Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 80: A compradora poker face.

“Lembre-se de deixar a coronha sempre apoiada em seu ombro, se você apertar o gatilho e ela disparar, vai levar um tremendo coice!” Tyler alertou Calie que estava tentando atirar.

“É pesada...” Calie falou quando tentava se alinhar na posição que Tyler tinha lhe ensinado antes.

“Ela é um pouco, mas se você quiser aprender a atirar eu posso te mostrar vários outros modelos mais leves.” Ele disse.

“Esse gatilho é duro.” Ela reclamou.

“Claro, isso evita disparos acidentais, só as de competição tem gatilhos leves. No geral, a força necessária para mover um gatilho é de 5kg.” Tyler explicou.

“Tanto assim?” Calie ficou surpresa.

“Sim. Agora se concentre no alvo, vá puxando devagar o gatilho até o fim...”

 

Tahh… O estampido seco soou.

 

“Então?” Tyler quis saber.

“Meu ombro está doendo.” Calie confessou.

“Eu disse para apoiar firme.” Tyler riu.

“Sabe, o barulho é diferente.” Calie falou.

“Diferente?”

“Sim, nos filmes soa diferente.”

“Ah, sim. Às vezes o som real pode não ser tão sonoro em um filme então eles alteram, a AK tem um som mais seco, parece como dois pedaços de madeira se chocando.” Ele explicou.

“E por que é diferente?”

“Muitos fatores diferentes, tem o calibre, a pólvora, o tanto de pólvora, mas o principal é isso.” Tyler apontou para a saída do cano. “Isso se chama abafador, cada arma tem um, ele é responsável por direcionar os gases na saída. Porém suas funções vão muito além disso, ele muda o som do disparo, reduz a intensidade do som, dá luz e diminui muito o recuo que o atirador sente.”

“São tantas coisas, e por que essa parte aqui é em madeira?” Calie apontou para o pega-mão na frente do carregador.

“Isso vem desde o modelo original, é em madeira pois quando se dispara muitas vezes em uma batalha, é inevitável que o cano esquente. A madeira serve para isolar o calor.”

“Sabe se tem alguém produzindo RPG?” Tyler perguntou para Herman.

“Nós produzimos por um tempo, mas como o mercado não estava recebendo muito bem, decidimos parar a produção e nos concentrarmos apenas nos fuzis.” Ele explicou.

“O mercado não estava recebendo bem, tinham problemas na qualidade?” Tyler quis saber.

“Não, volume de vendas mesmo, não tínhamos saída para o estrangeiro e só o mercado nacional não compensava, mas ainda temos a licença de produção para mais 10 anos.” Herman disse.

“E as munições?” Tyler quis saber.

“Fazíamos em parceria com a Fox Army.”

“E se eu quiser um lote de 5.000 unidades?” Tyler sondou.

Tyler tinha pesquisado com os garotos para trazerem essas armas do exterior, embora elas fossem mais baratas lá, no final das contas não compensa. Tinha o transporte, a papelada falsa, suborno, propina e tudo isso ainda correndo risco de ter a polícia nas costas toda hora.

Essas 5.000 mil unidades seriam muito mais que o suficiente para manter as forças armadas de Atlantis por muitos anos, um RPG desses custaria algo em torno de 600 dólares. E a munição entre 20 e 50 dólares, depende muito da carga de cada uma.

“Senhor Newman, temos uns 400 guardados nos nossos estoques, mas se o senhor quiser. Podemos começar a fazer assim que o pedido for concluido.”

“Então vamos fazer o pedido!” Tyler sorriu.

Tyler e Herman estavam tomando um café no escritório enquanto Calie suava frio lendo a papelada.

5.000 unidades de RPG-7 a 600 dólares cada é igual a 3 milhões e 30.000 AK-47 a 450 dólares cada é igual a 13.5 milhões. Total da compra é 16.5 milhões.

“Está bem senhorita?” Herman perguntou para Calie que tinha uma expressão complicada no rosto.

“Não se preocupe, ela deve estar calculando a comissão.” Tyler brincou.

Herman riu e Calie também, porém a cara dela era de nervosismo. Teoricamente ela não tinha capacidade nem de ser caixa de supermercado, e agora estava fazendo os cálculos de uma compra de milhões.

‘Será que se eu errar ele vai descontar do meu salário?’

‘Quanto tempo eu vou trabalhar de graça se errar?’

‘Saí de uma dívida para entrar em outra!’

‘Se eu sair correndo posso escapar?’

‘Quanto custa viver no México?’

‘Será que consigo fugir com Mel antes que me peguem?’

Calie estava tão apavorada que não conseguia pensar direito.

“Calie, seja uma boa moça e assine os papéis para o homem ter um natal antecipado.” Tyler falou.

“Mas esse valor?” Calie disse com a voz estranha.

“Achou alto?” Herman perguntou.

Calie balançou a cabeça, mas não disse nada.

“Certo, se o pagamento for à vista eu posso tirar 8% Herman cedeu.”

“Hã?!” Nem de longe era o que Calie estava pretendendo fazer.

Como sua expressão facial era uma mistura sinistra de medo e surpresa, Herman não conseguiu identificar direito e falou novamente. “Certo, eu diminuo para 10%, se me pagarem 30% agora e o resto quando forem recebendo as mercadorias.”

