Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 29: Instinto Do Desespero

 

O ar estava denso e meu coração palpitando quase para sair pela minha garganta.

No fim eu finalmente havia descoberto como era o meu poder, o medo que eu tinha de usá-lo era o motivo por trás de estar sempre hesitando, sempre que eu tentava entoar essa estranha Skill pequenos Flashes de memórias piscavam em minha mente, o incidente em Leycrid.

“Droga, não é hora pra ficar pensando agora!”, expulsei meus pensamentos ao escutar a figura caída sobre o tapete se erguer lentamente.

A garota loira que tentou me matar a segundos atrás já se levantava novamente, a minha habilidade não aparentou causar dano algum nela, que merda.

Meu instinto de sobrevivência era o que estava falando mais alto e sem hesitar eu disparei na direção da cama.

“Eu preciso da Moon Blade de volta, preciso dela de volta!”, gritei mentalmente ao visualizar a lâmina negra caída perto da cama.

Passos! Passos!

A respiração desregulada, o suor descendo pela pele e o medo inigualável de estar diante da possibilidade chamada morte.

A empregada avançou em minha direção no mesmo instante que corri e pulei por cima do colchão para no fim cair do outro lado da cama e desesperadamente apanhar a adaga no chão.

[Moon Blade foi recuperada!]

Nos poucos segundos em que o painel brilhante surgiu, a empregada jogou-se em minha direção encurtando nossa distância mais ainda.

Um chute que perfurou os ares assim como uma espada ou uma flechada, não, era mais poderoso que isso.

Por isso eu decidi revidar!

Vupt!

— Já que é assim eu vou atacar também!

Eu corri em direção ao ataque deixando para trás minha covardia e medo nem que fosse por um mero segundo.

 O som dos meus passos sobre o chão de madeira ecoando de forma firme, no que minha jaqueta carmesim sussurrou entre o movimento brusco balançando rapidamente.

“Eu não ligo mais, é vida ou morte!”

Levantei a Moon Blade colocando todas as minhas forças no punho da adaga.

Uma poderosa pontada na direção do rosto da empregada.

O vento abaixo do meu braço esquerdo foi rasgado pela sapatilha negra quebrando o vazio, sinal de que minha investida foi capaz de evitar o golpe!

Mas isso... durou pouco tempo, pouco mesmo, eu mal percebi.

Minha oponente apenas inclinou seu rosto para o lado esquivando-se por um fio da pontiaguda lâmina negra, mesmo assim um pequeno corte se abriu na bochecha dela que apenas lançou sua mão sobre meu pulso como resposta, o agarrando firmemente.

— Merda! — Rangi os dentes em desespero.

Ventania!

Meu corpo inteiro foi puxado pelo aperto firme.

As partículas de ar ao meu redor partindo-se pelo movimento abrupto que balançou minha visão remexendo tudo dentro do meu corpo.  

Em poucos segundos eu fui erguido no ar, meus sapatos saindo do chão e a sensação de altitude tomando-me em um medo incomparável.

“Mas que droga tá aconte...”, minha mente entrou em choque e fui abruptamente levado de volta ao chão pelo golpe que se assemelhou aquele movimento de Taekwondo bem famoso.

Argh! — Minhas costas colidiram com o chão rígido de madeira jogando correntezas de dor ardentes pela minha espinha.

[Você sofreu um dano crítico!]

[Hp atual: 59/240]

Os dois painéis vermelhos piscaram sob minha visão que se embaçou por um momento enquanto uma dor de cabeça se expandiu pela minha testa.

Sangue foi expelido da minha garganta, escorrendo pelos meus lábios e dentes.

“Porra! Por que? Por que? Eu podia pelo menos... uma vez sequer... fazer algo do jeito certo!”, me praguejei mentalmente ao morder meu lábio em frustração e desespero.

Sem mais nenhuma brecha visível de vitória nesse combate, eu apenas vi minha adversária se mover como um vulto. Um fantasma da mortífero. Ela girou seu corpo como um tornado e pulou sobre mim usando uma destreza capaz de abafar quaisquer sons que isso poderia causar.

Ghn! 

O grunhido de agonia que saiu de mim foi proveniente das mãos geladas sendo lançadas sobre meu pescoço.

Eu só pude morder minha língua sentindo minha garganta sendo apertada pela assassina.

