Volume 3

Round 1

 

Primeiro dia <A> Quarto de [Kazuki Hoshino]

A primeira coisa a entrar em meu campo de visão é o teto branco de concreto e a lâmpada presa ao mesmo. Me levanto imediatamente ao me deparar com esse ambiente desconhecido.

— …Que lugar é esse?

Tentando deixar minha confusão de lado, começo a rever minhas memórias para lembrar como cheguei aqui. Fui dormir na minha cama como sempre. Não me lembro de ter me movido depois daquilo. Também não me lembro de ter estado em qualquer outro lugar, ou sequer ter encontrado alguém.

Olho ao redor do quarto. Há um vaso sanitário e uma pequena pia construída nesse espaço de aproximadamente seis tatames¹. No centro, uma mesa, e em cima dela, uma mala. Mas o que mais chama a atenção é o moderno monitor de vinte polegadas embutido na parede, que parece totalmente fora de contexto nesse quarto que lembra uma prisão.

Olho para o meu corpo. Estou usando uniforme, com todos os bolsos vazios. Vou até a mala e tiro um item atrás do outro. Uma caneta. Um bloco de notas. Um relógio digital azul. Sete porções de alimento sólido. Também tem um terminal portátil, que parece exatamente com um “IPod Touch”. E por último…

— …

Uma faca pesada.

Cautelosamente, removo a capa. Sua lâmina extremamente resistente. Até mesmo possui um lado dentado. Uma faca de combate, que poderia aparecer nas mãos de um soldado em um filme.

— …Mas o que… ? Para que eu iria…

Isso é obviamente uma arma, uma ferramenta de assassinato. Alguém quer que eu lute? Não tenho escolha senão lutar? Chacoalho minha cabeça e coloco a faca de volta na mala. Percebo que estou tremendo, então respiro fundo e tento me acalmar.

Olho ao redor novamente. Não há janelas. Também não encontro dutos de ventilação. Apenas uma porta que parece ridiculamente pesada. Penso em abrir, mas percebo que não há maçaneta. Sem nada a perder, tento empurrá-la com meu corpo, mas ela não se move. Volto até a cama e me deixo cair nela.

— O que está acontecendo aqui…?

Não entendo. Não entendo… mas essa é uma situação anormal… Anormal… incomum. Aah, talvez isso seja…

 

«Bom - dia.»

 

A voz repentina faz meu coração acelerar. Viro minha cabeça e percebo… o que é isso? …No monitor, que estava apagado até agora, aparece a figura de uma criatura estranha.

 

«HaHaHa – Bom – dia – Kazuki-kun!»

 

Contrastando com a forma tão íntima de dizer meu nome, a voz é horrivelmente mecânica e sem entonação alguma. A coisa verde e extravagante no monitor deve ser um urso… eu acho. Provavelmente. Mas por causa de seu olhar afiado e corpo deformado, não parece nem um pouco bonitinho. Sendo direto, sua aparência é nojenta.

«YaaYaaYaa – tudo – bem – com – você? Eu – sou – o – mascote – Noitan! Prazer em – conhecê-lo!»

A boca do urso… — Noitan? —… se move para cima e pra baixo. A animação consiste apenas da mandíbula dele se movendo para cima e pra baixo, novamente: nojento.

— …Que personagem horrível. Faria as crianças chorarem…

«Quem é horrível, seu porco retardado! Quer que eu chute suas bolas e te deixe aleijado? Isso combinaria com você.»

— …Hii!

Isso… ele acabou de me responder! E além disso, tem uma boca bem suja! E por que de repente o tom mecânico desapareceu? E o gráfico desses olhos raivosos, são assustadores demais!

— …E…err… você pode falar comigo?

«Sim – eu – posso!»

A voz mecânica volta. Então ele só fala normalmente quando está zangado.

— Noitan.

«Seu pedaço de merda sem educação, pelo menos adicione um “san” no final! E demonstre algum respeito!»

— …Noitan-san. Não sei como cheguei aqui, você saberia me dizer?

«Você está dentro – do jogo – chamado – [Kingdom Royale]! Eu vou – explicar tudo mais tarde – quando todos estiverem reunidos, mas…»

— Todos…? Então não sou o único aqui?

«Cale a droga da sua boca quando eu estiver falando, ou você quer que eu arranque sua língua também?»

— …Sinto muito.

«Essa porta – vai abrir agora! Você vai chegar – ao lugar onde todos os participantes do jogo – se reúnem! Quando chegar lá – eu vou – explicar tudo para vocês – espere um momento.»

Quando ele termina de falar, a porta começa a se abrir lentamente.

— …Posso sair?

«Claro – se você – estiver preparado!»

— Preparado…?

«Além dessa porta – está a grande sala – está preparado – para encontrar outras pessoas – que estão na mesma – situação que você?»

— O que nós vamos fazer?

O rosto já desagradável do urso se contorce em uma expressão ainda pior.

«Combate mortal!»

— …Eh? O que isso…

O monitor desliga antes que possa terminar. No mesmo instante, a porta termina de abrir.

— O que diabos é isso?

Além da porta, só há uma camada quase sólida de escuridão. Realmente existe uma sala, além disso? …É inacreditável. Mas sei que não posso ficar aqui parado. Colocando o relógio que deixei sobre a mesa em meu punho, caminho até a porta… Meus pés começam a tremer, mas me incentivo a ir.

… Está bem. Vai ficar tudo bem. Nada de bom me aguarda daqui adiante. Mas, estou em uma ‘caixa’. Portanto, ela está aqui…Maria está aqui. Portanto, tudo vai ficar bem.

Com esses pensamentos em mente, entro na escuridão.

 

Primeiro dia <B> Sala de Reunião

O cenário muda repentinamente.

Primeiro, tudo fica branco. Um branco nem um pouco natural, que me faz sentir como se estivesse em um hospital recém construído, porém vazio, sem qualquer médico, enfermeira ou paciente. Quando finalmente consigo perceber tudo isso…

— Ueh…?

… Sou derrubado.

Sem tempo para pensar, ou sentir dor por ter sido jogado contra o chão duro, a ponta de uma faca aparece na frente dos meus olhos.

— Seu nome?

Vendo a garota, com cabelos cortados na altura do ombro, segurando a faca em minha frente, finalmente entendo minha situação.

— Hi…Hii…!

— Você se chama «Hii»? Isso não é verdade, é? Não acabei de pedir o seu nome?

Quem… quem é essa?

— Ho… Kazuki Hoshino.

Percebo que ela está usando o uniforme da nossa escola, e no pulso esquerdo há um relógio laranja, diferente do meu azul. Então ela é uma participante desse jogo? …Eh? Então esse jogo de vida ou morte já começou, e acabei de levar cheque-mate? E…espere um momento! Isso não é muito cruel?! E apesar da minha situação ser tão desesperadora…

— Kazuki!

…Aah, apenas ouvir essa voz é o suficiente para me acalmar.

— Mh, Otonashi-san, ele é um conhecido seu?

— Sim, ele é.

A garota olha novamente em minha direção.

— …Huuh.

E dizendo isso, ela se levanta sem mudar a expressão e dá um passo para trás. Não entendo, mas parece que fui solto.

— Você está bem, Kazuki?

— Sim… — respondo, segurando a mão dela, que acaba de vir até o meu lado. Mas… o que diabos ela estava…

— …Whoa!

Paro o que estou dizendo ao ouvir outra voz, e me viro em contemplação. A mesma garota de antes, está segurando a faca contra um garoto de cabelos castanhos.

— …Uhmm, o que é isso, tão de repente?

Ele pergunta, olhando ao redor movendo apenas os olhos. Ele está assustado, mas parece composto o bastante para avaliar a situação.

— … Você está bastante calmo, não?

Percebendo isso, a garota da faca questiona o rapaz.

— Não, na verdade… bem, apenas percebi “Aah, você não está me ameaçando seriamente”, então consegui me acalmar de alguma forma.

Ela responde com um significante — Ohoo! — Diante da resposta dele. E então afasta a faca e o solta.

— …Ah, já vai me soltar?

— Faça o que quiser.

…Ela solta o garoto imediatamente, igual fez comigo, huh. Realmente me pergunto, por que ela está fazendo isso? O garoto de cabelo castanho já está sorrindo como se tivesse esquecido o que acabou de acontecer e diz:

— Oh, já temos três gatas! Que sorte!

Três…? Uhmm, Maria, a garota louca da faca, e…

Percebo uma garota de cabelos compridos no canto, se agachando perto do grande monitor dessa sala. Com sua pele branca e cabelos profundamente escuros, ela me passa certo ar de elegância. Está usando um relógio digital bege em seu pulso esquerdo.

— Não se preocupe, Yuuri!

A garota da faca acaricia levemente a cabeça da garota de cabelos compridos, e sorri mostrando um lado gentil que não desperdiçou com nós até agora. A face da garota de cabelos compridos, que estava completamente tensa de medo, relaxa levemente, mas isso só dura por um instante.

— …O que vai acontecer com a gente…?

— Nós vamos ficar bem!

… Parece que elas se conhecem.

— Você é Hoshino-senpai, não é mesmo?

Sendo chamado, desvio o olhar das duas. Quem me chama é o garoto de cabelos castanhos.

— Você me conhece?

— É claro senpai! Você é famoso, junto com a Maricchi ali! Não vai me dizer que esqueceu, aquela lendária cerimônia de abertura!

Ele está vestido em um uniforme amassado, colar de prata e no pulso um relógio verde…Pensando nisso, todos aqui usam o uniforme da nossa escola.

— Uhmm, qual o seu nome?

— Eu sou… ah! Kaichou², parece que estamos todos aqui, que tal uma introdução?

Ele diz para a garota da faca.

«Kaichou»? Então ela é a líder do conselho? Um dos três super-humanos de quem a Kokone me falou?

— Mh, certo. Isso pode não ser ruim.

Agora que mencionou, essa é a mesma voz que ouço, regularmente em anúncios nos autofalantes da escola. Essa garota de sorriso autoconfiante… realmente, sem dúvidas é a presidente do conselho.

Então… Tenho que lutar contra esses super-humanos nesse jogo mortal?

— Você acha que estão todos aqui?

A presidente pergunta a ele.

— Tem seis cadeiras, então deduzi.

— Bem, sim.

…Eh? Seis?

— Espere um momento! Não somos apenas cinco…

 

— Kazu, por acaso seus olhos são de vidro?

Prendo minha respiração ao ouvir essas palavras.

No centro da sala, existe uma mesa oval com seis cadeiras arranjadas ao redor dela. E na mais distante está ele.

— …Daiya.

Daiya, em seu uniforme, sorri levemente e ergue sua mão que está carregando um relógio digital preto, como se estivesse me cumprimentando com ele. Apesar dessa ser a primeira vez que nos vemos em quase dois meses, e em um lugar desses, o cumprimento dele faz parecer que nos vimos há pouco tempo.

— O quê? Vocês se conhecem? …Entendo.

— Kaichou. Posso entender isso como, você considerando o risco de nos unirmos contra você?

A presidente perde a compostura por um instante, mas se recompõe e continua.

— Deixo isso para o seu próprio julgamento.

Dessa vez é Daiya quem sorri diante dessas palavras.

Que tipo de conversa esses dois estão tendo…? É quase como se estivessem se preparando para guerra…Não, ou talvez já tenha começado? Esse é o motivo da faca no meu pescoço agora a pouco?

— Então sou o único entre nós que não conhece ninguém aqui? Sinto-me tão solitário~!

Ele segura a própria cabeça, exageradamente como se não tivesse percebido a tensão entre os outros dois. …Me pergunto se esse cara sequer entende a situação em que está…

— Certo, vamos nos apresentar. Devemos começar? Por hora vamos iniciar nos sentando, já que tem lugar para todos.

Sento em frente ao Daiya e Maria se senta ao meu lado. O relógio no pulso de Maria é vermelho.

— Certo, a maioria já deve me conhecer, mas vou começar. Sou…

— Antes disso, posso perguntar algo?

Maria interrompe a presidente e pergunta.

— O que?

— Não me intrometi porque não senti nenhuma intenção sua de machucar ninguém… mas o que foi aquela cena com a faca agora a pouco?

— Aah, aquilo?

Não se importando com a expressão assustadora da Maria, a presidente começa a explicar.

— Se você recebeu a mesma explicação daquele urso estranho, deve saber que um jogo mortal vai começar aqui, certo? Portanto, achei que alguém podia ter a intenção de tomar a iniciativa enquanto os outros ainda estão confusos. Apenas fiz aquilo para tentar evitar isso. Em poucas palavras, gerenciamento de crise.

— Há!

Daiya ri dessa explicação. A presidente fica obviamente ofendida.

— Uuhhmm… Daiya Oomine-kun, estou certa? Ouvi rumores sobre você. Então, o que essa risada deveria significar?

— Apenas acho que isso foi uma mentira lavada. Gerenciamento de crise? Você seriamente acredita que existe um militante aqui, que começaria um massacre apenas por causa da explicação daquele urso? Você apenas quis fazer o primeiro movimento, para estar em uma posição psicológica superior, estou errado? Não se preocupe, a única capaz de fazer isso aqui é você, que chegou a essa conclusão absurda.

— Uma estratégia para começar em uma posição superior, huh. Você está me entendendo errado, completamente errado. Não usaria um método em que os contras superam os prós. Se fizesse algo errado e causasse o antagonismo de alguém, não seria eu a primeira a correr riscos?

— Então você estava tentando procurar pelo culpado? Tentando encontrar alguém suspeito, vendo a reação de cada um?

— Que rude de sua parte. Não pensei nisso.

Suas respostas eram leves. Mas a ansiedade no ar não pode ser escondida apenas com isso.

— Whoa, se acalmem senpais! Vocês são assustadores!

O garoto de cabelos castanhos interrompe.

— … Certo. Mas você realmente está calmo, não está? É um colega bem estranho.

— Por favor, não diga isso! Estou apenas tentando manter a calma. Normalmente sou mais maduro, mas como devo dizer, uma atmosfera estranha está no ar nesse instante… Bom, mas não acho que ninguém esteja tão tenso quanto a sua amiga ali, kaichou.

Quando a conversa se foca nela, a garota de aparência dócil agarra os ombros.

— Me…me desculpe…

— Não, Yuuri. Você não tem porque se desculpar.

— Eu…eu sinto muito, Iroha.

A presidente ri e dá de ombros vendo ela se desculpar novamente.

— Aah~… de alguma forma perdi minha tensão.

— Yuuri-chan, boa!

Fiz um sinal de positivo para ela.

— Eh? Eh? Eu fiz alguma coisa…?

Ela começa a piscar em confusão, o que faz a presidente rir novamente.

— Então vamos voltar ao tópico principal e começar as apresentações? Sou aluna do terceiro ano Iroha Shindou, e como vocês sabem, presidente do conselho. Minha habilidade especial é dormir em qualquer lugar. Meu hobby é atletismo.

— Você participa em eventos por todo o país, e atletismo é apenas seu hobbie, huh? Aposto que não é nem um pouco popular, hein? — Daiya se intromete.

— Você tem uma língua afiada, não? Mas é verdade, é apenas um hobbie. Afinal não sou qualificada para isso. Nesses tipos de eventos, você só pode depender da sua capacidade física. E não fui tão bem presenteada nessa área. Portanto, não sou qualificada, é apenas um hobbie.

— Isso se chama “sarcasmo”!

— …“Disse o mais novo sarcasticamente”.

A presidente retruca como se não fosse nada. Para conseguir se manter no mesmo nível que Daiya, ela realmente é uma super-humana. Sem dar mais atenção a ele, ela cutucou a garota do lado com o cotovelo a incentivando a continuar.

— Ah, eu…eu, um, sou do terceiro ano, e, err, sou amiga da Iroha desde o primeiro ano, quando estávamos na mesma sala… uhmm, habilidades especiais e coisas do tipo também, Iroha? Uuumm… não sei sobre habilidades especiais… mas meu hobbie é ler. Meu nome é Yanagi … Yanagi Yuuri.

— Eh? — Murmuro sem perceber.

Ela acaba de dizer «Yanagi»

— ... Eh? Uhm, e-eu disse algo estranho?

A garota que se nomeia como «Yanagi Yuuri», fica confusa com minha reação.

— Ah.

Me recomponho e chacoalho minhas mãos freneticamente.

— Nã…não é nada! É só que, conheço alguém com esse sobrenome.

— En…entendo…

Yanagi-san… isso seria confuso, vou usar Yuuri-san… continua olhando em minha direção, e então.

— Yuuri, você terminou?

— Ah, err…

Ela foi chamada pela presidente, e desvia seu olhar de mim.

— Pra…prazer em conhecê-los.

…Ah não, tomara que ela não tenha ficado com uma impressão estranha de mim. O rapaz de cabelos castanhos, que está sorrindo enquanto me observa nessa situação, abre a boca.

— Yuuri-chan é realmente adorável. Ela é totalmente meu tipo.

— Fhue!

— Ei, primeiro ano, não fique dando em cima da Yuuri! E você está sendo muito rude adicionando um ‘chan’.

— Falando nisso, você é muito dura kaichou, portanto não faz meu tipo.

— Não me importo. Agora continue com sua apresentação.

— Ok~. Primeiro ano, Koudai Kamiuchi, prazer em conhecê-los. Ah, é especialmente um prazer em conhecer você, Yuuri-chan. Então, meu hobbie é passar o tempo em máquinas de jogos. …Ah, apenas para deixar claro, são os fliperamas.

Inesperadamente, Daiya interrompe a introdução do rapaz de cabelo castanho, Koudai Kamiuchi.

— Aah, você é aquele Kamiuchi, huh. Ouço rumores sobre você frequentemente. Parece que nunca perdeu numa máquina de Pachinko³?

— Isso não é verdade. Bem, mas na maioria das vezes acabo vencendo. Basicamente, tenho bons olhos.

— Um cara chamado Usui Haruaki ficou te rondando na tentativa de te recrutar para o clube de baseball, não é mesmo? Afinal, ficou famoso por ter vencido todos no torneio de esportes do ensino fundamental.

— Me rondando? Não me lembro disso… mas não, não, o time de baseball do ensino médio é impossível para mim! E de qualquer forma, não tem como alguém tão delicado quanto eu, conseguir manter a rotina de treino inflexível deles, certo? O clube “ir para casa” combina mais comigo.

Poderia ser que Kamuichi-kun, apesar de não estar no nível dos três «Super-humanos» também é alguém incrível…?

— …uhmm, Yuuri-san.

— Si…sim?

— Você, por acaso, também é incrivelmente inteligente?

— Eh? Eu… eu, não tanto.

— As notas da Yuuri estão sempre no topo entre os alunos da classe um.

A presidente declara no lugar dela. Terceiro ano, sala um? A sala da turma de elite em artes liberais, que está estudando para as universidades de Tokyo e Kyoto. Ela é a número um lá…?

