Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 1

Capítulo 101: Feito para assustar crianças

Ao fim da batalha, Zhan Hao e Xiao Ning receberam os primeiros tratamentos médicos ainda na arena e embora ambos tenham acumulado ferimentos graves no decorrer do embate, nada capaz de colocar suas vidas em risco tinha acontecido e portanto, maiores preocupações referentes ao estado no qual se encontravam foram dispensadas.

Enquanto o oriundo da Família Zhan foi imobilizado e levado até uma área mais apropriada para ser tratado ― afinal havia perdido a consciência após ser eletrocutado ―, o preguiçoso recusou o tratamento adequado e se limitou a pedir por algum remédio capaz de aliviar a dor. A enfermeira designada para ajudá-lo tentou convencê-lo de que o melhor seria acompanhá-lo para que assim exames mais precisos fossem realizados, mas ele era um sujeito de alma velha e muito teimoso que terminou recusando todos esforços da bondosa mulher.

― Apenas me dê um pouco de Cocolum e eu vou ficar bem. ― Dizia.

Foi somente depois de muito insistir e começar a perder a paciência por sempre ter suas boas intenções negadas que a enfermeira desistiu e resolveu dar a ele a Erva Espiritual que estava pedindo.

Após isso, Xiao Ning decidiu voltar para o palanque. Sua roupa estava surrada, rasgada em diversas partes, e hematomas e diversos outros ferimentos podiam ser vistos espalhados ao redor de todo o seu corpo, mas, apesar disso, encontrava-se de ótimo humor.

Ele não gostava de entrar em conflitos desnecessários e detestava ainda mais se machucar durante esses confrontos, e, ainda assim, a despeito das pernas doloridas e dos braços começando a ficar inchados, precisava admitir, tinha adorado dar uns bons pontapés no arrogante Pomposo. Achava que o garoto falava demais e embora não fosse do tipo que guarda mágoa de uma criança, acreditava ter sido uma pertinente e merecida lição.

Seja como for, descontraído e bastante relaxado, após guardar sua lança na Bolsa de Armazenamento e colocar a folha de Cocolum que recebeu debaixo da língua, Xiao Ning traçou a rota de volta para o palanque. Seu avanço rumo a construção foi vagarosa, pois inúmeras pessoas se colocaram em seu caminho, parabenizando-o pela vitória e pedindo um momento para seus elogios serem ouvidos.

Quando enfim alcançou a escadaria lateral que dava acesso ao piso superior, não teve pressa em subir. Seus joelhos estavam doendo e o corrimão mal construído pouco ajudava na sustentação. Por um instante se sentiu velho de novo, como em sua vida passada, com as dores frequentes, o problema nas articulações e a dor na coluna.

Xiao Ning não sabia muito bem o que esperava encontrar quando alcançasse o topo do palanque. Para falar a verdade, até aquele momento não havia sequer percebido o grande erro que cometera. Ele só foi se dar conta da existência de algo errado ao alcançar o fim da escada.

Logo que fez sua entrada, os olhares de todos se voltaram em sua direção. Não eram apenas os Xiaos que o encarava, cada um dos presentes ali naquele segundo o fitava, incluindo as garotas da Fundação Quatro Pilares. Espanto, receio, admiração, inveja e outros sentimentos que pareciam se diferenciar de pessoa para pessoa marcavam seus rostos.

Vítimas de algum infortúnio, eles aparentavam terem sido congelados em seus lugares, com a boca aberta e os olhos arregalados. Era como se estivessem olhando para algo inominável, uma entidade cuja existência estava além de suas compreensões.

Embora ainda experimentasse as mãos trêmulas e o coração saltitante depois de quase tirar a vida de uma pessoa durante a batalha, ao ver o preguiçoso surgir, Xiao Shui esqueceu tudo isso por um instante e, expressando um semblante severo, marchou de encontro a ele.

Ao se dar conta de que todos ali estavam o mirando, a primeira reação de Xiao Ning foi franzir as sobrancelhas, estranhando o acontecido. Não entendia o motivo de estar sendo o foco de tanta atenção e decerto o olhar estarrecido maculando o rosto dos demais apenas servia para agravar sua confusão. Porém, ignorando qualquer senso comum que pudesse impelir uma pessoa a desconfiar, ele resolveu não se importar com nada disso e apenas se limitou a balançar o ombro enquanto se preparava para se reunir ao restante dos membros de sua Família.

