Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 28: Esse é o Seu Poder?

 

Meu corpo congelou em um momento de medo e logo em seguida meu coração acelerou.

Havia alguma coisa querendo entrar no meu quarto em plena madrugada, eu poderia facilmente abrir a porta, mas... ela já havia sido “aberta”.

— M-mas que porra? — Meus lábios tremendo enquanto meu corpo parecia gritar que o perigo se aproximava.

Havia uma figura por trás do buraco na parede onde a poucos segundos estava a porta, seus olhos eram vazios como o abismo e exalavam um vapor negro que permeou para dentro do cômodo trazendo-me a certeza de que eu estava em perigo.

Resumindo, tinha dado muita merda.  

Ventania!

Em um instante vi uma lâmina banhada pela luz da sacada rasgar o vazio em minha direção.

Faíscas voaram pelo ar com um tintalhar ensurdecedor.

Meu antebraço e ombro estremeceram com o impacto do bloqueio que fui capaz de executar ao jogar a minha adaga na direção do metal impiedoso.

— Gh! Ma-Mas o que você... — rangi os dentes forçando a lâmina da Moon Blade para frente, fazendo os dois metais escorregarem lentamente entre si.

Em meio a adrenalina eu joguei o olhar para a mão que empunhava essa arma branca que poderia ter perfurado meu olho.

“Ela trabalha aqui?”, me perguntei mentalmente ao vislumbrar o vestido preto e o avental branco da garota com cabelos loiros diante de mim.

— Quem é você? Por que está fazendo isso?

Lançando tal pergunta para ela eu forcei minha mão segurando firmemente a adaga negra contra sua faca de cozinha.

Vuuush!

Com um movimento ágil e quase imperceptível ela pulou para trás. Sua saia longa sussurrou entre o movimento brusco.

Isso definitivamente não era normal, empregadas deveriam se mover nessa velocidade e ainda tentarem atacar os hospedes?

Óbvio que não, normalmente elas costumam ser gentis e... ah é, esqueci que a senhorita Hordrik existe.

— E-ei!

Meu grito assustado mal valeu de alguma coisa no que ela girou a arma branca ao redor de seu pulso, uma acrobacia digna de palmas eu diria.

E em questão de segundos o corpo dela se locomoveu como um vulto.

Chutando o chão de mármore em baixo das suas sapatilhas, ela avançou em minha direção.

A distância entre nós dois diminuiu, a lâmina pontuda de cor e prateada dela agora parecia almejar meu abdômen já que a mesma inclinou seu corpo para frente em uma corrida agressiva.

Os passos pesados batendo sobre o chão de madeira e ecoando em ríspidos impactos pelo quarto fizeram o medo crescer ainda mais em mim.

Mesmo assim o pequeno estouro de faíscas iluminou o quarto por poucos segundos e mais uma vez o som dos metais colidindo entre si dominaram a cena.

Por um fio eu consegui bloquear o ataque lançando a minha lâmina de cima para baixo com todas as forças, como um cascudo ou sei lá.

Meu braço direito totalmente dolorido vibrou com o impacto, o mesmo talvez tenha acontecido com ela já que a mesma soltou sua adaga com a mão tremendo.

“Isso facilmente poderia perfurar minhas tripas porra!”, minha mente se agitou junto com os meus músculos tensionados.  

Minha respiração ficando pesada, o suor descendo pela minha pele e o coração palpitando em uma mistura de medo e adrenalina.

— Quem é você afinal? — Eu ergui a ponta da Moon Blade para ela, tentando disfarçar minha leve tremedeira com uma face destemida.

A figura finalmente parou por um momento e fixando seu olhar em meu rosto levantou sua face pálida lentamente.

Os olhos... não havia nada dentro deles, assim como eu tinha reparado antes eles eram apenas dois buracos vazios e escuros, sem cor ou emoção alguma.

Dois buracos negros.

Tum! Tum! Tum!

O terror pairou sobre mim no que meus batimentos cardíacos se tornaram cada vez mais histéricos.

O calafrio que subiu pelas minhas costas não foi só simplesmente medo, mas uma sensação de morte avassaladora, como se alguém estivesse me observando, prestes a me apunhalar pelas costas.

A assassina misteriosa avançou novamente, agora de mãos nuas.

Seus cabelos loiros e sedosos eram curtos e dançaram junto com o balançar do seu movimento brusco.

