Volume 4

Capítulo 3

Quarto dia <B> Sala de Reunião

Estou no processo de me tornar o «rei».

O progresso mudou consideravelmente com a queda da Yuuri-san e da Iroha-san. Finalmente consegui contar a eles sobre a ‘Game of Idleness’, graças a forte presença da Iroha-san.

Tirando o que aconteceu no terceiro round, os contei quase tudo. Tudo, incluindo o fato de que todos são NPCs, que Daiya é o ‘portador’ nos observando do lado de fora e que ele prometeu destruir a ‘caixa’ se todos sobreviverem e ninguém matar ninguém até o oitavo dia.

Koudai Kamiuchi parece estar cético em relação ao que eu disse, mas em uma situação em que tanto a Iroha-san quanto a Yuuri-san me seguem incondicionalmente, ele é incapaz de se expressar abertamente.

De qualquer forma, consigo deixar claro.

«Todos devem sobreviver até o bloco <E> do oitavo dia.»

Consegui deixar claro qual é o nosso objetivo.

Iroha-san, que perdeu seu trono, e Yuuri-san, que não tem mais intenção de agir, estão dando ouvidos a mim. Os problemas restantes são apenas as ações impulsivas de Koudai Kamiuchi e uma possível trama do Daiya. Faço todos revelarem suas [classes] no início para garantir que esses dois percam seu poder.

As [classes] estão distribuídas assim:

Iroha Shindou, [Revolucionário]

Yuuri Yanagi, [Feiticeiro]

Koudai Kamiuchi, [Dublê]

Maria, [Príncipe]

Daiya se recusa a revelar sua [classe], mas já que sou o [Cavaleiro], ele tem que ser o [Rei] por eliminação.

As facas e porções de comida que estavam sendo mantidas pela Iroha-san foram passadas a mim. Isso deve ter enfraquecido Koudai Kamiuchi o bastante por hora. Ele é o [Dublê] que quase não tem como matar ninguém desde que o [Rei] não faça algo. Mesmo que ele quisesse fazer algo, isso definitivamente exigiria uma enorme quantidade de dedicação e esforço. Considerando a personalidade dele, é altamente possível que não vá fazer mais nada simplesmente porque mudar o rumo do jogo seria incômodo de mais.

[Kingdom Royale] quase não está mais em operação.

 

É claro, não estou relaxando por causa disso.

 

Quando entro na sala de reunião, Iroha-san, Yuuri-san e Koudai Kamiuchi já estão sentados no chão, conversando.

— Hoshino-senpai, você sabia? A Yuuri-chan ainda é virgem!

Isso é meio… não, bastante surpreendente.

— Sério, Yuuri-san?

Ela fica vermelha, mas não responde.

— Oh, você também quer assediar a Yuuri, Hoshino-kun? Você tem coragem.

— Ah, de…desculpe.

Me desculpo ao ser repreendido pela Iroha-san, mas Yuuri-san desvia o olhar de qualquer forma, parecendo um pouco mal-humorada…Bom, considerando que ela negligenciou sua vida social para estudar, é natural que não tenha muita experiência nisso.

Então ela conseguiu agir daquela forma até agora no jogo sem ter esse tipo de experiência…? Não é à toa que Iroha-san tem inveja dessa capacidade de fascinar as pessoas, então… Mas isso levanta outra questão.

— …Você já se confessou a alguém, Yuuri-san?

— Po… por que você está perguntando isso?! Seu pedido de desculpas não foi nem um pouco sincero, foi?!

— Pe… perdão, mas fiquei curioso…

— …Não, eu acho…

Não posso suprimir um sorriso. Então sou o único a quem ela já se confessou. Me sinto um pouco honrado.

— Eh? Espere um segundo, Yuuri. Como você começou a sair com ele então?

— Se eu apenas sorrir um pouco e tocar as mãos, é moleza fazer qualquer homem se apaixonar por mim~

— E… Ei, Kamiuchi-san! Eu não… não penso dessa maneira, é sério!

— Você não pode mentir para mim, Yuuri-chan! Você pensa exatamente dessa forma, não é mesmo? Bem, mas deixando isso de lado, como você fez ele se confessar para você?

— Be… bem…

— Aposto que você usou um método similar para deixá-lo sem alternativa, certo? Uau, sua diabinha! Bruxa!

— Uuh…

Ao lado da Yuuri-san, que está sendo provocada pelo Kamiuchi-kun, Iroha-san franze o rosto também parecendo um pouco mal-humorada.

— Por que todo mundo só dá em cima da Yuuri? Também sou um pouco bonita!

— Ah, isso foi bem adorável vindo de você, kaichou!

— Eh? O que foi? Apenas expressei minha inveja, não foi?

— Você expondo seus sentimentos honestos! Como posso dizer… garotas autossuficientes não são adoráveis. Quero dizer, um cara não se sentiria desnecessário ao lado de alguém que pode resolver todos os problemas sozinha?

— …Huum, esse é um ponto de vista interessante. O que significa que a personalidade autodepreciativa da Yuuri é o que gera esse sentimento de «quero protegê-la», certo? Yuuri, você é realmente esperta.

— Uuh… Iroha, isso é cruel~!

Yuuri-san fica ofendida, diante disso a Iroha-san não pode resistir ao impulso de abraçá-la.