Os outros Xiaos ocupando o palanque também o fitava expressando sentimentos diversos, que iam desde uma profunda surpresa até uma visível apreensão. Xiao Li, por exemplo, tinha a boca tão aberta que mesmo um pássaro poderia entrar caso esse desejasse e os olhos de Guo pareciam prestes a saltar para fora.

Porém, de novo, o preguiçoso e desatento decidiu ignorar todos os sinais e ao ver Shui se aproximando, abriu um sorriso engrandecedor e falou:

Ei, você viu? ― questionou em um tom descontraído. ― Eu acabei com a raça do Pomposo! ― Notava-se divertimento em seu rosto, alheio de qualquer comoção que pudesse ter causado.

Contudo, diferente do que esperava receber, ela não sorriu de volta ou muito menos o elogiou pelo feito. Formando uma carranca, num ato que expunha seu puro descontentamento, Xiao Shui o agarrou pela orelha e o puxou usando uma força considerável, levando-o a inclinar o corpo e quase se ajoelhar em rendição.

― Seu imbecil! ― exasperou, bufando pelo nariz. Sua voz soou severa e de paciência limitada. A única coisa que a impedia de ser mais rígida era o fato de existir dezenas de pessoas assistindo, mas ainda assim era difícil se controlar.

Ai! Ai! Ai! Para com isso, pirralha! ― choramingou Xiao Ning, tentando se livrar do castigo. ― O que foi que fiz de errado? Eu até venci. Eu venci! ― insistiu.

― Essa não é a questão, idiota! ― ralhou Shui, apertando ainda mais. ― Você sequer entende o problema que arrumou? ― Extravasando o resto de sua raiva, usando a orelha dele como se fosse um brinquedo mal amado, ela o balançou com violência e, por fim, o largou.

Quando foi solto, Xiao Ning logo levantou o braço e cobriu a cabeça, temendo que o órgão pudesse receber um segundo ataque. Mas ao perceber que a ira da amiga não voltaria a ser guiada pelo impulso da agressão ― embora essa suposição ainda fosse questionável ―, começou a massagear a parte dolorida enquanto esboçava uma careta descontente. E foi então que percebeu...

As pessoas não apenas olhavam para ele, mas também cochichavam entre si e, a despeito da recente agressão sofrida, conseguiu ouvir algumas das coisas que eram sussurradas.

― Ele é mesmo o Alquimista que está ajudando a Família Xiao? ― questionava Ma Yao Yan, olhando de soslaio para o motivo da comoção enquanto murmurava no ouvido da colega, Yu Teegan.

Não muito longe dali, Xu Guiren e Qin Yanyu estavam um do lado do outro, mantendo certa distância de seus grupos de origem. Depois que o embate entre eles teve um fim inusitado, os dois resolveram voltar juntos para o palanque e assim permaneceram.

Ele, apesar de se mostrar um tanto ativo durante as conversas ― mesmo não falando coisa com coisa ―, nesse momento fitava o céu, alheio da perturbação que se espalhava ao seu redor. Ela, por outro lado, tinha um olhar sedento no rosto.

― Então meu próximo oponente será um Alquimista... ― proferiu, abrindo um vigoroso sorriso indócil.

― Qual o problema, Yanyu? ― questionou Xu Guiren, mantendo o seu típico tom arrastado e o semblante desatento. Procurar por corujas era uma atividade interessante e digna de sua dedicação, mas ele estranhou quando sua nova conhecida parou de cutucá-lo durante as conversas.

― Você não estava prestando atenção? ― indagou ela, arrependendo-se logo em seguida de ter se dado ao trabalho. ― Aquele menino da Família Xiao é o Alquimista que todos estavam falando. ― informou, indicando Ning com a ponta do nariz.

Hm... Alquimista? ― A voz de Xu Guiren soou confusa e cheia de dúvidas ao passo que suas sobrancelhas se juntaram formando uma perceptível interrogação. ― E isso existe? ― perguntou, inocente. ― Sempre achei que fossem lendas contadas para assustar crianças. O mundo é tão misterioso, não é? ― abriu um sorriso esclarecido e fascinado.

