Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 46: Quem Não Entende Um Olhar, Nunca Entenderá Uma Longa Explicação

Falta um dia para a segunda fase do torneio. Embora os meus novos amigos-recrutas tenham de lutar entre si, ao menos alguns, eles ainda se divertem bastante.

Na sala de treinamento vejo eles treinando com os seus próprios oponentes. Riem por cair ou quando cometem um erro bobo e sempre parabenizam o aliado com um tapinha nas costas, um abraço ou um soco de leve no ombro.

Isso é ótimo de se ver. Estão tão tranquilos assim porque conversei com todos anteriormente e falei que não precisam se preocupar com a pontuação que ganham no torneio, já que mesmo perdendo eu faria eles recuperarem os pontos depois da segunda fase.

Está um clima leve e descontraído, principalmente após descobrir o potencial de Vida em empurrar os outros para fora da arena. Sério, ninguém pode contra ela.

Até mesmo eu tive dificuldade em resistir ao seu empurrão quando treinei com ela. É a estratégia favorita dela: Cansar o inimigo, levar para a borda e depois empurrar.

No caso, ela pode pular alguns passos, já que tem força suficiente para empurrar qualquer um que quiser. Por confiar nela, deixei ela treinar sozinha.

Agora sou eu que preciso de treinamento. E vou fazer isso agora mesmo. Preciso treinar a minha sensibilidade energética. Consigo sentir a energia de outros, porém apenas a determinada distância e às vezes não consigo discernir a energia de uma pessoa ao certo.

Meu objetivo principal vai ser treinar com alguns alunos, falar com o maior número de recrutas e enquanto isso me concentrar em sentir as suas energias.

Chego primeiro em Amor, a que no fim das contas fez tudo acontecer. Se alguém tem que agradecer por estarmos tão bem assim, com certeza esse agradecimento tem de ser para ela.

Nós ficamos em pé, um pouco afastados de todos, os observando de longe. Amor esta usando uma camiseta curta, que mostra a barriga e os ombros, uma calça preta apertada e de material bem flexível.

Ela está bonita e com certeza ela está atraindo a atenção de alguns olhares desde que começamos a treinar; os meus inclusos. Porém, para ser bem sincero, não creio que esse estilo combine com ela.

De qualquer forma, conversamos sobre como andam as coisas e os planos dela. Enquanto conversamos, ela vai falando algumas reclamações, não dos nossos, não, dos outros recrutas que não fazem parte dos nossos e ficam fofocando.

Isso é coisa do Ermo, possivelmente. Ele é bem capaz de convencer qualquer pessoa a se voltar contra a gente inventando mentiras.

Embora esteja entretido em sua conversa, tenho um treinamento para realizar. Concentro-me totalmente no que sinto, no fluxo de energia ao meu redor.

Sinto que existe uma presença perto de mim, mas isso é óbvio já que consigo ver Amor ao meu lado. Então tento me concentrar ainda mais enquanto conversamos.

Então consigo sentir alguma coisa diferente. Sinto que ela está cansada, bastante, afinal ficou um bom tempo treinando antes de eu chamá-la até aqui.

Porém isso ainda é muito óbvio. Eu conseguiria dizer isso apenas por olhar para Amor, que está suada e um pouco ofegante, soprando os peitos o tempo inteiro e por vezes reclamando do ar-condicionado da sala.

Vamos lá, concentre-se um pouco mais. Respiro fundo e me concentro ainda mais. Não vou tocar em seu corpo para sentir a energia de forma mais clara, vou tentar transparecer isso mesmo de longe.

E aos poucos, conforme a conversa flui, vou sentindo uma espécie de energia leve, porém com características interessantes. É um pouco desordenada, porém ainda assim muito boa.

Sim, se fosse descrever Amor, seria como um furacão. E essa energia dela a representa muito bem. É uma presença boa, com boas intenções.

Espera um segundo, boas intenções? Será se os meus sentidos estão me iludindo? 

A energia dela faz cócegas leves em meu coração, se é que isso faz algum tipo de sentido. Para ter certeza, durante a conversa, toco em seu ombro e finalmente consigo sentir as coisas com ainda mais detalhes.

Os detalhes são fáceis. Sinto seu fluxo de energia estabilizando aos poucos, está descansada. Entretanto, do nada, começa a aumentar novamente. Que estranho, o cérebro está mandando o coração dela bombar mais rápido.

Não sei o que é mais estranho, eu sentir as informações passando do cérebro até as outras partes do corpo ou ela estar com o coração acelerado depois de toca-la no ombro. Será se está se sentindo bem?

Dou uma olhada melhor em seu rosto. Ela está séria, como sempre, e me encara com determinação, como sempre. A única diferença é o rosto levemente corado e as pupilas dilatadas.

Ok, eu não seu direito como consegui prestar atenção a detalhes tão mínimos, porém isso com toda certeza não é coisa boa. Ela deve estar com alguma febre ou coisa do tipo.

— Amor, você está bem?

Boto a mão em sua testa, procurando algum sinal que possa denunciar uma doença. 

— Não, eu estou bem, por quê? — pergunta.

Entretanto, assim que coloco minha mão em seu pescoço, sinto a pele dela esquentar um pouco e o rosto ficar ainda mais rosado.

Espera aí, não vai me dizer que ela está constrangida por ficar perto de mim?

