Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 2

Capítulo 168: Perdido na floresta

Gente, eu mudei o nome do Reino Amêi, para Reino da Lua Verde, tudo bem. A partir de agora, esse será o nome oficial do reino para o qual Ning está indo.

Enfim, Boa leitura!



Naquela noite, Xu Xia, que antes estava perdida, ficou bastante agitada, planejando o próprio futuro. De repente era como se uma lista enorme de possibilidades tivesse aparecido em sua frente e pudesse escolher o quisesse. Outra coisa que a deixou ocupada foi a preparação mental para a viagem que faria.

Por não fazer parte do grupo naquele momento, não encarou com seriedade os avisos de que o reino que visitaria poderia ser perigoso. Mas agora as coisas tinham mudado e ela precisava estar pronta para o desafio, independente de qual fosse.

Seja como for, a noite que antecedeu a longa jornada para fora do império foi bastante diferente para cada um. Enquanto os mais despreocupados tiveram um sono tranquilo, os mais ansiosos não conseguiram fechar os olhos. Foi o caso do 5

º Ancião que passou a noite em seu quarto andando de um lado para o outro.

Para os que conseguiram descansar, a manhã seguinte foi repleta de empolgação. Xiao Ning e Chan acordaram tão animados que, sozinhos, devoraram metade do café da manhã servido pelos moradores da vila. Em contrapartida, Shui possuía uma expressão azeda que era usada para encarar quem fazia barulhos desnecessários.

Por mais dividido que o grupo estivesse, entre a animação e a preocupação, eles não tiveram muito tempo para aproveitar o desjejum. Para Masao e sua comitiva, que desejavam retornar o quanto antes para o lugar de origem, era desvantajoso esperar desnecessariamente. Assim sendo, o bando chegou na vila muito cedo.

Entretanto, eles não tiveram permissão para entrar nas dependências da Seita Ebúrnea e foram obrigados a esperar em frente ao portão principal. Uma medida que foi ordenada pela própria Santa Mística.

Quando recebeu a notícia de que a caravana que os levariam havia chegado, Xiao Ning, o mais animado de todos, logo tratou de correr para a porta, pronto para partir, enquanto apressava os demais. Xu Xia ainda estava muito nervosa e, talvez, por isso logo tratou de acompanhá-lo. Por outro lado, Chan preferiu aguardar a irmã que estava emotiva, já que não voltaria a vê-lo por um longo tempo. Os irmãos se separariam ali e, se fosse como da última vez, levaria um ano ou mais para voltar a se encontrar.

Mesmo sabendo que isso iria acontecer, ter que se separar de novo não foi fácil para a irmã mais nova. Pelo menos não foi como da primeira vez, em que chorou e passou a semana anterior fazendo chantagens.

Quando o grupo terminou de se juntar no hall da casa em que ficaram hospedados, a Grã-chanceler apareceu, atrasando a partida do bando.

― Ainda bem que eu cheguei a tempo! ― disse ela, parecendo um tanto aliviada por ver que todos estavam reunidos ali.

― A senhorita tinha saído? ― perguntou Xu Xia, que ficou intrigada ao ver a postura agitada da mulher.

― Bem ― lançou um olhar julgador para o preguiçoso ―, desde que Ning revelou ser um Grã-alquimista, as coisas têm andado um tanto quanto agitadas. Por falar nisso, Noah lamenta por não poder estar aqui, mas ele teve que ir cedo para uma reunião.

― Não tem problema ― afirmou Shui, apesar de ficar um pouco decepcionada.

― Enfim... vocês vão mesmo seguir em frente com isso? ― Heloísa olhou bem para os rostos dos aventureiros e ao perceber que a hesitação neles era quase inexistente, continuou: ― Se é assim, sou obrigada a dizer outra vez para terem cuidado. Eu tomei a liberdade de entrar em contato com alguns aliados e eles me garantiram que deixarão um barco à espera de vocês caso algo dê errado.