― Assustar crianças? ― repetiu Qin Yanyu, que não conseguiu conter a vontade de perguntar como ele havia chegado àquela conclusão.

E assim, os dois entraram em uma nova discussão, meio distraída e repleta de paciência, deixando a importante pauta que perturbava a mente de todo o resto de lado.

A 7ª Anciã Xiao Huo era uma das pessoas que conhecia previamente o segredo de Ning, contudo seu marido e sua filha não possuíam qualquer entendimento referente ao assunto e para eles a surpresa da descoberta foi tremenda.

― O amigo da Xiao Shui é um Alquimista... ― murmurou Xiao Li, revelando pequenos traços de inveja.

― Isso é mesmo verdade? Aquele garoto é o... ― Ele desejava iniciar uma pergunta mais elaborada, entretanto não precisou usar de mais palavras, pois a expressão séria no rosto da esposa denunciava a verdade.

― Você e a Li fiquem perto de mim. ― alertou a 7ª Anciã, temendo as possíveis consequências imediatas de tal revelação.

Era evidente e perceptível que os presentes no palanque estavam profundamente abismados. Alguns ainda demonstravam desconfiança quanto à informação, outros, no entanto, não sabiam como reagir, e a despeito do que era de se esperar, a conduta mais preocupante e ativa de todas não partiu de uma das Famílias rivais.

Quando a notícia de que Ning era o misterioso Alquimista ganhou notoriedade através da voz do Supremo-Ancião Zhan Yanlin, o 8º Ancião Xiao Wing abriu tanto os olhos que por um segundo pareceu rejuvenescer algumas décadas. No momento seguinte, enquanto a batalha ainda acontecia na arena, ele se privou de fazer comentários referente às habilidades dos jovens ― mesmo estando bastante impressionado ― e se limitou a ficar parado feito uma estátua cujo olhar só é capaz de mirar uma única paisagem e nada mais.

E então, após a chegada do culpado pela perturbação na mente de todos, Wing permaneceu paralisado por um instante, agindo como se sua sanidade tivesse sido profanada por uma descoberta inconcebível. E assim, assombrado, bestificado e estático ele permaneceu por algum tempo, até que a loucura enfim decidiu se manifestar.

Em um sobressalto, o Ancião se atirou em direção à Ning. Seus olhos estavam arregalados, passando a marcante impressão de um sujeito que presenciou o inexplicável. E os braços se moviam alucinados, confirmando a profunda insanidade que lançava delírios em sua mente desgastada.

― Você... ― proferiu ele, cuja voz envelhecida soou alta e serrilhada, perdendo a compostura e o tom ao tentar se fazer ouvido. Num ato de conturbação, agarrou os ombros de Xiao Ning, exercendo uma força que estava além do esperado de um homem com sua idade e, olhando nos olhos do jovem, continuou.― Você consegue criar a vida? Você consegue criar a eternidade?

Era possível notar o frenesi em sua voz e a existência de um sentimento demasiado e antigo de esperança, que após centenas de anos perpetuando suas fantasias e corroendo os pensamentos havia usurpado seu bom senso e erradicado a razão.

O impulso do Ancião foi tão inesperado que Xiao Ning se assustou e tentou recuar, mas as garras envelhecidas prendendo seus ombros o mantiveram no lugar, quase perfurando sua carne e esmagando seus ossos na tentativa de não deixá-lo escapar.

Wing aparentava estar fora de si, com olhos loucos e uma atitude desesperada. Vendo-o agir daquela forma, a impressão que ficava era a de estar testemunhando um homem capaz de fazer qualquer coisa para alcançar seu objetivo. Até que...

― 8º Ancião! ― De repente, a voz severa do Patriarca Enlai se ergueu, repreendendo a atitude tomada por um membro importante e carregando uma bronca implícita. ― Acho que esse não é o lugar apropriado para ter essa conversa. ― reforçou a advertência, agravando o tom.