— I…isso é só porque você está na turma de ciências, Iroha. Se você estivesse na turma de artes liberais, ficaria em segundo, atrás de você com certeza…

— Ah, falando nisso, meus resultados no exame de admissão foram os segundos melhores. Yuuri-chan, nós dois somos segundo colocados que não podem rivalizar os supertalentosos em primeiro, não é mesmo?

— H…haah…

Então Kamiuchi-kun também não é alguém ordinário.

— Hmm. Acho que entendi o ponto comum entre nós. Alunos com ótimas notas… bom, já que ciências e artes liberais são bem diferentes, então não dá pra dizer ao certo, mas parece que somos os primeiros e segundos colocados em cada ano. O número de pessoas também bate.

— Ah, mas minhas notas são pouco acima da média. Meus resultados no último exame foram relativamente bons, mas ainda estava abaixo do to…

Engulo as palavras que já tinha começado. Porque a presidente, Yuuri-san e Kamiuchi estão me encarando… Por quê? Por que fui dizer algo idiota?

— Só confirmando: Otonashi-san e Oomine-kun são alunos no topo de seus respectivos anos, certo?

A presidente pergunta com os olhos fixos em mim. Assinto silenciosamente.

— Entendo.

Ela então me pergunta com um sorriso forçado e olhos que não sorriem:

Então me pergunto, por que você é a única exceção?

Estremeço, vendo que ela sequer tenta esconder suas suspeitas. O que é isso? Por que eles estão me olhando desse jeito?

— Existe um limite de até onde você pode ficar inventando conclusões.

Ouvindo essas palavras, a presidente muda o foco do olhar. De mim… para Maria.

— Por que você está pulando conclusões, antes mesmo de entendermos que jogo é esse? Isso significa que você está aprovando esse jogo mortal, e está ansiosa para começar? Se é isso, então você quem é uma ameaça para nós.

— Eu… eu concordo. Não é como se já tivéssemos começado algo ainda…

Yuuri-san diz, olhando de relance para a presidente, depois de ouvir as palavras da Maria. Quanto a presidente, ela fica espremendo os lábios por um instante. Não parece que está se fazendo de vítima… esse apenas parece ser seu hábito enquanto está pensando. Ela enrijece os lábios e diz após um suspiro:

— É verdade. É apenas uma hipótese que isso seja uma reunião dos melhores alunos de cada ano, seria estranho duvidar de alguém apenas por não se encaixar na teoria, huh. Além disso, acho que vou acabar sendo derrubada por alguém, se continuar duvidando de todo mundo sem um argumento melhor.

— Da forma que vejo, você é a mais suspeita entre nós, kaichou, você está agindo rápido demais.

— Hahaha, sou suspeita? Tente olhar no espelho apenas uma vez.

Daiya exibe um sorriso satisfeito ao ouvir isso.

— …Uhmm, o que você está fazendo afinal? Já está procurando pelo culpado?

A presidente sorri de leve ao ouvir essa pergunta, pergunto por não estar entendendo o rumo da conversa deles.

— Não exatamente isso, apenas estou procurando por pessoas com as quais devo ser cuidadosa. O mandante que planejou esse jogo pode estar entre nós, ou um aliado dele pode estar aqui, para iniciar esse jogo mortal. Planejo contar isso assim que descobrir algo… antes que seja tarde demais.

O manipulador, heh. Manipulador o caramba… sei quem é o responsável por issoDaiya Oomine. Apenas ele pode ser o culpado, possivelmente…Mas estou começando a achar que não é uma boa ideia revelar isso agora.

Falar algo sem pensar não é permitido aqui. Já estou na mira de suspeitas, apenas por não ser um dos melhores da minha série. Ações muito diferentes, geram suspeitas imediatamente.

O que aconteceria se dissesse «Isso foi feito por uma ‘caixa’ usada por Daiya»?

Isso tudo pareceria mais absurdo para eles do que já está. Eles acabariam pensando que estou tentando fazer de Daiya o vilão. Portanto, não importa o quanto isso seja verdade, não posso falar sobre a ‘caixa’. Essa provavelmente também é a razão pela qual Maria está em silêncio, com uma expressão firme.

 

«Bem, bem, bem - parece que vocês já- começaram – a diversão de duvidar – uns dos outros – como planejado – muito bom»

 

Nós todos nos viramos ao mesmo tempo para o grande monitor no centro da sala. Nele, está o, completamente não adorável, urso verde de antes. Sua aparência feia fica ainda mais clara no monitor grande.

A presidente dá um sorriso leve ao olhar para a tela.

— Poohfeioso apareceu de novo.

«Lave sua boca e me chame de “Noitan-san”! Não fique toda cheia de si só porque é presidente fedorenta do conselho de uma escola qualquer!»

A presidente sorri tranquilamente, mas Yuuri-san fica assustada com a boca suja e os gráficos assustadores, deixa escapar um leve grito… Não é que ela tenha um corpo pequeno, mas realmente parece com um pequeno animal… apesar de que, não posso falar nada, já que as pessoas dizem o mesmo de mim.

— Nos dê uma explicação logo Poohfeioso.

«Você é retardada demais para entender palavras!? Espero que seja a primeira a morrer, vadia!»

— Oi, kaichou-sama! Você poderia, por favor, ficar quieta? Nós não vamos chegar a lugar algum assim.

— Aye, aye.

A presidente dá de ombros, diante do sarcasmo do Daiya e fica em silêncio como pedido. Após algum tempo de silêncio, Noitan volta a se animar, seus gráficos voltam ao normal, e ele começa a falar novamente com sua voz eletrônica.

«Agora vou – explicar – do que – [Kingdom Royale] – se trata!»

Continuo encarando o monitor silenciosamente.

«Isso é basicamente – um jogo de assassinato – mas para ser – um pouco mais preciso – é um jogo – em que todos tentam – roubar – o trono do rei!»

Nós nos entreolhamos ao ouvir a explicação dele.

«Uma [classe] foi – atribuída a cada um – de vocês participantes – as [Classes] podem ser [Rei], [Príncipe], [Duble], [Feiticeiro], [Cavaleiro] e [Revolucionário]! Todos eles tem – suas características – especiais.»

— Como nós descobrimos qual é a nossa [classe]?

«Você pode checar – sua [classe] no – monitor em – seu quarto! Falando nisso – eles são – sensíveis ao toque e podem ser controlados de acordo – com sua [classe].»

A presidente franze a testa e espera pela continuação.

«Ok, antes de – começar a explicar – as [classes] – vou dar a vocês – algumas informações – sobre o cenário – de [Kingdom Royale]! Vocês sabem – esse país – é uma ditadura – que já invadiu – muitos outros países – e…»

— Noitan.

Maria interrompe o urso, que está para começar uma introdução que seria ignorada pelos jogadores, se isso fosse um game.

«O que – foi – Maria-chan – ?»

— Nós não precisamos saber disso. Apenas nos diga o que precisamos saber sobre o jogo logo.

«Você tem algum nervo para me interromper, com essa atitude quando estou gentilmente tentando explicar tudo para vocês! Sua fedelha fedorenta e autocentrada!»

Os gráficos mudam novamente para os olhos violentos.

— Você não acabou de chamar a Shindou de fedorenta também? Que vocabulário pobre.

«Se você tem tempo para encontrar problemas em mim, é melhor achar uma maneira de sobreviver, sua pobre ave enjaulada!»

Satisfeito (?) ao ter dito isso, os gráficos voltam ao normal.

«Não tem – jeito –vou falar – apenas – os detalhes – importantes! Primeiro - vocês devem – seguir os horários – cuidadosamente – caso contrário você vai – “perder” automaticamente – então tenha cuidado»

— …O que acontece se “perdermos”?

«Execução»

O ar congela.

«Decapitação para – ser exato! – Justo não? – Alguém que – não pode nem – cumprir horários – é melhor – morrer logo – afinal de contas»

Yuuri-san nem pisca durante essa explicação. Assim que ela percebe que «execução» é para ser entendido literalmente, sua face perde ainda mais a cor. Noitan ignora a reação dela completamente e continua.

«Além disso, - existe um – tempo limite universal! Seus suprimentos de comida – consistem de – sete porções – de alimento sólido – isso é o bastante – para apenas – uma semana – você não vai – sentir fome – se comer uma – dessas refeições – por dia! Contudo – se você – não comer uma – todo dia –vai virar – uma múmia por causa da – fome!»

— Uma múmia… huh.

A presidente coça a cabeça em contemplação.

— Então, como alguém vence o jogo? Honestamente, não faço ideia do que fazer.

«Certo – as condições para vitória – variam de acordo – com – sua [classe] – por exemplo – se você for – o [Rei] – você pode vencer – eliminando todos os jogadores – que querem – o trono! – Agora vou – mostrar os – detalhes de – cada uma»

Noitan desaparece do monitor e letras aparecem na tela em seu lugar.


[Rei]

Ele é o rei que subiu ao trono, após assassinar o antigo governante e que liderou várias invasões. É desconfiado, e planeja o assassinato de todos aqueles que ameaçam seu trono. Ele não percebe que sua desconfiança faz com que os outros percam sua lealdade a ele.

Pode pedir que seus subordinados cometam “assassinatos”, mas não pode forçá-los, por ter medo de que possam se virar contra ele. Uma terra liderada por um homem incapaz de confiar nos outros, dificilmente terá um futuro brilhante pela frente.

Habilidades do [Rei]

 ± [Execução]: Pode selecionar o jogador que quer matar e solicitar que, ou o [Feiticeiro], ou o [Cavaleiro] executem o assassinato. Ele não precisa escolher entre eles.

 ± [Substituição]: Ele pode evitar ser alvo de [Assassinato] uma vez, trocando de lugar com o [Dublê] por um único dia. Se ele for marcado como alvo naquele dia, o [Duble] morrerá no lugar do [Rei].

Condições de vitória para o [Rei]

 ± Proteger seu trono. Eliminar todos os que ameaçam sua posição – [Príncipe], [Revolucionário]

 


[Príncipe]

 

Uma pessoa ambiciosa. Originalmente o terceiro na linhagem para receber o trono. Mas tomando vantagem da desconfiança do rei, ele o fez assassinar os outros príncipes e foi movido para o primeiro na fila. Para se proteger da desconfiança do rei ele obteve anti-magia.

Se ele chegar ao trono, esse país provavelmente se tornará uma ditadura pior do que era antes.

Habilidades do [Príncipe]

 ± [Sucessão do Trono]: Se torna capaz de usar [Execução] assim que o [Rei] e o [Dublê] morrerem.

 ± [Anti-Magia]: Não pode ser morto por [Feitiçaria].

Condições de vitória para o [Príncipe]

 ± Se tornar rei. Eliminar – [Rei] [Dublê] [Revolucionário]

 


[Dublê]

 

Um ex-fazendeiro que é leal ao [Rei] e se parece exatamente com ele. Não é realmente ambicioso, mas não pode permitir que o [Príncipe] se torne rei, já que sempre foi feito de idiota por ele.

Se ele, que não possui ideais, se tornar rei, esse pais provavelmente cairá em ruínas em pouco tempo.

Habilidades do [Dublê]

 ± [Sucessão]: Se o [Rei] morrer, ou estiver sob o efeito de [Substituição] é capaz de usar [Execução].

Condições de vitória para o [Dublê]  ± Morte daqueles que querem matá-lo. Eliminar – [Príncipe] [Revolucionário]

 


[Feiticeiro]

 

Subordinado do [Rei]. É o professor de magia do [Príncipe] e se dá bem com ele. Estará satisfeito enquanto puder estudar magia e não tem qualquer interesse no trono real.

Não importa o quanto ele aumente suas habilidades mágicas, ninguém irá dar valor a alguém que se isola em sua própria concha.

Habilidades do [Feiticeiro]  ± [Feitiçaria]: Ele pode escolher se vai efetivamente matar aquele que foi selecionado como alvo de [Execução]. O alvo escolhido se tornará um corpo queimado.
Condições de vitória para o [Feiticeiro]  ± Sobreviver

 


[Cavaleiro]

 

Subordinado do [Rei]. Apesar de ser seu subordinado, o cavaleiro está planejando se vingar da família real que arruinou seu país. Ele acredita firmemente que só pode obter a felicidade exterminando a família real.

Obviamente, um homem afogado em seus próprios sentimentos de perda irá apenas cair em miséria e escuridão.

Habilidades do [Cavaleiro]

 ± [Ataque Fatal]: Ele pode escolher se vai efetivamente matar aquele que foi selecionado como alvo de [Execução]. Só tem efeito se o [Feiticeiro] estiver morto. O alvo escolhido morrerá decapitado.

Condições de vitória para o [Cavaleiro]  ± Se vingar. Eliminar – [Rei] [Príncipe]

 


[Revolucionário]

 

Ele é o braço direito do [Rei]. Por sua competência, ele percebeu que a nação irá cair em ruínas se continuar como está. Portanto, está se preparando para assumir o trono.

Um governante que acumulou sentimentos amargos após cometer tantos assassinatos é incapaz de liderar uma nação. No máximo ele mesmo acabará assassinado.

Habilidades do [Revolucionário]  ± [Assassinatox]: Ele pode assassinar o alvo selecionado.
Condições de vitória para o [Revolucionário]  ± Se tornar o rei. Eliminar – [Rei] [Príncipe] [Duble]

 


± O jogo termina quando todas as condições de vitória, para os sobreviventes restantes, forem cumpridas.

 

Todos estão lendo em silêncio e tentando entender o significado disso tudo. Também, estou lendo essas palavras com toda minha concentração, mas não faço ideia do que fazer. Tudo o que compreendo é que os termos como [Execução] e [Assassinato] são a prova de que [Kingdom Royale] é um jogo de assassinatos.

— Ei, Poohfeioso. Como nós usamos essas habilidades [Feitiçaria] ou [Assassinato]? — A presidente pergunta.

«O comando é – mostrado no – monitor do quarto – do jogador correspondente – você tem apenas – que apertar o botão – no monitor – para executar – o comando! Portanto – matar alguém é tão simples – quanto comprar um bilhete.»

Todos, com exceção de mim, ficam pálidos ao ouvir isso. Não entendo o porquê da reação exagerada de todos, e olha para Maria.

— …Maria, uhmm.

— Você não percebe o perigo nisso?

Chacoalho minha cabeça lentamente. Vendo isso, Daiya ri impressionado…Não sei, não posso fazer nada quanto a isso!

— Tudo bem, vamos assumir que você acredita que está em perigo. …Não, isso ainda é pouco. Vamos assumir que você percebe que definitivamente está para morrer. Para escapar dessa crise precisa matar certa pessoa. Poderia matar essa pessoa usando a faca, Kazuki?

— Cl…Claro que não!

— E se precisasse apenas apertar um botão?

— Eh…?

Ao pressionar um botão, seria capaz de proteger minha própria vida. Tomando a vida de outra pessoa.

— …E…Eu ainda não poderia fazer isso! Matar alguém…

— …Bom, acho que você é assim. Contudo, acha que todos aqui compartilham da mesma opinião?

Olho ao redor. A presidente do conselho com sua atitude iniciativa. A ansiosa Yuuri-san. O estranhamente tranquilo Kamiuchi-kun. Finalmente, o ‘portador’, Daiya.

— Você tem confiança de que, nenhum dos seis participantes aqui, incluindo você, não vão tomar a vida de alguém, se suas próprias vidas estiverem em perigo? …Honestamente, eu não.

É provavelmente o mesmo para os outros.

— Todos estão provavelmente considerando se alguém pode querer matá-los. E nem preciso dizer que essa suspeita vai piorar nossa situação cada vez mais, certo?

— Ma… mas apenas porque você pode matar alguém, ao apertar um botão, não significa que irá fazer isso!

— E se o limite de tempo estiver próximo?

— …Limite de tempo?

— Aquele urso verde não disse? Que existe um tempo limite universal, em outras palavras, quer dizer que nós morreremos assim que nosso suprimento de comida acabar. Isso significa que todos morrem, e ninguém vence… em outras palavras, todos nós vamos morrer.

Prendo minha respiração.

— Nosso objetivo não é vencer. É fugir desse jogo. Mas quando o tempo estiver no fim, essa determinação vai falhar. Algumas pessoas vão desistir de fugir. E podem priorizar a própria sobrevivência. Eles podem achar que é melhor vencer o jogo, do que morrer junto com todos. E quando o primeiro corpo aparecer… é o fim.

— …Por quê?

— Um corpo aparece. Os outros jogadores descobrem que alguém está jogando ativamente. Se não fizerem nada, eles podem morrer. Portanto, os outros não terão escolha a não ser participar definitivamente do jogo. Nesse caso, o jogo irá prosseguir até que os vencedores sejam definidos.

Maria explica claramente… ninguém discorda. Provavelmente todos concordam com o que foi dito.

— Quando o primeiro corpo aparecer, é o fim…

Resumindo, nós tempos que encontrar uma maneira de fugir dessa situação antes que alguém cometa um erro.

«Então então então – todos entenderam – como esse – jogo funciona? Agora eu vou – mostrar os horários! – não se esqueçam de – cumprir os horários e – movam se com – cinco minutos de tolerância – Ok?»

A tela muda e uma tabela de horários aparece.

 

~ 12

<A>

- Livre, esperar no próprio quarto.
12 ~ 14

<B>

- Reunião na grande sala
14 ~ 18

<C>

- Seleção do parceiro para o [Encontro Secreto] até as 14:40. Passará 30 minutos no quarto do selecionado.

- O [Rei] pode usar [Execução].

- O [Feiticeiro] pode usar [Feitiçaria] (ou o [Cavaleiro] pode usar [Ataque Fatal]).

O jogador afetado por [Feitiçaria] ou [Ataque Fatal] irá morrer as 17:55.

18 ~ 20

<D>

- Reunião na grande sala

20 ~ 22

<E>

- Jantar no próprio quarto.

Se não houver comida sobrando, o jogador morrerá e se tornará uma múmia.

- O [Revolucionário] pode usar [Assassinato]

O jogador alvo de [Assassinato] morrerá imediatamente

22 ~

<F>

- Pausa para dormir

 

«Vocês não – precisam tomar notas! A informação – detalhada sobre – as classes e também – os horários – estão nos – seus terminais – portáteis – conversas também – são registradas – nos terminais – espero que – seja útil»

— Uhe, essa conversa está salva nessa coisa?

— O que foi, você disse algo que não queria que fosse registrado?

A presidente pressiona Kamuichi-kun assim que ele deixa escapar a pergunta.

— Na verdade não, você está tentando insinuar algo…?

— Você não acabou de pensar que precisa tomar cuidado, para não dizer algo que possa dar dicas sobre a sua ‘classe’? Parece que você está ansioso para participar nesse jogo!

Kamuichi-kun dá um sorriso torto.

— Haha, bem, ninguém iria querer expor um ponto fraco nessa situação.

