Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.

Revisão: Dante


Volume 1

Capítulo 75: Presentes

― Presentes? O Gege trouxe presentes para mim? O que é? ― Parecendo animada, Xiao Shui abriu um largo sorriso, conforme seus olhos brilhavam cobiçosos. Não gostava do fato de seu irmão estar sempre tão longe e raramente vir visitá-la, mas adorava as lembranças que ele trazia quando retornava para casa.

― Trouxe algo para mim também? ― brincou Xiao Ning, dando um sorriso desavergonhado.

A despeito da cara feia exprimida por Shui, Xiao Chan encarou a brincadeira com um implacável bom-humor e respondeu:

― Tenho certeza que podemos encontrar algo de seu agrado. Possuo algumas Ervas Espirituais comigo que talvez você se interesse.

Ao ouvir a última parte, Ning ficou ansioso para descobrir quais regalias ele estava trazendo de sua viagem.

Antes de apresentar os presentes, Xiao Chan começou se justificando.

― Coloquei as mãos em algumas coisas que podem te ajudar em seu cultivo, mas infelizmente cheguei muito tarde. ― disse olhando para a irmã, lamentando pelo atraso. ― Mesmo assim, serão muito úteis em seu futuro. ― E de dentro da Bolsa de Armazenamento que segurava, um punhado de folhas de aparência peculiar saltaram para a sua mão livre.

As folhas possuíam um aspecto ressecado e quebradiço, indicando terem sido coletadas há algum tempo. A lâmina dispunha de apenas alguns centímetros de comprimento e era tão fina que parecia ser possível enxergar através dela. O limbo era pontiagudo e serrilhado, semelhante a pequenos espinhos, de modo que aparentava ser uma tarefa fácil cortar o dedo ao ser descuidado durante a colheita. Sua coloração se mostrava dotada de um amarelo-escuro, com as nervuras marrons, quase vermelhas.

― Essas são Folhas Abrolhadas. Comprei em um mercado local, numa vilazinha ao norte do império, próxima de uma lagoa. ― Xiao Chan apresentou as folhas, repetindo o que havia aprendido durante sua compra. ― Elas devem ser preparadas como um chá. Mergulhe-as na água quente por algum tempo e quando as nervuras começarem a perder o marrom, já está pronto para beber. O chá serve de purificador. Se consumi-lo pouco antes de cultivar, a Energia Espiritual absorvida será mais pura.

Oh, é bem útil. ― comentou Xiao Ning, chegando mais perto para poder ter uma visão melhor. Ele conhecia as Folhas Abrolhadas, pois havia estudado sobre elas em um pergaminho, quando ainda estava no Continente Central, fugindo do caos causado pelo Deus da Desolação. Porém, nunca teve a oportunidade de trabalhar com ela, dado que essa era uma Erva específica da atual região em que estava. ― Se é um chá, o efeito pode ser ainda melhor se feito usando uma água que tenha sido exposta a uma fonte de Energia Espiritual. ― Sugeriu. ― Se quiser, pode pegar uma das Cabaças Amarelas que colhemos na montanha.

Xiao Shui segurou as folhas com muito carinho, tomando cuidado para não quebrá-las e da mesma forma, não cortar os dedos. Não estava em posse de suas Bolsas de Armazenamentos, então teria de segurá-las nas mãos nuas.

Em seguida, seu irmão retirou uma fruta suculenta de dentro de seu Artefato. O fruto era perfeitamente redondo e do tamanho de um punho fechado. A casca detinha uma fisionomia lustrosa, chegando até mesmo a refletir o brilho do sol. Sua cor era marcada por um azul vibrante, algo que lembrava, ainda de maneira vaga, a superfície de um lago cristalino. O pedúnculo continuava cravado no pomo, rasgado na ponta, parecendo ter sido arrancado de qualquer jeito.

Quando viu o fruto sendo sacado, os olhos de Xiao Shui se iluminaram e ela quase deixou as Folhas Abrolhadas caírem no chão. Mesmo o tio Chang ficou impressionado. Adiantou-se um passo e piscou algumas vezes, tendo dificuldade em acreditar nos próprios olhos.