― Uma rota de fuga? ― indagou Ning, surpreso com a rapidez da Santa Mística em planejar as coisas.

Heloísa exibiu um sorriso singelo para o Grã-alquimista antes de acrescentar:

― Quando vocês chegarem ao Reino da Lua Verde, haverá um barco chamado Mahina com o desenho de uma lua na lateral ancorado no cais local. Esse é um barco de pesca, mas se entregarem isto ao capitão ― ela esticou o braço e mostrou um medalhão de marfim que possuía o emblema da Seita Ebúrnea estampado em uma das faces ―, ele irá trazê-los de volta para o império em segurança.

O 5º Ancião ameaçou pegar o objeto, já que era o líder de toda a expedição. Porém, Ning foi mais rápido e agarrou o item.

― É só entregar isso? ― questionou o folgado, estudando o objeto.

― Exato. O capitão reconhecerá o emblema. ― Heloísa estava confiante quanto a esse respeito. ― De novo, por favor, tenham cuidado. ― Sua voz expressava uma apreensão legítima. Contudo, se eles haviam escolhido esse caminho, não existia muito que pudesse fazer para impedi-los. ― Agora, eu lamento por isso, mas tenho uma reunião e não poderei acompanhá-los até a saída.

Ela se preparou para partir, mas de repente se lembrou:

Ah! Ning. Os livros e pergaminhos que você me pediu, já estão prontos. As coisas estão tão agitadas que eu quase me esqueci ― mostrou um sorriso sem graça. ― Vou pedir para alguém trazer...

― Na verdade ― o preguiçoso a interrompeu ―, não tem problemas eles ficarem por aqui, por enquanto. Eu os pego quando voltar. Se levar eles agora, não vou conseguir aproveitar as férias.

― Não são férias. É trabalho ― Shui logo tratou de corrigi-lo. E Ning achou melhor ficar quieto.

― Já que é assim ― continuou a Grã-chanceler ―, irei guardá-los para você. E também irei aproveitar esse tempo para ter certeza de que não deixei nenhum exemplar passar. Ah! E Xiao Chan, sua carona vai sair à tarde. Logo depois do horário do almoço. Esteja pronto até lá. ― Ao terminar de dizer isso, ela se virou e saiu.

Após a Santa Mística partir, o grupo não perdeu mais tempo e logo tratou de caminhar até a saída. Chegando lá, eles se depararam com uma caravana expressiva formada por cinco carruagens que os esperavam para deixar a capital.

Masao, que aguardava do lado de fora da vila, recebeu seus convidados com um enorme sorriso. Era evidente que estava muito feliz por Ning ter aceitado ajudar não a ele, mas a seu líder. Entretanto, apesar de alegre, o comandante também tinha pressa em voltar para sua terra natal e completar seu dever. Por isso, apresentou brevemente o grupo que os acompanharia até o porto de Falésia que, em resumo, tratava-se de alguns homens que o seguiram ao longo da viagem até aqui e agora fariam parte da segurança na volta.

Após informar isso, ele informou qual seria a carruagem usada pelos convidados. E para a surpresa de Ning e os demais, o veículo, puxado por quatro cavalos, era grande o suficiente para abrigar dez pessoas ou mais e ainda sobrar espaço para esticar as pernas.

A partir desse ponto, Masao reforçou a pressa para partirem e voltou para o lugar em que viajaria junto de seus companheiros, deixando, assim, que os convidados se despedissem.

Apesar de desejar acompanhá-los, devido às suas obrigações, Chan era o único ficando para trás. A despedida entre ele e o amigo foi breve e com palavras de que se encontrariam outro dia. Já Xiao Qiao, por causa a sua posição no bando, se limitou a desejar “boa sorte”, a resposta mais madura. E Xu Xia, que não dispunha de tanta intimidade, meramente disse: “tchau”.

