jogado todo o tipo de coisa e existem diversos setores em que são trabalhados tecnologias… Perigosas.

O elevador chega bem no momento em que ele fala isso de um jeito sombrio. Isso torna suas palavras ainda mais pesadas. 

Entramos e por fim ele clica no botão para ir para baixo. As portas do elevador, que não passam de grades nem um pouco confiáveis, se fecham e começamos a descer, balançando.

— Não tinha nenhuma escada por aqui? — pergunto.

— Tinha, mas o elevador é mais rápido. Por quê?

— Por nada. — Tento me segurar em algum lugar. Não gosto de elevadores que balançam. Não sou um grande fã de altura. Na realidade virtual era uma coisa, aqui na vida real é outra totalmente diferente.

— Aqui no Porão — ele continua — foram feitas algumas armas para o teste final que vocês irão enfrentar, logo após o torneio. Essas armas são muito perigosas e mortíferas. Por isso achei que seria uma boa ideia você vir olhar e se planejar.

— Não era melhor só ter me dito o que eram as armas? 

Devo estar tão branco quanto papel. Pior que não posso nem cogitar me alimentar da energia desse elevador, porque se não ele para aqui mesmo e já era, ficamos pendurados.

— Não — responde. — Você precisa ver com seus olhos o que estão aprontando aqui. Ou no caso, duvidaria muito que você fosse acreditar em mim.

Se eu soubesse que teria de passar por esse elevador, com toda certeza eu acreditaria em qualquer coisa que você me dissesse.

— Tá legal, então é só esperar o elevador chegar no fundo que eu vou ver essas tais armas e depois vamos sair daqui, não é? 

— Sim.

— Pelas escadas, não é?

— Ahm… Não gostou do elevador? 

Eu balanço a cabeça em negativo.

— Ah! — Ele rir. — Não se preocupe com isso, existe uma outra…

De repente o elevador balança demais, como se tivesse batido em algo. Eu me seguro nas grades de proteção como se minha vida dependesse disso, e de fato depende.

— O que foi isso? — pergunto.

— Não sei! — Ele vai até o painel de controle do elevador. — Eu vou checar se existe algum erro…

Alguma coisa abre a porta do elevador e começa a se balançar de um lado para o outro, como se procurasse por alguém. Eu consigo desviar, mas Thomas infelizmente é pego e arrastado para fora do elevador.

Suas últimas palavras foram gritos de desespero. Eu vou até a porta do elevador arrombada para ver se consigo pular e ajudá-lo. Porém o medo toma conta de mim.

Alguma coisa atinge o elevador e ele se desconecta. Caio em queda livre em um abismo escuro e muito profundo. Não estou vendo nada, não consigo nem mesmo ver que horas vou bater no…

K

    R

        R

           A 

               A

                  A

                    S

                      s

                       s

                       h

                        !

                        !

                        !

             P   U   F   F !!!

Abro os olho me sentindo em uma cadeira de balanço. Não vejo nada acima de mim, exceto uma grade. Estranho, lembro de já ter visto isso em algum lugar. É como no meu sonho em que eu estava…

Droga! Me levanto rapidamente e sinto o elevador que estou dentro balançar. Olho para trás e vejo que estou na beirada de um precipício. Droga! Droga!

Vou rastejando para cima, em direção a porta e enquanto isso o elevador vai caindo. Assim que chego na abertura, pego impulso e me jogo para cima, o elevador cai e eu quase não consigo me agarrar na beirada.

Coloco a outra mão e faço força. Consigo subir e me deito no chão, tremendo de medo e com muita falta de ar. Minha cabeça está doendo, sangue desce por ela. Preciso de energia para me recuperar.

Me levanto e ando em frente. Existem algumas luzes aqui e ali. Aproveito para sugar a energia delas, porém isso me deixa no escuro. Continuo seguindo em frente, para uma espécie de caminho cavernoso.

Vou indo, seguindo os caminhos de luzes, sugando cada um deles até ver que estou totalmente cheio. 

Ufa! Que problemão, hein, Kaike? Como é que vou sair daqui agora? E o Thomas? Será que ele ainda está vivo? Duvido muito, aquela coisa deve ter usado ele como almoço.

Continuo seguindo em frente enquanto teorizo o que era aquela coisa. Por mais que esteja no escuro, consigo fazer as partículas de raios em volta do meu corpo me iluminarem um pouco, então vejo alguns metros à minha frente.

Se aquela coisa estava aqui dentro, espero que não encontre outras… Eu paro de andar. Olho de um lado para o outro.

Isso é mal. Muito mal. Por que foi que eu vim? Deveria ter ficado no meu dormitório mesmo. Droga, que situação merda.

Estou sentindo a energia de alguma coisa perto de mim.



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