É compreensível que ele esteja em guarda. Até mesmo eu quero saber as [classes] dos outros, mesmo não tendo qualquer intenção de participar. Especialmente aqueles que vão se opor a mim, e o perigoso [Revolucionário].

Para conseguir isso todos nós provavelmente leremos os registros. Mas essa ação por si só pode ser perigosa. Sinto que se ficarmos ansiosos e lermos os registros, enquanto estamos sendo atormentado pelas dúvidas, até as declarações mais insignificantes vão parecer suspeitas, e nós ficaremos ainda mais desconfiados.

Eventualmente, incapazes de aguentar as suspeitas, alguém vai apertar o botão e…Certo. Tenho certeza de que até mesmo esses registros são uma maneira de nos forçar a participar do jogo.

«Então –desejo a todos vocês – uma boa luta! Só não terminem – o jogo de –forma chata – como todos – se tornarem múmias – ok?»

Em seguida, Noitan desaparece do monitor.

— Esse maldito Poohfeioso…

A presidente reclama. A terrível voz artificial some, e a sala fica em silêncio. Todos ficam em silêncio e não ousam abrir a boca. Talvez porque todos sabem que nossas conversas serão registradas, é terrivelmente difícil falar. A presidente é a primeira a quebrar o silêncio.

— Otonashi-san.

— O que foi?

— Você disse agora a pouco que nosso objetivo deve ser «fugir desse jogo». Mas acha que isso é possível?

— É claro que acho. Você não?

— Eu… honestamente, acho que pode ser difícil. Afinal, compreendo usando a lógica e meus instintos que esse ambiente aqui é «anormal». Estou assumindo que essa não é apenas a minha opinião, mas a de todos os outros, o que acham?

Yuuri-san e Kamiuchi-kun assentem. Também me apresso e faço o mesmo.

— Você acha que existe uma rota de fuga preparada para nós em um lugar tão [absurdo]? Se acha, por favor, me diga seu fundamento.

Apesar do tom calmo, sua voz é firme ao questionar. Todos os outros olham para Maria como se fossem jurados…Maria tem um fundamento para acreditar nisso. Maria sabe que é possível fugir da ‘caixa’, não importa o quão absurdo esse lugar seja. Ela olha em minha direção, por apenas um instante e…

— …Realmente, pode ser difícil. Mas é o único objetivo que temos. Então, acho que temos que acreditar nisso, não importa o quão desesperadora seja a situação… estou errada?

Como esperado, não fala sobre a ‘caixa’.

— Acho que sim. É como você diz.

A presidente parece ter aceitado essa justificativa.

— Kaichou. Sua declaração agora de que «pode ser difícil encontrar uma rota de fuga» é um anúncio de sua participação nesse jogo de assassinatos, certo?

Daiya pergunta, sarcasticamente, sem perder o olhar triunfante em seu rosto.

— Tentando encontrar suspeitas novamente? Você está errado! Jamais mataria alguém. Mesmo supondo que assassinato não seja um crime aqui e alguém possa matar apenas por apertar um botão, o fato de que você cometeu assassinato jamais desaparecerá.  Eventualmente, eu não seria capaz de suportar o peso desse pecado e minha vida estaria acabada. Como posso prever isso, jamais seria capaz de fazer algo assim.

Daiya estala a língua ao ouvir essa resposta, aparentemente perfeita.

— Também… concordo.

— Todos nós sabemos que você não faria isso, Yuuri-chan~! Ah, falando nisso, também vou com essa resposta.

— Veja você mesmo, tentando pegar carona na conversa… Yuuri a parte, não consigo de forma alguma acreditar no que você diz, Kamiuchi-kun.

— Uhe… não seja assim, kaichou!

— Bom, apesar disso, Daiya é aquele em quem menos confio.

Daiya responde a essa declaração, mostrando um sorriso cínico. E então ele diz:

— Faz sentido. Já que sou capaz de matar pelo meu próprio benefício.

Ele diz, friamente, algo que o torna inimigo de todos.

 

Primeiro dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«Sua [classe] é [Feiticeiro].»

Vejo essa mensagem no meu monitor imediatamente ao voltar para o meu quarto. Certamente, [Feiticeiro] é a única [classe] que não tem inimigos entre os seis.

— …Ufa.

Suspiro em alívio.

Nosso objetivo é impedir que [Kingdom Royale] comece. Mas é bem reconfortante saber que não tenho um inimigo real.

— …Mh?

Uma outra mensagem está no canto da tela.

«Nenhum alvo selecionado por [Execução].»

… [Execução]. O comando que o [Rei] pode usar, para selecionar quem quer matar. Acho que se o [Rei] selecionar alguém com [Execução], o comando para usar [Feitiçaria]… em outras palavras, o comando para matar alguém… irá aparecer nesse espaço. Não quero pensar sobre isso. Nem sobre a situação em que alguém tentaria matar outra pessoa, nem uma situação em que eu precise apertar esse botão.

— …Está tudo bem, tudo bem.

Me reafirmo ao murmurar isso. Não é como se nós fossemos começar a nos matar. Já que os outros possivelmente não desejam isso. Pelo menos no começo, onde ainda não há problemas com o limite de tempo, nada deve acontecer.

— …

Realmente? Não posso esquecer que Daiya está entre nós seis.

«Ya ya ya – Kazuki-kun – é hora – do – [Encontro Secreto]!»

Noitan aparece do nada, como sempre. Já acostumado com isso, não fico tão assustado e olho para o monitor. Como sempre, um urso verde com a boca abrindo e fechando mecanicamente.

«Por favor – selecione um jogador – com quem você – queira conversar - você pode então – ir para o – quarto – desse jogador – por apenas – meia hora! Se mais – que um – selecionar – o mesmo – jogador – os encontros – serão realizados – na ordem do mais rápido – para o mais lento!»

Noitan desaparece do monitor e seis nomes com suas respectivas fotos aparecem.

— …O que acontece se a pessoa que escolher, também me selecionar?

«Nada – especial! – vocês apenas – terão o – dobro do tempo – para conversar.»

Ele me responde sem aparecer na tela. Olhando para o meu terminal móvel, pergunto.

— …Err, os outros podem ouvir a gravação das conversas durante o [Encontro Secreto]?

«Eles – não podem! – Apenas as – conversas que o dono – do terminal – ouviu – serão registradas. Por exemplo – mesmo que – alguém esteja no – mesmo lugar que você – as conversas não serão – gravadas para ele – se ele não – ouví-las – mas a – informação de com quem você – conversou – durante o [Encontro Secreto] – será salva – no terminal – dos outros – então tome cuidado.»

Quem devo escolher… bem, só há uma opção.

É claro, aperto o botão «Maria Otonashi».

«Ok – por favor espere – até todos –escolherem – seus parceiros.»

Me pergunto quem os outros irão escolher…É só uma hipótese, mas acho que Maria não irá me escolher. Tenho certeza que ela vai deduzir que a escolhi. Portanto, vai escolher… o Daiya.

 

«Ok – parece que todos – se decidiram –vou agora – mostrar quem – foi escolhido por quem.»

Noitan desaparece novamente, e os nomes aparecem na tela.

 

[Iroha Shindou] ->

 [Koudai Kamiuchi]

16:20~16:50

[Yanagi Yuuri] ->

[Iroha Shindou]

15:40~16:10

[Daiya Oomine] ->

[Kazuki Hoshino]

15:40~16:10

[Kazuki Hoshino] ->

[Maria Otonashi]

15:00~15:30

[Koudai Kamiuchi] ->

[Yanagi Yuuri]

15:00~15:30

[Maria Otonashi] ->

[Daiya Oomine]

16:20~16:50

 

Como esperado, Maria escolheu Daiya. E Daiya…

— …Ah!

Daiya escolheu… a mim?

— Por quê…?

Não consigo entender a intenção dele. …Não sei o que ele quer para começo de conversa, então não tem como eu entender de qualquer forma. Mas felizmente, meu encontro com a Maria vem primeiro.

Ainda bem que não é ao contrário. Se o [Encontro Secreto] com o Daiya viesse primeiro, dançaria na palma da mão dele. Mas assim, posso trabalhar em uma estratégia com a Maria.

Confirmo quem os outros escolheram. A escolha da Yuuri-san e do Kamiuchi-kun são plausíveis, mas é um pouco estranho a presidente ter escolhido o Kamiuchi-kun.

«A porta – irá abrir no – horário indicado! Atravessando a – porta – você automaticamente chegará – ao quarto da – pessoa selecionada – então por favor fique – tranquilo.»

 

Primeiro dia  <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Maria Otonashi]

Acho que vou cair no nada ao pisar na escuridão, mas cheguo a um quarto idêntico ao meu. Tão idêntico que parece que meu quarto apenas se inverteu.

— Já chegou?

Maria está sentada na cama olhando em minha direção, ela bate no lugar da cama ao lado dela indicando para me sentar.

— Nós não temos tempo para conversa fiada, então vou direto ao ponto principal.

— …Uhmm, e o nosso ponto principal é…?

— Obviamente, como podemos tomar a ‘caixa’ do Oomine. Não me diga que você está pensando em realmente participar do [Kingdom Royale]?

Sentando-me ao lado dela, chacoalho a cabeça violentamente.

— …Mas me pergunto se o Daiya vai simplesmente entregar sua ‘caixa’…

Ela franze a testa ao ouvir minhas palavras.

— …Realmente. Não temos outra escolha que não o persuadir, mas…

— …Isso não vai ser fácil?

— Você acha que seria?

Novamente chacoalho minha cabeça. Falhar em persuadi-lo também significa que não vamos conseguir obter a ‘caixa’. Se a situação exigir, nós teremos que destruir a ‘caixa’… junto com o Daiya.

— …Diga, Maria. Se o Daiya perder em [Kingdom Royale], você acha que isso automaticamente significaria o fim da ‘Game of Idleness’?

— Isso depende da natureza da ‘Game of Idleness’, então ainda não posso dizer nada definitivo… mas tive várias oportunidades de analisar a personalidade do Daiya durante a ‘Rejecting Classroom’. Tendo o observado por tanto tempo, acho que, já que a derrota para qualquer um significa morte, a derrota do Daiya no seu próprio jogo, também teria o mesmo resultado. Não acha?

Concordo. Não podemos dizer com certeza enquanto não sabemos qual o objetivo dele… mas é difícil de acreditar que alguém tão orgulhoso quanto Daiya, seria o único jogando sem obedecer às regras.

— …Diga — enquanto penso sobre isso, Maria me olha nos olhos.

— Você quer que… Oomine morra?

— Han?

Maria olha em minha direção com a mesma expressão composta de sempre, mas posso perceber um pequeno traço de ansiedade misturado…Certamente, minha pergunta agora a pouco pode ter soado como uma proposta para matar o Daiya.

— Não! Jamais desejaria a morte do Daiya.

— …Entendo.

A origem do sorriso, que acompanhou essas palavras, é obviamente alívio…Certo. Maria jamais desejaria usar tal método.

— Escapar daqui usando a morte do Daiya, isso não é uma solução!

— Sim, é exatamente como você diz.

— Bom, posso dizer isso, mas ainda não sei o que fazer…

Ao me ouvir murmurar isso, Maria começa a falar com uma expressão séria.

— …Estou meio relutante em propor isso, mas ouça. Nós podemos… pedir aos outros, exceto o Oomine, por ajuda, especialmente Shindou. Se nós pudermos chegar a mesma conclusão, [Kingdom Royale] não será nada a temer.

— …Como assim?

— Se nós conseguir fazermos com que eles acreditem no conceito das ‘caixas’ e no fato de que Oomine é o ‘portador’, nós deixaríamos claro para todos quem é o inimigo. E assim podemos impedir o pior caso em que ninguém sabe quem pode matar quem. [Kingdom Royale] é um jogo que não começa enquanto nós não desconfiarmos uns dos outros.

— …Mas vai ser difícil fazê-los acreditar nas ‘caixas’, certo?

— Sim, exatamente. Apenas tocar no assunto já é bem difícil na situação atual, já que agora qualquer ação que chame muita atenção pode atrair risco.

— Sim… posso entender porque você está relutante!

— … Não estou relutante por ser difícil de executar.

— Eh?

— Você não entende? Diga a eles quem é o ‘portador’. Diga a eles que o inimigo é Daiya Oomine. Mas se fizer isso, todos vão saber que serão libertados assim que Oomine morrer. E não se esqueça que podemos matar com o simples apertar de um botão aqui.

Perco o ar por um instante.

— Oomine não é alguém que possa facilmente ser persuadido. Não acho que ele iria parar com a ‘Game of Idleness’, mesmo que a Shindou e os outros descubram a verdade. Mas como os outros reagiriam a esse comportamento? Eles pacientemente esperariam que ele mude de opinião, em um ambiente com tempo limitado, onde eles podem ser mortos a qualquer instante? Não acho que iriam. Se nós entrarmos em um impasse, provavelmente…

Maria suspira amargamente.

— …Shindou mataria Oomine.

— Não po…

Respiro fundo e continuo.

— Não pode ser… A kaichou mesma não disse? Ela não seria capaz de matar.

— Aquela declaração te acalmou?

— …Você acha que foi uma mentira, Maria?

— Não sei se é uma mentira ou não. Contudo, Shindou seria ainda mais perigosa se aquilo for verdade.

— Por… Por que você diz isso…?

Ela fica em silêncio, pega o terminal portátil na mesa e começa a operá-lo. Então reproduz um arquivo de voz.

«Eventualmente, não seria capaz de suportar o peso desse pecado e minha vida estaria acabada. Como posso prever isso, jamais seria capaz de fazer algo assim.»

— Você percebe o risco dessa declaração?

Balanço a cabeça negativamente.

— Shindou está dizendo que… ela pode matar se estiver preparada para arruinar a própria vida.

Isso soa como uma interpretação forçada, mas… acredito que pode realmente ser interpretado dessa forma.

— Ma…mas você não ficaria disposto a arruinar sua própria vida, a menos que tenha um bom motivo!

— E você realmente acha que não há um? Posso citar alguns sem pensar muito. Vamos ver… por exemplo, salvar a Yanagi não seria uma razão boa o bastante?

Ela diz claramente, me deixando sem palavras. Isso realmente pode ser um motivo que faria a presidente cruzar essa linha. Afinal, esse não é o nosso cotidiano. É uma anomalia que foi distorcida pela ‘caixa’. Pode haver inúmeras boas razões.

— Kazuki, você provavelmente já sabe, mas não posso matar ninguém, não importa qual seja o motivo.

— Sim, eu sei.

— Acho que é o mesmo para você. Você pode me dar uma razão tão instantaneamente quanto a Shindou?

Começo a pensar. Por que não posso matar?…Porque é nojento pensar que está tudo bem em matar os outros?…Porque tenho pena?…Porque minha ética não permite? Posso pensar em alguns, mas nenhum parece realmente correto. Não acho que eles estejam errados, mas também não parecem certos. Essas são apenas razões subsequentes que apenas acompanham o fato de que não posso fazer isso.

— Não vem nada à mente…?

— …Sim.

Respondo abaixando a cabeça.

— É assim que deve ser.

— Eh?

— O que a Shindou disse sobre prever e tudo mais, não está certo. Alguém que realmente não pode matar, não precisa de um motivo. Eu e você…nós simplesmente não podemos.

…Certo. Exato. Isso parece mais natural.

— Não é natural quando você consegue encontrar uma razão pela qual você não pode matar, e pode colocar perfeitamente em palavras. Shindou apenas tentou nos fazer acreditar que ela não é perigosa. Bem, mas isso ainda é mais sensato do que declarar sua inimizade, como Oomine fez.

— Me pergunto por que o Daiya está agindo dessa maneira, apesar de estar em uma posição perigosa…

— Bem, ele não soaria muito convincente se dissesse «Eu jamais machucaria uma mosca» como Shindou e os outros, considerando a atitude dele. Visto de certo ângulo, a personalidade dele pode ser surpreendentemente desvantajosa para [Kingdom Royale].

…Realmente, como as coisas estão agora, a vida dele é a que está em mais perigo. Por outro lado, Yuuri-san pode surpreendentemente estar na posição mais segura.

— Ah, certo. Estava pensando: a ‘Game of Idleness’ é uma caixa do tipo interna ou externa?

O olhar da Maria fica mais afiado ao ouvir essa pergunta.

— De…desculpe. Não estava pensando direito. Ce…certo, uma ‘caixa’ tão absurda tem que ser uma do tipo interno…

— É do tipo externo.

— …Eh?

— A ‘Game of Idleness’ é uma ‘caixa’ do tipo externo. O nível deve ser em torno de cinco.

A ‘Sevennight in Mud’ tinha um nível externo de quatro, se me lembro corretamente. Então essa ‘caixa’ absurda, é superior a aquela que era apenas sobre trocar de identidade. Mas se é do tipo externo…

— Isso significa que ele acredita nessa situação até certo ponto. …Talvez o ‘portador’ tenha conseguido dominar completamente o uso da ‘caixa’.

Prendo a respiração. Isso… seria quase inacreditável, não?

— Persuadi-lo pode ser difícil por causa disso. Os ‘portadores’ que encontramos até agora tinham mais ou menos algum senso comum no momento em que usaram suas ‘caixas’. Por causa disso, seus ‘desejos’ foram falhos e inexatos. Nós conseguimos obter as ‘caixas’ deles usando essas falhas.

— …Mas não há nenhuma dessa vez.

Honestamente falando, não posso acreditar que Daiya tenha conseguido dominar a ‘caixa’. Afinal, Daiya é um realista extremo. Ele não é adequado para usar uma ‘caixa’ que garante ‘desejos’, junto com as dúvidas que os acompanham.

— De qualquer forma, isso significa que é inevitável que essa caixa tenha influência na realidade. Então as memórias do que nós criarmos durante o [Kingdom Royale], provavelmente serão mantidas, assim como os resultados daqui também serão válidos lá fora.

— Em outras palavras, se nós morrermos durante o jogo, também morremos na realidade…?

— Sim, pense nisso dessa forma. …Só para sua informação, não apenas em tipos externos, mas também em ‘caixas’ do tipo interno, o impacto da «morte» é grande! O fato de estar aqui em perfeitas condições, apesar de ter morrido várias vezes na ‘Rejecting Classroom’ só é possível por causa das características especiais daquela ‘caixa’ que tornaram a própria «morte» em algo inválido. Se tivesse morrido durante a última “Transferência Escolar”, a 27.756ª repetição, ou eu teria realmente morrido, ou no mínimo teria sofrido algum efeito que corresponde à morte.

— …Entendo.

De qualquer forma, resumindo é isso:

«Morrer» aqui é o equivalente de «morrer» na realidade.

— Portanto, nós absolutamente não podemos deixar [Kingdom Royale] começar.

Honestamente falando, talvez não esteja com uma sensação de perigo grande o bastante. O leve significado da palavra “jogo” e a «morte» que parece ser alcançável ao simples apertar de um botão… no final, acabo pensando nessa ‘caixa’ absurda como um tipo de jogo.