— Ela não é adoráaavel…

Yuuri-san pareceu surpresa no começo, mas então apenas ri e deixa a Iroha-san abraçá-la. Tenho a impressão de que a Iroha-san se soltou um pouco, olhando para o ânimo dela agora. Talvez esse lado dela tenha sido liberado por aquele choro infantil no outro dia. Mas tenho certeza de que isso é algo bom.

— …Iroha-san.

— O que foi, Hoshino-kun?

— Não se preocupe, você vai ser popular também.

Ela sorri com o que eu digo. E então responde sem perder esse sorriso gentil.

— Muito obrigado por esse péssimo conselho. Você conseguiu me irritar brilhantemente.

Bom, talvez ela não tenha se soltado no final das contas.

— Se você continuar assim, vai ser virgem eternamente, kaichou! ☆

— Calado.

— De qualquer forma, esse dedo faltando é assustador demais. Você se parece totalmente com uma estudante do ensino médio que sofreu um castigo por suas falhas no sub-mundo¹!

— Ahaha, morra, Kamiuchi.

 

…Koudai Kamiuchi é perigoso. Na verdade, as duas estão cientes disso. Não entrei em detalhes, mas contei a elas que ele matou diretamente com a faca nas rodadas anteriores e como parecia gostar daquilo.

Mesmo assim elas continuam conversando alegremente com ele, como agora. Porque as pedi que fizessem isso. Koudai Kamiuchi se sentiria naturalmente incomodado se elas se opuserem e demonstrarem inimizade em relação a ele.

E se isso acontecesse, ele daria início ao [Kingdom Royale] ao reagir e perturbar a atmosfera atual. Mas se conseguirmos mantê-lo entretido, ele pode não fazer nada. Não… não é como se eu tivesse me acalmado com um plano tão incerto. Estive sendo cuidadoso todo esse tempo. Continuei observando-o todo esse tempo porque temo que algo iniciante seja o bastante para fazê-lo explodir. É apenas que…

 

— Não, morra você.

 

…As ações de Koudai Kamiuchi extrapolam todas as minhas previsões.

Splash.

Junto com esse som, outra tragédia acontece.

 

O braço que estava abraçando Yuuri-san cai e com isso o corpo da Iroha-san começa a deslizar lentamente. Yuuri-san parece confusa sobre o que acaba de acontecer e está observando perplexamente a cabeça que está apoiada em seu peito.

Yuuri-san olhou para as próprias mãos. Elas estão encharcadas com um líquido vermelho.

— ……

Ela não consegue nem gritar diante dessa cena horrenda. Koudai Kamiuchi tira a faca das costas da Iroha-san, puxa a cabeça dela pelos cabelos e a jogou para longe da Yuuri-san. Ele então monta em cima do corpo virado para cima e começaa esfaqueá-la com sua faca. De novo e de novo.

*esfaqueia**esfaqueia**esfaqueia**esfaqueia**esfaqueia*, após esfaquear o corpo dela por algum tempo em intervalos regulares, Koudai Kamiuchi se levanta e zomba.

— Então você acabou sendo uma eterna virgem no final das contas. Que pena.

Por quê…? Para manter o último fragmento da minha lucidez que esteve se esgotando pouco a pouco com cada som de facada, abraço meus ombros e começo a pensar.

As facas no meu quarto estão devidamente guardadas. A minha, da Iroha-san, da Yuuri-san e a faca do Koudai Kamiuchi estão lá com certeza. Então por que ele ainda tem uma faca?

…Será que…?

Começo a pensar sobre isso. Por que Koudai Kamiuchi excedeu minhas expectativas? Por que não consegui lidar com ele mesmo sabendo sobre sua personalidade instável?

Tenho certeza de que fiz o que era necessário. Então deve ter tido algo que deixei passar. E isso é…

— …Daiya.

Sussurro o nome dele, mas ele não olha em minha direção. Ele está apenas tocando o piercing em sua orelha direita. Não consigo compreendê-lo. Por que ele precisava fazer isso?

Pego meu terminal para verificar algo que está me incomodando. Aah… como pensei. Daiya teve um total de três [Encontros Secretos] com Koudai Kamiuchi. No primeiro dia, no segundo, e hoje também.

Aposto que Daiya esteve sendo cauteloso em relação a mim desde o começo. E após ver minhas ações de ontem, ele imediatamente deu início a seu plano de contra-ataque.

— Uau, fiquei realmente surpreso.

Olho para Koudai Kamiuchi.

— Não achei que seria exatamente como o Oomine-senpai disse. Hoshino-senpai conspirou com a Kaichou e com a Yuuri-chan. Você as fez perderem a vontade de participar do jogo dizendo a elas que só precisariam sobreviver por oito dias. Elas até agiram amigavelmente comigo por causa disso. Hehe, se o Oomine-senpai esteve certo até agora, então deve ser seguro assumir que o resto também é verdade.

— …O que ele disse…?

— Ele disse que você, o conspirador, irá matar todos nós.

Como ousa dizer a ele uma merda dessas…!

— Você venceria no final das contas, considerando as regras. Caramba, Hoshino-senpai, você realmente é astuto apesar de sua aparência inofensiva. Não tenho ideia de como sabia sua própria [classe], mas você esteve planejando isso desde o começo, certo? Você percebeu que as três classes capazes de matar podem coexistir, planejou, criou uma outra forma aleatória de sobreviver e tentou fazer com que perdêssemos nossa vontade de participar desse jogo-assassino. Você quase me enganou nessa!