― Pequeno Chan, isso é... isso é um Olho-d’água? ― questionou o 9º Ancião, buscando uma confirmação de suas suspeitas.

Xiao Ning também se mostrou admirado com o segundo objeto tirado pelo irmão mais velho de Shui. Aquela era uma Fruta Espiritual de origem excepcional cujo efeito se provava bastante efetivo em cultivadores iniciantes, podendo até mesmo chamar a atenção de alguns no Reino Espirituoso. E embora existissem muitas outras melhores, precisava reconhecer a proeza de Chan por tê-la encontrado, pois eram difíceis de serem achadas devido ao crescimento lento, podendo levar alguns anos para se desenvolver.

― Isso mesmo, papai. Este é um Olho-d’água. ― confirmou Xiao Chan, gostando de ver as expressões de choque nos rostos dos demais. ― Eu o encontrei durante uma expedição que ocorreu há seis meses, a qual participei junto de um grupo de mercenários que conheci por acaso. Precisei mergulhar em um lago com mais de trinta metros de profundidade. A árvore estava bem em cima de um lençol subterrâneo, submersa até o topo.

No momento seguinte, Xiao Chan contou em detalhes sua aventura para conseguir obter a Fruta Espiritual e se divertiu a cada suspiro e exclamação emitidos por sua irmã e seu pai. Por fim, terminou dizendo:

― Eu soube que essas Frutas aumentam a afinidade com o Elemento da Água e, em ocasiões especiais, são capazes de fazer alguém despertar como um Cultivador Elemental. É sem dúvida, o presente mais valioso que eu trouxe comigo. ― disse, passando o Olho-d’água para Xiao Shui.

Ela recebeu a Fruta Espiritual com todo cuidado, temendo arrancar o pedúnculo, fazendo, assim, o suco interno vazar pelo buraco criado. Tanto é que, era apenas por esse motivo que ele continuava preso no pomo. Precisou entregar as Folhas Abrolhadas ao seu pai, pois não queria correr o risco da borda serrilhada das lâminas romper a casca do valioso presente.

Por um instante, pareceu ficar hipnotizada pelo brilho azul da fruta. Aquilo era dezenas de vezes mais valioso do que qualquer Pílula Espiritual que já havia comprado no passado. No entanto, logo ao recuperar a compostura, estendeu as mãos, devolvendo o fruto, e falou:

― Eu não posso aceitar. Esse Olho-d’água é muito precioso. O Gege que deveria usar, ou vender para comprar algumas Pílulas Médias. ― Xiao Shui tentou devolver a Fruta Espiritual. Não era uma grande conhecedora do mercado e dos preços das coisas, mas sabia que um item tão raro quanto aquele poderia render um valor considerável em um leilão ou com o comprador certo. Para ela, já seria perfeito saber que seu Gege está avançando no cultivo.

― Eu guardei esse fruto por todo esse tempo apenas para dar a você. Não precisa se preocupar comigo. ― Xiao Chan se recusou aceitar o presente de volta. ― Você gosta de usar técnicas do Elemento da Água, não é? Então, aceite.

Xiao Shui não podia negar que adorava estar perto da água. Por alguma razão, sentia-se à vontade estando à beira de um lago, nadando em uma cachoeira ou simplesmente assistindo um riacho seguir seu curso. Talvez fosse algo bobo de sua parte, porém, parecia certo estar próxima da água. Por esse motivo, ela buscou usar tal Elemento em suas técnicas.

Ainda hesitante em aceitar, ela segurou o fruto junto ao corpo por um instante e, logo após, abriu um grande sorriso conforme proferia poucas palavras de agradecimentos:

― Obrigada, Gege! ― Aceitaria o Olho-d’água e o usaria quando as coisas se acalmassem, de preferência, depois do Festival da Geração do Caos. Como foi dito por seu irmão, aquela fruta especial possuía a incrível capacidade de aumentar a afinidade com o Elemento da Água. E em raras ocasiões, poderia proporcionar a uma pessoa a oportunidade de se tornar um Cultivador Elemental. Mas isso só aconteceria quando avançasse para o Reino do Despertar. E apesar de seu cultivo ter progredido bastante nos últimos dias (graças às Pílulas da Borboleta Monarca), deixando-a no ápice da 7ª Camada, Xiao Shui acreditava que ainda faltava muito para conseguir elevar de nível. Afinal, romper a barreira de Reinos é a parte mais difícil em um cultivo.

