Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 47: Cortesia Com O Chapéu Alheio Tem Cheiro De Maracutaia…

Hoje é o grande dia, a segunda fase, onde vai ser decidido quem vai passar para as próximas fases e quem vai ter de me enfrentar mais uma vez.

Não dormi a noite inteira, ainda estou me mantendo acordado com energia. De novo, talvez isso acabe me matando, mas não penso nisso agora. Vida também passou a noite acordada.

Fiquei um pouco com ela, conversamos bastante e até treinamos um pouquinho, só para ver se ela pegava no sono. Não adiantou de nada.

A cara dela é de quem está agitado. Não demonstra nenhum sinal de que não dormiu. Está arrumada e pronta para a luta.

Eu a acompanho junto de todos os meus outros amigos. Não posso ser individualista nessas horas, tenho que dar apoio para todos. 

Vamos para o refeitório, comemos, depois vamos para a sala de treinamento, completamente nervosos. Estão todos tensos, inquietos. 

Ao menos aqueles que estavam treinando juntos anteriormente estão agora trocando ideia do que vão fazer. Até mesmo antes de irem duelar eles mantêm a ideia de irmandade. Isso me deixa bem positivo.

Finalmente chegamos e a sala está do mesmo jeito de sempre. Tem a arena, uma plataforma de meio metro de altura bem extensa no centro do local.

Na parede tem um holograma projetado, mostrando a pontuação de todos. É hoje que alguns vão conseguir os 100 pontos e outros vão ter de ir treinar comigo para conseguirem mais pontos.

Vega dá as boas-vindas para todo mundo de um jeito bem rápido, ele está sem paciência. E particularmente eu também não estou muito interessado em ouvir as conversas dele.

Continuo olhando para todos ao meu redor. Alguns estão roendo as unhas, outros estão mexendo a perna sem parar. Vida está fazendo os dois ao mesmo tempo. Bia a abraça, porém não ajuda muito, logo ela volta a ficar nervosa.

O capitão sai do palco e diz para o primeiro grupo começar. São dois de nosso grupo. Eles batem as mãos, se dando boa sorte, e se enfrentam na arena.

Um deles ganha depois de cinco minutos. Nesse meio tempo os espectadores estavam atentos a cada movimento. Vida, a pessoa que está mais me preocupando agora, ficou tão apreensiva que fechou os olhos.

De novo vai um próximo grupo. Dessa vez é uma pessoa do nosso grupo e outro que não faz parte. A do nosso grupo ganha a luta depois de 10 minutos.

E assim vai se alternando. Geralmente os que fazem parte do meu grupo com a Amor são os que ganham, porém teve alguns que perderam. Poucos, porém perderam.

Isso enche ainda mais Vida de preocupação. Antes eu poderia que estatisticamente ela iria vencer a luta tranquilamente, já que treinou conosco. Mas com esses nossos perdendo… Isso só a está deixando mais nervosa ainda. 

E as lutas vão acontecendo. Não converso com ninguém, apenas pratico a minha visão de energia. Ainda não dei um nome bom para essa habilidade, então vou chamá-la assim por enquanto.

Me concentro nas pessoas ao meu redor e as vejo como se fosse em uma espécie de raio-x, porém ao invés de ver seus ossos eu enxergo a energia de seu corpo; onde estão acumuladas, onde passam e até as cores.

Cada pessoa tem um fluxo de energia diferente. Por mais parecido que possa ser de alguém, como a dos gêmeos por exemplo, eu ainda assim consigo identificar quem é quem se em concentrar de jeito.

No momento estou concentrado em me manter focado em todos os que estão com o fluxo de energia agitado, mostrando nervosismo. Preciso me lembrar da sensação de cada tipo de emoção.

Vou aconselhando cada um dos que estão muito nervosos. A grande maioria de fato fica mais calma, ou então ao menos mais focado em ganhar do que pensando em como seria se perdesse. 

Entretanto, Vida continua bem nervosa. Não é como se ela pensasse em perder, é só que ela está preocupada em machucar outra pessoa, ou sair machucada. As duas linhas de pensamento são válidas…

E finalmente chamam Vida e a garota que não faz parte do nosso grupo. Vejo a minha querida amiga de cabelos rosados tremendo enquanto sobe na arena. 

É uma visão meio patética e até ouço alguns sorrisos vindo do grupo que decidiu ficar sob supervisão dos auxiliares. 

Por sorte, o nosso grupo virou uma espécie de família. Os encaramos com fúria e repreensão, o que logo faz eles calarem a boca. 

Também não vi Solares rir de ninguém uma única vez. Isso é bom, mostra que ela é um exemplo como chefe.

Concentro a minha atenção em Vida. Vejo sua energia de longe. É meio complicado pegar certos detalhes, porém ainda dá para ver o geral. Ela está mais centrada.

Já a sua oponente parece mais agitada. Não é como se estivesse com medo. Essa energia é estranha, é como se sentisse alguém com raiva. Mas não tenho certeza.

A luta começa e meu maior medo se torna verdade: a Vida está pegando leve e por isso está sendo pressionada. 

Droga! Estão machucando a minha garota.

— Você consegue, Vida! — grito para ela.

Isso faz todo o nosso grupo começar a torcer por ela. Com toda certeza isso vai ajudar o astral dela e piorar a da oponente.