Por que ele… está interpretando as coisas dessa maneira? Mas acho que isso é [Kingdom Royale]. Um jogo que faz as pessoas duvidarem de todos, as faz enganar umas às outras, e eventualmente as faz matar umas às outras. Abaixo o foco da minha visão. Yuuri-san coloca a cabeça da Iroha-san em seu colo e está empurrando o que saiu do corpo dela para dentro enquanto murmura seu nome. Koudai Kamiuchi ri como se estivesse assistindo uma peça de comédia ao vê-la dessa maneira.

— Eu só precisaria matar o Hoshino-senpai e a Maricchi agora, mas… vou aproveitar isso um pouco mais. Parece que vocês não podem mais me enfrentar de qualquer forma. Ahaha, esse arrepio que você não pode sentir no mundo real é o verdadeiro charme de [Kingdom Royale], não é mesmo!

Então no final, não pude evitar que Koudai Kamiuchi cometesse um assassinato novamente. Não consegui alcançar minha vitória. Não… minha vitória foi evitada.

«Absolutamente impossível.»

Minha vitória foi evitada por Daiya Oomine.

«É realmente fácil entender os próprios pensamentos. Graças a isso, acabo de entender o que o “verdadeiro eu” está pensando.»

— …Ah.

Entendo. É claro que o Daiya faria isso. Contei tudo a ele. Contei ao «NPC Daiya Oomine» o que o «verdadeiro Daiya Oomine» fez. E o «NPC Daiya Oomine» entendeu as intenções do «verdadeiro Daiya Oomine». Se ele entendeu, é natural que ele atue de forma que beneficie o «verdadeiro». E o «verdadeiro Daiya Oomine» é meu inimigo. Portanto, é apenas natural que esse Daiya tome ações para se opor a mim e tente evitar que eu alcance meu objetivo de «fazer todos sobreviverem».

E de fato, ele obteve sucesso em evitar minha vitória.

…Hehe.

Perdi no momento em que tentei torná-lo em meu aliado.

— …huhu.

Daiya dá uma risada abafada.

— Você não poderia se tornar «rei» em primeiro lugar! Como se fosse capaz disso!

Essas palavras me fazem perceber. Antes eu ridicularizei Iroha-san como uma criança que quer se tornar «rei». O quão idiota eu fui? A única criança aqui… sou eu.

— …Haha.

Desde o início, só ouve uma pessoa capaz de se tornar o «rei». Daiya Oomine.

 

E assim sou facilmente derrubado do trono.

 

[Iroha Shindou], esfaqueada 17 vezes em diferentes locais do corpo por [Koudai Kamiuchi], morta.

 

Quinto dia <B> Sala de Reunião

Yuuri-san morreu.

Ela é executada por não vir à sala de reunião a tempo. Já temia isso porque ontem ela sequer voltou para o próprio quarto por conta própria após ficar traumatizada. Então no fim, ela realmente fez isso. Yuuri-san cometeu suicídio passivo e não faz mais parte do jogo.

— Uwaa… isso é terrível! Meu valioso prêmio desapareceu antes que eu pudesse obtê-lo! Uuh, a virgindade da Yuuri-chan!

Sinto emoções obscuras crescendo dentro de mim vendo Koudai Kamiuchi, que está, apesar do que acabou de dizer, apenas sorrindo enquanto apoia a cabeça em suas mãos.

Contudo, não me importo mais com o quão horrível ele é. Afinal de contas, não tenho mais um objetivo. O que resta são sentimentos de culpa em relação a Iroha-san e Yuuri-san. Apenas os sentimentos em relação ás duas que tiveram que morrer porque pensei que podia ser o «rei».

Eu devia ter feito o mesmo que a Yuuri-san…? Estou tão perdido que até chego a ter esse tipo de ideia. Nesse momento, não tenho ideia do que fazer com os dias restantes da minha vida. Portanto, a única coisa que estou fazendo é pedindo perdão a elas em minha mente.

Eu sinto muito. Sinto muito mesmo. É claro, elas eram apenas NPCs, então posso encontrá-las novamente se conseguir sobreviver. Mas esse fato não faz com que os sentimentos de culpa desapareçam. Aah… eu finalmente entendo como elas se sentiram quando foram forçadas a matar os NPCs quando eram as jogadoras.

Realmente, o fato de que os outros são NPCs não melhoram nada. Não consigo levantar meu rosto da mesa. Também há uma mala sobre ela. Dentro há um terminal portátil que não funciona mais e os dois relógios que Iroha-san usava — laranja e bege.

Daiya coloca os dois. Ao ver isso, também joguei meu relógio azul para ele. Daiya me encara, mas então coloca o relógio sem dizer mais nada.

— Ao invés do relógio, espero que você também tenha trazido as outras coisas que pedi.

Confirmo, retiro as porções de comida da mala que trouxe e as coloco sobre a mesa. Não estou fazendo isso porque desisti, mas porque deduzi que ele me mataria caso contrário.

