Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 1

Capítulo 137: Caçadora Escarlate

Apesar de o Patriarca ter o cultivo maior, o Artefato usado por Xiao Dong estava deixando a luta mais equilibrada do que deveria. Os ataques do Long não conseguiam perfurar a pele do tigre que absorvia a maior parte do impacto. Por outro lado, as garras do felino sempre causavam um estrago tremendo e isso forçou o adversário a se manter distante.

Por ser um homem que havia escalado para o ápice de um Reino respeitado, Enlai conseguiu manter certas vantagens, como velocidade, contra-ataques precisos e controle sobre sua habilidade. Porém, mesmo se atrapalhando em certos momentos, a diferença no poder primitivo das técnicas apresentada pelo 1º Ancião representou um grande perigo.

Tal ameaça moldada na forma de um tigre foi sentida mesmo por Coo, o cultivador mais apto entre os presentes. Através de seu Sentido Espiritual, ele podia afirmar que o velho continuava tão medíocre quanto se conheceram, mas o felino exalava uma força superior à sua própria.

O praticante esbelto, dotado de um longo rabo de cavalo garboso, achava-se parado próximo ao  buraco que havia aberto com uma mão gigante. As linhas rígidas em seu rosto demonstravam certa severidade ao encarar o confronto se desenrolando no céu.

Isto foi algo que percebeu quando Xiao Dong usou a segundo qualidade do Artefato Mágico; aquele velho havia usado ele e seus homens para fortalecer seu trunfo. É claro que esse por si só é um motivo forte o bastante para fazê-lo se irritar com quem deveria ser um aliado num momento oportuno, mas outra coisa o deixou extremamente desconfiado.

Por ainda estar preso na 1º Camada do Reino Espirituoso, o traiçoeiro de cabelo e barba branca não representava nenhum perigo. No entanto, o tigre possuía uma força substancial. E por isso, ele não podia deixar de se perguntar: qual era o objetivo daquele homem ao esconder uma arma secreta?

Coo conseguia imaginar o que teria acontecido se tivesse derrotado o Patriarca como tinha sido planejado originalmente. Mas no presente, isso não passava de teorias.

Seja como for, as coisas não saíram como planejado. E depois de testemunhar o trunfo do velho, ele não tinha a menor intenção de ajudar Xiao Dong.

Tomando a decisão de não intervir, o proeminente praticante resolveu mudar o foco para outra coisa. Ele puxou a capa para o lado e observou que o acessório havia sido destruído, então a tirou e jogou fora. Em seguida, colocou a mão na testa, no lugar em que sentia uma queimação profunda, e examinou o que causava a dor. Sua mão voltou manchada de sangue e foi quando percebeu:

― Que mulher assustadora! ― Ele jamais esperou encontrar uma adversária que fosse capaz de feri-lo durante a tomada de poder. ― Mesmo depois de tudo isso, ainda está viva ― comentou, esticando a cabeça para espiar o fundo da fenda.

Quando recebeu o primeiro ataque, Coo ficou profundamente surpreso. Não esperava que alguém de Reino inferior fosse capaz de atravessar sua técnica. Mas agora, com dores por todo o corpo, sangrando e um pouco exausto por causa dos esforços para se proteger, o invasor duvidou de tudo o que sabia a respeito daquela mulher.

― Eu ouvi falar de uma cultivadora poderosa que vive na Cidade da Fronteira do Caos e que por muitos anos comandou uma equipe de soldados sob o comando do Lorde da Cidade. Segundo as informações, ela protegeu a cidade de saqueadores, traficantes e invasores. Entretanto, seu maior feito foi derrotar uma Besta Demoníaca Espirituosa de 4ª Camada quando havia acabado de aumentar de Reino. Dizem que durante a batalha seu longo cabelo vermelho dançou como um estandarte furioso de guerra e por isso recebeu a alcunha de: Caçadora Escarlate!

Parado de frente para o buraco, Coo se mostrava bastante calmo, como se a situação estivesse sob seu total controle. Sua respiração era tranquila e o semblante exibia a frieza esperada de uma pessoa de origem nobre.

