Seção 1

Capítulo 3: A Anja Cuida do Doente

   Por causa da febre, Amane percebeu tarde demais a situação de sua própria casa; ele arrependeu-se de ter deixado Mahiru entrar quando viu a realidade à sua frente.

   O apartamento em que Amane morava era um 1SLDK.

[Del: Em termos de apartamentos no Japão, 1SLDK significa um apartamento com um quarto (1), sala de estar, sala de jantar, cozinha (LDK) e um espaço adicional, que pode ser usado para armazenamento (S).]

   Continha uma ampla sala de estar, um quarto e uma despensa, um espaço extravagante para alguém que morava sozinho. Como seus pais eram suficientemente abastados, após considerar a segurança e a localização, ele decidiu ficar ali.

   Foram seus pais que exigiram que ele ficasse ali, e ele não se importou. Mesmo assim, sentiu que não precisavam gastar tanto. Ele realmente não conseguiria lidar com a situação de morar sozinho em um apartamento tão grande.

   Deixando isso de lado, Amane, embora morasse sozinho, era péssimo em limpeza.

   Nem preciso dizer que a sala de estar e até o quarto estavam uma bagunça.

“Isso é realmente insuportável.”

[Mon: Um chiqueiro é mais limpo que a casa dele. / Kura: A diferença é que os porcos só tem lama.]

   A Anja, ou melhor, a salvadora, não mediu palavras, apesar de ter uma aparência tão adorável.

   Era, de fato, horrível, e Amane não conseguia refutar. Ele teria movido algumas coisas se soubesse que outra pessoa estava chegando, mas era tarde demais para isso.

   Os lábios brilhantes de Mahiru soltaram um suspiro, mas ela não foi embora. Em vez disso, levou Amane para o quarto.

   No caminho, os dois quase tropeçaram. O próprio Amane estava dolorosamente ciente de que, como aquele que havia bagunçado tanto o apartamento, seria ruim se ele não limpasse tudo de verdade.

“Vou sair por enquanto. Troque de roupa antes de voltar. Não tem problema, né?”

“...Você vai voltar?”

“Eu não conseguiria dormir bem se deixasse uma pessoa doente na cama.”

   Parecia que Mahiru tinha exatamente os mesmos pensamentos que Amane sobre o incidente anterior, e ele não podia comentar.

   Assim que Mahiru saiu do quarto, ele obedientemente fez o que lhe foi pedido, trocando de roupa.

“...Está uma bagunça, e não tem onde pisar... como você consegue viver assim...”

   Ele ouviu um murmúrio perturbado enquanto se trocava e sentiu-se realmente arrependido.

   Depois de se trocar, deitou-se e pareceu ter adormecido. Depois de abrir as pálpebras pesadas com muito esforço, a primeira coisa que viu foi o cabelo cor de linho.

   Olhou por cima do cabelo e encontrou Mahiru parada ali, olhando para ele em silêncio. Parecia que o que acontecera antes não fora um sonho.

“...Que horas são agora?”

“19h. Você dormiu por algumas horas.”

   Mahiru respondeu secamente e, assim que Amane se sentou, entregou-lhe um copo de bebida isotônica.

[Kura: Para quem não sabe, essa bebida é esportiva e repõe a água, sais minerais e carboidratos perdidos pelo corpo.]

   Sentindo-se grato, levou o copo à boca e finalmente pôde olhar ao redor.

   Ele se sentiu um pouco melhor, provavelmente por causa do cochilo.

   Então, percebeu que sua cabeça estava um pouco fria. Ele tocou e sentiu algo parecido com tecido na ponta dos dedos, embora um pouco duro.

   Havia uma folha de resfriamento colada nele, uma coisa que sua casa não tinha. Ao notar isso, ele ergueu a cabeça em direção a Mahiru. “Eu trouxe da minha casa.” ela respondeu simploriamente.

   A casa dele não tinha folha de resfriamento nem isotônico. Aparentemente, ela trouxe o isotônico para cá também.

“...Obrigado por trazer essas coisas.”

“Sem problemas.”

   A resposta indiferente o fez fazer uma careta.