E por achar que isso não aconteceria tão cedo, decidiu deixar para consumir o fruto quando não estivesse sob tanta pressão.

Quanto a se tornar uma Cultivadora Elemental, ela nunca teve pretensões nesse sentido. Apenas poder se tornar forte e deixar seu pai e seu irmão orgulhosos já era recompensa o suficiente para ela. Contudo, se era para se tornar uma, que seja uma Elemental da água.

Percebendo que a irmã enfim havia aceitado seu presente, Xiao Chan prosseguiu, sacando o terceiro item da Bolsa de Armazenamento. Seja lá o que era aquela coisa, estava embrulhada em um pedaço velho de pano, amarrada com um laço, através de uma corda fina feita de Rami.

Xiao Chan desatou o laço e abriu o embrulho, revelando um punhado de pelotas do tamanho de ervilhas; ali, parecia haver dezenas daquelas sementes, uma quantidade significativamente maior do que as Folhas Abrolhadas.

Quando o conteúdo do embrulho foi exposto, Xiao Ning teve sua imediata atenção roubada. Era evidente que aquelas sementes se tratavam de um derivado de alguma Fruta Espiritual. A Energia exalada por elas era fraca ― detinha uma característica peculiar, de algo inebriante ―, mas, ainda assim, podia ser sentida. Tirando isso, não parecia existir nada de especial nelas.

Porém, o que chamou a atenção dele foi o fato de não reconhecê-las. Não apenas a Energia Espiritual exalada pelas sementes possuíam um traço irreconhecível para Ning, como seu aspecto em geral formava um mistério insolúvel. Jamais havia estudado sobre elas em livros ou sequer visto um desenho mal feito rascunhado em um pergaminho qualquer.

Como fora dito antes, as sementes apresentavam um tamanho quase insignificante, semelhantes a ervilhas. Contudo, sua aparência em geral era de algo endurecido, ressecado e quebradiço, mas um ressecado diferente das Folhas Abrolhadas. Não parecia ser decorrente da deterioração pós-colheita. A primeira impressão era a de terem sido expostas a um processo de ressecamento artificial, pois se notava marcas de queimado em alguns pontos. Entretanto, com um olhar mais atento, percebia-se existir algo a mais.

Curioso devido ao achado, Xiao Ning pegou uma das sementes sem pedir permissão e começou a estudá-la de perto. Não tinha nem mesmo a vaga noção de qual era o seu efeito, mas a primeira coisa que notou foi uma secreção oleosa sendo expelida no instante em que entrou em contato com sua pele. Uma ocorrência estranha, pois seu aspecto externo era de algo seco, desprovido de líquidos gordurosos.

Quando o preguiçoso apanhou um dos grãos sem ao menos pedir permissão, Xiao Shui olhou para ele de cara feia e resmungou um: “Ei!”; tentando chamar sua atenção. Mas foi ignorada, visto que o jovem Alquimista parecia ter se perdido em pensamentos e reflexões.

― Ele parece ter gostado. Deixe-o ficar com ela, ainda tem muitas outras. ― disse Xiao Chan, balançando o embrulho, tentando aliviar a carranca no rosto da irmã.

― Se o Gege não se importa. ― resmungou Xiao Shui, deixando esse assunto de lado. ― Então, o que são essas...

Mas quando estava para perguntar algo, foi interrompida de maneira brusca por Xiao Ning, que falou em um tom emocional:

― Que tipo de sementes são essas? Qual o seu efeito? Onde você as encontrou? ― soltou uma pergunta atrás da outra, buscando elucidar esse mistério que tinha se formado em sua cabeça.