― Estou mesmo muito surpreso ― confessou, deixando escapar um suspiro de admiração. ― Mas como eu falei...

Ah! Ah! Ah! Ah! ― De repente a gargalhada selvagem da 2ª Ancião se ergueu em meio a escuridão. ― Vocês não estudaram muito, não é? Acha mesmo que ganhei esse apelido por causa do cabelo?

― Então ainda tem força para sorrir!? ― Coo ficou intrigado com o comentário, mas manteve a postura tranquila, agindo de uma maneira que fazia parecer que o maior perigo já havia passado.

Por outro lado, a reação de Xiao Dong foi o extremo oposto.

Mesmo no céu, travando uma batalha difícil contra um oponente complicado, ele permitiu ter a atenção desviada. Quando parou de atacar e olhou para baixo, seus olhos estavam arregalados de tal maneira que era como se tivesse visto a mais hedionda das abominações.

― Essa não! ― grunhiu preocupado. ― Rápido, mate-a! ― O grito estridente que saiu de sua garganta demonstrava um pavor tão profundo que deixou o invasor intrigado para saber o motivo. E ao perceber que seu pedido não seria atendido de imediato, o velho decidiu agir por conta própria. ― Esquece. Eu mato ela!

Farejando uma nova presa, o tigre olhou para baixo e caiu. Sua sede de sangue, enquanto mirava a fenda de onde uma Energia selvagem e tão similar a sua própria era emitida, provocou uma inquietação no ar noturno. Por um segundo, a sensação opressora de que um predador se aproximava foi sentida por todos.

Contudo, antes que a pata da besta alcançasse o chão firme, uma entidade colossal se enrolou ao redor de seu pescoço feito uma jiboia dando o abraço da morte. O Long agarrou o tigre com a cauda e o puxou de volta para o alto.

― Não devia se meter na briga de outra pessoa! ― disse o Patriarca, demonstrando uma confiança extraordinária.

O Long abriu a boca e do fundo de sua garganta surgiu um brilho ameaçador que aumentou de intensidade à medida que a Energia Espiritual era acumulada. Naquele instante, a besta azul sentiu o perigo e começou a se debater, tentando desesperadamente se soltar. Contudo...

Um jato incandescente acertou a nuca do tigre que, indefeso, foi atirado para baixo após ser solto pelo eterno rival. O felino se chocou contra o chão sem nada para diminuir o impacto e sua queda provocou fissuras profundas de modo que mudou em grande parte a geografia do local. Mas esse foi só o começo da destruição, pois o jato abrasador lançou ondas de calor que transformou a vegetação rasteira em cinzas e pintou a terra com camadas de fuligem.

Ao mesmo tempo, Coo sentiu tremores surgindo debaixo de seus pés e decidiu olhar para dentro do buraco. Ela estava se libertando.

Embora não se sentisse ameaçado, o invasor percebeu que seria mais fácil se as coisas terminassem sem mais complicações. Assim sendo, antes que a outra voltasse para a batalha, ele fechou o punho e se preparou para a conclusão.

Entretanto, antes que terminasse de se preparar, um estrondo ensurdecedor, seguido do desmoronamento da fenda, indicava que era tarde demais. Do meio da escuridão, um vulto carmesim saltou, passando diante dos olhos do Soberano como um eco de uma imagem.

Quando o chão começou a ceder sob seus pés, Coo precisou se afastar para um lugar seguro e só depois ergueu a cabeça para encontrar a miragem que tinha saído do escuro. E foi então que ele se deparou com uma visão que o surpreendeu de todas as formas possíveis.

Até alguns minutos atrás, a atraente Anciã passava uma sensação de orgulho e completa confiança em suas próprias habilidades. Entretanto, no presente a coisa era um pouco diferente. A autoconfiança continuava lá, mas o semblante havia mudado para algo pavoroso e tudo isso por causa dos diversos machucados.