   Era provável que ela cuidasse dele por culpa, e não por vontade de interagir com Amane. De qualquer forma, era impossível conversar intimamente quando ela estava na casa de um garoto que acabara de conhecer.

“De qualquer forma, eu trouxe um remédio. É melhor não consumir com o estômago vazio. Você tem apetite?”

“Hm, mais ou menos.”

“Entendo. Fiz um mingau, então, por favor, coma.”

“…Eh, você que fez, Shiina?”

“Quem mais está aqui? Eu como se você não quiser.”

“Não, não, eu como. Por favor, me deixe.”

[Mon: Lapada seca!]

   Ele nunca esperou que ela se importasse com ele, muito menos que fizesse mingau, e por isso estava um pouco perturbado.

   Para ser sincero, as habilidades culinárias de Mahiru eram desconhecidas para ele, mas ele nunca ouviu falar de sua reprovação em economia doméstica, então provavelmente não foi tão ruim.

   Amane imediatamente abaixou a cabeça, pedindo para comer, e Mahiru o encarou sem expressão. Ela assentiu enquanto entregava o termômetro na mesa lateral.

“Eu vou ir pegar. Meça sua temperatura.”

“Certo.”

   Ele fez o que ela disse, desabotoando a camisa, e pegou o termômetro. Naquele momento, Mahiru desviou o olhar.

“P-por favor, faça isso quando eu não estiver nesta sala!”

   Ela parecia um pouco frenética, e Amane olhou para ela e viu seu rosto um pouco vermelho.

   Amane achou a reação de Mahiru um tanto intrigante, já que, ao contrário das meninas, os meninos não precisavam esconder o peito. Talvez Mahiru não tivesse resistência à cor da pele, no entanto, pois desviou o olhar rapidamente no momento em que ele desabotoou a camisa.

   Seu rosto branco estava tingido com um leve tom de rosa, seu rosto ainda olhando para o lado enquanto ela tremia. Era de se perguntar se ele estava vendo uma ilusão, mas as orelhas de Mahiru também estavam vermelhas, mostrando o quão envergonhada ela estava.

     ...Ahh, estou começando a entender por que os caras ao redor dela dizem que ela é tão fofa.

   Amane também considerava Mahiru uma garota bonita, mas nada mais. Não havia dúvida de que ela era bonita e fofa, mas isso era tudo para ele.

   Ela era linda como uma obra de arte esculpida. A impressão que ela dava era semelhante à de uma obra de arte.

   Mas, nesse ponto, Mahiru estava evidentemente um pouco envergonhada, o que a fazia parecer um pouco mais humana e, portanto, estranhamente adorável.

“...Então é melhor você ir pegar o mingau?”

“E-eu vou sem você me avisar.”

   O relacionamento deles não era próximo o suficiente para que ele pudesse dizer claramente o quão fofa ela era. Ela o teria achado estranho se ele fizesse isso, então ele engoliu os pensamentos.

   Assim que ele disse isso desinteressadamente, Mahiru saiu cambaleando do quarto.

   Ela estava um pouco lenta, talvez por hesitação, ou talvez porque o quarto estava muito bagunçado. Provavelmente era a última opção.

   Enquanto a observava sair atordoada, Amane soltou um pequeno suspiro, imaginando como tudo acabou assim.

     ...Bem, acho que é o senso de responsabilidade e culpa.

   Uma garota normalmente não entraria na casa de um garoto desconhecido só para cuidar dele. Seria ruim se ela fosse atacada.

   No entanto, Mahiru fez isso apesar do risco, então parecia estar se sentindo realmente culpada. Amane claramente não demonstrou interesse por ela também, e isso talvez fosse motivo para seu alívio.

   De qualquer forma, não deveria haver dúvidas de que Mahiru começou a cuidar dele porque não havia outra maneira.

“...Eu trouxe.”

   Enquanto Amane tinha esses pensamentos em sua cabeça ligeiramente febril, Mahiru bateu na porta timidamente.

   Parecia que ela não entrou imediatamente, preocupada que ele não estivesse completamente vestido. Ele então se lembrou de ter afrouxado as roupas para medir a temperatura.