A reprimenda pareceu surtir algum efeito, pois Xiao Wing largou o Alquimista e se afastou ao passo que a intensidade em seus olhos perderam força, voltando a se esconder por trás das rugas.

― Sinto muito. ― Ele se desculpou meio sem jeito pelo ocorrido, antes de se virar e se afastar.

Pela maneira vagarosa e abatida com que o Ancião se distanciou, ficava perceptível que não estava satisfeito em sair antes de receber uma resposta. Entretanto, sabia e entendia sua posição e, acima de tudo, precisava respeitar o líder de sua Família.

Após a intervenção rigorosa do Patriarca Enlai, o clima sobre o palanque pesou, assumindo um ar inquietante e desconfortável. Xiao Shui percebeu isso e não conseguiu evitar de censurar.

― Está vendo o que você causou! ― acusou, estreitando os olhos. ― Nós ainda avisamos para ser cuidadoso. ― Era difícil não se irritar, pois tudo o que seu pai e os demais conhecedores do segredo temiam, com exceção de poucos, havia acontecido.

A princípio, Xiao Ning não conseguiu entender o motivo para todos ali estarem o encarando com tanta intensidade, mas depois de ouvir os cochichos e ter alguns ossos quase quebrados pelo Ancião de sua própria Família, tinha enfim compreendido o que estava acontecendo.

Ahaha! Sinto muito. ― desculpou-se, exprimindo um sorriso desavergonhado que em nada demonstrava arrependimento. ― Parece que eles descobriram que eu fiz as pílulas. ― Com o segredo revelado, não sentiu a menor vontade de ser cauteloso.

Era verdade que tinha se descuidado e em momento algum pensou em se expor propositalmente, mas para ele não fazia diferença o fato de que as outras pessoas haviam descoberto suas habilidades como Alquimista, afinal detestava o trabalho e a constante preocupação existente em manter um segredo. Porém, ainda assim, fez questão de expressar um pedido de desculpas, mesmo esse não sendo verdadeiro.

E Xiao Shui percebeu sua falta de sinceridade, pois não existia nem mesmo o mais vago traço de lamentação em seu rosto. Então, como resposta, bufou pelo nariz e acentuou a rigidez sendo expressada em seu rosto repleto de julgamento e condenação.

Após a intervenção de Enlai, o ambiente sobre o palanque mudou e o desconforto de muitos se fez perceptível quando aqueles que não dispunham de grandes status sociais começaram a virar os rostos, desviando o olhar e evitando chamar a atenção. Não desejavam irritar um líder tão poderoso e acabar correndo o risco de receber alguma punição.

Entretanto não demorou muito e logo o clima voltou a mudar, assumindo uma sensação mais branda e aberta aos curiosos.

O Supremo-Ancião Yanlin, que aparentava ignorar o senso comum, num ato impulsivo, abriu uma vigorosa gargalhada e, ignorando os pedidos de Tengfei para se conter, avançou em direção a Xiao Ning.

Ah! Ah! Ah! E pensar que era esse garoto o motivo de tanta agitação.

Ao ver tal figura se mover, um personagem que detinha um poder tremendo, Enlai e alguns outros da Família Xiao se alarmaram, incluindo a 2ª Anciã e o tio Chang. Sabiam que as chances de algo acontecer eram baixas, ainda mais se tratando daquela pessoa, contudo seria imprudente de suas partes não prestar atenção nas ações de um Soberano do Despertar.

Mesmo Xiao Shui, que de certa forma detinha pouca influência e importância em tudo que estava acontecendo, sentiu-se intimidada e se viu recuando um passo.

Exibindo um largo sorriso,  genuíno em sua execução e agradável de ser ouvido, Zhan Yanlin se aproximou e agindo como se estivesse falando com um sobrinho ou um garoto cujo rosto era comum na vizinhança, começou a dar alguns tapas nas costas de Xiao Ning, erguendo um audível e pesado som.

― Quando disseram que o filho de Zhuang era na verdade um vadio qualquer, fraco e sem talento para cultivar, eu estranhei. ― disse, agindo com naturalidade e uma grande intimidade. ― Mas agora percebo que eram apenas boatos. Além de um Alquimista, é também um praticante poderoso.