Ser empurrada para dentro da terra por uma mão gigante tinha causado muito mais dano do que era de se esperar. Seu cabelo estava completamente bagunçado, o que a deixou parecendo uma boneca maltrapilha esquecida no sótão. Porém isso não bastava para ofuscar a beleza natural responsável por abalar o coração de homens e mulheres. Aquilo que de fato prejudicou sua imagem foi o corte na testa por onde minava a essência da vida. O sangue manchou metade de seu rosto, mas pouco podia se ver do vermelho por causa da poeira misturada no líquido espesso.

Aquilo por si só era o suficiente para deixá-la com um aspecto tenebroso. Contudo, o que chamou a atenção de Coo não foram os dentes sujos de vermelho de Ah-kum.

Contrariando a tudo que poderia ser considerado comum, a Anciã tinha passado por uma transformação extraordinária. Sua pele havia sido tomada por uma cor acobreada intensa, deixando-a semelhante a um metal incandescente capaz de queimar tudo o que toca ou soltar faíscas ao ser martelado.

Olhando-a de uma forma objetiva, sua Energia Espiritual era a mesma de antes. Mas algo na cor extravagante a deixava mais perto da selvageria verdadeira, igual a uma fera insaciável saída de profundezas amaldiçoadas.

― Algum tipo de Técnica de Fortalecimento Corporal? ― indagou Coo, estreitando os olhos e avaliando com cuidado a visão à sua frente.

― Algo do tipo ― respondeu a Anciã através de um tom provocativo. ― Mas falar dessas coisas é muito chato. Eu prefiro mostrar!

Xiao Ah-kum se inclinou, fechou os punhos, afundou o pé de apoio na terra e, demonstrando toda a ferocidade que a tornou temida por muitos, avançou. Uma ação direta e brutal, sem desvios ou tentativas de fazer o oponente abaixar a guarda.

E foi por isso que o Soberano não teve dificuldades em se preparar. Com um simples movimento de mão, seu corpo foi envolvido por uma armadura que possuía o formato exato de um esqueleto gigante.

Cercado por aquela habilidade sólida, o semblante arrogante de Coo aumentou. Ele tinha plena confiança em sua própria força e talvez por isso não se preocupou em contra-atacar ou tentou impedir a aproximação da adversária. Apenas a observou eliminar a distância que existia entre os dois enquanto afundava os pés no gramado arruinado.

Mas também, de certa forma, ele estava curioso para descobrir por quais mudanças ela tinha passado. E a resposta para essa dúvida veio em seguida, quando a indomável mestra de Xiao Jiao balançou o braço e golpeou a caixa torácica do esqueleto usando toda a força.

O que se seguiu foi um som oco e agonizante, semelhante a um tambor surdo sendo rufado por uma clava repleta de espinhos. Tão extraordinário foi o poder por trás do soco que rachaduras se espalharam ao longo dos ossos robustos, arrancando lascas e provocando falhas na estrutura. O esqueleto, junto de seu invocador, foi empurrado na direção oposta e seu deslocamento abriu uma fenda profunda que marcou toda a sua trajetória.

Quando percebeu que estava sendo empurrado, o Soberano de rabo de cavalo mudou de expressão e lutou para que sua armadura não fosse quebrada.

― Impossível! ― grunhiu, horrorizado.

― Por que a surpresa? ― questionou Ah-kum. ― Agora é que vai ficar divertido! ― Seus lábios se curvaram, expondo traços animalescos e evidenciando os dentes manchados de sangue. Ela chutou o chão e avançou com toda a ferocidade de uma besta temida.

E foi nesse momento que Coo percebeu que não poderia deixar aquela mulher se aproximar outra vez. Assim sendo, numa mudança abrupta de postura, ele assumiu a ofensiva.

O primeiro braço gigante veio debaixo, tentando repetir o feito anterior no qual surpreendeu sua adversária. Mas a Anciã já esperava por isso e portanto conseguiu se esquivar sem nenhum problema. Os dois golpes seguintes surgiram do alto, quase que consecutivamente. Uma das mãos gigantes tentou frear o avanço da fera e a outra buscou esmagá-la.

