Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 4: S.I.S

 

[Alguém desconhecido]

 

— Vossa majestade, parece que finalmente a hora chegou. Já foram detectados os primeiros sinais vitais dele. — Um homem bem vestido com uma ombreira dourada e uma braçadeira de ferro se ajoelhou perante mim.

 — Sim. Eu já até mesmo consigo sentir a oscilação entre os dois lados... esse poder é realmente magnifico, mas ainda está tão fraco quanto uma formiga. — Respondi não muito interessada no assunto.

Em resposta, o cavaleiro ergueu seu rosto na minha direção.

 — Majestade, o que você pretende com isso? Os Lost são realmente necessários em Zykron? Não vejo como eles poderiam ajudar no nosso poder de armamento, político ou econômico. — argumentou ele.

Eu dei um leve suspiro e voltei meu olhar relaxado para o lacaio.

 — Você não entenderia, afinal é apenas meu lacaio. Os lacaios devem obedecer aos seus superiores, nada mais. — Me levantei do trono após jogar tais palavras sobre o cavaleiro de cabelos loiros.

 — Agora, eu acho que quero tomar um banho e vestir algo mais confortável, já pode se retirar. — Eu sutilmente o expulsei da sala do trono. — Co-como desejar, minha rainha. — O cavaleiro loiro se ergueu com uma face não tão agradável e retirou-se da sala.

“Poder político? Armamento? quem disse que eu preciso disso? Agora que as engrenagens começarão a rodar não vou precisar de nada.”, minha mente foi preenchida por satisfação.

 

[Jack Hartseer]

 

S.I.S é a sigla para a palavra “System Inteligence Soul”.

Pelo que pude entender com a longa explicação de Zakio e Incis, o S.I.S é um tipo de sistema que se conecta diretamente com a sua alma, daí que vem o “Soul” no final.

Tal sistema pode gerir e administrar tudo sobre sua pessoa, condição vital, objetos sendo carregados, classe social e até mesmo sua força e inteligência. É realmente como um RPG só que um pouco mais complexo.

[Bio Menu]

[Nome: Jack Hartseer]

[Título atual: Nenhum]

[Raça: Lost]

[Perícia em Vitalis: LV0]

[Próximo Nível exige: 700 Pontos de Perícia.]

[Ranking: F.]

[O próximo Ranking exige: 700 Mil Ranking Points.]

— Viu só? É bem simples, com o tempo você pega o jeito. — Incis me encorajou após ver que eu finalmente consegui abrir o tal Bio Menu.

 — Ranking F... isso é o Ranking mais baixo, não é? — perguntei a ela um pouco constrangido.

O homem vestindo uma roupa vermelha com placas negras de ferro, Zakio, apenas observou o meu Bio Menu com uma expressão desconfortável.

 — É, realmente. Um Lost com um Ranking tão baixo assim é simplesmente bizarro demais. Eu nunca vi algo do tipo, nem mesmo os mais fracos são de Ranking F. — disse Incis com uma face meio espantada.

“Eu sou tão fraco assim? Isso é alguma piada?”, indaguei em pensamentos frustrados.

Eu abaixei minha face um pouco desemparado com a situação.

Tudo estava muito interessante até agora, mas ser do Rank mais baixo? Isso seria de acabar com o orgulho de qualquer homem e comigo não foi nem um pouco diferente.

Rank F heim? Que merda...”, fechei meu punho enquanto a frustração consumia meu corpo e mente.

Ah! De-desculpa, não foi isso que nós queríamos insinuar Jack.

Incis percebeu minha expressão triste e tentou me consolar pondo sua mão sobre meu ombro. Eu afastei a mão dela com o meu braço.

 — Por favor, p-pare de tocar em mim... — Desviei o olahr com a voz desanimada.

O-Ok então, foi mal.

Seus olhos dourados pareciam meio apreensivos.