A cada tapa que recebia, Xiao Ning sentiu o corpo todo tremer e as pernas fraquejarem. O Supremo-Ancião possuía uma força descomunal nos braços e mãos quase tão pesadas quanto as da Anciã Ah-kum.

― Ver você derrotar um Despertado enquanto ainda é um Mundano me faz lembrar do passado. ― acrescentou ele.

Xiao Ning teria pedido para a outra parte parar de espancá-lo, afinal a dor em seu corpo permanecia, até mesmo um pouco mais intensa do que antes, agora que seu sangue estava frio e a emoção da batalha tinha diminuído. No entanto, a fala anterior chamou sua atenção.

― Você conheceu meu pai? ― indagou, curioso. Não era estranho alguém entre os Xiaos saber quem foi seu pai, mas ter a noção de que mesmo uma pessoa de fora o conheceu era um tanto curioso.

― Tivemos pouco tempo juntos. ― admitiu o Supremo-Ancião. ― Sujeito atrevido. ― acrescentou. ― Mas ainda me lembro do dia em que ele derrotou um Espirituoso.

Para Xiao Ning essa informação foi ainda mais surpreendente. Seu pai morreu quando ainda era uma criança e as memórias que tinha ao seu lado eram poucas. Depois de tantos anos, às vezes ficava difícil até mesmo lembrar de seu rosto. Entretanto, existia algo que ele recordava muito bem: seu pai nunca se tornou um Espirituoso, morreu estando nos estágios iniciais do Reino Virtuoso.

E embora seja um defensor de que é possível derrotar adversários com mais Energia Espiritual, sabe também que não é algo tão simples.

Após soltar a informação com certo toque de nostalgia, Zhan Yanlin repousou a mão direita sobre o ombro do Alquimista e falou:

― Quer entrar para minha Família? ― Foi direto ao ponto, apesar da pergunta nada convencional.

Ali perto, Enlai, responsável por todos os Xiaos, fechou o cenho e assumiu um semblante aborrecido. Embora já conhecesse a personalidade daquela pessoa, tal questionamento era de um teor inaceitável, intolerável, mesmo se feito para um membro comum. O tio Chang também pareceu não gostar nem um pouco do que foi dito, pois avançou em direção ao afilhado, ameaçando colocar um fim na conversa.

Porém, antes que qualquer um desses realizasse alguma ação, quem interviu foi o próprio Patriarca Tengfei, que entendia a imprudência por trás da pergunta.

― Yanlin, esse não é o tipo de coisa que se fale para alguém de outra Família. ― censurou, severo e autoritário.

― Não aja como se essa fosse uma ideia ruim. ― retrucou o Supremo-Ancião, antes de se virar e voltar a perguntar. ― E então?

― Se me apresentar sua irmã ou sua tia, posso até pensar. ― respondeu Xiao Ning, sem vergonha nenhuma.

― Seu idiota! ― repreendeu Xiao Shui, que deu um beliscão no braço do desavergonhado. Ela não podia deixar de pensar em até que ponto sua imoralidade podia chegar.

A resposta foi ainda mais surpreendente e inesperada do que a pergunta feita e como consequência uma onda de risos e gargalhadas se espalhou pelo palanque, fazendo o clima mudar mais uma vez, deixando tudo alegre e animado.

Ah! Ah! Ah! Que garoto engraçado! ― gargalhou Zhan Yanlin, divertindo-se com a resposta.

Em outra área do palco, a Matriarca Annchi, que havia permanecido de lado sem se intrometer nos acontecimentos, resolveu enfim se manifestar. E esboçando um meio sorriso selvagem, provocou:

― Que injusto, Enlai, guardar esse segredo de nós.

― E desde quando uma pessoa com o “pé na cova” precisa saber o que acontece no mundo dos vivos? ― Quem respondeu foi Xiao Ah-kum, que embora não nutrisse qualquer rivalidade para com a Matriarca ou a Família Qin, sentiu a necessidade de se impor.

Ora, ora! Que garotinha mais abusada! ― replicou Qin Annchi. Seus olhos se estreitaram e em seu rosto se formou uma expressão afiada e desafiadora.

Por todo o palanque um falatório interminável se espalhou, com os adultos cochichando coisas importantes entre si e os jovens impressionados soltando elogios e exclamações de admiração e inveja.