Contudo, Xiao Ah-kum já conhecia todos esses truques. Dessa forma, livre de hesitações e sorrindo de excitação, ela contornou os obstáculos e avançou furiosa contra o inimigo. Quando chegou perto, curvou os joelhos, para pegar impulso, e disparou feito uma bola de demolição imparável.

Seu punho fechado golpeou no mesmo lugar de antes, aumentando o tamanho das rachaduras na caixa torácica e empurrando outra vez o esqueleto. Porém, Coo reagiu no mesmo instante e logo tratou de reforçar a armadura com sua Energia Espiritual.

― Você não vai passar dessa barreira! ― afirmou ele, instigado pelo momento desafiador.

― Tem certeza? ― Ah-kum sentiu que estava sendo provocada. Mais uma vez ela atacou e seu soco fez a habilidade do adversário tremer. Mas ainda não foi o bastante para quebrá-la.

A robustez dos ossos era de uma firmeza impressionante e bastava algumas tentativas fracassadas para entender o motivo do Soberano se sentir tão seguro. Aquela era o tipo de barreira que faria qualquer um desistir de tentar atravessá-la. No entanto, sua invulnerabilidade teve o efeito oposto na Caçadora Escarlate. Ela se sentiu inspirada e com os dois punhos cerrados golpeou.

Sabendo que um soco não seria o suficiente para romper a armadura protegendo o sujeito esguio, a 2ª Anciã dos Xiaos lançou uma sequência interminável de socos contra o exoesqueleto. Cada pancada fazia o ar vibrar e o chão sacudir como se estivesse acontecendo pequenas explosões consecutivas.

À medida que a armadura era empurrada para trás, deixando um rastro de destruição, ela avançava. Estava determinada a grudar no inimigo até transformar sua habilidade em destroços. Entretanto, Coo resistiu da maneira que era de se esperar de alguém do seu nível.

As pancadas provocaram diversas fissuras na armadura de ossos. Em certo ponto, o dano foi tanto que uma costela caiu. Mas o praticante de outra organização se esforçou ao máximo para reparar os estragos ao mesmo tempo que eles aconteciam. E seus esforços foram recompensados ao perceber que a fera de pele acobreada estava se machucando por conta própria.

As mãos de Xiao Ah-kum eram ásperas e cada golpe trazia a força de seus músculos e suas costas. Porém, tanto poder executado sem nenhuma proteção exigia um grande esforço do corpo e aos poucos as consequências da imprudência começaram a aparecer.

Após dezenas de murros, a pele de seus dedos rasgaram, dando vazão ao sangue que cobriu suas mãos e respingou sobre suas roupas. Pouco depois, foi possível ouvir estalos agonizantes de ossos se partindo vindo de seus membros. Seus braços estavam ficando inchados, o pulso esquerdo brilhava feito uma bolha inflamada e parecia que em breve ela não conseguiria continuar fazendo aquilo.

Mesmo assim, apesar de toda a agonia que deveria estar sentindo, por algum motivo, nada em sua expressão indicava o desejo de recuar. Pelo contrário, ela estava se divertindo. Quanto maior era a sua dor, mais selvagem e espontâneo seu sorriso se tornava. As mãos destruídas não impediram seus movimentos de ficarem mais ferozes e conforme sangue espirrava em seu rosto, mais sincera sua felicidade ficava.

― Vamos acabar com isso! ― rugiu a 2ª Anciã, exibindo um olhar ardiloso.

Entendendo que golpes simples não seriam o suficiente para derrubar a defesa do oponente, ela deu um salto para trás, flutuou a dois metros do chão e ― antes que o outro lado reagisse ― chutou o ar. Naquele instante, uma poderosa onda de impacto foi gerada à medida que a fera mergulhou em direção ao alvo como uma flecha que nasceu para alcançar um só destino. A investida foi tão veloz que quando Coo percebeu estava sendo arrastado junto do esqueleto para um lugar desconhecido.