― Essas sementes são chamadas de Isca-de-bobo. Elas pertencem a uma Fruta Espiritual bastante comum no sul do Império Dourado, conhecida como Tóntun. ― Quem começou a responder foi o tio Chang, o qual já havia frequentado aquela região em épocas passadas e conhecia um pouco sobre os grãos e sua origem. ― O que os locais fazem é retirar as sementes e deixá-las secando no sol por algumas semanas. Quando atingem um determinado ponto, elas são tostadas no fogo. O povo daquela área as usam em pescarias.

Xiao Ning ouviu tudo com extrema atenção. E como era de se esperar, essa tal Isca-de-bobo permanecia sendo desconhecida para ele. Nunca tinha ouvido falar sobre seu modo de preparo, embora achasse fascinantes o uso de uma técnica tão rudimentar. Por outro lado, a fruta Tóntun não lhe era estranha. De fato, após descobrir de qual Fruta Espiritual vinham as sementes, começou a notar traços de familiaridade.

A despeito da necessidade de um clima específico para crescer, Tóntun é uma Fruta Espiritual comum, uma das mais fáceis de serem encontradas, podendo até mesmo ser semeada em grande escala. Seu uso é bastante limitado, sendo utilizada, no geral, como uma alternativa ao Cocolum e outros tipos de Ervas Espirituais dotadas de propriedades analgésicas. E apesar de não ser uma das mais efetivas no tratamento de feridas, o fato das folhas também possuírem características anestésicas é uma das coisas que torna a árvore responsável pela germinação da fruta bastante popular na agricultura.

Contudo, ele nunca tinha ouvido falar nas sementes sendo usadas em algo, ainda mais na pescaria.

E a respeito desse assunto, resolveu inquirir:

― Que tipo de uso elas possuem para pescadores?

― Não sei se você sabe, mas Bestas Demoníacas abaixo do Reino Virtuoso tendem a evitar locais com árvores de Tóntun plantadas. ― Xiao Chan deu segmento à explicação do pai. ― Eu comprei essas sementes em uma aldeia costeira. E por lá, a maior complicação deles são as bestas vindas do mar. A sobrevivência dos moradores depende basicamente da pescaria em alto mar, entende? O problema é que, é muito difícil lutar contra essas coisas na água. Então, eles desenvolveram essa técnica muito legal de ressecar as sementes de Tóntun.

Xiao Ning conhecia bem as características das árvores Tóntun. Na realidade, em sua vida passa, ainda no Continente Central, passou algum tempo se abrigando num desses pomares plantados pelo homem, a fim de evitar as Bestas Demoníacas. Ao contrário do que muitos podem pensar, sobreviver enquanto foge de monstros não se trata de saber lutar ou usar grandes habilidades furtivas ― afinal, não existe nenhuma técnica capaz de ocupar por completo a Energia Espiritual de um praticante ― e sim, saber correr rápido e se esconder em lugares apertados, fora do alcance das garras afiadas das bestas.

Se precisasse falar, ele não saberia dizer quantas vezes foi obrigado a fugir, desesperado para sobreviver, ou se enfiar em cavernas e buracos tão apertados que precisou espremer o corpo apenas para conseguir passar pela fenda, enquanto escutava as Bestas Demoníacas do lado de fora, cavando e rugindo, tentando alcançá-lo.

Naquela época, quando descobriu que os monstros mais fracos evitavam os campos Tóntun, após achar um abrigo seguro no meio do pomar, Xiao Ning chegou a conduzir um breve estudo a respeito da singularidade apresentada pela árvore, muito embora, seu conhecimento no tempo em questão fosse medíocre e terminou por não chegar a conclusões significativas.

Ainda assim, esse estudo foi um dos pioneiros que o fez entrar de vez no mundo do Herbalismo. Contudo, a despeito das descobertas pouco relevantes, não entendia como as sementes dessa fruta poderiam ajudar no combate contra Bestas Demoníacas em uma cidade costeira.