Como já era de se esperar, a separação mais difícil veio da irmã mais nova que, confrontada pela inevitável partida, abraçou fortemente o irmão e lutou para não chorar. Para ela, foi muito complicado deixar o pai para trás, mas ter a companhia de seu querido Gege facilitou a vinda até a capital. Porém, a partir desse momento, estaria sozinha e isso fazia seu coração sofrer.

Enquanto abraçava seu irmão com toda a força, relutante em soltá-lo, ela murmurava:

― Promete que você não vai mais brigar com os discípulos da Família Imperial, tudo bem? E que não vai mais viajar para lugares perigosos. E sempre que tiver férias, vai voltar para casa.

Xiao Chan se viu obrigado a fazer diversas promessas para que a irmã enfim o soltasse. E quando ela finalmente o fez, correu para dentro da carruagem, pois tinha medo de que se hesitasse, desistiria de partir.

Deixado sozinho em frente a vila dos Eburneanos, o filho mais velho do 9º Ancião Chang acenou para a caravana que teria uma longa jornada atravessando outra parte do Império Dourado. Daquele ponto em diante, demoraria muito tempo para que Ning e os demais retornassem.

***

Enquanto isso, longe da capital, Reluzente, em um canto qualquer da grande Floresta das Mil Perdições, um jovem de expressão desleixada, cabelo curto e olhos escuros, podia ser visto escondido atrás da raiz de uma árvore gigante que saltou para fora da terra, pois brigar por espaço na parte de baixo era complicado.

O jovem de dezessete anos estava encolhido e tremendo, tentando da melhor maneira possível se manter “invisível”. Seu coração batia rápido, mas, mesmo assim, sua respiração se mantinha controlada. Sabia que se fizesse qualquer barulho desnecessário esse seria o seu fim, já que ali perto havia uma criatura aterradora.

Qin Ping, um praticante da 7ª Camada do Reino Mundano e único neto da Matriarca Annchi, estava se escondendo de uma criatura que lembrava uma mutação entre um esquilo raivoso com orelhas de raposa e cauda de escorpião. A coisa, que já se encontrava na 2ª Camada do Reino Virtuoso, dispunha de uma audição fantástica. Porém seus olhos eram tão medíocres que mesmo em dias ensolarados não conseguia enxergar dois metros à sua frente. E para a sorte do rapaz usando chinelos de borracha e, o que parecia ser, um pijama velho de listras verdes, o monstro era ainda pior em identificar presas através do Sentido Espiritual.

Percebendo que a criatura ainda não tinha se afastado, ele continuou deitado, mantendo-se tão imóvel quanto uma estátua esculpida em mármore. O jovem bem-apessoado, de cabelo espetado para os lados, permaneceu deitado ao lado da raiz por um longo tempo, tomando o maior cuidado para não respirar alto demais e acabar sendo descoberto.

Para sua infelicidade, a besta, que estava vagando pelo local, não teve pressa em deixar a área. E isso o obrigou a ficar na mesma posição, sendo picado por formigas e outros insetos que preferia não pensar, por dezenas de minutos. E apenas quando uma dupla de pássaros escandalosos passou brigando que a coisa seguiu outro rumo e disparou floresta à dentro.

Quando se levantou, repleto de pequenos caroços, Qin Ping, que não conseguia parar de se coçar, seguiu na direção contrária do monstro. Tropeçando em cada buraco que passava e não podendo aproveitar de sua velocidade máxima devido à falta de adesão do chinelo, ele corria de uma maneira desengonçada à medida que reclamava sem parar.

― Não acredito que aquela bruxa velha me jogou aqui enquanto eu dormia. Nunca mais falo com ela. Mas onde eu estou?

Já fazia mais de duas semanas que ele havia acordado sozinho no meio da floresta. Desde então, corria de um lado para o outro, tentando se orientar e encontrar o caminho para casa. O problema é que não sabia diferenciar o norte do sul muito bem ― faltou a essas aulas ― e toda vez que tentava subir em uma árvore, alguma coisa aparecia para atrapalhá-lo.