Huh?! — Quando percebi, o punho magro dela já estava preste a colidir com o meu queixo.

Paft!

Uma dor inigualável se espalhou pela minha mandíbula e meus dentes se pressionaram contra minha língua. Um gancho perfeito que me acertou com uma força incomum.

Ghargh! — meu corpo foi jogado para trás de maneira abrupta fazendo minha mão fraquejar assim soltando a adaga que eu empunhava.

O som estridente da lâmina negra batendo contra o chão oco de madeira colidiu entre as paredes e as prateleiras.

“Merda, o que caralhos tá acontecendo? De onde veio essa maluca?”

O desespero começou a me consumir, mas mesmo assim tentei deixar meus sapatos esbranquiçados firmes sobre o chão, numa tentativa de me manter de pés.

 O sangue escorria do canto dos meus lábios e a dor latejante queimava em baixo do meu queixo.

A figura diante de mim começou uma caminhada calma em minha direção e então abaixou-se perto da Moon Blade.

A pequena mão acompanhada da longa manga negra do vestido de empregada acariciou a lâmina com um dos suaves dedos, o escorregando sobre o metal escuro, para no fim, parar sobre o punho da arma branca, tirando-a do chão.

[Sua arma foi roubada pelo inimigo!]

[Moon Blade foi removida!]

“Não me diga, seu sistema idiota!”

Meu corpo não parava mais de tremer sendo engolido pelo pânico.

Ela simplesmente roubou minha única forma de defesa, se essa garota já conseguia manejar aquela faca de cozinha tão bem, imagina a Moon Blade?!

Eu tava definitivamente fudido agora.

Sem dizer nenhuma palavra a assassina de cabelos loiros e olhos vazios ergueu a lâmina negra em uma estranha postura de ataque, inclinando seu tronco para frente e dobrando seus joelhos, um pé para frente e outro para trás, como se estivesse empunhando uma Katana ou coisa assim.

A saia negra com pontas brancas se estendeu marcando os joelhos dela.

Seu modo de se mover era frio, não havia vida ou característica, parecia uma... casca vazia, tipo uma marionete.

E mais uma vez sem hesitar o meu oponente avançou sobre mim ferozmente, dessa vez com a linda adaga negra que Incis me entregara.

“Porra! Se continuar assim eu vou morrer, não vou conseguir desviar disso! Eu não quero morrer, não quero morrer.”

Zuuush!

A lâmina cortou o vazio pronta para perfurar minha garganta.

Nesse pequeno instante eu pude me recordar de mais uma das explicações chatas da senhorita Hordrik.

“Sim, você despertou um poder no incidente em Leycrid, abrindo o menu chamado Skills você pode ver suas habilidades. Apenas entoe o encantamento e ela será ativada, a não ser que você seja perito em uma Skill específica, daí não precisará entoar o encantamento dela.”

Eu não tinha escolhas, esse era o limite, eu tinha que usar isso, tinha que usar o poder que despertei ao fazer o trato com Abyssus!

—『 SKILL ON! MANIPU LAMINAE!

Soltei um grito desesperado que retalhou minhas cordas vocais fazendo uma distorção se abrir diante de mim.

Assemelhando-se aquele portal que vi no subterrâneo de Leycrid, a pequena ondulação negra rapidamente lançou um objeto pontudo de dentro do seu interior crepitante.

A forma contundente foi lançada pelo ar como uma flecha deixando um rastro de vapor escuro.

Katchink!

Faíscas eclodiram pelo centro do quarto mal iluminado.

A adaga negra que poderia ter rasgado minha garganta junto de quaisquer esperanças de sair vivo dessa, foi rebatida e jogada para longe.

A maldita empregada caiu para trás por causa da pancada no que um grande painel brilhante surgiu sobre meu rosto.

[Uma Skill foi usada! Você usou 5 pontos de vida.]

[Sua perícia em Vitalis aumentou em 2!]

Minhas pupilas tremiam junto com meus lábios, minha face abismada sendo coberta pela tela reluzente enquanto aquele pequeno objeto que me defendeu caiu sobre o tapete, se desfazendo em fumaça negra, era uma faca?!

Aquela estranha distorção escura se selou segundos depois, jogando alguns ventos sobre meu casaco vermelho e balançando as cortinas atrás de mim.

— Isso foi o meu... poder? — pensei ofegante em voz alta.



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