Me concentro ainda mais nessa sensação. É bem leve, mas sinto que de fato, toda vez que encosto em seu corpo ela fica mais tensa e com o coração mais acelerado.

Dou uma risada e me afasto dela. 

— O que foi?

— Nada — digo. — Mas você está bem estranha. Não acha melhor ir para a curandeira?

— Eu estou bem. — Ela revira os olhos. — Enfim, é isso, acho que vamos ter que tomar cuidado daqui para frente…

Uma garota que sabe resistir às próprias emoções. Isso é novo. Fico pensando se um dia vou conseguir sentir essas energias e sensações com muito mais detalhes.

De repente, pisco, e, do nada, tomo um susto. Dou um passo para trás e com certeza meu rosto fica em um tom estranho.

— O que foi, Kaike? Você tá bem? — Ela pergunta, me segurando pelos braços e me encarando no rosto.

— Não é só que…

Por um momento, só por um segundo, eu vi a energia de Amor, como se pudesse ver por dentro dela. 

Enquanto ela me segura, sinto que está mais calma e preocupada. Anoto mentalmente que essa sensação é a de preocupação. 

Quero que as pessoas sintam mais emoções enquanto estão perto de mim, para que eu entenda o que cada energia dessas pode representar.

E meus olhos… Essa visão… Eu preciso descobrir como eu ativei essa visão estranha que vê as energias das coisas com mais precisão. 

— Vida, eu estou bem, só quis te dar um susto. 

Ela me larga e dá um soco de leve em meu ombro. 

— Engraçado — diz, sem graça nenhuma.

— Desculpa, é que você estava aí toda estranha.

Ela me ergue uma sobrancelha.

— Estranha?

— Deixa para lá — falo. — Foi bom conversar contigo, agora quero ver como andam os outros.

E vou falar com Ash. Ele tem uma corrente bem energética, porém muito contida. Forço os meus olhos a verem o que vi antes e por um segundo consigo. Porém ficar forçando um modo de visão na frente dos outros é meio vergonhoso.

Depois vou falar com Vida. Ela está vestindo uma camiseta larga e bem folgada, preta, obviamente. Sua calça é um pouco folgada também. Combina com o estilo dela. 

Sinto que ela está animada. E dessa vez consigo ver por alguns segundos o seu fluxo de energia. Tem uma forte carga de cor esverdeada concentrada no peito. Isso é felicidade? Deve ser. Ou então depressão.

Ash fica um pouco nervoso perto dela e a energia em seu peito pega um tom rosado, ou amarelado. Aff! Não tenho muito tempo para ver essas coisas.

Bia e Clio tem um tipo de energia bem calmo, porém Bia tem muito mais energia na região do peito, da cor esverdeada, do que Clio, que tem um maior fluxo de energia vindo da cabeça.

Cara, que negócio engraçado ficar vendo a energia dos outros…

— Oi, Kaike! — cumprimenta Sophia, que chega me abraçando.

Eu abraço ela de volta e recebo um beijo na bochecha. Dou um sorriso para ela e aproveito para segurar o máximo de tempo a sua mão. Ela não parece se incomodar, pelo contrário. Sinto que ela está até gostando.

Me concentro totalmente na energia dela. Não é fácil fazer isso quando tem vários outros garotos, recrutas, te olhando como quem dissesse: “Vai que é tua tigrão”, ou então “Que inveja desse cara por falar com essa menina bonita, vou matar ele.”

Eu até poderia dizer que esses diálogos imaginários seriam frutos da minha imaginação, porém eu realmente consigo sentir a energia que eles transmitem para mim quando me olham.

Encaro Sophia nos olhos com seriedade e sinto meus olhos formigarem levemente; sim, isso é esquisito. Por fim, vejo o seu fluxo de energia enquanto toco a sua mão.

Ela está feliz, um grande fluxo de energia vindo de seu peito. O da mente está meio desligado nesse exato momento. Na verdade, eu poderia dizer que tem o mesmo tanto de energia em sua cabeça quanto tem na de Ash. Isso significa falta de inteligência ou seria algo mais abstrato que isso?

Por fim, meu rosto esquenta, e muito, quando olho para baixo e vejo que existe um forte fluxo de energia de cor rosada indo direto para a região dá…

Pisco os olhos e a visão energética vai embora. Olho para Sophia e ela está mordendo o lábio enquanto me encara. Tentador, porém as pessoas me olhando em volta estão me passando uma sensação esquisita.

Tudo que faço é dar um sorriso e um cafuné em sua cabeça. Digo para ela voltar a treinar depois que conversamos. Sophia sai cheia de esperanças. 

Droga, não deveria ter dito isso para ela. Mas enfim, posso postergar essa conversa para sempre. Já imaginou se eu sou conhecido como o instrutor que se aproveitou de sua aluna? O Rei que me livre…

Ash chega perto de mim, dá um cutucão em meu braço e fala:

— Cara, ela tá te dando muita bola. Por que não aproveita?

Ele pensa que iria me intimidar pelo comentário, mas na verdade só dou uma risada. Dou um mata leão nele e enquanto dou um cafuné doloroso em sua cabeça digo:

— Ela é linda mesmo, Ash. — Então olho para o lado e vejo Solares. Ela está conversando com Leona, e bem nesse exato segundo, ela sorri de alguma piada que sua amiga contou. — E é dona do sorriso mais lindo que eu já vi.

— Tá apaixonado, cara? — pergunta com a voz abafada por conta do meu mata leão.



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