Já que ainda tenho minhas porções, não vou morrer instantaneamente. Mas perdi meu privilégio de ter quase a mesma habilidade que o [Revolucionário] com isso. [Kingdom Royale] recuperou sua característica macabra de sempre. Para sobreviver, não existe mais outro jeito senão alcançar as próprias condições de vitória. Daiya e Koudai Kamiuchi vão naturalmente tentar me matar em breve.

Então, devo tentar vencer?

…Impossível. Sou o [Cavaleiro] e a Maria é o [Príncipe]. Nós não podemos sobreviver juntos. Tentar vencer automaticamente significa desejar a morte da Maria. Não importa o quanto ela seja um NPC definitivamente jamais desejaria sua morte. Não posso derrotá-los com esse tipo de sentimento.

Então, vou morrer.

— …

…Eu vou morrer? Bom, sim. Acho que sim. Mas então… por quê? Ergo minha cabeça. Olho para a Maria. Nós quatro deveríamos saber que serei o próximo. Maria deveria saber também. E mesmo assim ela não está fazendo nada para prevenir isso.

Ela? Ela que poderia facilmente jogar a própria vida fora pelos outros? E não apenas hoje. O tempo todo desde ontem, ela quase não falou nada. Isso não é possível.

— Maria?

Chamo o nome dela. Apesar dela claramente poder me ouvir, ela não olha para mim. Ela está apenas mordendo os lábios silenciosamente.

 

[Yuuri Yanagi], executada por não chegar à sala de reunião até às 12h10min. Morte por decapitação.

 

Quinto dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Maria Otonashi]

 

[Iroha Shindou]

Morta

 

[Yuuri Yanagi]

Morta

 

[Daiya Oomine] ->

[Kazuki Hoshino]

16:10~16:40

[Kazuki Hoshino] ->

[Maria Otonashi]

15:00~16:00

[Koudai Kamiuchi] ->

[Daiya Oomine]

15:00~15:30

[Maria Otonashi] ->

[Kazuki Hoshino]

15:00~16:00

 

Por que a Maria não faz nada?

Só pode haver uma resposta para essa questão. Assim como eu, ela não tem ideia do que fazer. Mas como ela chegou a essa condição? Ela também ficou chocada com alguma coisa, como eu fiquei pela morte da Yuuri-san e da Iroha-san?

Maria não me cumprimenta quando chego no quarto e parece estar um pouco desconfortável.

— Maria?

— …

…Algo definitivamente está errado.

— …Posso me sentar ao seu lado?

Normalmente eu nem precisaria pedir. Não precisamos pedir a aprovação do outro primeiro. Mas Maria franze o rosto ao ouvir essa questão.

— Não. Não sente aqui.

O que me faz ficar confuso.

— …Por quê?

Maria fecha a boca e desvia os olhos para evitar minha pergunta. Mas não posso simplesmente ignorar assim.

— …Me diga.

Ainda assim, Maria está hesitando em começar a falar. Mas após encará-la por algum tempo sem dizer nada, ela finalmente abre a boca.

— Estive observando suas ações o tempo todo.

Ela continua ainda sem olhar nos meus olhos.

— Observei seus movimentos nesse jogo, esperando você vir pedir minha ajuda. Você conseguiu encurralar Shindou sozinho, construiu uma fundação para explicar sobre as ‘caixas’ a eles por si mesmo e estava até mesmo a ponto de conseguir. Kamiuchi pode ter arruinado tudo no final, mas acredito que sua atitude foi esplendida. E após observar você, cheguei a uma conclusão.

Maria disse:

 

Você não é Kazuki Hoshino.

 

Esse é a razão por trás da atitude estranha dela…?

«Você é… o Kazuki, certo?»

Realmente, ela já tinha dito isso no nosso [Encontro Secreto] no segundo dia. Mas não levei muito a sério naquela hora. Quero dizer, ela conseguiu me reconhecer mesmo durante a ‘Sevennight in Mud’.

Então isso tem que ser uma piada.

— …Haha, do que você está falando, Maria?

Mas ela não diz “é uma piada” como sempre. Ela não vai me livrar dessa.

— Kazuki.

Ao invés disso, ela diz:

— Pelas nossas [classes] somos inimigos, certo?

— …Do que você está falando? Bom, sim, nossas [classes] são inimigas… eh?

Maria está querendo chegar a que ponto?

— Você acha que eu mataria você…?

Por alguma razão, Maria não balança a cabeça em resposta a essa pergunta que é mais como uma piada para mim.

— Pa… pare com isso… eu jamais iria…

— Kazuki.

Ela me interrompe.

— Eu tinha confiança em ser capaz de prever suas ações. Gastamos uma vida inteira juntos, afinal de contas. Mas suas ações em [Kingdom Royale] foram todas contrárias as minhas expectativas. Então, simplesmente não sei mais. Também não sei se você vai agir como espero daqui para frente.

— …

— Estou confiante de que as condições de vitória que você mencionou são reais. Mas, nós falhamos. Então, o que você vai fazer agora?

— Eu… ainda…

— Sou apenas um NPC, certo? Mesmo que você me mate, a verdadeira Maria Otonashi não morreria, certo?

— Onde você quer chegar…? Você acha… que te mataria por causa disso?

— Não estou pensando nisso. Não consigo imaginar você me matando.

— Então…

— Mas como eu disse, essa é apenas mais uma das minhas previsões incertas. Não entendo mais seus pensamentos, desde que você largou minha mão.