“Ainda não terminei de medir.”

“Eu disse que você deveria medir sua temperatura quando eu não estivesse...”

“Desculpe, me distrai.”

   Ele se desculpou, colocou o termômetro sob a axila e logo ouviu um som eletrônico abafado.

   Piii, ele o tirou e marcou 38,3°C. Não era ruim o suficiente para ser hospitalizado, mas era relativamente alto.

   Amane vestiu suas roupas adequadamente. “Entre…” disse ele a Mahiru, que ainda não havia entrado. Ela entrou cautelosamente com uma bandeja e o mingau.

   Ela parecia obviamente relaxada, pois ele finalmente havia se vestido.

“E sua temperatura?”

“38,3°C. Vou melhorar dormindo e com alguns remédios.”

“...Os remédios vendidos nas lojas tratam principalmente os sintomas, e não o vírus em si. Descanse bem e fortaleça seu sistema imunológico.”

   Enquanto era repreendido, Amane sabia que Mahiru estava simplesmente preocupada, e seu coração se contraiu.

Môu.” Suspirou ela enquanto colocava a panela de barro e a bandeja na mesa lateral, abrindo a tampa.

   Continha mingau com ameixa. O mingau era ralo, considerando o peso que ele tinha no estômago, provavelmente na proporção de 7:1 de água e arroz.

   A ameixa foi adicionada não pelo sabor, ao que parecia, mas porque diziam que era boa para resfriados.

[Del: Sim, a ameixa possui vitamina C e antioxidantes, que ajudam o sistema imunológico, além dela ter propriedades anti-inflamatórias e expectorantes, aliviando a garganta e o nariz.]

   Não havia vapor saindo, mas estava quente, o que significava que não tinha sido feito momentos antes, mas sim deliberadamente resfriado depois.

   Enquanto Amane olhava fixamente para o mingau, Mahiru o ignorou enquanto o servia em uma tigela. Os pedaços de ameixa foram delicadamente espalhados dentro, as sementes cuidadosamente removidas e a polpa vermelha levemente misturada ao branco mingau.

“Aqui. Provavelmente não está mais quente.”

“Nn, obrigado.”

   Ele recebeu, pegou uma porção com a colher e a encarou. Mahiru ficou surpresa ao ver seu gesto.

“…O quê? Você quer que eu te alimente? Eu não estou prestando esse tipo de serviço.”

“Ninguém está dizendo isso… não, eu só estou pensando que você sabe cozinhar.”

“Qualquer pessoa que more sozinha deveria ser capaz de fazer isso.”

   Para Amane, que nunca conseguira viver uma vida decente sozinho, aquelas palavras realmente doeram.

“Fujimiya-san, antes de cozinhar, limpe seu quarto.”

“Tem isso também.”

   Parecia que Mahiru já sabia de alguma forma o que Amane estava pensando quando ela prosseguiu com outra cutucada. Ele murmurou, tentando disfarçar o assunto enquanto levava a colherada de mingau à boca.

   O viscoso mingau se espalhou em sua boca, junto com o gosto original de arroz e um pouco de sal.

   Mas o sabor salgado e a acidez das ameixas secas raladas eram realmente apetitosos, estabelecendo um equilíbrio perfeito.

   Amane não gostava muito de ameixas secas salgadas, mas gostava da leve doçura dessa acidez suave. Se estivesse saudável, teria colocado as ameixas secas no arroz branco e feito chazuke.

“Está gostoso.”

“Obrigada por isso. Mas qualquer um poderia ter feito o mingau sem muita diferença.”

   Mahiru respondeu com o rosto inexpressivo, mas havia um pequeno sorriso em seu rosto.

   Era diferente do sorriso que ele ocasionalmente via na escola. Era um sorriso de alívio, e ele inconscientemente a encarou.

“...Fujimiya-san?”

“Não, não é nada.”

   O sorriso gentil logo desapareceu após um único momento, e ele achou uma pena.

   Foi o que ele pensou, mas Amane não disse nada enquanto tentava disfarçar, comendo o mingau em pequenas colheradas.

 

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