― O efeito da Tóntun é mínimo e a Fruta Espiritual e as folhas das árvores só são usadas em casos leves de contusão, algo para amenizar a dor e estabilizar a Energia Espiritual de um cultivador iniciante debilitado. ― avaliou Xiao Ning, querendo entender um pouco mais sobre o assunto. ― Não vejo como as sementes podem ajudar contra as Bestas Demoníacas, mesmo aquelas abaixo do Reino Virtuoso.

― Acontece que aquela aldeia desenvolveu um método de torrar as sementes, as quais, de alguma forma, após estarem prontas, produzem um efeito atordoante nos monstros de baixo nível. ― O tio Chang retomou a explicação. ― Não sei como eles fazem, mas, uma vez torrados, esses grãos podem derrubar uma Besta Demoníaca por horas e até, dias, dependendo de quantas ingerirem. São extremamente eficientes.

― É algo que eles usam por lá há gerações. ― Xiao Chan assumiu o controle da narração. ― Os pescadores colocam as sementes no meio das iscas e cevam o lugar que pretendem pescar um dia antes. Quando a manhã do dia seguinte chega, as bestas que comeram os grãos ficam boiando na superfície e algumas são levadas pela correnteza. Graças a isso, eles não apenas conseguem pescar com mais segurança, como também adquirem algumas coisas muito boas para vender. Ah, você precisa ver! Eu tive a oportunidade de participar de uma dessas pescarias e é incrível! ― acrescentou, em um tom de nostalgia. ― Elas não têm efeito em humanos e animais comuns, então, mesmo se os peixes comerem, não fará mal.

Ouvindo até aqui, Xiao Ning não pôde evitar de se admirar. Esse conjunto de informações lançou uma luz esplêndida de esclarecimento em sua mente. E ao mesmo tempo, despertou diversas dúvidas as quais jamais imaginou ter.

Em sua cabeça, ficou se perguntando se a torra das sementes fazia aflorar alguma propriedade especial, algo semelhante ao que acontecia com diversos grãos, raízes, entre outras coisas comestíveis. Talvez, o óleo que sentiu ao pegar uma das sementes na mão fosse o resultado do ato de tostar, ou, quem sabe, tratava-se de um efeito provocado pela exposição prolongada ao sol.

Ah, havia tanta coisa para se pensar. Será que o motivo pelo qual as Bestas Demoníacas não se aproximam de locais em que existem Tóntuns seja na verdade por causa das sementes e não uma característica da árvore? Xiao Ning sempre imaginou ser algo causado por algum tipo de energia exalada pela árvore ― afinal, era ela quem dava origem à Fruta Espiritual ―, mas, talvez, não fosse o caso. E, por que as sementes não surtem efeitos em humanos ou outros animais? Da mesma maneira, seria a torra dos grãos um modo de disfarçar o odor, tornando assim, mais fácil de ludibriar o faro dos monstros? Ou, quem sabe, exista outro objetivo por trás do processo?

Sem perceber, Xiao Ning entrou em um frenesi de especulações, seguido por deduções superficiais. Se desejasse saber mais sobre o tema, precisaria dar início a um novo estudo, focado na Tóntun e suas propriedades. Mas, desta vez, estaria munido de um alto e refinado conhecimento de Herbalismo. Talvez, pudesse fazer novas descobertas e até mesmo criar uma nova Composição Alquímica.

Ah, como ele estava feliz de ter voltado a vida. E mais feliz ainda em ter decidido permanecer no Continente Central por algum tempo. Teria a oportunidade de estudar um assunto fascinante do qual não pensava existir. Diante desse fato, não podia deixar de imaginar: quantas outras coisas permaneciam sendo um mistério para ele? Quantas Ervas e Frutas Espirituais mantinham-se desconhecidas? Mesmo após cinco mil anos, não parava de se surpreender.

Pensando até esse ponto, ele acabou se lembrando de que essa não era a primeira vez que encontrava uma Erva Espiritual ou algo parecido que despertou seu interesse.

Embora tenha achado algumas Ervas e Frutas Espirituais estranhas durante sua ida à Montanha Ancestral de Jade junto de Xiao Shui para colher alguns ingredientes necessários para fazer mais Pílulas da Borboleta Monarca e o Suco de Bútu, teve uma em especial que chamou sua atenção: a Besta de Áster.