— Não pode ser…

Quando estou prestes a me aproximar dela, com a intenção de resolver esse mal entendido.

— Não chegue perto de mim!

Maria me rejeita mostrando a palma da sua mão. Mas o que me faz parar, mais do que suas palavras ou atitude, é a perturbação em seu rosto.

 

— Você se parece exatamente como Kazuki Hoshino, e isso o torna… assustador.

 

Eu não dependi da Maria nesse jogo. Porque sabia que depender dela, que pode ser chamada de a mais fraca aqui, levaria a derrota. Porque sabia que não podia vencer se não suprimisse meu desejo de depender dela e deixasse de ser fraco. Fui capaz de fazer isso graças as minhas experiências nos outros rounds. É algo que eu não teria sido capaz de fazer sem as informações que obtive. Então, realmente, minhas ações devem parecer anormais do ponto de vista dela. Mas eu estava certo de que ela entenderia mesmo assim.

Quero dizer, é a Maria! Ela, que pode me compreender melhor do que qualquer outro. Achei que ela aceitaria tudo o que eu fizesse e não se enganaria sobre mim. Esse era o meu suporte emocional. A confiança de que nós acreditamos um no outro era meu suporte emocional. Mesmo assim…

— …Por quê?

Diante dos meus olhos está o rosto aterrorizado da Maria. Isso é o resultado das minhas ações.

…Entendo. Acabei de entender o motivo pelo qual a Maria não faz nada. Perdi sua confiança há muito tempo. Não há motivos para ela salvar alguém que não conhece. Portanto, Maria não irá mais me salvar.

...................................................................................................................................sério?

É a Maria. É a Maria que está sentada diante de mim, aquela que se sacrificaria por absolutamente qualquer um para salvar aquela pessoa. E mesmo assim ela vai me abandonar…? Só porque ela tem dúvidas sobre eu ser realmente Kazuki Hoshino?

— Você está bem com isso?

Pergunto a ela.

— …Eu vou morrer, você entende?

O medo e perturbação no rosto dela parecem ser reais. Mas o que está a perturbando tanto? O que a está assustando tanto? Ela não agia dessa maneira nem quando me via como um inimigo. Se estivesse me considerando como um oponente, ela definitivamente teria mais determinação. Então, o que é que ela está pensando?

— …Como você está agora, é capaz de sobreviver por conta própria, não é?

Ela responde ainda sem olhar para cima.

— De forma nenhuma! Não posso nem matar você, nem aceitar que outro alguém te mate! Então não tenho como derrotar o Da…

Espere. Eu definitivamente não posso matar a Maria. Enquanto Maria estiver aqui, não posso possivelmente vencer [Kingdom Royale]. Isso é um fato absoluto. Mas se você inverter essa lógica, ela se torna:

Eu posso sobreviver se Maria não estiver aqui.

— …Maria.

Quando ela ergue o rosto, eu digo.

 

Você está planejando cometer suicídio?

 

Ao ouvir isso, Maria olha para mim em silêncio.

— Você está planejando morrer por conta própria, como a Yuuri-san fez? Para aumentar minhas chances de sobrevivência pelo menos um pouco?

Ela se mantém em silêncio e eu continuo.

— Porque você acha que posso ser capaz de matar o NPC do Daiya como estou agora…?

A expressão da Maria finalmente relaxa.

— Eu pensei sobre isso, realmente. Afinal de contas, sou apenas um NPC cuja vida não importa. Contudo, meramente considerei esse método.

— Não me venha com essa…! Eu não quero vencer no final das contas!

— Mas isso é porque estou aqui, não é? Se não fosse por mim, você pensaria em como sobreviver.

— Isso…

Me vendo hesitar, Maria deixa escapar um leve suspiro.

— …Sabe, Kazuki. Parece que não posso mais manter isso para mim mesma, então me deixe dizer isso, considero sua mudança como indesejável. Isso porque ela me torna incapaz de prever suas ações.

— …O que tem demais em ser capaz de fazer isso?

— Se pudesse prevê-las, eu poderia, por exemplo, pressupor que ações você tomaria após a minha morte e julgar se você conseguiria ou não sobreviver. Mas por não ser mais capaz de fazer isso, minhas mãos estão atadas.

— …Do que você está falando?

“Após a minha morte”? Que tipo de pressuposição é essa! Mas Maria continuoa sem se preocupar com minha reação.

— Você não dependeu de mim dessa vez. É verdade, posso ser fraca e não servir para nada em [Kingdom Royale]. É verdade. Mas não me importo.

Ainda por cima ela diz com um sorriso no rosto.

 

— Vou te proteger da mesma forma!

 

E para isso você não se importa em usar a sua própria vida…? Mesmo que saiba perfeitamente que não desejo isso?

«Mesmo assim, quero te proteger, mesmo que precise pagar com minha vida.»

Eu não disse a ela? Eu não disse no segundo round que:

«É minha função te proteger, quando você tiver perdido sua ‘caixa’.»

Portanto…

— …Não vou deixar.

Definitivamente não vou permitir que a Maria morra por mim.

— Eu não te disse que essa é minha função?! Não vou permitir!

Maria arregala os olhos. Aah, certo. Ela não se lembra do que eu disse a ela no segundo round. É apenas natural que esteja confusa. Isso não importa. Desde que eu consiga deixar claro minhas intenções!