A 2ª Anciã pressionou e continuou forçando mesmo depois que uma ferida foi aberta entre os dedos médio e anelar da mão esquerda. Ela chutou o ar de uma maneira extravagante para ganhar impulso, mas parecia que seus esforços seriam derrubados pela defesa impressionante do Soberano. Foi então que, para a profunda surpresa de Coo, o esqueleto gigante colapsou e um buraco foi aberto no meio da caixa torácica.

Implacável e feroz, Xiao Ah-kum invadiu o bastião do inimigo sem nenhuma sutileza. E com a mesma violência que destruiu o esqueleto, atingiu o rosto do invasor, jogando todo o peso de suas costas naquele golpe repleto de selvageria.

O impacto foi tão grande que Coo não foi capaz de se defender e quando percebeu, estava sendo arremessado para longe. Por um instante, sua visão escureceu e os trovões no céu e todo clamor da invasão desapareceu, como se o tempo tivesse parado.

Assim que voltou a si, confuso e desorientado, ele se sentou enquanto olhava para os lados. Percebeu que já estava caído, mas não se lembrava de quando aconteceu. Mesmo assim, a despeito dos pensamentos nebulosos, o praticante logo tratou de se colocar de pé, pois sabia que não poderia permanecer naquela posição durante um confronto. E sua atitude se mostrou correta, já que a fera de pele acobreada voava em sua direção.

Ao perceber que sua inimiga surpreendentemente capaz se aproximava a passos largos com seu sorriso animalesco estampado no rosto, ele mudou de postura e contra-atacou. Sabia que era perigoso deixá-la chegar perto.

― Campo de Ossos! ― rugiu à medida que erguia os braços de maneira vigorosa, como se estivesse comandando um rito profano.

E então, seguindo suas palavras, diversas pontas de ossos gigantes começaram a sair de dentro da terra e saltar contra a Anciã, tentando de alguma forma montar um cerco capaz de derrubá-la. Mas a Caçadora Escarlate era implacável e contornou os obstáculos de maneira exemplar. Aqueles que não conseguiu desviar, ela destruiu com um soco direto e simples.

― Soberania Titânica! ― Não querendo correr o risco de deixá-la chegar perto, ele mudou de postura e lançou o próximo ataque.

Até o momento, todas as ações executadas por aquele homem carregava um poder espantoso, mas nenhuma se comparou ao que veio em seguida.

Quando ele se moveu, liberando uma grande quantidade de Energia Espiritual, numerosos braços gigantes envolvidos por exoesqueletos surgiram de repente, cobrindo todo o céu acima da colina. As mão gigantes estavam cobertas por coroas de espinhos que abraçavam os dedos como luvas de ossos criadas para causar a maior destruição possível.

Sem se importar com o estrago que provocaria, Coo gesticulou com a mão num ato de puro autoritarismo e os braços gigantes desceram um após o outro, carregando seu poder colossal.

O campo de ataque foi tão extenso que mesmo Xiao Dong e o Patriarca precisaram pausar o duelo e tentar de alguma maneira não ser pego no fogo cruzado. As mãos atingiram o chão e o caos se espalhou pela colina. Ondas de terra foram erguidas, nuvens de poeira foram criadas e tremores que puderam ser sentidos na cidade foram prolongados por centenas de metros.

Ao passo que as mãos caiam, o visual do lugar foi sendo alterado. Fissuras tão profundas que não era possível enxergar o fundo surgiram e deslizamentos de terra afetaram os morros mais baixos. O vento forte espantava a poeira, mas assim que outra mão caía, mais nuvens eram erguidas. Naquele segundo pareceu que seria o fim daquele lugar.

No entanto...

Enquanto o cenário era destruído, a 2ª Anciã Ah-kum partiu para a ofensiva. Apesar dos ataques serem direcionados para a sua pessoa, ela desviou de todos saltando, correndo e voando. Quando estava no céu e um braço chegava perto de atingi-la, a Caçadora mergulhava como um cometa. Logo depois, corria pelo gramado destruído até que uma mão surgisse de baixo, tentando agarrá-la.