Nesse impasse a imagem borrada da empregada levantando seu punho direito estava pronta para desferir o golpe final em meu rosto, sua outra mão estrangulava-me fazendo minhas veias saltarem.

Minha língua saiu pra fora tentando alcançar qualquer gota de oxigênio se retorcendo desesperadamente.

Zuuush!

O soco de direita viajou em direção ao meu rosto como um meteoro.

“Não! Não!”, com minha mente desesperada eu joguei a mão na caída adaga próxima a minha cintura, Moon Blade, minha única esperança.

Usando o último resquício de força eu puxei a Moon Blade para frente com sua ponta para cima, aproximando a lâmina afiada do pescoço da empregada loira.

O rastro metálico durou poucos segundos antes da pele pálida cair contra a lâmina que rasgou a carne perfurando-a por completo.

O líquido quente caiu sobre meu rosto como uma nascente tingindo-o com o seu carmesim meio escuro e o odor de ferrugem.

Eu nem precisei fazer nada, o seu movimento guiou a ela para sua própria morte.

Silêncio pairou novamente sob o cômodo. Agora a única coisa restante era o cadáver que despencou sobre meu corpo como um trapo velho, manchando minhas vestes de vermelho e criando uma poça quente em baixo das minhas roupas amarrotadas.

Com minha respiração ríspida e meu corpo suando, eu levantei as costas do chão ao soltar a Moon Blade.

— A-Acabou? Estou vivo. — minha expressão era de alguém que tinha acabado de ver um fantasma e minha voz transparecia desconforto somado de receio, seu tom baixo e rouco.

É óbvio o motivo de tal aflição.

Ao descer meu olhar para a “coisa” caída sobre meu colo eu vi o corpo de uma linda garota, a segundos atrás ela ansiava me matar a todo custo.

Diante de um cadáver, diante do sangue, sangue esse que agora preenchia o quarto tranquilo que passei meus últimos dias dormindo, estudando e até mesmo pensando.

O desconforto me tomou no que uma ânsia de vómito subiu pela minha garganta. Havia um cadáver ensanguentado por cima do meu colo.

O vislumbre do pescoço sendo atravessado pela pontuda lâmina negra banhada de sangue. A carne rasgada ao redor do metal era tipo um pano velho perfurado por uma grossa agulha. Nojento.

Ugh... — tapei minha boca com minhas mãos tremendo.

Meus olhos arregalados e lacrimejando eram a faceta do puro horror. Mesmo depois de tudo eu não seria capaz de abandonar esse destino mórbido? Não conseguiria fugir da carnificina?

Não havia outra maneira.

A Moon Blade foi a minha última esperança quando eu apenas lancei a lâmina com todas as minhas forças contra a garganta dela, agora tudo o que sobrava era uma horrorosa ferida exposta do outro lado da nuca dessa empregada e a sensação perturbadora de tê-la morta sob meu colo.

A Moon Blade, a arma que eu usei havia empalado na carne de um ser vivo, eu matei um ser vivo.

Tentando não dar um grito de horror eu engoli minha saliva e peguei os ombros da garota. Minhas mãos dando tremeliques junto com meu corpo, como uma gelatina.

O tecido suave cobrindo das vestes do cadáver soltou um som leve diante do meu toque.

Com isso eu a retirei de cima de mim tentando ignorar o estado de choque que minha mente se encontrou. Seria dramático demais continuar assim, mas ainda assim... era difícil pra mim.

“Seria frio da minha parte dizer que fiz isso apenas pela minha vida?”, minha pergunta interna já tinha uma resposta clara e eu sabia bem.

Não. Nada mudava o fato de que eu, Jack Hartseer, havia matado uma pessoa, no fim, Abyssus talvez tivesse razão... eu era um lixo de pessoa.

Plim!

[Receptáculo de marionete LV2 foi derrotado!]

[Você recebeu 50 Ranking Points]

[A perícia extra “Lâminas” foi adicionada a sua lista de perícias!]

[Sua perícia em lâminas aumentou em 10 pontos!]

O som dos painéis brilhantes me puxou de volta a realidade, iluminando todo os arredores com suas mensagens capazes de quebrarem quaisquer momentos de angústia ou medo.

Era contraditório demais que em um mundo tão cheio de violência e tragédias, algo tão fantasioso assim existisse.

Quem caralhos estava por trás de tudo isso afinal? Por que eu tinha que passar por isso? Por que esse mundo sequer existia?



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