— Você não vai me proteger. Eu vou proteger…

— Espere.

Mas ela me impede. Seus olhos já se estreitaram e estão me penetrando com um olhar afiado.

— …O que deu em você?

— …O que você quer dizer?

— O que você quer proteger é o seu cotidiano, não eu, certo? É o seu dia-a-dia em que a Mogi, a Kirino e os outros estão, certo? Você não tinha uma determinação inabalável quanto a isso? Então o que você está choramingando? Não me desaponte dessa maneira!

Fico pasmo. Porque ela claramente está séria sobre isso.

— …Entendo.

Finalmente percebo. Maria esteve me superestimando. Ela me viu insistindo no meu cotidiano por uma vida inteira sem perder essa crença. Isso deve ter parecido incrível para ela. Embora a única razão pela qual não mudei é porque estava preso naquelas repetições, devo ter parecido um super-humano para ela.

Maria acha que eu jamais mudaria porque não mudei por tanto tempo. Mas isso não é possível. Eu sou normal. É o que sempre digo. Até mesmo ‘O’ disse que vou mudar logo. Além disso, tenho certeza que super-humanos não existem. Mesmo pessoas como Iroha Shindou, Yuuri Yanagi, Koudai Kamiuchi ou Daiya Oomine não conseguiram sobreviver todas as vezes em [Kingdom Royale]. Não sei qual deles é melhor. E acredito que isso é evidência de que não existem super-humanos. Ironicamente, percebi isso dentro dessa ‘caixa’ criada apenas para matar o tédio.

Portanto, não sou um super-humano. E… a Maria também não. E mesmo assim ela está confundindo algo.

— …Por que você também não está nesse dia-a-dia?

— Isso não é… óbvio?

Porque ela está tentando ser especial. Porque ela acha que pode.

— Porque sou uma ‘caixa’.

 

Mesmo que ela seja apenas uma pessoa normal. Então, penso sem qualquer base ou fundamento lógico. Ainda não acabou. Não fui derrotado ainda.

Maria ainda está viva, afinal de contas.

 

Quinto dia <C> [Encontro Secreto] com [Daiya Oomine], Quarto de [Kazuki Hoshino]

«Você quer matar [Koudai Kamiuchi] usando [Ataque Fatal]?»

Essa mensagem estava no monitor do meu quarto.

Essas mensagens são programadas para desaparecer durante [Encontros Secretos] para não serem vistas por outros jogadores. Portanto, a mensagem não está mais a mostra, agora que Daiya chegou. Mas nesse caso, essa função não tem qualquer significado. Afinal de contas, deve ter sido o Daiya, o [Rei], quem selecionou o alvo de [Execução].

— …O que você está pensando? Você não tinha se aliado a Koudai Kamiuchi?

Sentado sobre a mesa de pernas cruzadas, Daiya responde com um sorriso desafiador.

— Whoa, essa é uma ótima piada. Como se eu fosse ajudar aquele cara! Simplesmente o usei porque ele era uma ferramenta útil.

— …Mas levando em conta suas [classes], [Rei] e [Duble], vocês podem coexistir.

— Você acha que vencer o [Kingdom Royale] é meu objetivo ou o quê?

— …

Fico mudo por um instante. Não esperava que ele fosse especificamente declarar que não tem intenção de vencer esse jogo. Então o que é que ele está tramando…?

— …Então, por que você matou a Yuuri-san e a Iroha-san? Você realmente precisava fazer aquilo?

— …Por um lado, sim. Mas de qualquer forma, Yanagi se suicidou! Eu também não esperava por aquilo!

— …Você planejava deixar a Yuuri-san viva?

Seu sorriso se torna sarcástico.

— Não. Mas planejava usá-la por um tempo para te mostrar o sofrimento dela ao ser violada por Kamiuchi diante dos seus olhos. Para te deixar ansioso.

Não entendo. Não faço ideia do que se passa na cabeça dele. Contudo, o que ele está fazendo é terrível, não importa qual motivo ele tenha.

— De que ansiedade você está falando em primeiro lugar…?!

— Depois da Yanagi, Otonashi é claramente o próximo alvo tanto para assassinato quanto em desejo sexual para Kamiuchi, não é? Queria deixar claro a você o que a Otonashi terá de suportar se você não fizer nada.

— Por quê?! — grito sem querer.

Mas sei que, deixando de lado os meios, Daiya não faria algo tão cruel sem um motivo. Não vou confundir esse fato e também acredito que estou certo sobre isso.

— …

Certo, Daiya não faz nada sem um motivo. Portanto, tem de haver algum significado em gerar essa situação. Também deve ter algum significado em escolher Koudai Kamiuchi como alvo para [Execução] e ter esse [Encontro Secreto] comigo.

Apenas não tenho absolutamente qualquer ideia sobre qual é essa razão. Afinal, o que é essa ‘caixa’? Uma ‘caixa’ apenas para acabar com o tédio? O que é isso? Não parece algo que o Daiya faria.

«Uma ‘caixa’ com o propósito de fazer os outros jogarem um jogo mortal? Hehe… quão absurdo é isso? Não tem qualquer sentido na existência disso.»

De fato, ele me disse isso no segundo round. Não acho que o NPC dele tentou me enganar aquela vez e realmente não sabia nada sobre a ‘Game of Idleness’.