Nesse meio tempo, o tio Chang se aproveitou da confusão que estava começando e guiou o afilhado e a filha até o canto no qual o restante da Família se reunia. Manteria o responsável por causar toda aquela comoção vigiado e cercado pelos poderosos integrantes de seu grupo. Não acreditava que uma tentativa contra a vida do garoto pudesse acontecer, mas ainda assim ficaria atento a cada ação estranha.

A tensão sobre o tablado era grande e se intensificava a cada instante. Todos discutiam o mesmo assunto: a revelação da verdadeira identidade do Alquimista filiado aos Xiaos e as consequências e surpresas que o futuro aguardava.

Porém, essa, ao menos por enquanto, era uma descoberta que permanecia sendo exclusiva daquelas pessoas presentes na construção elevada, erguida para abrigar os participantes do festival e os influentes líderes das Famílias.

Para o resto da população, o mistério perpetuava. É claro, não demoraria muito até que toda a cidade descobrisse a verdade, afinal esse não era o tipo de notícia que se pode ser guardada. Mas, por hora, o único interesse da grande massa era a próxima batalha.

― Qin Zhen contra Xu Xia!

 


Nota do autor

Olá, como vão? Estão bem?

Então, eu pensei em falar um pouco no capítulo anterior, afinal finalmente chegamos a 100 capítulos e acho que esse é um motivo para comemorar. Mas acabei preferindo deixar isso para hoje.

Bem, acho que nada é mais justo do que falar que 100 capítulos é muita coisa. kkkk

Até agora já foram mais de trezentas mil palavras escritas e postadas (ao menos de acordo com o word) e devo dizer, facíl não foi, já que tem dias em que a inspiração ou a mera vontade e disposição para escrever e continuar simplesmente desaparecem. Mas apesar disso, dos dias ruins, a vontade de mostrar a vocês as maravilhas e tramas que tenho guardado, apenas esperando chegar o momento certo de serem reveladas, me instiga a continuar tentando e expandir cada vez mais este univer que só está começando a se formar.

Como essa Nota é para falar sobre o centésimo capítulo, apesar de este já ser o 101, então seria justo falar um pouco sobre o que está acontecendo agora.

E então, estão gostando do festival?

Bem, no meu caso, eu decidi fazer um evento de torneio (algo já comum em mangás, novel e etc, pois ainda estamos na parte "clichê", como falei no capítulo 50) mais longo e trabalhado do que geralmente se é encontrado por aí. O motivo para isso foi que eu desejava não apenas apresentar um pouco do sistema de força, da funcionalidade das habilidades e outras coisas, mas sem ser explicíto, como também introduzir personagens que serão fundamentais para o futuro e trabalhar e aprofundar em outros já apresentados, por exemplo, a própria Cidade da Fronteira do Caos ― pois é, personagens não são apenas aqueles que falam e andam, mas também os que tem um papel a cumprir.

Como disse o Patriarca Tengefei: "Lembrem-se de seus rostos, pois eles serão aqueles que guiarão o futuro e trarão uma nova era, lembrem-se de seus rostos, pois quando estiverem com medo e desesperados, serão nas costas deles que vocês se apoiarão..."

Outro motivo que me deixa empolgado por chegar ao capítulo 100 é o fato de que agora não falta muito para acabar o volume 1. Estamos cada vez mais perto de encerrar um "capítulo" importante para a história em cujas consequências irão reverberar por muito tempo.

Além do mais, estou muito empolgado para o proximo volume, pois ele será incrivel e é a partir dele que vocês começaram a entender um pouco mais a respeito deste universo em desenvolvimento. Eu já deixei algumas pistas por aí, são simples e discretas, mas estão lá, vocês se arriscam a chutar?

Enfim, fico muito agradecido por todos que tem acompanhado a história. Muito obrigado pelo apoio até aqui!

E me digam aí, deixem seus comentários do que estão achando até agora e suas teorias de para onde estamos indo. De quais personagens estão gostando mais?

Não posso falar muito, mas uma coisa eu posso garantir sem dar spoiler, o futuro será fantástico e surpreendente!



Comentários