Calie virou o rosto para Tyler em busca de ajuda, e encontrou um sorriso sínico. “Pague o homem Calie, se pedir mais desconto era melhor ele fazer de graça.” Tyler brincou.

“Certo...” Ela assentiu.

Embora aparentemente ela tenha se saído muito bem em seu primeiro dia, só Deus sabia como ela estava tensa por dentro.

“Senhores, caso não se importam, eu vou ao toalete.” Calie anunciou e saiu do escritório.

Ao contrário do que as pessoas pensavam, ela saiu para poder chorar. Sabe aquele nervosismo que dá na pessoa e ela nem sabe se ri, chora ou tem uma dor de barriga? Pois é; Calie teve tudo isso ao mesmo tempo.

“Ela é duro na queda!” Herman brincou aliviado depois que Calie saiu após ter assinado os papéis de compra e depositando o dinheiro na conta da empresa.

“E muito, se engana quem pensa que ela é apenas um rostinho bonito.” Tyler brincou.

“Da próxima vez mande outra pessoa, minhas finanças não aguentam negociar com ela.”

“E as minhas só vivem com ela no comando.” Tyler mentiu.

Depois de algumas brincadeiras Tyler e Calie voltaram para Houston de jatinho.

“Eu estava apavorada! Como me deixou fechar um negócio desse tamanho sozinha?” Calie não resistiu e chorou na frente de Tyler.

“Você parecia tão bem com aquela cara de enjoo!” Tyler riu alto.

“Eu pensei que ia morrer!” Calie gritou antes de jogar uma almofada na cara dele.

“Estava tão preocupada por quê? O dinheiro nem era seu.”

“Eu nunca mexi com tanto dinheiro, sabia que naquele dia no hospital eu só tinha 200 dólares no banco?” Calie confessou.

“Sério?” Tyler ficou surpreso.

“Minha mãe estava doente, eu desempregada, tinha uma filha pequena, uma hipoteca atrasada e uma conta de hospital tão grande que eu precisava viver 5 vidas para pagar.” Calie chorava enquanto massageava as próprias têmporas.

“Eu sei que foi difícil, mas agora vai melhorar.” Tyler a consolou.

“Eu prometo dar o meu melhor.” Calie disse.

“Relaxe, parece que você tem talento.” Tyler deu de ombros sem se importar tanto. “Vamos chegar um pouco mais tarde hoje, tem alguém para pegar a Mel na escola?”

“Sim, eu contratei uma babá, mas ela só vai ficar até eu chegar em casa.” Calie explicou.

“Tem problema se for para viajar e dormir fora?” Tyler perguntou.

“Antes não, pois, de tudo por tudo eu ainda tinha minha mãe para cuidar da Mel, mas agora não.”

“E se for nos finais de semana?”

“Ela pode ir?”

“Acho que ela pode ir para a maioria dos locais que vamos.” Ele falou depois de pensar um pouco.

 

***

 

“Mamãe!” Mel gritou e correu para Calie assim que ela entrou em casa.

“Meu bebê!” Calie a abraçou forte.

“Tio Ty.” Mel gritou quando viu que Tyler tinha entrado.

Tyler tinha vindo, pois Calie ainda não estava bem o suficiente para dirigir.

“Calie, se programe para viajarmos para a Califórnia na sexta.” Ele avisou.

“Certo, o final de semana todo?” Ela quis saber.

“Podemos pegar Mel no colégio e ir ao aeroporto em seguida.” Tyler comentou.

“Se não for incomodo eu agradeceria.”

“Tio, me conta outra história?” Mel pediu.

Tyler não pôde deixar de rir, quantas ele tinha contado ontem? O jeito era começar a inventar mesmo.

“O tio tem que ir para casa, ele está cansado.” Calie se apressou e disse.

“Mesmo?” Mel tinha uma cara triste.

“Eu posso contar uma ou duas.” Tyler não resistiu.

“Eba!!!” A menina comemorou feliz.

Em vez de cozinhar essa noite eles foram a um restaurante, e como Mel quem escolheu, eles foram em um de comida mexicana.

Foi um tempo divertido, quem olhava de fora pensava que eles eram uma família feliz. Bem, você pensaria que era pai, filha e neta.

Mas como para ser feliz você tem que se fazer de surdo às críticas alheias, nem Tyler e nem Calie se deram conta dos olhares vindos das mesas vizinhas.

Quando eles retornaram à casa de Calie, Mel correu para o banheiro e se aprontou para dormir, depois de tomar banho e ter escovado os dentes ao ponto de cheirar a menta. Tyler foi obrigado a contar mais histórias.

Mel era esperta, ela sabia que sua mãe podia inventar qualquer desculpa para que Tyler não lhe contasse nenhuma história, então rapidamente ela fazia tudo o que pensava que sua mãe poderia lhe pedir.

Depois de 1 hora e meia Tyler finalmente conseguiu fazê-la dormir. Quando se levantou ele viu Calie dormindo no sofá, parece que o dia não só foi cansativo fisicamente como também emocionalmente. Tyler pensou.

Ele pegou um cobertor no quarto dela e a cobriu, ele até pensou em carregá-la para o quarto, mas percebeu que não era muito recomendado.

“Até amanhã...” Tyler se despediu da moça que dormia.



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