“Se eu sou tão insignificante assim acho que não sou digno de ser tocado por essa mulher, sou apenas um empecilho no caminho dos dois. Tudo bem, não é como se fosse o fim do mundo, se eu realmente fui mandado pra outro mundo eu devo ter uma habilidade que aumente meu poder conforme a história progride.”, concluí em pensamentos ao balançar a cabeça.

Ânimo, ainda era muito cedo pra ficar pra baixo desse jeito.

 — Saiba que essa mulher salvou a sua vida moleque. Não acho que seja muito viável agir assim com alguém que fez isso por você. — Zakio lançou palavras num tom meio agressivo enquanto se aproximou.

 — N-Não vamos começar de novo! Estamos desviando do nosso objetivo. — Incis entrou na minha frente.

Zakio que fez uma face enraivecida.

“Ela está me... defendendo?”, fiz um rosto abismado com essa nova dúvida em mente.  

Não havia motivos dessa mulher me defender de algo ou alguém, afinal eu era muito fraco. Os fracos sempre estão fadados a perecer, eu conseguia saber disso com toda a certeza que minha alma podia reunir, mesmo que minhas memórias não tivessem material pra confirmar isso.

Tch! Tudo bem então, vamos levar essa formiguinha pro vilarejo. — Desdenhou Zakio.

O brutamontes com uma cicatriz em seu rosto cessou seus passos e apenas respirou fundo desistindo de qualquer ação que ele tomaria dali pra frente.

Ugh! Esse seu mal humor tá me dando dor de cabeça Zakio. — Incis levou a mão para sua testa, — De qualquer modo... — ela andou na minha direção.

Passo. Passo. Passo.

— Você já deve ter visto que aqui é bem perigoso, então em caso de emergência eu vou te dar isso.

A mulher de cabelos negros e sobretudo ergueu a palma de sua mão para mim.

Algumas partículas de luz coloridas começaram a surgir sobre a mão dela. Algo começou a aparecer como um objeto 3D sendo renderizado.

Ventania!

Uma pequena adaga com uma guarda branca e lâmina negra, ela surgiu caindo sobre a mão de Incis.

 — Uma fa... não, uma adaga. — Fiz um rosto interessado.

“Ela tem uma estética até que bem foda.”, pensei impressionado enquanto olhava para o bordado em forma de dentes no início do punho da adaga.

— Pode pegar, não é como se eu estivesse te obrigando a lutar sabe? É só caso algo ruim aconteça. — Ela me ofereceu a arma.

“Entendo... eu já ia dizer isso pra ela. Mesmo que eu esteja envolto dessas coisas bizarras querendo me matar, eu não consigo fazer nada contra elas por enquanto. Isso é como ser um Noob rodeado de Pro-Players, que saco.”, ponderei em um suspiro angustiado.

Valeu então. — Eu peguei a adaga na mão dela meio relutante.

Olhando mais de perto era realmente uma lâmina bem afiada.

Eu já havia visto muitas dessas armas nas histórias que eu costumava ler e assistir e posso com toda a minha certeza dizer que adagas são as mais estilosas, mas... por algum motivo eu senti um leve incômodo quando olhei a sua ponta afiada.

Senti meu coração bater mais forte por um segundo e minha respiração falhar.

“Que merda, eu já estou arregando?”, reprimi meus sentimentos misteriosos perante a arma branca.

Feito isso eu resolvi passar meu dedo levemente pela ponta da lâmina.

A pele do meu polegar indicador quase cortando com um simples toque, realmente um fio bem afiado para uma pequena adaga.

Ela era um pouco pesada também, acho que chegaria perto dos 4 quilos.

Eu nunca fui nenhum especialista em lâminas de qualquer modo então levantar algo desse tipo foi um pouco difícil pra mim.

 — Vai mesmo ficar andando com essa coisa na mão por aí garoto? — indagou Zakio com uma face um pouco duvidosa.

— Algum problema? 