Naquele tempo, ele se mostrou bastante interessado em iniciar uma pesquisa aprofundada tendo como objetivo entender melhor o funcionamento da Besta de Áster e chegou a cogitar passar no Pavilhão dos Aprendizes para estudar um pouco sobre essa e outras Ervas Espirituais locais. Entretanto, devido a tudo o que aconteceu, acabou deixando o assunto de lado.

Talvez, agora que tinha encontrado outra peculiaridade, seria um bom momento para voltar a pensar no tema e dar início a uma pesquisa mais ampla.

― Como eu disse antes, essas sementes se chamam Iscas-de-bobo. Eu pensei em trazer algumas delas para você, já que tem andado caçando monstros na Floresta das Mil Perdições. ― anunciou Xiao Chan, olhando para a irmã. ― Se armar algumas armadilhas usando elas de isca, poderá obter boas capturas sem se expor ao perigo.

Xiao Shui já ia estender a mão para pegar o embrulho contendo as Iscas-de-bobo, quando de repente foi interrompida por seu pai.

― Fico contente que tenha pensado em sua irmã, mas ela não irá voltar sozinha à Floresta das Mil Predições. Não até ter avançado para o Reino do Despertar. ― enfatizou o tio Chang, adiantando-se e confiscando as Iscas.

― Mas pai... ― Xiao Shui tentou protestar. Afinal, aquele era um presente para ela. Porém, de novo, foi interrompida de maneira ríspida.

― Você é muito imprudente. ― ralhou o tio Chang, aproveitando o momento para dar uma bronca na filha. ― Se eu a deixar com isso, acabará se matando. Poderá tê-las de volta quando aumentar de nível e aprender a ser mais responsável.

Xiao Chan esboçou um sorriso sem graça ao ver a expressão de decepção da irmã. Seu pai continuava sendo rígido quanto à segurança dos filhos. Quando ainda estava no Reino Mundano, também era proibido de fazer um monte de coisas e sempre que desobedecia, acabava ficando de castigo por várias semanas.

Entreouvindo as recusas do tio, Xiao Ning, que viu nisso uma oportunidade para se beneficiar, abriu a boca, falando em um tom agitado. Parecia estar muito empolgado com algo.

― Se o tio Chang vai tomar as sementes para si, poderia me dar algumas delas? ― pediu, fitando-o com olhos cobiçosos. ― A pequena Shui não vai se importar, não é mesmo? Dez já irão servir, por enquanto.

― Eu não vou tomá-las para mim. Apenas guardarei até Xiao Shui se tornar mais forte. ― explicou o 9º Ancião, surpreso com a agitação repentina do afilhado.

― Mas ela não vai se importar se eu pegar algumas, não é mesmo, pequena Shui? Não é? ― virou-se para encará-la, quase implorando. ― Eu tentarei fazer uma nova Composição Alquímica e quando tiver mais Pílulas da Borboleta Monarca, prometo que a compensarei.

― Bem, se o Gege não se importar, você pode pegar algumas. ― disse Xiao Shui. Não adiantava ficar guardando algo que não podia usar. ― Mas só dez.

― Eu não me importo. Esse fica sendo seu presente. ― brincou Xiao Chan, dando sua permissão.

Recebendo autorização para pegar algumas das Iscas-de-bobo, Xiao Ning não perdeu tempo e foi logo pegando dez delas. Em seguida, sem sequer se despedir, ele saiu apressado em direção a câmara em que estava suas coisas. Começaria a estudar as propriedades do estranho achado neste instante e aproveitaria para rever a Besta de Áster, há tanto esquecida em sua Bolsa de Armazenamento. E, quem sabe, mais tarde, faria uma visita ao Pavilhão dos Aprendizes.

Depois que Ning saiu, o último presente trazido por Xiao Chan foi apresentado. Esse não possuía nenhuma característica especial como os outros. Era um simples vestido, mas os olhos de Xiao Shui se iluminaram ao vê-lo. Ela iria usá-lo na primeira oportunidade que tivesse.

 


Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.

 


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