«A ‘caixa’ pode não ser nada, além de uma forma de matar o tempo, para alguém que está afogado em tédio. Portanto, isso é apenas um jogo. Um jogo sem sentido.»

Ele está se contradizendo. O que ele diz não tem consistência. Embora Daiya nunca, jamais, colocaria tal desejo em sua ‘caixa’, a ‘Game of Idleness’ é, de fato, nada senão uma forma de eliminar o tédio. Isso é obviamente contraditório…

— …

Não. Não é contraditório.

«Otonashi pode sentir e intervir nas ‘caixas’ e conhece ‘O’ porque é uma ‘portadora’, certo? Sendo um ‘portador’, não seria estranho para mim ter as mesmas habilidades.»

Certo. É isso. Daiya Oomine esteve tirando vantagem da ‘caixa’ de outra pessoa. Então, quem é o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’? Apenas uma pessoa vem à mente. Conheço apenas uma pessoa que se encaixa no padrão de “alguém que está atolado em tédio” bem demais.

Koudai Kamiuchi.

Ergo meu rosto e digo a Daiya.

Koudai Kamiuchi é o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’.

Certo, não é o Daiya.

Aah, ele até esteve me dando pistas esse tempo todo. Ele não disse ser o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’ nenhuma vez, e seu NPC também negava fortemente ser o ‘portador’. Daiya não disse uma mentira sequer, exceto quando escondeu o fato de ser o [Revolucionário] no primeiro round.

Houveram mais pistas do que o necessário. Ele foi surpreendentemente justo e garantiu que eu pudesse lutar contra ele. E mesmo assim, apenas senti que algo estava um pouco estranho, mas não consegui perceber que Daiya não era o ‘portador’. Ele ergue um dos cantos dos lábios para dar um sorriso torto e diz.

— Acho que não precisava te dar algumas dicas. Você percebeu bem rápido.

— Rápido? …Já é tarde demais!

Já sacrifiquei a Iroha-san e a Yuuri-san. Você não pode possivelmente chamar isso de rápido.

Graças a minha lerdeza, fui controlado pelo Daiya como uma marionete e falhei miseravelmente. Mas… Mas não posso pensar nisso como uma nova esperança? Fui derrotado pelo Daiya. Mas apenas pelo Daiya, não pelo ‘portador’ da ‘Game of Idleness’. Certo… não fui derrotado pela ‘Game of Idleness’ ainda. Portanto, ainda pode existir uma possibilidade de fugir da ‘Game of Idleness’.

— Diga, Kazu, você sabe por que não pode me derrotar?

Daiya declara.

— É porque seu objetivo é ambíguo.

— …Eh? Mas meu objetivo é claro. É retornar ao meu cotidiano… ou deveria ser…

Preciso escapar sem matar ninguém. Porque eu não seria capaz de retornar ao meu cotidiano assim que cometesse um assassinato… mesmo que seja apenas contra um NPC. Foi por isso que tentei cumprir a condição de que «todos devem sobreviver por oito dias» que Daiya me explicou, e tentei me tornar o «rei».

— Kazu, você realmente acha que tem o que é necessário para se tornar o «rei»?!

O mesmo de ontem.

— …O que você quer dizer?

— Exatamente o que eu disse. Apenas alguém preparado para se devotar a felicidade dos outros, sem se preocupar com a própria, tem o direito de se tornar «rei».

…Realmente? Se apenas esse tipo de pessoa pode se tornar «rei», então realmente não estou preparado para isso. Não quero me tornar alguém assim.

Apenas… Maria iria querer ser alguém assim.

— Já que isso não é o que te traz felicidade, você não pode se tornar isso e nem precisa. No máximo, você pode se tornar...

Ainda com um sorriso torto ele diz.

 

Um «cavaleiro» que protege somente uma certa pessoa, certo?

 

«Cavaleiro».

Essa palavra me faz recordar de uma imagem. Uma imagem minha ajoelhado, estendendo a mão para a princesa. Eu conheço essa cena. O fundo está borrado. Não sei se aconteceu em um castelo, um terraço, um corredor ou uma sala de aula. Acho que o fundo foi sobreposto pelo meu dia-a-dia. Mas posso claramente reconhecer quem é a princesa.

Se eu não a tivesse levado comigo, essa princesa certamente teria se tornado o próximo «rei». E então ela não será capaz de pensar em sua própria felicidade novamente. Embora ela realmente quisesse fugir, puxada pela mão por mim. Foi por isso que decidi trair tudo e fazer de todos meus inimigos, para protegê-la. Pelo bem dela.

…Aah, certo. Até conhecê-la, eu insistia em meu cotidiano por causa de uma distorção. Era apenas uma medida emocional para esquecer o incidente com «Yanagi Nana». Mas isso começou a mudar quando a conheci.

Comecei a querer ela do meu lado. Comecei a desejar que ela fosse parte da minha vida, que ela existisse em meu dia-a-dia. Tê-la ao meu lado é o que eu chamava de meu «cotidiano». Então é isso. Antes que eu percebesse, meu objetivo…

 

Meu objetivo se tornou salvar a Maria.

 

Por isso que Daiya me disse que é «absolutamente impossível» eu vencer. Ele reconheceu que eu já não estava mais compreendendo meu próprio objetivo. Ele tinha certeza de que não seria derrotado por mim enquanto eu estivesse daquela forma. Droga… ele está perfeitamente certo!