— Puta merda! Você é um idiota mesmo heim? — Suspirou ele emburrado.

“Eu disse algo errado? Porra, tudo o que eu falo tá errado pra esse cara, isso tá chato já.”, reclamei em meus pensamentos franzindo as sobrancelhas.

 — Me-me desculpe Jack, o que ele quis dizer é que seria bom se você pudesse guardar essa adaga no seu inventário do Bio Menu. — Incis explicou com um rosto constrangido.  

Um inventário nesse momento seria bem útil e de acordo com tudo o que eu havia visto não duvidei que houvesse algo do tipo, por isso eu fui bem direto quando escutei sobre.

Hm... acho que é uma boa então. Podem me ensinar como se abre o inventário?

Os dois que se olharam por um momento e decidiram me ajudar, obviamente não vendo muitas escolhas ao seu dispor. Zakio e Incis me ensinaram detalhadamente como se usava o inventário do Bio Menu. Confesso que realmente foi difícil já que Zakio na maioria das vezes perdeu a paciência comigo e acabou me explicando mal, entretanto não demorou muito pra que eu finalmente pegasse jeito na coisa.

Até que era bem simples depois que você entendia como funcionava.

Grande parte do S.I.S funcionava por voz, então se eu simplesmente desse um comando ele iria rapidamente obedece-lo.

 — Bio Inventário. — citei essas palavras enquanto mantinha meus olhos fechados.

Ding~

Um lindo painel brilhante surgiu na minha frente, foi quase instantâneo.

[Inventário]

 

[Itens usáveis: 0/0]

[Itens em mãos: Moon Blade]

Fiz um rosto levemente impressionado com a precisão do inventário.

A estética e o jeito que as informações eram mostradas realmente pareciam com um jogo. Ao lado dos textos também haviam Slots vazios que provavelmente seriam onde os itens ficariam.

Simplesmente demais! Realmente como nos Isekais.

— Finalmente! Agora podemos ir.

Zakio reclamou impacientemente e virou suas costas começando a andar.

 — Até que nem demorou tanto assim vai... De qualquer forma, você pode guardar itens tocando-os sobre o painel e equipá-los chamando seus nomes, não se esqueça de sempre fazer isso.

Incis me passou rápidas instruções e olhou na direção de Zakio que já caminhava longe dali, no meio da avenida em ruínas.

 — Saquei. Então pra guardar eu só toco o item que estou na mão sobre o painel. — Pensei em voz alta e meio hesitante toquei a ponta da adaga sobre o painel brilhante.

A lâmina negra entrou dentro da tela como se estivesse caindo dentro da água, lentamente sendo absorvida.

[Moon Blade foi armazenada!]

[Agora você pode rapidamente sacá-la chamando-a pelo nome!]

Pequenas informações e dicas surgiram por cima do inventário que despareceu depois de alguns segundos.

“Esse tal de S.I.S é bem mais intuitivo do que eu pensava, parece que mesmo sendo fraco eu ainda tenho benefícios, que irônico.”, caçoei levemente em meus pensamentos.

Dando um suspiro de alívio eu voltei minha atenção para Incis.

— Bom, vamos indo? No caminho nós podemos te mostrar mais algumas coisas interessantes, o que acha? — perguntou ela com um sorriso sutil.

 — Hm, tu-tudo bem então.

Aceitando seu convite eu apenas a acompanhei calmamente.

Nós caminhamos até o que aparentava ser a saída da cidade havia uma grande placa de metal enferrujada com um letreiro quebrado.

Eu curiosamente não conseguia entender as letras naquela placa, mas conseguia entender a língua de Incis e Zakio. Isso com certeza era conveniente demais. Uma coisa interessante também é que o nome do sistema era uma palavra em inglês, algo bem estranho que acabou passando despercebido por mim quando ouvi a primeira vez.

Passos. Passos.