Mas isso está errado. Se for morto após alguém simplesmente apertar um botão, ou se matar alguém, essa «morte» não poderá ser revertida como em um jogo.

— …Nós não temos muito tempo. Primeiro vamos considerar o que você deve fazer durante o [Encontro Secreto] com o Oomine.

— Certo.

Na situação presente em que nós não podemos sequer enxergar a ponta de uma solução, devemos primeiro fazer o que podemos no momento.

— Uhmm, acho que Daiya irá perguntar pela minha [classe] primeiro. O que você acha?

— Provavelmente. …Aah, só para avisar, se você não tiver um bom motivo, não diga a ninguém qual é a sua [classe].

— Certo — estou ciente do risco, mas… — Mas vou te contar, Maria. Sou o [Feiticeiro].

— … O que você faria se minha [classe] fosse oposta à sua?

— Nada em particular. Ainda teria te contado.

— … Entendo. Você tem razão. Algo tão insignificante não é algo que nós esconderíamos um do outro.

Maria diz isso e sorri. Ao ver sua expressão a minha própria fica relaxada sem que eu perceba. Ela acaba de chamar isso, que seria um problema de vida ou morte se descoberto por outros, de “insignificante”.

— Falando nisso, minha [classe] é [Príncipe]. Embora tivesse preferido [Revolucionário].

É justo. O [Revolucionário] é o mais provável de matar alguém, já que ele pode matar por conta própria. Mas Maria jamais cometeria esse erro, mesmo que o tempo limite estivesse se aproximando. Maria definitivamente não irá matar ninguém.

— …Ah.

Percebo algo ao pensar nisso.

— O que foi?

— E…err…

Observando Maria, que está me encarando de forma suspeita, pelo canto do olho…Maria é impotente nessa ‘caixa’. Afinal, [Kingdom Royale] é um jogo sobre matar e enganar. Maria, que é incapaz de ambas as coisas, não tem qualquer chance de vitória. Até agora, sempre estive dependendo dela em confrontos envolvendo ‘caixas’. E mesmo dessa vez, provavelmente vou depender dela. Contudo… definitivamente chegará uma hora que precisarei fazer algo com minhas próprias mãos.

— …Tanto faz!

Ela continua me observando de forma desconfiada após dizer isso. Acredita que jamais seria capaz de matar alguém. Mas se percebesse que Maria está para morrer, e soubesse que posso prevenir isso matando alguém,…

…O que eu faria nessa situação?

 

Primeiro dia <C> [Encontro Secreto] com [Daiya Oomine], Quarto de [Kazuki Hoshino]

O que fazer para me opor ao Daiya. No final, nós decidimos que o melhor é me manter em silêncio. Daiya sem dúvida tentará me confundir, dessa forma apenas mostrar qualquer reação já é perigoso. Já que não tenho confiança alguma, em conseguir evitar os planos dele, não tenho outra escolha a não ser cobrir os ouvidos.

Sentado na cama, cumprimento Daiya apenas erguendo a mão, quando ele entrou no meu quarto. Ele olha ao redor brevemente e se senta sobre a mesa.

— Kazu, me deixe perguntar…

— Daiya.

O interrompo imediatamente.

— Sei que estamos dentro da sua ‘caixa’. Só posso concluir que você considerou que seria fácil se aliar a mim, portanto, está aqui com a intenção de me enganar. Então, a partir de agora, não falarei mais.

Ele fica surpreso por um momento ao me ver formar uma linha com os lábios, mas sua expressão rapidamente se altera para um sorriso irônico.

— Do que você está falando, Kazu?

— …

— Qual o ponto em ficar em silêncio? Você não está ansioso para me perguntar sobre a ‘caixa’? Você tem que fazer algo sobre ela, não é mesmo?

— …

Não vou pronunciar nenhuma outra palavra. Foi isso o que nós decidimos. Se respondê-lo por conta própria, por achar que “apenas isso não deve ser problema”, ele exploraria isso. Aos poucos deixaria a sugestão de que “está tudo bem falar” e eventualmente eu acabaria falando. Portanto, não vou falar.

— …Aah, então você está jogando todo o trabalho para a Otonashi, hum. No final das contas, foi ela quem te disse para ficar quieto, certo? Você realmente não serve nem como um bichinho de estimação. Se vai apenas ficar quieto, então até mesmo um inseto é superior a você, já que um inseto jamais seria capaz de falar.

Cubro meus ouvidos com as mãos.

— Você ainda pode me ouvir. Hmpf, vou te dizer algo interessante, Kazu!

Ele se levanta, vem em minha direção e sussurra perto do meu ouvido.

Essa ‘caixa’ não foi criada pelo meu ‘desejo’.

Meus olhos se arregalam em reflexo e olho para ele. Ele começa a gargalhar.

— Veja! Esse é o momento em que você perde para um inseto.

— Uh…

Pare de me provocar! Ou não conseguirei ficar quieto.

Após um tempo ele para de rir e volta para a mesa. Então olha para mim e declara:

— Mas o que acabei de dizer é verdade.

…Não vou ser enganado. Não tem como acreditar nele. Nem eu tenho o coração tão mole assim.

— Bom, acho que é impossível forçá-lo a acreditar. Sua cabeça pode ser um grande jardim de flores por dentro, mas não tem como você acreditar em tudo como um idiota. Mas por que você acha que eu diria isso, especificamente?

Os cantos de sua boca se erguem um pouco.

— Porque é a verdade.

…Não vou acreditar. Definitivamente não vou acreditar em você.

— Você deve saber que não fiz nada por um tempo após obter a ‘caixa’. Em outras palavras, estava apenas em posse da ‘caixa’ sem utilizá-la. Diga, Kazu, como você pode ter certeza que esse não continua sendo o caso, mesmo agora?

…Isso não pode ser verdade. …Tenho certeza que não pode.

— Você não acredita em mim. Acreditar em mim é impossível afinal de contas. Mas ainda assim, Kazu, você não acaba de pensar isso? Provavelmente estou mentindo, mas e se estiver dizendo a verdade? Se for o caso, não seria necessário considerar a possibilidade de um ‘portador’ diferente, não importa se estou dizendo a verdade ou não? …Hu, isso não é algo que eu deveria dizer, huh.

…Droga. É exatamente como ele diz. Não posso simplesmente ignorar isso, como se fosse uma mentira descarada. Na verdade, tinha achado estranho o Daiya ter sido capaz de dominar uma ‘caixa’. Isso seria esclarecido se ele não fosse o ‘portador’. Se houver outro ‘portador’, além do Daiya, então ele conseguiria facilmente matar a todos nós.

E assim, Daiya consegue sem qualquer esforço me confundir. É claro, ele não deixa de perceber minha perturbação, essa pequena fraqueza.

 

— Kazu, você é o [Feiticeiro], não é?

 

— …Eh?

Minha voz sai reflexivamente.

— Co…como vo…você…?

Como ele descobriu? Não posso ter dito nada que poderia revelar…Pensando até aqui, percebo algo. Cometi um erro… neste instante. Daiya volta a gargalhar animado, provavelmente por causa da minha expressão.

— Hahaha! Sabia desde o começo, mas você realmente não tem valor algum nesse jogo, não é mesmo?

Ouvindo a gargalhada dele, mordo o lábio. Mesmo Maria tendo sido tão considerada em me avisar, desperdiço tudo. Viro o cachorrinho dele.

— …Você é sortudo, não é mesmo Daiya.

Ele disse [Feiticeiro] apenas ao acaso. A probabilidade é 1:6… não, 1:5, já que ele sabe a própria [classe]. Apenas, aleatoriamente escolheu [Feiticeiro] e acabou acertando. …Se eu fosse outra [classe], apenas o fato de que não sou o [Feiticeiro] seria revelado…

— Sortudo, eu? Você não entende por quê perguntei especificamente se você é o [Feiticeiro]?

— …O que você quer dizer?

Daiya fica quieto por um instante e então coça a cabeça.

— Bem, por hora vamos assumir que não sou o ‘portador’ dessa ‘caixa’.

— Duvido.

— Cale a boca e escute. Se não é minha, isso também significa que não desejei por esse «jogo-mortal». Normalmente, não iria querer que você, meu conhecido, morra.

— …Certo.

— Por isso que perguntei se a sua [classe] é [Feiticeiro].

— …Essas duas coisas tem alguma relação?

Daiya me encara com o olhar cheio de desprezo.

— Não me diga que você acha que está seguro só porque o [Feiticeiro] não tem inimigos. Se você realmente acha isso, então não tem nenhum neurônio nessa sua cabeça, só merda.

Fico sem palavras, já que ele acerta em cheio.

— Vou te explicar de forma tão polida, que até um macaco seria capaz de compreender! Primeiro, o [Feiticeiro] é definitivamente o que tem mais dificuldade de sobreviver.

— …Por quê? A sobrevivência do [Feiticeiro] é irrelevante para as condições de vitória das outras [classes].

— Até você entende que o [Revolucionário] é o mais perigoso, certo?

Concordo. Isso não precisa nem ser mencionado, já que o [Revolucionário] é o único que tem a habilidade de matar sozinho.

— Aquele que o [Revolucionário] mais quer ver morto é o [Feiticeiro]. Entende? Além do [Feiticeiro], apenas o [Cavaleiro] pode decidir matar ou não. Contudo, as condições de vitória do [Cavaleiro] e do [Revolucionário] são bastante similares, portanto eles são os mais aptos a se aliarem. Se o [Feiticeiro] morre, o perigo para o [Revolucionário] irá reduzir dramaticamente.

Pego meu terminal e releio a explicação das [classes].

…Realmente. Mesmo que o [Revolucionário] mate o [Rei], que está diretamente se opondo a ele, o [Príncipe] e o [Dublê] apenas tomariam o seu lugar. Então sua condição não mudaria muito. Contudo, se o [Feiticeiro] sumir, o [Revolucionário] imediatamente alcançará uma posição privilegiada.

— Ei, mas isso… não significa que o [Revolucionário] praticamente já venceu no momento em que o [Feiticeiro] morrer…?

— Também não é tão simples. Para começar, nem todos irão deduzir as [classes] dos outros corretamente, e ninguém se aliaria imediatamente ao [Revolucionário]. E, além disso…

Daiya começa a mexer na minha mala e tira a faca de dentro.

— Não importa com quanta vantagem ou desvantagem você esteja nesse jogo, no pior caso você tem isso. Pode vencer [Kingdom Royale] a qualquer momento, você só precisa ter a resolução para matar os outros diretamente!

Perco o ar.

… Estou convencido agora. O ‘portador’ da ‘Game of Idleness’ é insano.

— …Kazu, me deixe dizer apenas isso.

Daya coloca a faca de lado.

— Você não pode “persuadir” o ‘portador’ até que as mortes comecem. Se você quer manter os danos mínimos, precisa matar o ‘portador’. Então…

Daya me olha nos olhos. E então declara com uma expressão honesta, livre de qualquer falsidade:

— Não importa o quanto você tente, já está decidido que pelo menos uma pessoa vai morrer por causa dessa ‘caixa’.

Chacoalho minha cabeça de leve e murmuro:

— Isso não é... verdade…

Daiya não diz nada. Na verdade, até mesmo eu já tinha percebido há muito tempo. Que essa é a verdade. Há muito tempo.

 

Primeiro dia <D> Sala de Reunião

Quando entro na grande sala, ninguém ainda havia chegado.

Me lembro do [Encontro Secreto] que tive com o Daiya. No final, acabei expondo que sou o [Feiticeiro] e até perdi a confiança de que ele seja o ‘portador’. Nessa situação, é necessário reconsiderar as coisas junto com a Maria, sobre como vamos prosseguir de agora em diante. Na verdade, vim o mais rápido o possível para tentar encontrá-la o quanto antes, mas… e exatamente no momento em que penso nisso, ela aparece da sua porta.

— Maria!

Ela me olha com uma expressão grave ao me ouvir, e se senta em frente a mim. Maria teve um [Encontro Secreto] com o Daiya, depois de ter conversado comigo. Julgando pela expressão, deve ter sido abalada como eu.

— …Como foram as coisas com o Daiya?

— …Provavelmente o mesmo que com você. Ainda considero Daiya o principal suspeito de ser o ‘portador’, mas agora começo a considerar a pequena possibilidade de que seja outra pessoa. Isso torna ainda menos sensato falar com os outros sobre a ‘caixa’.

— E nós não temos muito tempo…

— Sim, isso é exatamente o que me incomoda. Gostaria de usar esse tempo para conversar com os outros sobre eles, para entender melhor suas personalidades, mas… Eu mesma não posso falar sobre mim. Já que não tenho como falar sobre meu meio, sem mencionar as ‘caixas’.

O meio dela, huh. Mesmo eu não sei muito sobre isso. Ela não costuma falar muito de si mesma, e tendo visto a ‘Flawed Bliss’ dela, não estou exatamente em posição de perguntar.

— Maria, diga…

— E aí!

Kamiuchi-kun entra na sala e ergue a mão para nos cumprimentar. Mostro um sorriso torto e respondo o gesto. Para que ele não ouça minhas próximas palavras, coloquei minha mão na frente do ouvido da Maria.

— Kazuki, você não deve sussurrar. Mostrar a eles que nós temos segredos, só irá incentivá-los a desconfiarem de nós nessa situação.

— Ah, entendo…

— Não se preocupe tanto com isso, Maricchi. Vocês são namorados afinal de contas, é natural que tenham segredos, não é mesmo?

— Você pode dizer isso, mas não significa que os outros também achem.

— Você acha? Falando nisso, eles são assustadores, não? Especialmente kaichou e Oomine-senpai.

— …Maria, por acaso você já conhecia o Kamiuchi-kun?

Pergunto, incomodado pela forma íntima que ele fala com ela.

— Não realmente.

— Whoa, esse “não realmente” não foi um pouco cruel? Nós já não conversamos várias vezes, antes disso?

— Você falou comigo várias vezes por conta própria, sim, mas nunca houve uma conversa.

Kamiuchi-kun encolhe os ombros com uma expressão surpresa.

— Apenas queria ser curado, ao conversar com uma garota super linda, não precisa ficar tão defensiva… não é como se estivesse planejando roubá-la do Hoshino-senpai, sério!

— …Ouça, Kamiuchi-kun. Só para você saber, Maria e eu não estamos realmente juntos, entende?

— Não, já é tarde demais para constrangimento, modéstia ou qualquer coisa a essa altura.

Como esperado, ele não acredita em mim.

 

Enquanto estamos nos preocupando com essa conversa boba, todos se reúnem na sala de reunião. Nos sentamos em nossos lugares, como indicado pela kaichou.

— Muito bem, alguém pensou em uma forma de escaparmos do [Kingdom Royale]?

Tendo dito isso logo no começo, kaichou cruza os braços e espera por uma opinião, com um sorriso no rosto. Olho ligeiramente na direção de Daiya, ele está olhando para o outro lado, como se não estivesse sequer ouvindo nossa conversa.

Se as três pessoas que sabem sobre ‘caixas’ não vão dizer nada, ninguém vai dizer…Foi o que pensei, mas alguém inesperado ergue a mão, timidamente.

— Oh, Yuuri, você sabe de algo?

— Uhmm, não é uma maneira de fugirmos do jogo, mas uma forma de impedi-lo… se vocês não se importarem.

— Ooh, boa! Diga-nos sua opinião, sem problemas!

Incentivada pela kaichou, Yuuri-san assente.

— Uuhhmm… Acho que todos concordam que as suspeitas vão piorar nossa situação. Isso não é um erro meu, certo?

Após confirmar que nós concordamos, Yuuri-san continua.

— Não sabemos a [classe] de cada um. Não sabemos quem nossos inimigos são. Acho que isso gera ansiedade. Ninguém quer que o jogo prossiga, certo, todo mundo? Então, por que nós não apenas contamos até três, e revelamos nossas [classes]?

Todos ficam surpresos, e sem palavras ao ouvir essa ideia tão audaciosa, que contrasta com o tom suave da voz de quem a propôs. Yuuri-san hesita um pouco ao ver nossas reações, mas volta a falar bravamente.

— Se fizermos isso, ninguém mais vai ter conclusões precipitadas. Acho que nós vamos conseguir confiar uns nos outros. E é impossível mentir sobre a classe, já que nós vamos todos dizer ao mesmo tempo. Então se dois declararem a mesma [classe], nós saberíamos que um dos dois está mentindo. O que… vocês acham?

— Aah, Yuuri-chan você é brilhante! Esta é definitivamente a atitude certa! — Ao receber o elogio de Kamiuchi-kun, Yuuri-san fica vermelha com um sorriso envergonhado no rosto.

— Além disso, nós só podemos fazer isso se todos os seis estiverem presentes. Já que seria possível mentir se alguém estiver faltando. …Ah, “faltando” é meio ambíguo, desculpe.

Sim, vale tentar… eu acho. Mas não posso simplesmente concordar tão facilmente. Definitivamente deve haver algo que não estou levando em consideração. Maria deve estar pensando o mesmo. Após pensar por um tempo com os braços cruzados, ela abre a boca e diz:

— Eu topo.

Mesmo Maria não achou nenhum contra? Então não há problemas. Estou prestes a dar meu voto de confiança, quando…

— Hmpf.

Daiya zomba com desprezo. No rosto de Yuuri-san, surge uma mistura de perturbação e medo diante da reação dele.

— …Você não concorda, Daiya-san?

— Não, nem um pouco.

— Desculpe se não fui atenciosa o bastante… posso perguntar o seu motivo?

— Não gosto de como você banca a garota boazinha.

Os olhos dela se arregalam, e fica tensa ao ouvir isso.

— Que cara é essa? Seus ouvidos só servem para ouvir o que é conveniente para você, ou o que? Acabei de dizer que não estou com vontade de te obedecer, porque te odeio, sua vadia de merda.

Os olhos da Yuuri-san começam a se encher de lágrimas.

— Oomine-senpai. Você não está indo longe demais? Peça desculpas pra Yuuri-chan.

— Hah? Devo me desculpar? Esperava que vocês estivessem me agradecendo! Pessoal, estou mostrando para vocês que ela é uma covarde. Certo, Yanagi?

Os ombros dela estremecem, ela está quase chorando.

— U…uma covarde? Eu? Por quê…?

— Então deixe-me perguntar, você por acaso é o [Revolucionário] ou o [Feiticeiro]?

O rosto dela fica pálido.

— Não, você não é, certo?

— …Co…como, você…

— Você sabe muito bem. Sabe que o risco de declarar quem você é, varia de [classe] para [classe]. Portanto, você não é nenhuma das [classes] que está em perigo. Estou apostando que você tem uma [classe] relativamente segura. E então?

O rosto dela continua ficando mais e mais branco, ela já está em um estado digno de pena.

— Uma garota tão perversa como você, propôs isso apenas pelo seu próprio bem, e não para melhorar nossa situação, não é mesmo?