Mas a situação sai fora de controle quando o outro grupo começa a torcer para a outra garota. Sol e os auxiliares se mantêm calados, porém o barulho deles é muito maior do que o nosso.

Desse jeito vai ficar uma batalha de plateia e nada vai sair do lugar. Me concentro novamente em analisar a energia de Vida e sua oponente. 

Isso não é bom, Vida já está ficando cansada, nervosa, com medo… Espera um segundo…

Sinto uma energia cansada, nervosa e com medo, muito temor, porém não é de Vida. Essa energia está vindo de trás. 

Olho para trás e vejo que há alguém por detrás da porta de entrada da sala de treinamento. Essa energia é familiar. Será se é… O Tomas? Ele está em perigo?

Ando rapidamente em sua direção e quanto mais chego perto, mais nítido é a sensação de medo. Tomas está em uma situação ruim, sinto isso. Preciso ajudá-lo.

Abro a porta e me encontro com ele no corredor. Ele parece assustado e surpreso agora. Olho para um lado e para o outro. Não vejo ninguém. Isso é estranho, pensei que estivesse alguém aqui dando bronca nele. Mas de fato não notei nenhuma outra energia, então como poderia haver?

— Você está bem, Tomas? — Fecho a porta atrás de mim e seguro o seu ombro. 

Me concentro na sua energia. Preciso fazer um diagnóstico de suas emoções enquanto ele me responde, isso vai me ajudar a entender melhor o motivo dele estar tão nervoso.

— N-não… Q-quer dizer, eu estou bem, mas é que… Como você sabia que eu estava aqui?

Sua energia está estranha agora. Ele está ainda mais nervoso por me ver, como se fosse uma criança pega fazendo algo de errado. 

Mas provavelmente estou me equivocando. Ele é só o Tomas, não tem motivo para desconfiar dele.

— De alguma forma consigo sentir a presença das pessoas — explico por alto. — Notei que você estava aqui. Você está bem? Parece meio pálido.

Ele não parece nada pálido, só não quero explicar que também consigo sentir a energia das pessoas e distinguir as suas emoções.

— Estou bem. Obrigado. 

Ele empurra gentilmente o meu braço para o lado. Eu cruzo os braços. De fato, já chega de ficar segurando o ombro dele.

— Mas eu realmente queria falar com você — continua. — Eu queria agradecer mais uma vez por você ter salvado a minha vida lá embaixo, no Porão. Eu poderia ter morrido, mas você no fim me salvou. Tenho uma dívida com você.

Sou pego de surpreso. Agora quem está nervoso sou eu.

— Não tem nenhuma dívida comigo, Tomas. Apenas fiz o que era certo ser feito. No fim, você também me salvou, não foi? No final. Você poderia ter saído, mas decidiu voltar e me salvar. Eu é que devo a você.

Ele olha para o chão. Parece aborrecido. Não entendo bem o motivo, mas interpreto que seja por não ter conseguido me convencer de primeira. Quando ele levanta a cabeça diz:

— Ainda assim, preciso te recompensar de alguma maneira…

— Pode parar — interrompo. — Você não precisa, não. Sou eu quem precisa fazer algo por você. Sério, tenho uma dívida contigo.

De fato eu tenho uma dívida para com ele, porém não é como se eu estivesse muito afim de ganhar uma ajuda dele. 

Da última vez que ele tentou me ajudar, mostrando o Porão, acabou acontecendo muita coisa errada e nós dois quase morremos no processo.

— Então… — continua ele. — Você me faz um favor. O que acha?

Isso é muito melhor.

— Claro. Qual o favor?

Ele olha de um lado para o outro.

— Depois eu te digo mais detalhes — sussurra. — Agora não é uma boa hora para nós conversarmos.

Isso explicaria o motivo de Tomas estar tão nervoso. Possivelmente queria a minha ajuda e não sabia como pedir, já que ter contato comigo com toda certeza não deve ser algo no protocolo.

Eu balanço a cabeça afirmativamente. Depois nos despedimos. Ele vai para um lado e eu só volto para a sala de treinamento quando ouço uma zoada muito alta vinda de lá.

Quando encaro a porta, vejo um acúmulo de energia estranha. É muita energia, tudo misturado e de um jeito diferente. Não consigo entender o que está acontecendo. É uma mistura de irritação e alegria… O que aconteceu?

Quando consigo passar pela porta, que reprova a minha entrada três vezes por não passar na biometria ocular, me deparo com uma multidão empurrando Vida no ar.

Primeiro penso que ela quebrou alguma coisa e as pessoas estão ajudando ela, a levando para a curandeira. Depois penso que isso não seria possível, já que se ela estivesse mesmo precisando de atendimentos eles não estariam jogando no ar daquele jeito.

Só entendo quando Vida grita feliz da vida para mim: — Kaikii~

Eu observo o quadro e vejo que ela ganhou a luta. Dou um sorriso super satisfeito e ando em sua direção com um olhar de profunda aprovação. Ela desce dos braços e vem em minha direção, pula e me dá um abraço apertado.

— Eu consegui! Eu consegui, Kaike!

— É claro que conseguiu — digo baixinho, só para ela ouvir. — Você consegue o que quiser.

Seus braços apertam a minha cintura ainda mais forte.



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