Demonstrando suas incríveis habilidades acrobáticas e astúcia em perceber o inesperado, Xiao Ah-kum seguiu incansável na busca pelo inimigo. Nada parecia capaz de pará-la. Foi então que, ao se aproximar o suficiente, ela voou e, com uma ferocidade impressionante, chutou o ar.

Mesmo sendo um Soberano do Despertar, foi difícil para Coo vê-la chegando. A bela de pele incandescente atravessou dezenas de metros feito uma flecha assassina que não pode ser parada por nada. O praticante invasor recuou, esperando que isso pudesse fazê-lo ganhar algum tempo, mas seus esforços foram em vão.

Com seu sorriso selvagem e manchado de sangue, a Caçadora Escarlate frustrou as intenções maliciosas do inimigo e sem nenhum traço de misericórdia, acertou-lhe outro soco no rosto.

Diferente do assalto anterior, ela o golpeou de cima para baixo. E foi isso que o impediu de ser arremessado mais uma vez. A pancada foi tão forte que seu corpo dobrou de uma forma estranha e suas costas se chocaram contra o chão.

Naquele momento, Coo sentiu o rosto mudar de cores enquanto o corpo era assolado por dores diferentes. O ar foi arrancado de seus pulmões, levando as escleras a assumirem um tom vermelho. E por fim, no instante em que bateu a cabeça, por uma breve fração de segundo a consciência lhe abandonou, deixando um breu total no lugar.

O praticante se surpreendeu ainda mais com o poder de sua oponente. Não esperava que alguém no Reino Espirituoso pudesse deixá-lo em uma situação tão desfavorável. Tudo isso foi bastante chocante para ele, mas antes de pensar em possíveis causas, precisava se recompor.

No entanto, quando ele tentou se levantar, Xiao Ah-kum caiu de repente sobre seu corpo e com os dois pés, imobilizou suas mãos. Em seguida, sentou-se sobre seu peito e sorriu.

― Eu pensei que existia uma diferença ― provocou.

― Que técnica é essa? ― indagou Coo, frustrado.

― Gostou? Foi meu pai que me deu! ― A 2ª Anciã podia ter um comportamento excêntrico e um tanto selvagem para uma mulher em sua posição. Contudo, sua verdadeira brutalidade só foi revelada após tais palavras serem ditas.

Num rompante de fúria animalesca, ela começou a esmurrar o rosto do adversário. O chão tremia a cada soco e toda vez que seu braço era erguido, o Soberano afundava um pouco mais. A violência foi acompanhada por um som seco e terrível de carne sendo golpeada de novo e de novo.

Após duas dezenas de golpes, esguichos de sangue se juntaram à crueldade de Xiao Ah-kum. Suas mãos foram impregnadas pelo vermelho do inimigo e o odor nauseante do ferro invadiu suas narinas, mas ela não parou. Um dente foi arrancado, depois outro e outro, porém o pobre invasor sequer pôde cuspi-los. Foi forçado a engoli-los junto à dor excruciante que deformou seu rosto, deixando-o tão miserável quanto os mendigos da capital que rolam na própria urina.

Coo tentou desesperadamente se libertar. Usou sua força máxima para arrancar o peso pressionando seu peito. Mas a Anciã possuía uma força espantosa, o que fez de suas tentativas inúteis.

Encurralado e desesperado, ele tomou a decisão de fazer algo que deveria ser evitado a qualquer custo numa batalha. Porém, no momento, essa era sua única alternativa.

O poderoso praticante reuniu toda a sua Energia Espiritual e a liberou de uma só vez, provocando uma onda destrutiva que varreu tudo dentro de um raio de cinquenta metros.

A explosão repentina de Energia não foi o bastante para dizimá-la, mas Xiao Ah-kum foi jogada como uma simples boneca de pano, batendo e destruindo tudo que havia no caminho.

Com o rosto inchado, faltando alguns dentes e a roupa elegante arruinada, Coo se ergueu às pressas e correu na direção contrária da mulher. Contudo, antes que pudesse chegar muito longe, ela se levantou.