Finalmente ela começa a derramar lagrimas.

— Oi oi, você acha que vamos perdoar isso se você chorar? Whoa, as lágrimas de uma garota são realmente convenientes, não é mesmo? Sendo uma vadia da forma que você é, começar a chorar deve ser tão fácil quanto abrir uma torneira, hein?

— Cruel… você está sendo muito cruel…

— Você apenas queria saber quem são os que têm [classes] perigosas… para sobreviver.

— Não… isso… eu só, não queria que nós começássemos a matar uns aos outros, então, uuuuu…

A esse ponto, ela já não é mais capaz de parar as lágrimas que continuam escorrendo continuamente.

…Realmente, Yuuri-san parece tímida, então talvez ela não tivesse coragem de fazer uma proposta tão ousada se fosse o [Revolucionário] ou o [Feiticeiro]. Mas ainda assim, ela propõe isso após ter pensado da melhor maneira que pode, em como podemos melhorar nossa situação. Esses argumentos realmente são muito cruéis.

Parece que Kamiuchi-kun tem a mesma opinião, ele está encarando Daiya com tanta seriedade que não me surpreenderia se ele começasse um ataque agora mesmo.

— Você não está se opondo a isso simplesmente porque você é o [Revolucionário]? Desculpe, senpai, mas se você realmente for o [Revolucionário], honestamente não tenho intenção de deixar você fazer o que quiser, está ouvindo?

— Entendo, então sou o [Revolucionário], huh. Então vou [Assassinar] você no próximo bloco <E>.

Kamiuchi-kun é completamente oprimido por Daiya, que claramente tem palavras mais mal-intencionadas para dizer, e simplesmente fica sem palavras. Sem ter mais determinação para argumentar, ele simplesmente aperta os lábios.

— Em primeiro lugar, não precisaria ter falado de qualquer forma! Certo, kaichou-san?

Yuuri-san ergue seu rosto coberto de lagrimas, e olhou para a kaichou. A presidente mostra um sorriso torto e diz:

— …Bem, é verdade. Desculpe Yuuri, mas também sou contra.

— Por… por quê…?

— Certamente, há vantagens como você disse. Contudo, os contras são maiores. Por exemplo, conseguiríamos manter a calma, se descobríssemos que o Oomine-kun, que tem agido como um idiota ignorante até agora, é o [Revolucionário]? As suspeitas não iriam até piorar no pior caso?

— Bem…

— Tenho certeza que ele começaria a operar se isso acontecesse. Ele poderia simplesmente tentar nos controlar demonstrando seu poder talvez? Isso é apenas um exemplo, posso pensar em vários outros contras. Portanto, também sou contra.

— …Entendo.

Yuuri-san fica claramente abatida, ao ter sua proposta rejeitada até pela sua amiga.

— No final, uma idiota como eu deveria ter ficado quieta… pessoal, desculpem por incomodá-los.

Outra lágrima escorre de seu rosto.

— Yu…Yuuri-san, por favor, não diga isso! Acho que é uma ótima ideia, sabe? E veja, até mesmo a Maria concorda, não é?

— …Hoshino-san.

Preciso admitir que isso foi muito fraco como um encorajamento, mas Yuuri-san me mostra um sorriso mesmo assim.

— Pensando nisso, por que você concordou, Otonashi-san?

Kaichou pergunta.

— Porque acredito que compreendermos uns aos outros, é o mais importante. Enquanto não pudermos sequer revelarmos nossas “classes” para os outros, ninguém será completamente honesto, estou errada? Pelo menos não acho que começaríamos a atacar uns aos outros por causa disso. Então, qual o seu motivo?

— Você não está dizendo isso por que não compreende o sentimento de medo? Nós não somos tão fortes quanto você, sabia? Estou apavorada para ser honesta.

— Não parece.

— Porque estou garantindo que não parece. Já que todos vão tirar vantagem de qualquer ponto fraco que demonstrar… oh, é inútil tentar parecer composta se disser isso, não é mesmo?

Ela disse compostamente. …Sim, também acho que ela está mentindo sobre estar apavorada.

— Mas você tem razão em dizer que é necessário revelar nossas [classes] para podermos entender uns aos outros. Mas obviamente ainda é cedo demais já que a situação é muito incerta nesse momento.

— Vai ser tarde demais quando o primeiro corpo aparecer.

— Certo. Devemos tirar isso a limpo o quanto antes…

Ela murmura e espreme os lábios. O hábito de kaichou sempre que está pensando.

— Bom, vamos evitar isso pelo menos por hoje. Acredito que ninguém irá morrer no primeiro dia afinal de contas.

 

No final, ninguém apresenta uma ideia melhor que a da Yuuri-san. É claro, nós continuamos conversando para nos compreendermos melhor. Mas o tempo passa, sem que ninguém encontre uma maneira de melhorar a situação.

«Está – na hora! – Se vocês – não voltarem – vão morrer!»

Ao ouvir esse anúncio, olho meu relógio que está marcando exatamente «20:00». É o fim do bloco <D>.

Daiya rapidamente volta ao seu quarto, kaichou e Kamiuchi estão indo em direção as suas portas. Certo então, melhor voltar logo também. Estou para atravessar a porta, quando alguém segura a manga do meu uniforme.

— O que, Maria?

Me viro. Não é Maria, mas Yuuri-san que está diante de mim, com os olhos arregalados. Percebendo meu engano, fico vermelho. Me vendo dessa forma, ela estreita os olhos e me mostra um sorriso doce.

— E…err… precisa de algo, Yuuri-san?

— Mh. Só queria dizer obrigado.

— …? Obrigado por…?

Ela parece ainda mais satisfeita, ao me ver inclinando a cabeça em confusão.

— Você não se lembra de imediato, então… você não estava fingindo ser gentil comigo apenas para tentar se aliar…

— …Eh?

— Ah não, não é nada. …Você realmente não entende? Você não tentou me animar quando estava chorando?

— …Ah… aquilo.

— Sim, então novamente, muito obrigado — ela se curva, o que me faz ficar sem graça.

— Nã… não se preocupe… não é como se tivesse feito algo incrível, sério.

— Mas me ajudou muito, sabia?

— E… então… fico feliz por ter ajudado…

É bastante constrangedor ser agradecido dessa forma. Por alguma razão, ela está sorrindo ao me ver com o rosto vermelho.

— …Tenho a impressão de que posso confiar em você mesmo nesse jogo.

— Eh?

Ela parece hesitar um pouco, mas eventualmente junta alguma coragem e olha nos meus olhos.

— Se nós confiarmos uns nos outros, ninguém vai matar ninguém. Acredito nisso…Hoshino-san. Você acha que estou sendo ingênua?

Chacoalho minha cabeça vigorosamente, para responder ao olhar determinado dela.

— De forma alguma! Também acredito nisso.

— De verdade?

Sem perceber, segura minha mão direita com as duas mãos em excitação, pelo menos é o que parece. Meu rosto fica ainda mais quente ao sentir as mãos dela.

— Acho que nós definitivamente não vamos perder para esse jogo, se todos darem as mãos e confiarem uns nos outros. Portanto, vamos começar com nós dois acreditando um no outro.

— Si… sim…

Sem conseguir olhar diretamente para o sorriso dela, olho reflexivamente para baixo. Apesar de ser mais velha que eu, ela é bem… uhmm, adorável.

— Kazuki.

Ao ser chamado, olho na direção da voz. Maria está nos observando com um rosto inexpressivo…Recentemente percebo que ela fica com esse rosto com frequência, quando está de mau humor.

— O tempo está correndo. Volte rápido.

— Ah, sim…

Yuuri-san entende o significado do meu olhar, e solta minha mão. Sua expressão parece um pouco solitária para mim.

— Yanagi, você também deveria considerar o tempo.

— Si… sim…

Ela ainda parece ter medo da Maria.

— …Uhm, Yuuri-san. Está tudo bem, você pode confiar na Maria!

— Ah, sim. Se você diz, Hoshino-san…

— Então, vamos voltar para os nossos quartos.

— Sim, você está certo. …Ah, mais uma coisa.

Ao dizer isso, ela aproxima os lábios do meu ouvido.

 

— Vou te escolher para o [Encontro Secreto] de amanhã.

Ela sussurra no meu ouvido. Sinto a respiração dela, tocar em meu rosto. Yuuri-san se afasta a passos curtos e desaparece ao atravessar a porta com um sorriso travesso no rosto. Atordoado, fico olhando na direção aonde ela desapareceu.

— …Hmpf.

Maria, mau humorada, zomba e também atravessa sua porta. Deixado sozinho na sala de reunião, me lembro do nome dela.

 

«Yuuri Yanagi»

«Yanagi-san»

 

— …Elas são parecidas, eu acho.

Seus rostos não são parecidos. Mas sinto que esse sorriso travesso no final, parece com…ela. Parece com a outra «Yanagi» que conheço.

A que provavelmente jamais vou reencontrar.

 

Primeiro dia <E> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«[Yanagi Yuuri] foi estrangulada por [Assassinato]»

 

Essas letras estão no meu monitor. Sem conseguir compreender o que está escrito, fico apenas lendo as palavras repetidamente.

Ela morreu? Yuuri-san, morreu…?

— …Que porcaria é essa?

Murmuro sem perceber e não consigo conter uma leve gargalhada. Quero dizer, eles não disseram? Que ninguém ia morrer no primeiro dia. Que tudo ia ficar bem. Eles disseram. Sim, eles com certeza disseram! Diga, alguém… eles disseram, não foi?

«Yaa yaa yaa»

As palavras incompreensíveis desaparecem e um urso verde surge no lugar.

«Que pena – Yuuri-chan – morreu!»

— Não minta!

Grito com ele, por reflexo.

« – Mentira?»

Nesse momento… O gráfico dele muda para um que ainda não tinha visto. Ele abre a boca a ponto de arrebentá-la.

«Uhyahyahyahyahyahyahya – mentira? – se pelo menos fosse uma mentira, certo? – mas quer saber? – ela morreu! – ela foi estrangulada, então ela morreu com os olhos saindo do lugar – o rosto dela todo roxo – e excretando mijo e merda! – ela morreu com uma aparência nojeeenta e fedendo como o inferno, e ela era tão adorável antes!»

Sempre o achei nojento. Mas essa é a primeira vez que sinto raiva contra ele. Essa, provavelmente, é a verdadeira natureza do Noitan… não, da ‘caixa’. A verdadeira natureza desse sujo, lamentável e patético ‘desejo’.

«Que pena, não? – Você estava tão perto de ficar íntimo com ela – se tudo tivesse ocorrido bem você poderia ter ido para cama com ela – é realmente uma pena que ela morreu, não é mesmo!! – UHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYA»

Essa gargalhada me faz cobrir os ouvidos. Definitivamente não vou admitir esse ‘desejo’. As circunstâncias do ‘portador’ não me interessam. Não importa se tem ou não uma falha. Absolutamente não vou admitir isso, não importa que razão ele tenha.

«UHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYAHYA»

Portanto, esse cara é meu inimigo.

— …Prove!

«Mh?»

A boca dele volta ao normal.

— Prove que Yuuri-san está morta! Se você não o fizer, não vou acreditar.

«A prova – huh»

— É claro! Isso é uma mentira de qualquer forma, então você não…

«Ok!»

Noitan desaparece. No mesmo instante, a porta se abre.

— …O que…!

A escuridão de sempre está do outro lado. Em frente a essa escuridão, engulo minha saliva. E começo a ter dúvidas. E se Noitan está dizendo a verdade e a «prova» que me aguarda é…Mesmo assim, tenho que atravessar a porta… atravessar a escuridão.

 

Atravesso a porta em um pulo.

 

 No meio do quarto, que parece uma prisão e que é como um reflexo do meu, está… aquilo.

— Ah.

O «XXXXX»… de Yanagi Yuuri.

— A… aah.

Essa é a prova perfeita. Isso me faz entender. Entender a realidade. Apesar de entender o que é isso, não consigo reconhecer. Não consigo ligar essa coisa, com a aparência daquela garota adorável.

Mesmo sem ser capaz de ver a ligação entre esses restos e ela, esse terrível espetáculo por si só parte meu coração. Perdendo o controle do meu corpo, começo a gritar e me ajoelho. Ao me ajoelhar, a distância entre mim e o «XXXXX» diminui. O que antes deveria ser o rosto adorável dela, agora é…

— …Ugh, ghu.

Um rosto tão feio, que quase me faz esquecer qualquer simpatia. Realmente, não há qualquer mentira ou exagero na explicação do Noitan. Ela está aqui, da mesma maneira que ele descreveu. E então, finalmente consigo compreender.

Yanagi Yuuri morreu.

 

Novamente, não consegui salvar «Yanagi-san».

 

…Dessa forma, o [Kingdom Royale] começa. Com a morte da garota que disse que tudo ficaria bem se nós déssemos as mãos.

 

± [Yanagi Yuuri], morte por [Assassinato].

 

Segundo dia <B> Sala de Reunião

Uma mala é colocada sobre a mesa na grande sala. O conteúdo é praticamente o mesmo da que tenho em meu quarto. A única diferença é que o relógio digital não é azul, mas bege. E o terminal portátil se tornou inútil.

Também há seis porções de comida. Em outras palavras, se alguém morrer, você pode roubar os alimentos dele e aumentar seu tempo limite. Provavelmente é apenas mais um método para provocar assassinatos.

Me dá com nojo. Estamos todos apenas sentados na mesa encarando a mala. Ao meu lado, Daiya está limpando o sangue da boca. Ele foi socado por Kamiuchi-kun assim que o bloco <B> começou. Kamiuchi-kun acredita firmemente que o [Revolucionário]… que matou a Yuuri-san… é o Daiya.

— …Pelo menos ele não usou a faca.

Kaichou, que segura o Kamiuchi-kun junto com a Maria, sussurra isso para o Daiya…Não seria estranho se alguém mais começasse a cometer assassinatos também.

— Pessoal, vamos nos acalmar e rever a situação. Primeiro uma confirmação, o [Revolucionário] matou a Yuuri. Ele matou aquela garota tão gentil. Portanto, o culpado está entre nós. Não há dúvidas sobre isso.

A princípio, ela parece tão calma quanto ontem, mas sua expressão parece forçada de alguma maneira e não tem a mesma compostura. E seu olhar está tão afiado que chega a ser anormal.

— Nosso objetivo é escapar do [Kingdom Royale]. Mas agora nós temos um segundo objetivo. Que é, encontrar e matar o [Revolucionário]. Tudo bem com isso, certo?

— Espere, Shindou. O que você está decidindo por conta própria?

— Otonashi-san. Me desculpe, mas não vou aceitar objeções sobre isso. Devo te explicar as razões? Primeiro, nós vamos ser mortos por ele se não fizermos nada.

Segundo, é seguro assumir que ele é o cabeça por trás de tudo ou o seu cúmplice, já que ele cometeu um assassinato nesse ponto. Terceiro, não vou estar satisfeita até que ele receba o que merece.

— Você disse que arruinaria sua vida ao matar alguém. Em outras palavras, agora você está preparada para arruinar sua vida?

Maria pergunta. Kaichou fica sem palavras por um instante. Mesmo assim, ela dá uma resposta fluente:

— Não sei. Mas não posso perdoá-lo por ter matado a Yuuri de uma forma tão grotesca.

— …Entendo.

Provavelmente considerando que seria impossível e não natural continuar a persuadi-la, Maria fica em silêncio.

— Nossos objetivos estão definidos. Ou alguém quer adicionar algo?

Kaichou nos encara um a um, todos permanecemos em silêncio.

— Nada? Certo, então deixem-me dar minha opinião sobre…

Ela para de falar e arregala os olhos, parecendo surpresa. Daiya, que não tomou parte na nossa conversa até agora, ergue a mão.

— Você quer dizer algo?

— Sim. …Bom, posso ficar em silêncio se você não tiver interesse nas palavras do suspeito.

— Não vou dizer isso…Mas que tipo de reviravolta é essa? Você não esteve em silêncio até agora?

— Não tem como me manter calado quando obviamente serei o próximo a ser morto, pela forma que as coisas estão se desenvolvendo.

— Bem, isso não é surpresa para ninguém, é?

Kamiuchi-kun zomba.

— Coloque-se no seu lugar. Mas não importa o que diga, não vou mudar minha opinião, então tudo o que disser será apenas barulho pra mim, beleza?

— Não tô nem aí — dizendo isso, Daiya volta sua atenção para a Kaichou.

— Uma pergunta, por que o [Revolucionário] escolheu Yanagi Yuuri?

— Na verdade, também estive me perguntando sobre isso.

Ela diz com o rosto levemente franzido. Kamuichi se irrita ao ouvir isso.

— Do que vocês estão falando, senpais? Não dá na mesma? Nós realmente precisamos saber mais além do fato de que certo alguém, que é o [Revolucionário], é um bastardo que merece morrer?

— …Kamiuchi, você mataria a Yanagi primeiro se fosse o [Revolucionário] e tivesse que matar alguém?

— Um pedaço de lixo como você poderia abster-se de falar comigo? A única razão de eu estar sentado aqui calmamente é porque você será morto por [Feitiçaria] de qualquer forma!

— Hah… você não pode sequer compreender linguagem humana, hm. — Daiya dá de ombros de forma exagerada.

— O que você acha, kaichou? Mataria Yanagi primeiro?

— …Não se quisesse sobreviver. Para ser franca, o primeiro de quem daria conta é você, Oomine-kun. E enquanto acho possível que eu ou Otonashi-san sejamos escolhidas como alvo, não acho que alguém escolheria eliminar a Yuuri logo de cara.

— Certo. Ou talvez o [Revolucionário] tenha descoberto que Yanagi é o [Feiticeiro] e… bem, isso é impossível já que ontem expus que ela não é.

Um pouco irritada, kaichou pergunta:

— Ok, entendi seu ponto. Então o que?

— Resumindo, o objetivo do [Revolucionário] era provocar essa situação.

Não entendo o ponto dele. Mas os outros entenderam imediatamente. De repente, a sala fica em completo silêncio.

— …Haha — é a risada do Kamiuchi-kun que quebra o silêncio. — Desculpe, mas não faço ideia do que você está falando. Por que ele precisaria fazer toda essa volta? Se ele queria matar você, ele apenas precisaria te [assassinar], certo? Mas o [Revolucionário] não fez isso, não prova que você é o [Revolucionário]?

— Você não entende que ele pode ser suspeito de ser o [Revolucionário] se eu morrer?

Kamiuchi-kun, sem palavras, arregala os olhos. Kaichou fala em seu lugar.

Por parecer ser o [Revolucionário], você serve como o bode expiatório dele… é isso que quer dizer, certo, Oomine-kun? Mas você pode provar que isso não é apenas uma mentira que você inventou para salvar sua pele?

— Se eu fosse o [Revolucionário], não teria qualquer razão para matar a Yanagi primeiro.