Andando pela rua destruída e empoeirada nós passamos pelo gigante portão que dava em uma planície desértica com uma estrada.

O meu suor proveniente do calor das terras áridas, a sensação solitária de um cenário devastado e silencioso.

Esse cenário não parecia nem um pouco falso ou alguma fantasia que meus sonhos criaram do nada, eu me encontrei definitivamente presente nesse lugar, sentido e vendo tudo, não como um herói ou vilão, mas sim como eu mesmo... minha ficha caía levemente.

“Eu realmente estou em outro mundo.”, essa frase ecoou na minha mente preenchendo lacunas que haviam entre o meu eu interno e externo.

Eu fiquei meio sério nesse momento, não era uma fantasia empolgante e divertida, mas sim, um vazio gigantescamente assustador e misterioso, que apenas me deixava perdido.

O que aconteceria dali pra frente? Como eu iria agir?

Mesmo que agora eu estivesse percebendo a realidade que me rodeava, mais e mais dúvidas permeavam a minha mente.

— Então, Jack... — meus pensamentos foram quebrados pela voz calma da mulher andando ao meu lado.

Hm? — Eu joguei meu olhar pra ela.

— Você já ouviu falar de alguma guilda antes?

Incis passou seu cabelo por trás de sua orelha enquanto me olhava com essa pergunta.

— U-uma guilda... Bem... acho que já. É um tipo de comunidade que ajuda seus membros e administra recursos, dando cargos pra cada um né? — indaguei meio sem jeito para a mulher de olhos dourados que balançou sua cabeça com um leve sorriso.

— Exato, você falou com tanta certeza, que estranho. — Riu ela ao voltar o olhar para o caminho que estávamos seguindo.

— Eu só respondi sua pergunta ué... — Desviei meus olhos com o rosto meio corado.

Mesmo que eu me sentisse tenso, por algum motivo o jeito de falar dessa mulher me dava um suave alívio, é como se eu estivesse de alguma forma a salvo perto dela.

— Eu sei hehe... bom, nós nos conhecemos de uma maneira meio estranha, aposto que você deve estar com medo de mim depois que me viu segurando aquela arma certo?

O tom de voz dela transmitiu insegurança.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos tentando achar uma resposta boa pra essa afirmação esdrúxula dela.

Era difícil falar com uma garota tão simpática, o sorriso dela era algo fora do normal pra mim. Acho que a pessoa insegura aqui seria eu, mesmo não lembrando nada do meu passado eu sabia que não recebia muitos sorrisos de garotas assim.

Ah... so-sobre isso... e-eu acho que... — senti meu rosto esquentar mais do que todo meu corpo sendo banhado pelo sol e a vergonha crescendo, — foi bem maneiro. Co-como fez aquilo?

Incis fez um rosto surpreso perante minhas palavras, ela deu um leve suspiro e então sorriu novamente. — Hm! então você tem bom gosto? Ha! ha! — ela estufou seu peito com orgulho — Esse é o meu Vitalis, eu posso invocar qualquer arma de fogo e manipulá-la no ar! Hehe!

Ela deu leves risadinhas de orgulho esperando uma resposta de mesmo nível.

— E-entendo. 

— Que tipo de reação é essa? Não é legal?! — A face de Incis mudou para uma certa decepção, como uma criancinha querendo atenção.

“Não foi bem isso que eu quis dizer. O que diabos é um Vitalis? Por acaso é um jeito mais bonito de chamar os poderzinhos?”, me perguntei internamente.

— Ah! Sim! Eu me esqueci, um Lost obviamente não teria conhecimento do Vitalis né? Bem, basicamente são habilidades que despertam nas pessoas, umas despertam quando nascem e outras através de traumas.

Ventania!

Uma correnteza de ventos caiu sobre a estrada no mesmo segundo que aquelas palavras penetraram os meus tímpanos.

— Tra-traumas?! — Um calafrio subiu pela minha espinha.  



Comentários