A implacável Anciã dos Xiaos não tinha conseguido sair impune da explosão de Energia Espiritual. O sangramento em seu rosto havia aumentado devido a um novo corte, o que a deixou com um aspecto pavoroso. Seu braço esquerdo estava quebrado, assim como três dedos, algumas costelas, além de outras contusões graves. Contudo, seu sorriso se mantinha, pois apesar dos problemas, sentia-se genuinamente feliz.

Ei! ― rugiu como uma besta selvagem cuja voz áspera carrega o símbolo de um predador. ― Você descobriu o significado de “Escarlate”. Quer saber o porquê de “Caçadora”?

Não era o tipo de pergunta que se espera uma resposta. Xiao Ah-kum chutou o chão e disparou. Coo sequer teve a chance de se preparar, pois quando percebeu já tinha sido alcançado. Ela agarrou seu longo rabo de cavalo, impedindo-o de continuar fugindo, e enrolou na mão direita igual a uma corda.

― Eu nunca deixo uma presa escapar! ― completou com um tom malicioso.

Sem dar a chance de seu inimigo se defender, Ah-kum ergueu a perna e chutou usando a canela. O golpe atingiu as costas do Soberano, na região da lombar. Coo dobrou de uma maneira que seu corpo não estava preparado para dobrar, houve um estalo pavoroso semelhante à quando um garoto travesso leva uma surra de bambu, suas pernas foram arrancadas do chão e ele saiu tropeçando e rolando.

A impiedosa Caçadora Escarlate olhou para a mão direita e percebeu que o rabo de cavalo continuava enrolado nela. Então, jogou a mecha de lado e rumou de encontro ao adversário.

Coo estava sendo afetado por uma dor extrema, mas quando notou que a mulher tentava se aproximar, ele se desesperou e começou a se arrastar pelo chão feito um animal ferido.

― Fica longe! Não se aproxima! ― esganiçou em um tom de súplica. Porém sua aflição apenas aumentou o sorriso da Anciã.

A essa altura o Soberano já havia percebido que estava mais do que encurralado: era uma presa esperando pelo abate. Precisava sair dali, precisava fugir, pois sabia que aquela mulher não demonstraria misericórdia. Foi nesse ponto que tirou um objeto de dentro de uma Bolsa de Armazenamento.

Tratava-se de um disco dividido em dez anéis, um dentro do outro. Era uma peça simples, um pedaço de metal sem adornos, detalhes ou desenhos. Contudo, quando Coo colocou suas mãos nele e se concentrou, os anéis começaram a girar em tempos diferentes. Foi uma mudança vagarosa a princípio, mas em poucos instantes eles passaram a rodar em alta velocidade enquanto emitia um zumbido agudo.

Quando percebeu que algo estava acontecendo, Ah-kum parou e estreitou os olhos. Ficou bastante curiosa com o surgimento do objeto. Seria ele o trunfo do moribundo?

― Interessante! ― grunhiu. ― Vamos ver o que este Artefato pode fazer.

Ela fechou a mão direita, que apesar de não estar quebrada achava-se bastante machucada, e avançou a passos largos na direção do inimigo. Estava pronta para agarrá-lo de novo e quebrar o resto de sua cara.

Mas então, um lampejo cegante irradiou do Artefato Mágico, obrigando a 2ª Anciã a cobrir os olhos. Quando ela voltou a abri-los, Coo havia desaparecido, assim como qualquer rastro de sua Energia Espiritual. Porém, desta vez, Xiao Dong não tinha nada a ver com o ocorrido.

 


Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.

 


Página do Facebook

Fique por dentro de lançamentos, conheça curiosidades, saiba em primeira mão sobre novas histórias e interaja comigo quando quiser, a qualquer hora, além de muitas outras coisas.

Instagram

Se preferir, me siga pelo instagram, onde estarei postando ilustrações, curiosidades, novidades e muito mais.

O Condenado

Leia minha outra novel!



Comentários