— Não é o mesmo para todos aqui?

— Não necessariamente.

Daiya tira o terminal portátil de seu bolso e reproduz uma voz.

«…Então porque nós não apenas contamos até três e revelamos nossas [classes]»

— Yanagi queria que revelássemos nossas [classes]. Talvez ela quisesse mais do que ninguém evitar desconfiança. Então, é bem provável que Yanagi Yuuri tenha revelado sua [classe] para alguém que ela confia.

Tanto kaichou quanto Kamiuchi-kun ficam em silêncio.

— Então? Me pergunto, o que os dois que tiveram um [Encontro Secreto] com Yanagi Yuuri ontem têm a dizer?

Acabo me lembrando que Yuuri-san tinha planejado arranjar um [Encontro Secreto] comigo. Se nós realmente tivéssemos um hoje, ela provavelmente teria me contado sua [classe].

Mas… É claro. Obviamente ela tem mais confiança na kaichou do que em mim, que ela conheceu apenas ontem. Então é claro que ela contou sua [classe] para a kaichou antes de pensar em me contar.

— …Mas mesmo que eu conheça a [classe] da Yuuri, como isso me faz querer assassiná-la logo de cara?

— Oh, a sagaz Sra. Presidente do Conselho Estudantil é incapaz de descobrir algo desse nível? …Huhuhu, vou te dizer então! A razão é… para roubar a [classe] da Yanagi.

…Não havia uma regra desse tipo na explicação do [Kingdom Royale]. Sem entender, continuo prestando atenção nas palavras do Daiya.

— Ele quer fazer os outros acreditarem que sou o [Revolucionário]. É claro que ele precisa fingir ser outra [classe] já que ele é o verdadeiro [Revolucionário]. Mas se ele simplesmente declarar ser dono da [classe] da Yanagi, não seremos capaz de questionar. Mortos não contam histórias, afinal de contas. Mesmo que revelássemos nossas classes agora, ele apenas precisaria usar a [classe] dela.

Todos continuaram em silêncio, esperando Daiya continuar. Mas ainda não compreendo. Isso é motivo o bastante para matar ela primeiro?

— Devo simular para vocês? Primeiro, ele tira vantagem do fato de que pode usar a [classe] da Yanagi e apoia revelarmos nossas classes. As condições de vitória do [Revolucionário] é matar o [Rei], o [Príncipe] e o [Dublê]. …Hm, Yanagi era provavelmente ou o [Príncipe] ou o [Dublê].

— …Como você pode reduzir tanto as possibilidades de [classe] dela?

Kamiuchi-kun pergunta com um olhar azedo.

— Se o [Rei] for morto, o [Dublê] vai saber, porque poderá usar [Execução]. Portanto, ele não seria capaz de fingir ser o [Rei] em frente ao [Dublê].

— Mas ainda falta o [Cavaleiro]!

— Se ela fosse o [Cavaleiro], seria mais útil usar a Yanagi ao invés de matá-la. E não preciso nem dizer o porquê de ela não pode ser o [Revolucionário] ou o [Feiticeiro], certo?

— …

— O [Revolucionário] só precisa matar mais dois para vencer, agora que já matou a Yanagi. Enquanto todos acreditarem que sou o [Revolucionário], ele dificilmente se tornará alvo. Se ele tiver sucesso em descobrir as outras [classes], saberá quem precisa matar. Eu poderia entrar em detalhes, mas… é cansativo, então não vou.

Com um leve sorriso no rosto, ele continua.

— Mas vocês percebem que é de grande vantagem para ele fazer com que eu pareça o [Revolucionário], certo? Da forma que as coisas estão, ele quase certamente irá vencer.

E ao dizer isso, Daiya… encara Iroha Shindou.

— Aposto que estava comemorando por dentro até momentos atrás. Para ele, somos apenas pedaços de merda sem cérebro, que só servem como obstáculos a serem ultrapassados. Mataria alegremente esses pedaços de merda se isso puder garantir sua sobrevivência. …Porcaria, quanta impertinência.

Zombando, ele declara.

Mesmo sendo idiota a ponto de fazer de mim seu inimigo.

 

— …

Um certo pensamento cruza minha mente. Apenas por não estar tomando parte nessa conversa, e por ainda estar em choque com a morte da Yuuri, eu percebo.

…O que está acontecendo aqui? Criticando uns aos outros, odiando, duvidando… que situação explosiva é essa? Não é essa exatamente a situação que assumimos ser o início do [Kingdom Royale]?

Isso não é bom. Não é nem um pouco bom, isso significa que as coisas estão indo como planejado. … Como planejado pelo portador da ‘Game of Idleness’!

Se continuar assim, nós iremos matar uns aos outros e nossas vidas realmente terão um fim. O pior cenário deve ser evitado. Por esse motivo, nós absolutamente precisamos descobrir quem é o ‘portador’. Precisamos nos unir…Mas mesmo assim…

— Já chega, Oomine-kun.

A voz da kaichou está completamente diferente. Ódio e uma raiva que ela é incapaz de conter estão distorcendo seu rosto.

— Estou impressionada, por você poder dizer tanta besteira sem sentido e ainda manter essa atitude confiante. Pode fazer pouco de nós o quanto quiser, mas não faço ideia de onde vem essa sua atitude. Se for sobre notas, Otonashi-san é melhor. Se for sobre força física, Kamiuchi-kun é melhor. Se é sobre ter a confiança dos outros, Hoshino-kun é melhor. Se for sobre carisma, Yuuri é melhor. Me diga, existe alguma área em que você não perca para algum de nós? Tirando seu talento natural para espetar o cabelo, é claro.

Em seu rosto está um sorriso sarcástico, quase igual ao do Daiya.

— Você não é melhor que um idiota qualquer que desconta a raiva nos outros, incapaz de aceitar a realidade. Não… você cometeu assassinato, então está abaixo até desse tipo de idiota.

Daiya ignora essas palavras com um sorriso similar ao da kaichou. Ela sequer está tentando esconder sua aversão.

— Nós não vivemos em um mundo tão simples, em que os outros te evitam quando você dá uma de inteligente… por causa de um mal-entendido patético, você cometeu um erro do qual não vai se safar usando o termo “imprudência juvenil”. Você matou a Yuuri… ainda não percebeu isso? É o fim para você! Um garoto incapaz, imprestável e inútil como você será facilmente esmagado como uma formiga.

Ela continuou com um tom de voz suave, inapropriado para suas palavras.

— Já estou vendo você como um inimigo, sabia? Vou dar tudo de mim para te esmagar! Ei, estou dizendo que… vou matar você, está me entendendo?

— E daí?

— …Certo, posso te mostrar. Primeiro, vou revelar que suas desilusões não são nada mais que isso, apenas desilusões! Disse que a Yuuri deve ser o [Dublê] ou o [Príncipe]. Mas está errado. Você deixou escapar algo óbvio. O [Rei] saberia da morte do [Dublê], já que ele ficaria incapaz de usar [Substituição]. Uwaa, que erro de principiante! Isso significa que a classe da Yuuri poderia ser apenas [Príncipe] se o [Revolucionário] quisesse mentir sobre sua [classe].

Olho para Maria ao ouvir isso. Ela, que é o [Príncipe], está apenas ouvindo o argumento dos dois em silêncio.

— Confesso! Sei qual era a [classe] da Yuuri. Não está feliz, Oomine-kun? Pelo menos essa hipótese sua estava certa. Mas escute, ela não era o [Príncipe]. O que significa que o [Príncipe] está entre nós. Ei, [Príncipe]-sama, você já sabe que isso é só um monte de desilusão do Oomine-kun, certo?

Daiya continua em silêncio, aparentemente incapaz de fazer uma objeção.

— Além disso, se você fosse o [Rei] ou o [Dublê], com certeza teria notado isso. Então você não pode ser nenhuma dessas [classes]. Bem então, que [classes] restam?

As classes restantes são [Cavaleiro] e [Revolucionário]. Kaichou consegue limitar as possibilidades de [classe] do Daiya a apenas essas duas. Contudo, Daiya, que se manteve calado até agora, começa a ridicularizá-la.

— Todo esse espetáculo, apenas para me tornar o vilão? Você realmente está desesperada.

— O quê?

— Estou impressionado com sua coragem de ficar se gabando tanto, só por ter encontrado um buraco na minha hipótese. Não sou o [Revolucionário], portanto é lógico que posso apenas criar teorias. Com sua tagarelice, você apenas está demonstrando o quão perigoso é a sua natureza. Posso criar quantas hipóteses novas você quiser! Aí você pode contra argumentar elas o quanto você quiser, inutilmente.

— Da para parar com esses blefes desesperados! Ou vou começar a ficar zangada, já que você está sendo miserável de mais.

Vendo essa discussão a ponto de criar faíscas diante dos meus próprios olhos, penso…Realmente já é tarde demais. [Kingdom Royale] começou no momento em que o primeiro corpo apareceu, no momento em que Yuuri-san foi morta.

Mas… não posso aceitar isso. Yuuri-san disse que ficaríamos bem, se apenas confiássemos uns nos outros. E agora, seu corpo é o motivo por não podermos mais confiar uns nos outros. Não posso aceitar um desfecho tão horrível. Esse pensamento é tão mortificante, que meu olho se enche de lagrimas. Kaichou percebe isso e me encara com olhos arregalados. Um braço delicado repousa ao redor do meu pescoço, enquanto tento desesperadamente controlar as lágrimas. Fios de cabelos longos grudaram em meu rosto e param minhas lágrimas.

— …Está tudo bem, Kazuki.

Mas eu sei. Essas palavras da Maria, não têm fundamento.

— Hoshino-kun.

Kaichou chama meu nome.

— Gosto dessa sua natureza gentil.

Ela continua em uma voz suave, como se estivesse confortando uma criança.

— Mas não vou deixar essa gentileza sua entrar no meu caminho, entendeu?

Essas palavras são o bastante para me fazer perceber que não teremos mais paz.

 

Segundo dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«Nenhum alvo selecionado por [Execução].»

O tempo em que apenas isso me deixava aliviado já passou. Não sei quem é capaz de usar [Execução]. Mas essa pessoa certamente selecionará alguém. E tentará me convencer a matar.

«Bem bem bem – está na hora – do – [Encontro Secreto]! – por favor, selecione – o jogador – com quem deseja ter – um [Encontro Secreto].»

Imediatamente toco o botão com o nome «Maria Otonashi».

«Por favor espere – até todos – terem selecionado – seus parceiros.»

Após um tempo de espera, claramente mais longo do que da última vez, os pares para o [Encontro Secreto] aparecem…Talvez alguém tenha escolhido mais tarde de propósito, para ajustar a ordem.

 

[Iroha Shindou] ->

[Kazuki Hoshino]

15:40~16:10

[Yanagi Yuuri]

Morta

 

[Daiya Oomine] ->

[Kazuki Hoshino]

16:20~16:50

[Kazuki Hoshino] ->

[Maria Otonashi]

15:00~15:30

[Koudai Kamiuchi] ->

[Daiya Oomine]

15:00~15:30

[Maria Otonashi] ->

[Iroha Shindou]

16:20~16:50

 

—…

Então dessa vez Daiya e kaichou me escolhem. Daiya a parte, por que kaichou me escolheu? Suspeito que Daiya seja ambos, o [Revolucionário] e o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’. Afinal de contas, não posso acreditar que existiria outro ‘portador’ tão convenientemente.

…Mas se Daiya não for nem o [Revolucionário], nem o ‘portador’, então provavelmente seria a Kaichou.

Esses dois suspeitos vão se encontrar comigo. Me lembro da discussão na sala de reunião e estremeço. É absolutamente impossível resistir contra eles. Segurando minha cabeça com as mãos, aguardo pelo horário do encontro com Maria.

 

Segundo dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Maria Otonashi]

Maria está sentada na cama de braços cruzados e uma expressão séria. Assim que me sento ela começou a falar.

— Kazuki, nós não podemos permitir mais nenhuma casualidade além da Yanagi. Está ciente disso, certo?

— Sim.

— Contudo, isso se tornou extremamente difícil. Se não fizermos nada, o [Revolucionário] irá definitivamente matar mais alguém…Nós temos que quebrar esse ciclo de alguma forma.

— O que devemos fazer…?

Ao ouvir minha pergunta, Maria range os dentes e declara.

— Vamos contar a Shindou tudo sobre a ‘Game of Idleness’.

— Eh…?

Kaichou não é uma suspeita de ser a ‘portadora’ também?

— Entendo sua preocupação. Mas não podemos mais evitar todos os riscos. …Isso provavelmente te colocará em perigo, mas, por favor, me perdoe.

— …Poderia ser que, sou a razão pela qual você não falou nada aos outros sobre a ‘caixa’?

— Que outra razão teria?

Ela ergue uma sobrancelha…Tenho minhas dúvidas sobre essa forma de pensar dela… mas não é a hora certa para falar disso, então pergunto:

— Err… nós vamos falar com ela sobre a ‘caixa’, isso significa que estamos assumindo que Daiya é o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’, certo?

— Bom, sim.

— Bom, é só um exemplo, mas assumindo que a Kaichou acredite na história da ‘caixa’. Então, acho que da forma que ela está agora, provavelmente… mataria o Daiya…?

Maria forma um sorriso torto.

— …Sim, você provavelmente está certo. Mas é absolutamente necessário mostrar a Shindou e ao Kamiuchi que existe outra maneira de escapar, além de vencer o [Kingdom Royale]. Para impedi-los de matar o Oomine, vou precisar mostrar claramente a eles meu objetivo. …Com certeza não vai ser fácil.

— …Ah, mas se o Daiya for o ‘portador’, é improvável que a kaichou seja o [Revolucionário], e ela não pode atacá-lo usando [Execução]. Como [Feiticeiro], tenho o poder de veto afinal de contas. Tudo vai dar certo desde que eu não aperte o botão.

— Por que Shindou não pode ser o [Revolucionário] se o Daiya for o ‘portador’?

— Eh…? Bom, quero dizer, se ela não está interessada em começar o [Kingdom Royale], que outro motivo ela teria para matar a Yuuri-san…?

Maria não concorda com minha conclusão lógica.

— Oomine disse algo sobre não haverem motivos para matar a Yanagi… mas não podemos pensar dessa maneira, assumir a liderança no jogo não tem importância para o [Revolucionário]. Ele apenas odiava a Yanagi, o bastante para matá-la. Portanto, ele tomou vantagem dessa situação, em que matar é justificável, e cometeu o ato por impulso.

— Eh…?

Primeiro acho que essa é mais uma das piadas dela que não parecem ser, mas sua expressão séria não muda, não importa por quanto tempo a encare.

— …Não. Quero dizer, estamos falando da Yuuri-san. Não tem como alguém guardar algum ressentimento dela.

— Yanagi é atraente. Uma atração desse nível, capaz de agitar os sentimentos dos outros, pode às vezes gerar emoções negativas. Por exemplo, tenho certeza que existem garotas que tem inveja dela, por ser tão popular com os garotos. Além disso, tenho certeza de que há garotos que gostavam dela, e que passaram a guardar mágoa ao serem rejeitados.

— …Isso é…

— …Bom, isso é apenas uma possibilidade. Não é como se tivesse sentido algo estranho na atitude da Shindou em relação à Yanagi. Em primeiro lugar, a própria Shindou tem vários talentos. Não acho que ela teria inveja da Yanagi. Só quis dizer que é perigoso assumir algo sem dar a devida atenção.

Ela está certa. Estive pensando o tempo todo: «[Revolucionário] = ‘portador’». Se não considerar outras possibilidades posso acabar me enganando. Me pergunto o que fazer. O número de questões só está aumentando, apesar da falta de tempo. Preciso acreditar que vamos conseguir. Mas a situação é… desesperadora.

— …Kazuki.

Um peso confortável foi colocado sob minha cabeça abaixada. Maria começa a bagunçar meu cabelo.

— Não sei sobre a Shindou, mas eu estava com inveja!

— Eh…?

Ergo meu rosto em reflexo, para olhar o dela. Maria continua a falar, inexpressiva, enquanto ainda bagunça meu cabelo.

— Você demorou um bom tempo até parar de me chamar de «Otonashi-san», mas por alguma razão, você começou a chamar a Yanagi pelo primeiro nome, «Yuuri-san», imediatamente. Além disso, ela estava forçando a intimidade e segurou suas mãos, ela até sussurrou no seu ouvido! E como se não bastasse, vocês até combinaram um [Encontro Secreto]? Garoto, como isso irrita!

— …?

— O que você quer com essa cara de quem não entendeu nada?

— O que isso tem a ver com inveja…?

Sua mão para de se mover imediatamente.

— …Você está mesmo perguntando isso?

— E…err…

— Então, deixe-me explicar claramente. Estou dizendo que acho a ideia de você se dar bem com a Yanagi, mortificante.

Com essas palavras, Maria coloca suas mãos sob as minhas. E então traz seu rosto para perto do meu. Já deveria ter me acostumado com isso, mas o rosto dela ainda é inacreditavelmente lindo, então fico vermelho instantaneamente.

— Err… se…seu rosto está, próximo demais…?

— Você entende por que seu possível [Encontro Secreto] com ela me deixa irritada…? Vocês dois, um garoto e uma garota, sozinhos em um quarto separado… entende?

A suave sensação do sussurro dela toca gentilmente meus ouvidos. Então, Maria coloca um dedo nele.

— Hya!

A expressão sedutora no rosto dela desaparece imediatamente ao ouvir essa minha reação, e então ela cai em gargalhada. Enquanto estou completamente atordoado, ela se afasta um pouco e continua sorrindo.

— Você está deixando uma garota mais nova tirar uma com a sua cara, Kazuki.

Com essas palavras, finalmente percebo que estou sendo provocado. Uuh… para começo de conversa, ainda não admito que a Maria seja mais nova que eu.

— Nossa, você está tão envergonhado, só por causa dessa simples piada?

… Piada… você é a única que está rindo…

Me sentindo acabado, fico em silêncio. Maria para de sorrir e diz.

— Não precisa se preocupar, Kazuki.

E então me mostrou um sorriso, mais gentil do que qualquer um que já vi.

— Vou te proteger!

 

Segundo dia <C> [Encontro Secreto] com [Iroha Shindou], Quarto de [Kazuki Hoshino]

— Por… quê…?

Isso escapa da minha boca sem meu consentimento, assim que volto do quarto de Maria. Continuo olhando para o monitor, mudo.

«Um alvo foi selecionado por [Execução].»

Esse não é o problema. Já tinha presumido que a pessoa capaz de usar [Execução], o faria. Mas a pessoa selecionada não é a que imaginei.

«Você irá incinerar [Iroha Shindou] até a morte, com [Feitiçaria]?»

Embaixo dessa mensagem está a foto do rosto da kaichou com a palavra «MATAR?» escrita sobre seus olhos. Se tocar essa foto, kaichou queimarrá até a morte. Por que o alvo da [Execução] não é o Daiya, mas a kaichou…?