Qin Ping estava tão perdido que não tinha a menor esperança de voltar para casa ainda naquele dia ou semana.

Ao mesmo tempo, na cidade da fronteira do Caos, uma grande comoção tomava conta do lugar, afetando não apenas os cidadãos, mas também os integrantes das quatro Famílias. Contudo, é claro, o que motivava a agitação desses grupos era diferente.

Para o povo local, cuja principal fonte de entretenimento era sempre trazida pelas organizações que comandavam a região isolada, a iminente batalha entre um renomado forasteiro e um gênio em ascensão dos Xu era motivo de especulações e apostas clandestinas que ganhava força em certas regiões afastadas da cidade.

O desafio proposto pelo originário de outra região estava ganhando notoriedade a cada dia que passava. A maior prova disso era que, apesar de fazer mais de três semanas desde o Festival da Geração do Caos, o palco montado para as batalhas continuava no lugar, a despeito de todo o resto ter sido desmontado.

O Lorde da Cidade tinha dado a ordem para que todas as estruturas fossem desmontadas, afinal isso poderia atrapalhar o trânsito uma vez que o evento chegasse ao fim. Mas por insistência do povo, que ao ficar sabendo do desafio pediu para serem testemunhas do ocorrido, e da própria Família Xu, o palco foi mantido até o dia do duelo.

Pelas ruas, as pessoas andavam comentando e especulando sobre o que esperar. A maioria acreditava em uma grande exibição, enquanto outra parte havia desistido de qualquer esperança de surpresa.

― Eu ouvi dizer que esse tal de Cidi nunca foi derrotado ― comentou um homem sentado em frente a uma barraca de comida, segurando um espeto de carne assada.

― Nada! Isso é mentira ― afirmou o vendedor conforme raspava a chapa incandescente com uma espátula. ― Se fosse verdade, já seria parte de uma grande Seita. Mas fiquei sabendo que ele já enfrentou um Espirituoso e por pouco não ganhou.

Em outro canto da cidade.

― É verdade que depois de subir para a 2ª Camada do Reino Virtuoso ele derrotou sozinho uma horda de Bestas Demoníacas? ― perguntou uma mulher de cabelo grisalho que estava assistindo a amiga varrer a calçada em frente a própria casa.

― A gente está precisando de alguém assim por aqui ― respondeu a outra. ― Foi muito trágico o que aconteceu no final do ano passado. Só espero que Xu Jong fique bem.

Os incríveis feitos do desafiante que até outro dia era desconhecido estavam se espalhando pela cidade mais rápido do que brasa em palha. Em poucos dias todos ficaram sabendo quem ele era e suas principais realizações. Seu nome ganhou notoriedade em meio a boatos extraordinários e à medida que as fábulas cresciam, o povo ficou mais e mais ansioso para conhecer suas incríveis habilidades.

Entretanto, apesar de estarem curiosos para saber o resultado do confronto entre o praticante Virtuoso e o campeão do Festival da Geração do Caos, o que motivava a agitação das Famílias era outra questão de extrema importância. No próximo mês acontecerá a tão aguardada colheita de Ervas Espirituais na Montanha Ancestral de Jade, que só podia ser realizada uma vez por ano.

Todos estavam se preparando da melhor maneira para que quando chegasse o momento pudessem tirar o máximo de proveito da situação que, muitas vezes, era responsável por grande parte da renda anual da organização.

Esse momento possuía tamanha importância para a cidade que mesmo outras Seitas e Famílias estavam se movendo, preparando ofertas generosas e propostas tentadoras.

De uma coisa as organizações do grande Império Dourado sabiam: nos próximos dias, o mercado será invadido pelas mais diversas Ervas Espirituais que serão amplamente disputadas por aqueles que desejam aumentar de poder.

 


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Marcelo Kuchar

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