Tento desesperadamente controlar meus pensamentos que estão para enlouquecer. Apenas o [Rei] e o [Dublê] podem escolher um alvo para [Execução]. Nem eu, nem Maria somos uma dessas classes. E além disso, não tem como kaichou selecionar a si mesma. O que significa que ou Daiya, ou Kamiuchi-kun é o responsável.

…Mas Kamiuchi-kun deveria estar completamente convencido de que Daiya é o [Revolucionário]. Não acho que ele escolheria a kaichou. Então foi o Daiya…? Não, a kaichou não esclareceu que ele não pode ser nem o [Rei], nem o [Dublê]?

Espere um segundo! Então quem diabos é o [Revolucionário]…?

 

— Ya, cheguei.

— HII!

Quase pulo ao ouvir isso.

— Mh? Você não está exagerando um pouco? Afinal, sabia que viria.

Kaichou para em frente a porta e ergue a mão, com a expressão impressionada.

— E…eu sinto muito, Kaichou.

— …Não vou te forçar, mas será que você pode parar com esse negócio de “kaichou”? Não gosto muito disso, já que me dá a sensação de que a pessoa por trás do título é ignorada.

— …Então, Shindou-san…?

— “Iroha” é o bastante.

— …Iroha-san.

— O “san” não é necessário, mas… que seja… sente-se!

Mesmo dizendo que não me forçaria, kaichou… não, Iroha-san acaba forçando sua opinião. Então ela se senta sobre a mesa, da mesma forma que o Daiya fez no dia anterior.

— Umm… por que você me escolheu, Iroha-san?

Ela responde essa questão com um sorriso.

— Para implorar pela minha vida.

— …Eh?

— Não entende? Se não matar o Daiya Oomine durante o bloco <C> de hoje, provavelmente serei alvo de [Assassinato]. Em outras palavras, minha vida está em suas mãos, Kazuki-kun. Kyaa~ por favor, me salve~, Kazuki-KUN!

— …Por que você está dizendo isso para mim…?

— Você não é o [Feiticeiro]?

Controlo o distúrbio que está para invadir meu corpo desesperadamente. Esse foi o mesmo truque usado por Daiya. Cometer o mesmo erro duas vezes seria patético.

— Oh, não vai cair nessa? Você é surpreendentemente cuidadoso, não? De qualquer forma, se Daiya Oomine não morrer hoje, vou morrer. Ohmeudeus!!!

— …Uhmm, você não está em posição de usar [Execução]?

— Não estou!

Ela nega claramente.

— Então não poderia te salvar por conta própria, mesmo se fosse o [Feiticeiro]! Afinal, não seria capaz de selecionar o alvo de [Execução].

— Não pode? Após aquela discussão na sala de reunião, você acha que Kamiuchi-kun ou Otonashi-san não vão usar [Execução] em Daiya Oomine? Aquele cara cavou o próprio túmulo, não foi? Então não deveria funcionar se você tomar uma decisão?

Pelo menos Maria jamais selecionaria «um alvo para matar» e, de fato, a própria Iroha-san é o alvo. Mas já que não posso dizer isso a ela, me mantenho em silêncio.

— Escolhi você como parceiro para o [Encontro Secreto], porque é o mais provável de deixar o Oomine-kun escapar! Afinal, entendo que você e ele eram íntimos originalmente, e bem, você é gentil afinal de contas — só consigo ouvir sarcasmo nessas palavras.

— Veja, estarei com problemas se você deixá-lo escapar. Portanto, vim te dar um empurrão.

Um empurrão para matar o Daiya… huh.

— … Mas você não disse antes, que matar alguém provavelmente arruinaria sua vida?

— Sim, exato! Por te incentivar a cometer um assassinato como esses, definitivamente estarei arruinando minha vida. Honestamente, não faço ideia de quanto vou sofrer no futuro por causa disso, já que tenho pouca imaginação! Não, na verdade estou tentando não pensar sobre isso. Afinal…

Ela declarou com um sorriso, mas sem perder o brilho nos olhos.

— Isso com certeza é melhor do que morrer.

Ao ver esses olhos sem qualquer traço de hesitação, finalmente percebo… o perigo que ela representa. O que faz dela uma super-humana, não são apenas suas habilidades naturais. É a natureza de sua personalidade. A forma como ela avança diretamente para o seu objetivo pode lembrar a Maria. Contudo, comparada a Maria, que coloca os outros em primeiro lugar e portanto pode mudar seu objetivo, Iroha-san prioriza seus próprios objetivos e definitivamente não os muda. Pelo bem de seus objetivos, ela pode atropelar os outros eventualmente. Naturalmente, sem nem perceber, como um trem que esmaga pedras em seu caminho.

E dessa vez o objetivo dela é «sobreviver».

De repente, me lembro da forma com que nos encontramos pela primeira vez, o que me dá arrepios.

— …Diga.

Iroha-san quer que eu aperte o botão para matar o Daiya. Mas o que ela planeja fazer se eu recusar? O que ela faria em uma situação em que ela acredita que vai morrer se não fizer nada?

Você está equipada com sua faca?

Os olhos dela se arregalaram.

— Oho.

Então ela me lança um olhar de interesse e pergunta.

Como você percebeu?

Ela coloca a mão dentro da saia, retira a faca e joga em direção a porta.

— Ou você percebeu enquanto tentava espiar minha calcinha? Seu pervertido!

— …

— Haha, só brincando! …Ah bem, não posso resolver esse assunto com uma piada, huh. Aah~… será que você pode pelo menos me deixar fazer uma desculpa? Não é como se tivesse preparado ela por causa do [Encontro Secreto] com você! Estou sempre com ela quando não estou em meu quarto. Sério.

— Mas se eu tivesse recusado seu pedido para matar o Daiya, você teria usado a faca para me ameaçar, certo?

— Sim. Mas isso não é normal?

Ela admite facilmente, mas chacoalho minha cabeça. Não tem como isso ser normal.

— Sério? Oh bem. Mas dessa forma já não posso mais te ameaçar, então.

— A mala…

— Mh?

— Me entregue a mala que está sobre a mesa, minha faca está nela.

Iroha-san arregala os olhos ao ouvir isso e então dá um sorriso sem graça. Como peço, ela joga a mala em minha direção. Pego a mala, tiro a faca de dentro e jogo em direção a porta, como ela fez.

— …Por acaso você escolheu se sentar na mesa porque sabia que minha faca estaria na mala?

— Ahaha, não pensei tão longe assim. Falando nisso, posso confirmar algo?

— O que é?

Olhando nos meus olhos, ela pergunta.

Se você vai ou não cooperar em matar Daiya Oomine!

Ela diz isso facilmente e com um sorriso no rosto.

— …Hum.

— O que?

— Não vou matar ninguém! Não importa se é o Daiya ou qualquer outro.

Ao ouvir minha resposta, ela se mantém em silêncio, com seu olhar e sorriso direcionados a mim. Desvio o olhar e abaixo a cabeça sem perceber, por causa desse silêncio perturbador.

— Você não entende. O estou perguntando é — ela faz uma breve pausa e então continua. — Você vai matar Daiya Oomine, ou vai me matar?… É isso que estou perguntando.

Ergo meu rosto e volto a encará-la. Ela está me olhando como se eu fosse uma criança incompreensível.

— Não ache que pode escapar disso se não apertar o botão! Realmente, se você apertar, estará matando Oomine-kun. Mas se não apertar, estará me matando, com certeza!

— I…isso…

— Acredite no que quiser, mas é assim que vejo. Se morrer, vou acreditar que você permitiu minha morte!

— Uh…

De fato, sempre soube. Sempre soube que é impossível ficar limpo nesse jogo assassino, não importa que ação tome.

— …Entendo o que você quer dizer. Mas não sou capaz de matar o Daiya no bloco <C> de hoje. …Embora não possa te explicar os detalhes.

— Isso significa que você não possui uma classe ligada a [Execução]? …Espere, não me diga que Oomine-kun não foi selecionado?

Seu rosto está quase formando uma expressão de raiva ao perguntar isso. Obviamente, não posso responder à pergunta dela.

— Julgando pela sua expressão, é o que acabei de dizer! Whoa, ei! Então vou morrer com certeza!

Fico em silêncio diante dessa estranha excitação dela. Vendo isso, Iroha-san solta um suspiro e volta a se sentar na mesa. Então, apaticamente, ela cobre os olhos com os braços.

— … ei, Hoshino-kun?

Mantendo essa postura, ela sussurra com uma voz completamente diferente da de antes.

— A Yuuri era adorável, não era?

Confuso por essa pergunta, continuo observando-a em silêncio.

— Sabe, nunca tinha encontrado nada invejável até conhecer a Yuuri. Porque acreditava que poderia conseguir, basicamente, qualquer coisa. A primeira pessoa que respeitei e achei invejável… e provavelmente, sentia ciúmes, foi a Yuuri.

Ciúmes. Me lembro das palavras da Maria, “atração desse nível pode as vezes gerar emoções negativas”.

— Isso é praticamente como revelar meu ponto fraco, então nunca disse isso a ninguém antes, mas apenas uma vez durante o ensino médio me apaixonei. Sempre estive em bons termos com ele desde o início… e bem, já que não tinha experiência nessas coisas, não me importava em sermos apenas amigos.

Seu rosto muda para um sorriso amargo, e ela continua.

— Até ele começar a namorar a Yuuri.

Sou incapaz de ler suas emoções por trás desse sorriso amargo.

— E como amiga dos dois, se tornou minha responsabilidade em ajudá-los com o relacionamento. Por causa disso, sei até mesmo que ponto eles chegaram! Por exemplo, quando eles deram as mãos pela primeira vez, ou o primeiro beijo. Ouvindo essas coisas, eu naturalmente pensava: …Se pelo menos eles terminassem.

— …

— E como se minhas preces fossem respondidas, eles terminaram três meses depois. Não sou idiota? Desejei tanto por isso, e não me beneficiei em nada quando os dois se separaram. Afinal de contas, não tinha como ele começar a sair comigo. Nos até começamos a nos distanciar, já que continuei sendo amiga da Yuuri… Por que desejei por algo tão indiferente? Em outras palavras, apenas desejei pela infelicidade deles! E eles deveriam ser importantes para mim. Dizer que sou horrível ainda é pouco.

Ela finalmente volta a me olhar.

— Você acha que essa foi uma história entediante e comum?

Chacoalho minha cabeça de um lado para o outro.

— Bom, isso significa que até mesmo eu tenho essas preocupações clichês… de que forma sou uma super-humana?

Ela ergue seu rosto para olhar a lâmpada descoberta no teto e diz.

— … Já tinha me esquecido sobre essas preocupações infantis. Sério. Porque estava satisfeita apenas em saber que Yuuri é importe para mim.

Seu sorriso muda para um autodepreciativo.

— Mas me lembrei disso quando ela morreu. Pior, não consigo mais tirar isso da minha cabeça. Não consigo mais tirar esse assunto sem importância da minha cabeça. Justo quando minha querida Yuuri morreu, só consigo pensar nesse tipo de coisa.

Lentamente, ela começa a mover seu rosto de volta em minha direção.

— Me diga Hoshino-kun, o que você acha?

Sua voz gentil me pergunta em um sussurro.

— Eu realmente… me importava com a Yuuri?

Não consigo responder nada a essa pergunta. Ela continua me encarando, inexpressiva. Mas após me ver em silêncio por algum tempo, ela repentinamente ergue os cantos de seus lábios, contente.

— Huhu… como foi? Minha estratégia?

— …Huh?

— Não quer virar meu aliado, agora que ouviu sobre meu lado humano? — Essa pergunta vem acompanhada de uma risada.

Mas eu entendo. Ela deve ter tentado encerrar com uma piada, mas tudo o que ela disse são seus sentimentos reais. Ela não tinha ninguém a quem pudesse mostrar suas fraquezas. E tenho certeza que não podia admiti-las. Portanto, é incapaz de entender seu próprio coração. Essa é a fraqueza dela. Só pode descarregar isso porque realmente está prestes a morrer. A me ver abaixar o rosto, Iroha-san para de rir. E então ela diz em tom de piada…

— Acabo de te amaldiçoar.

Com uma expressão relaxada.

— Agora você vai se lembrar dessa história para sempre, mesmo que eu morra.

A estratégia dela foi um sucesso. Mesmo que ela seja a responsável por isso tudo, não poderia desejar pela sua morte.

 

Segundo dia <C> [Encontro Secreto] com [Daiya Oomine], Quarto de [Kazuki Hoshino]

Daiya se senta na mesa e começa a mexer em seu terminal portátil.

— Você sabia, Kazu? Esse terminal não pode ser usado por ninguém além de seu dono.

Dizendo isso, ele vasculha minha mala que está sobre a mesa, retira meu terminal e me mostrou que ele realmente é incapaz de usá-lo.

— …Você parece calmo.

Ao contrário da kaichou que parecia estar sob pressão.

— Bom, já que sei que não serei morto.

— Eh…?

Os cantos dos lábios dele se erguem.

— Não pergunte algo estúpido do tipo, por que tenho certeza disso. É claro que sei, já que eu escolhi o alvo para [Execução].

— …Então sua [classe] é…

— Sou o [Rei].

Ele diz tão naturalmente que quase acredito de imediato… mas não posso. Isso tem que ser um truque. Reviro meu cérebro para encontrar algo com o que revidar.

— …Uhmm, se você é o [Rei], então isso quer dizer que a Iroha-san é o [Revolucionário], certo? Então por que você não a selecionou imediatamente, assim que o bloco <C> começou? Por que a selecionou só após seu [Encontro Secreto] com o Kamiuchi-kun?

— Durante o bloco <B>, sugeri que a Shindou poderia ser a culpada, mas não estava tão confiante, para falar a verdade. Porque duvidava do Kamiuchi, tanto quanto dela.

— Kamiuchi-kun?

Mesmo ele tendo ficado tão emocional após a morte da Yuuri?

— Então você estava achando que aquela raiva toda dele era uma atuação?

— Ele é um cara perigoso da sua própria maneira. Até você deve ter notado que ele não é flor que se cheire, certo?

Concordo de leve.

— E lembre-se. O primeiro parceiro de [Encontro Secreto] da Shindou, foi o Kamiuchi. Isso porque ela estava insegura sobre ele, mais do que qualquer um.

Realmente, Iroha-san pode ter selecionado ele, mas…

— …Pensando nisso, Daiya, me parece que você já conhecia o Kamiuchi-kun.

— Sim, já o conhecia. Fomos para a mesma escola fundamental. Embora não me lembrasse do rosto dele.

— …Eh? Mas Kamiuchi-kun não pareceu ter te reconhecido.

— Como se uma formiga como eu fosse ser percebido pelo oh-todo-grandioso Sir Kamiuchi. Diferente de mim, que apenas tirava boas notas, ele era uma celebridade. Eu poderia te contar alguns rumores ruins sobre ele, mas não há necessidade de falarmos disso agora, certo?

Decido aceitar isso como “há rumores ruins o bastante para fazer Daiya e Iroha-san estarem atentos ao Kamiuchi-kun”.

— Ok, agora vou te contar outro fato interessante.

— …O que?

O [Revolucionário] não planejou matar a Yanagi.

— …Eh?

Minha boca quase estrala ao abrir tão rápido.

— Hah… preciso te explicar tudo até os últimos detalhes? O [Rei] tem outro comando especial além de [Execução], não tem?

— Ah!

Certo, [Substituição].

Usando esse comando, é possível que [Assassinato] acerte o alvo errado.

— O [Revolucionário] queria matar a mim, não a Yanagi!

Então Daiya tinha suspeitas e portanto, usou [Substituição] logo no primeiro dia. Portanto, Yuuri-san foi morta no lugar dele, por ser o [Dublê].

Se realmente tiver sido assim, então não posso dizer que a raiva do Kamiuchi-kun foi uma performance, mesmo que ele seja o [Revolucionário]. Afinal de contas, isso significaria que Kamiuchi-kun matou sua querida Yuuri-san por causa do Daiya.

— Me convenci de que o Kamiuchi não é o [Revolucionário] durante o [Encontro Secreto] agora a pouco. Portanto, apenas Shindou pode ser o [Revolucionário].

Se essa for a verdade, então isso quer dizer que a Iroha-san matou a Yuuri-san sem intenção. Então… o significado da confissão que a Iroha-san acabou de me fazer pode mudar um pouco. Para diminuir o sentimento de culpa, ela está desesperadamente tentando encontrar uma justificativa para a morte da Yuuri-san.… Poderia ser interpretado dessa maneira, talvez.

— Ma… mas… por que você foi tão indireto durante o bloco <B>? Se tivesse revelado ser o [Rei], as dúvidas sobre você não teriam sido esclarecidas?

— É absolutamente idiota revelar sua própria [classe].

— Mas você não acabou de me contar…

— Isso é porque acredito que você jamais me mataria.

— Eh…?

Arregalo meus olhos, mas Daiya franze a testa, dando a entender que acaba de deixar escapar algo. E então desvia o olhar como se estivesse corando.

…Ele acabou de dizer que “confia em mim”, certo? O próprio Daiya?

— …Vou te explicar a intenção do que disse durante o bloco <B>.

Daiya começa a explicar, rapidamente empurrando a conversa em outra direção.

— Começando pelo meu primeiro objetivo. Levantar suspeitos. O [Revolucionário] sabe naturalmente que Yanagi morreu por causa de [Substituição]. Portanto, propositalmente levanto a questão do porquê ela foi selecionada, para fazê-lo cometer um erro. Bom, apesar de que isso não funcionou.

Concordo e o permito continuar.

— Então, minha outra intenção. Fazê-lo pensar que não sou o [Rei].

— …Por que você iria querer isso?

— O [Revolucionário] me fez de bode expiatório. Porque quer que eu seja alvo de [Execução]. Mas já que sou o [Rei], isso é inútil. Bem, afinal, sou eu quem escolho o alvo de [Execução].

Realmente, Iroha-san foi escolhida por [Execução], e não Daiya.

— Então o que você acha que o [Revolucionário] faria sobre mim, quando sou inútil como bode expiatório, e até mesmo vi através da mentira dele?

Daiya ergue os cantos dos lábios, parecendo estar satisfeito.

— Ele naturalmente me eliminaria com [Assassinato].

Engulo um seco impulsivamente.

— Portanto, é melhor que ele não suspeite que sou o [Rei].

Me lembro de algo que Iroha-san disse.

«Além disso, se você fosse o [Rei] ou o [Dublê], com certeza teria notado isso. Então não pode ser nenhuma dessas [classes].»

Aah, entendo. Essa conversa que eles tiveram foi para fazer com que Iroha-san acredite que ele não é o [Rei].

— …Ah.

Percebo que estou prestes a ser sugado pelo rápido processo de pensamento do Daiya. Mas… talvez seja melhor ser sugado e segui-lo. Quero dizer, não acho que o Daiya estava fingindo quando disse que acredita em mim. …Não quero acreditar nisso. Afinal, somos amigos. Devo realmente acreditar no Daiya? E devo realmente assumir que Iroha-san é o [Revolucionário] e a ‘portadora’?

— Kazu.

Enquanto estou em silêncio, Daiya diz:

— Mate Iroha Shindou.

— …Isso.

— Se você usar [Feitiçaria], nem você nem Otonashi precisarão correr riscos para resolver o problema dessa ‘caixa’. Seremos libertados disso tudo apenas com uma resolução sua. …Não, você tem que matar ela. Ou quer que minha resolução tenha sido para nada?

Sei que essa proposta dele é a solução mais eficiente. Mas…

— Não vou usar [Feitiçaria].

Minha resposta não irá mudar.

— Se Iroha-san for realmente a ‘portadora’. Vou dar um jeito de persuadi-la a entregar a caixa para nós.

— Mesmo que essa hesitação sua possa acabar com você e Otonashi mortos?

— Sim!

Ele zomba de mim ao ouvir essa resposta.

— Wow, que inocente de sua parte agir como o bom samaritano, mesmo em um jogo mortal. “Ela parece uma boa pessoa, então vamos confiar nela!”… ou o que? Você é o pior tipo de cabeça de vento que existe. Olhe o meu braço! Estou com tremores tão fortes, que acho que vou ficar assim para sempre. Como você vai me compensar por isso?

— …Desculpe.

Por algum motivo, me desculpo, embora ele esteja me ofendendo. Mas… isso é quase como nossas conversas normais em sala de aula.

— Embora já soubesse — ele diz, segurando o braço intencionalmente — Que você responderia dessa forma.

E então dá um sorriso torto, sinalizando sua desistência.

— …Huhu.

— Whoa, você é repulsivo. Por que você está rindo enquanto estou te fazendo de idiota? O que diabos aconteceu com a sua cabeça?

É intencional, afinal, ficar me criticando enquanto reconhece minha posição é algo que só você faria.

 

Então me convenço.

Daiya está dizendo a verdade.

 

Segundo dia <D> Sala de Reunião

O [Revolucionário] e ‘portador’ da ‘Game of Idleness’ é… Iroha Shindou.

Essa é a conclusão à qual cheguei. Preciso persuadi-la de alguma forma para que ela não mate mais ninguém. Devo ser capaz de fazer isso. Afinal, ela não é uma pessoa ruim que trata a vida dos outros com indiferença. Portanto devemos conseguir resolver isso, não importa o quão difícil a situação pareça ser.

 

……Como se fosse!

Por que sou tão absurdamente ingênuo?

 

— Ah, AaaAh…

Respiração pesada. Uma poça de líquido vermelho está se expandindo em direção aos meus pés. Mas continuo parado, sem sequer pensar em desviar.

— Kamiuchi!

O grito de Maria me traz de volta a realidade. Prossigo em reconhecer o que está caído aos meus pés.

— Ah …

A poça de liquido vermelho é sangue. Já sei disso. Sim, claro que sei. Apenas, não quis compreender o significado disso se expandindo de forma lenta, mas contínua, lenta, mas contínua, lenta, mas contínua, lenta, mas contínua.

Me abaixo lentamente e toco a face dessa pessoa cuidadosamente. Um sorriso apareceu nesse rosto, quase como se estivesse sentindo cócegas pelo meu toque. Essa expressão é tão a «cara dela», que acabo chamando pelo seu nome inconscientemente.

— …Iroha-san.

*step* *step* *step*…

Que som é esse?

*step*. É o som de passos. Pegadas vermelhas surgem a cada passo. *step* *step*. O garoto, que produziu essas pegadas, se senta como se nada tivesse acontecido. Apesar de ter sido ele quem esfaqueou a Iroha-san.

— Kamiuchi-kun, por quê…?

— Por quê? Você faz perguntas estranhas Hoshino-senpai. Porque a Kaichou teria matado todos nós se tivéssemos deixado ela viva~! Impedi-la é apenas a coisa óbvia a se fazer, não?

— Você não precisava ir tão lon…

Paro de falar sem perceber. As mãos dele estão tremendo horrivelmente. Ao perceber essa tremedeira por si mesmo, — Ha, haha. — solta uma risada que não combina com esse cenário.

Obviamente ele descobriu que a Iroha-san era o [Revolucionário] em seu [Encontro Secreto] com o Daiya, portanto deve ter achado que seria morto se não fizesse nada. Mas isso não é desculpa para assassiná-la logo de cara… Aah, entendo. Isso significa que Iroha-san e Daiya estavam certos em estarem em guarda contra Kamiuchi-kun.

— Uh…

Ao ouvir esse gemido, Maria desperta de seu estupor e se apressa para o lado da Iroha-san. Para conseguir dar algum tipo de tratamento de emergência, ela começa a examinar o corpo cuidadosamente e…se afasta sem dizer nada.

— … E… entendo, bode expiatório…

Ela diz e… vomita sangue.

— Uwa, vomitando sangue… em mim mesma… devo estar parecendo… terrível…

Ela sussurra isso com sua voz quase desaparecendo.

— …

Não consigo dizer nada. Afinal, mesmo com uma garota vomitando sangue diante dos meus olhos, mesmo ela estando prestes a morrer, o que estou pensando involuntariamente é…Pode ter sido melhor dessa forma.

— Sinto muito.

Ela fecha os olhos…Porque não tem mais força para mantê-los abertos.

— …Sinto muito… por ter te amaldiçoado.

E então, reunindo suas últimas forças, sussurra em uma voz fraca.

— …Sinto muito, por não ter conseguido salvá-lo…

— …Eh?

Essas foram suas últimas palavras… Sinto muito, por não ter conseguido salvá-lo?

Observando seu corpo imóvel, considero o significado dessas palavras. Iroha-san sabia que existia alguém perigoso entre nós que mataria a Yuuri-san imediatamente. Sabendo disso, Iroha-san precisava matar essa pessoa, não importa o que. Ela assumiu a liderança no [Kingdom Royale], embora isso implicasse que ela também seria a mais duvidada pelos outros. Pelo bem de mudar a situação para melhor, essa garota assumiu toda a responsabilidade e colocou a própria vida em risco.

…Mesmo estando preparada para arruinar sua própria vida. Pelo bem de proteger sua vida. Pelo bem de proteger nossas vidas.

— …Ah.

Tocoo rosto dela mais uma vez. Mas ela não me mostra mais uma risada de cócegas. Ela não se move mais. Não respira mais. Não vive mais. E mesmo assim, a ‘Game of Idleness’ continua.

— …

Me levanto. Viro minha cabeça lentamente na direção dele. Daiya Oomine está tocando o piercing de sua orelha direita, com um rosto inexpressivo.

 

± [Iroha Shindou], peito esfaqueado por [Koudai Kamiuchi], morta

 

Segundo dia <E> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«[Koudai Kamiuchi] foi estrangulado por [Assassinato]»

Agora ele tem controle exclusivo.

 

± [Koudai Kamiuchi], morte por [Assassinato]

 

Terceiro dia <B> Sala de Reunião

— A batalha já acabou no momento que descobri que você é o [Feiticeiro]!

Daiya começa a revelar seus truques na sala de reunião, aonde apenas três jogadores restaram.

Maria está abatida em seu lugar. Sabendo de tudo, ela tentou de todas as formas explicar para Kamiuchi-kun sobre a ‘caixa’, mas ele não estava mais disposto a ouvir. E então, Koudai Kamiuchi foi morto como esperado. No final, fomos incapazes de impedir a morte de uma pessoa sequer.

Apenas, por que acreditei no Daiya? Mesmo sabendo que o Daiya era o ‘portador’, por que acreditei na mentira, tão simples, de que teria outro suspeito? Sabia que [Kingdom Royale] é um jogo de mentiras. Portanto, sei que esse resultado é minha culpa. Mas, ainda assim…

— Você não disse que acreditava em mim?

Quando faço essa reclamação, Daiya apenas forma um sorriso leve.

— Sim, disse. Disse que acreditava que você jamais me mataria.

— …Então essas eram apenas palavras vazias para me enganar, não é mesmo?

— Foi um deslize. Você poderia ter percebido o real significado dessas palavras se fosse esperto.

Franzo o rosto.

— Não entende? Conclui que você, o [Feiticeiro], não pode me matar. Em outras palavras, estava tirando uma com a sua cara, dizendo que podia fazer o que quisesse, e você não me mataria de qualquer forma.

Mordo meus lábios…Simplificando, ele me fez de idiota. Naquela hora, achei que ele tinha desviado o olhar por estar corando. Mas na verdade, ele apenas percebeu seu deslize e ficou nervoso.

— Como [Revolucionário], é apenas natural querer saber quem o [Feiticeiro] é, já que ele também tem a habilidade de matar.

— Por isso me perguntou se eu era o [Feiticeiro]…

Ele não estava preocupado comigo, apenas estava tentando descobrir quem era a pessoa com a [classe] mais perigosa para ele.

— E você acabou sendo o [Feiticeiro], Kazu. Portanto, não seria morto se te deixasse viver.

E com um sorriso irônico, ele complementa:

Porque acredito em você, hah!

Então por isso a batalha acabou no momento que ele descobriu que eu era o [Feiticeiro].

— Mas se você tivesse se convencido de que sou o [Revolucionário], poderia ter usado [Feitiçaria] de qualquer forma. E mesmo se não fizesse isso, ainda teria tentado fazer algo sobre mim. Simplificando, apenas precisei fazer você pensar que eu não era o [Revolucionário].

O que quer dizer que estive dançando na palma da mão dele ao pensar que Iroha-san era o [Revolucionário]…Oh. De fato, era muito simples. O que devíamos ter feito é exatamente o que Maria e eu discutimos no começo. Precisávamos persuadir o Daiya e tomar a ‘caixa’ dele. As coisas só pareceram complicadas, porque o Daiya as fez parecerem dessa forma.

— …Bom, embora nem tudo tenha acontecido sem problemas. Yanagi em especial foi um incomodo.

— Yuuri-san?

— Sim. Ela tentou juntar todos nós. Na verdade, ela provavelmente teria conseguido fazer todos, menos eu, se tornarem aliados dela. Se tivesse a deixado viva, as coisas não teriam sido tão simples.

…Entendo. Para Daiya, que queria começar o jogo. A existência da Yuuri-san era um incômodo, já que ela queria impedir o [Kingdom Royale]. Portanto, Daiya rejeitou a proposta dela de revelar nossas classes e a matou assim que pôde.

— Muito bem…

Ele termina de revelar seus meios. Com um suspiro, Daiya olha para Maria.

 

Só preciso matar mais um jogador para terminar o jogo.

 

Restou apenas um dos inimigos do [Revolucionário]. Apenas o [Príncipe]… Maria Otonashi. Maria sequer ergue o rosto, quando ele declara a intenção de matá-la.

…Ah, entendo. O [Revolucionário] não tem qualquer necessidade de matar o [Feiticeiro] para vencer. Portanto, vou sobreviver. Maria não precisa fazer nada, vou sobreviver de qualquer forma. E Maria não tem qualquer interesse na própria vida. Portanto, Maria não tem mais qualquer interesse no [Kingdom Royale]. Ela não se importa em morrer dessa forma.

— …

…Não me venha com essa. Como se eu pudesse permitir esse resultado! Se Maria está planejando me salvar, jogando a própria vida fora, taxando a si mesma de ‘caixa’ e fazendo pouco dela mesma…

— Daiya.

Com certeza vou… recusar isso!

Encaro o Daiya e declaro:

— Não vou deixá-lo matar a Maria!

É claro, quando percebi que Maria é impotente nessa ‘caixa’, também não percebi que chegaria a hora em que precisaria fazer algo? Agora é a hora para isso! Naquele momento não sabia o que fazer. Mas agora...

— Se você planeja matar a Maria, vou te impedir. Vou te impedir não importa o que. Mesmo se…

Facilmente chego a essa conclusão.

 

Tiver que matá-lo.

 

Maria, que não se move nem um pouco, mesmo quando Daiya anunciou que iria matá-la, arregala os olhos e me observa. Desculpe, Maria. Vou trair sua confiança de que eu jamais mataria ninguém.

— …Você parece estar sério.

Dizendo isso, Daiya fica em silêncio. Em primeiro lugar, ele mesmo disse. Que existe a possibilidade de eu usar [Feitiçaria] quando se tornar claro quem é o [Revolucionário]. Daiya cometeu um erro. Por Kamiuchi-kun ter matado a Iroha-san, ele se tornou incapaz de usá-la como bode expiatório e revelou ser o [Revolucionário].

— Entregue a ‘caixa’, Daiya. Se você fizer, não precisará morrer.

Ele responde com uma expressão calma. Mas tendo sido seu amigo, eu sei. Ele não poderia estar mais nervoso.

— Não precisarei morrer, huh.

Ele repete minhas palavras e dá um sorriso torto.

— …Kazu. Você sabe que tipo de ‘caixa’ é a ‘Game of Idleness’?

Franzo minha testa diante dessa súbita mudança de assunto.

— A ‘Game of Idleness’ é apenas uma ‘caixa’ com o propósito de passar o tempo, que faz os chamados jogadores jogarem o jogo-mortal [Kingdom Royale].

— …E daí?

— Você acha que acabaria assim, mesmo tendo o propósito de passar o tempo? Realmente acha que eu ficaria satisfeito apenas com uma rodada?

— …

— Essa é uma luta fútil, até a morte. Portanto, esse seu sentimento de querer salvar a Otonashi, assim como a resolução de me matar, são insignificantes. O resultado é completamente indiferente. A próxima rodada terá um desenvolvimento completamente diferente, apenas pelo jogador mudar. Posso até mesmo virar seu aliado.

Do que ele está falando…?

— Contudo, os pecados cometidos nesse jogo de merda vão permanecer. Se me matar, tudo o que restará é o seu arrependimento.

— …E por isso não deveria matá-lo?

— Sim.

…Hah. Então isso era apenas conversa fiada para me fazer poupá-lo, huh. Até agora ele ainda está tentando me enganar.

— É doloroso vê-lo dessa forma! Por favor, apenas entregue a ‘caixa’ logo!

Tendo sido meu amigo, Daiya deve saber muito bem o quão sério estou sobre matá-lo. E mesmo assim…

Isso está fora de questão.

Ele declara friamente.

— …Você sabe que está encurralado, não sabe?

— Não importa. Agora já provei essa «esperança» em forma de ‘caixa’. Tendo provado, não tem como deixá-la ser roubada de mim. Se perder a ‘caixa’, não vou mais ter um propósito. Um ser humano que apenas vive sem pensar muito, não é tão diferente de uma máquina de produzir CO2, é?

— Você está dizendo que a ‘caixa’ é «esperança»…?

A ‘caixa’ que atormentou Mogi-san, Asami-san e Miyazaki-kun é…?

— Não é algo tão bom assim!

— Calado, você é irritante! Não tenho interesse algum em seus valores baratos, que poderiam estar à venda numa liquidação em uma feira qualquer!

O assustador, é que Daiya está sério. Ele está dizendo seriamente que a ‘caixa’ é esperança. Embora ele já deva saber sobre os últimos dois incidentes. Pensando até esse ponto, algo me chama a atenção. Talvez…

Isso tem algo a ver com a Kokone?

Ele não consegue responder de imediato.

— …O que tem?

— Eu disse, seu ‘desejo’ tem algo a ver com a Kokone?

— Por que você está mencionando ela do nada? Quase chego a ter pena de você, por esse seu cérebro que só consegue produzir ideias completamente aleatórias.

Mas não perco a tensa expressão que ele tem em seu rosto, antes de me atacar com essas palavras. Não há dúvida. O ‘desejo’ do Daiya tem algo a ver com a Kokone. Então me convenço.

— Você não planeja… entregar a ‘caixa’, certo?

Me convenci de que Daiya absolutamente não irá entregar a ‘caixa’.

— É isso que estive dizendo o tempo todo.

Não importa o quanto ameace matá-lo, Daiya não irá entregar a ‘caixa’. Em outras palavras, nós…

— …

Maria olha para mim quando percebo isso. Ela está sorrindo.

— …Pare.

Ela está sorrindo. …Sorrindo como se tivesse desistido de tudo. Mas acredito que essa é a expressão certa para essa situação. Já sabia desde o começo. Não posso esmagar a ‘caixa’ contra sua vontade, ao matar o Daiya. Não posso usar [Feitiçaria], não importa como.

Isso não é porque não tenho a resolução para matar o Daiya. Não tem nada a ver com minha resolução. O problema é que não posso usar [Feitiçaria] por conta própria. Certo… Não posso usar [Feitiçaria], porque Maria jamais mataria ninguém. Portanto...

Nós perdemos contra Daiya Oomine.

 

Terceiro dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Maria Otonashi]

Já sabia, mas minhas tentativas de convencê-la a usar [Execução] foram ignoradas por trinta minutos.

 

Me lembro do que Maria disse no dia anterior.

«Vou te proteger!»

Aceito isso imediatamente. Quão tolo fui, por aceitar a gentileza e força dela tão prontamente dessa forma? Não sabia desde o começo? Não sabia desde o começo que Maria não tem poder algum aqui, já que o [Kingdom Royale] é um jogo de enganações e morte?

Isso está errado. Devia ter sido eu a dizer isso.

«Vou te proteger, Maria!»

Mas agora é tarde demais.

 

Terceiro dia <E> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«[Maria Otonashi] foi estrangulada por [Assassinato]»

 

± [Maria Otonashi], morte por [Assassinato]

 


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Vencedores

 

[Daiya Oomine] (Jogador)

[Revolucionário], matou Yanagi Yuuri, Koudai Kamiuchi e Maria Otonashi com [Assassinato], vivo.

* Condições de vitória alcançadas com as mortes de Yanagi Yuuri, Koudai Kamiuchi e Maria Otonashi.

 

[Kazuki Hoshino]

[Feiticeiro], vivo.

* Condições de vitória alcançadas por ter sobrevivido.

 


Perdedores

 

[Iroha Shindou]

[Cavaleiro], esfaqueada no peito por Koudai Kamiuchi no segundo dia, morte por choque hemorrágico.

 

[Yanagi Yuuri]

[Dublê], morta no primeiro dia com [Assassinato] por Daiya Oomine.

 

[Koudai Kamiuchi]

[Rei], matou Iroha Shindou diretamente no Segundo dia. Morto no mesmo dia com [Assassinato] por Daiya Oomine.

 

[Maria Otonashi]

[Príncipe], morta no terceiro dia com [Assassinato] por Daiya Oomine.

 


Notas:

1 – Aproximadamente 19,83m²

2 – Kaichou: presidente do conselho estudantil.

3 – Pachinko: é um entretenimento e jogo de azar praticado em máquinas que se assemelham a um cruzamento entre pinball e slot machine.



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