— Se seu objetivo está claro agora, faça o que deve ser feito.

— …O que deve ser feito?

Ele diz claramente.

— Sim, o que você deve fazer. Matar Koudai Kamiuchi.

— …Matar…?

O Koudai Kamiuchi que está aqui é apenas um NPC, então a ‘Game of Idleness’ não será destruída ao matá-lo.

— Mas… ah, entendo.

Se eu não fizer isso, a Maria aqui será morta. Não apenas isso, ela até se tornaria o brinquedo dele. Sendo o «cavaleiro» dela, não posso permitir isso. Portanto, preciso matar o ‘portador’, Koudai Kamiuchi.

— …Mas mesmo assim.

Posso realmente fazer isso? Claro, Koudai Kamiuchi é alguém além de qualquer salvação. Se eu não estivesse diretamente envolvido, nem eu me importaria tanto se o NPC dele fosse morto.

Mas quando é preciso fazer isso por si mesmo, tudo é diferente. Tenho certeza que não haverá volta assim que eu escolher o «matar». Precisarei fingir ser outra pessoa quando estiver conversando com Kokone, Haruaki ou a Mogi-san.

Mas Daiya está me dizendo para fazer isso mesmo assim. Daiya está me dizendo para fazer isso se eu souber o que é realmente importante para mim. Mas para onde eu vou voltar será realmente meu «cotidiano» após matá-lo e escapar da «Game of Idleness»?

— Kazu, tente tocar o monitor por alguns segundos.

Toquei o monitor como ele diz. Nada acontece de imediato, mas após esperar uns cinco segundos, o monitor liga e a mensagem «Você deseja revelar a tela?» aparece.

— Se você aceitar, a tela aonde você pode usar [Ataque Fatal] irá aparecer. Você pode decidir agora mesmo matar Koudai Kamiuchi.

— …Entendo.

Aperto o botão «Sim», o que faz a mensagem «Você quer matar [Koudai Kamiuchi] usando [Ataque Fatal]?» aparecer. Posso matar alguém apenas pressionando esse botão.

Não fiz isso em nenhum dos jogos até agora, mas acho que não posso mais evitar. Então se eu posso proteger a Maria com isso, eu… Estendo minha mão em direção ao botão e…

— …

…paro o braço. Espere. Estou realmente bem com isso? Está tudo bem em fazer o que o Daiya diz? Estou seriamente pensando que posso proteger Maria se seguir o Daiya?

— …Qual o problema? Está pensando em dar para trás?

— Daiya.

Ele me lançou um olhar de suspeita ao me ver com a expressão fechada quando o chamo.

— Você é o NPC do Daiya, certo?

— …Por que precisa dizer o óbvio?

— Então não é como se você entendesse as intenções do «verdadeiro Daiya» completamente, certo?

Seu olhar de suspeita fica ainda mais intenso.

— Responda.

Digo o encarando.

— O que acontece com nossa promessa?

Ele entendeu onde quero chegar e fica em silêncio.

— Eu não consegui «fazer todos sobreviverem até o oitavo dia». Portanto, o Daiya do outro lado não precisa destruir a ‘Game of Idleness’.

— …

— Se a «Game of Idleness» não for destruída, não tenho como proteger a Maria. Pior, sendo incapaz de matar a Maria, que é o «Príncipe» no jogo, vou morrer com certeza. E Maria definitivamente não será capaz de vencer a própria rodada quando for a jogadora. Em outras palavras, não tenho como protegê-la.

Ele ainda continua em silêncio. Então continuo.

— Você na verdade não sabe como o «verdadeiro Daiya» planeja resolver essa situação, sabe?

— …

Daiya não responde.

Isso é como me dizer que ele realmente não sabe.

— …Não posso simplesmente seguir seus planos então. Preciso encontrar uma maneira de salvar a Maria por mim mesmo.

— …Que Koudai Kamiuchi precisa ser morto é certeza.

— Sim, também acho que preciso matá-lo porque Maria seria morta de outra maneira, mas…Oh?

Não, espere. O que ele acabou de dizer? Por causa da expressão desconfortável no rosto dele, assumi que estava apenas tentando fugir da minha pergunta. Mas é realmente isso? E se o que ele acaba de dizer for a resposta para a minha pergunta sobre como o «verdadeiro Daiya» planeja resolver essa situação?

«Que Koudai Kamiuchi precisa ser morto é certeza.»

Essa frase. Eu sei. Sei qual é a maneira mais fácil de destruir uma ‘caixa’. Então, ele na verdade quis dizer o seguinte? Ele vai destruir a ‘Game of Idleness’ junto com o seu ‘portador’. O «verdadeiro Daiya» irá resolver isso matando o «verdadeiro Koudai Kamiuchi».

Mas então por que ele está hesitando em dizer isso? Porque é uma solução horrível? …Não, Daiya pode dizer esse tipo de coisa facilmente. Ele está me encarando com uma expressão séria. Está me proibindo de por meu entendimento em palavras com seu olhar.

Que reação é essa? Por que ele está em guarda, mesmo que ninguém possa ouvir sobre o que falamos nesse [Encontro Secreto]? Claro, existe a possibilidade de que Koudai Kamiuchi ouça essa conversa em nossos terminais portáteis mais tarde. Mas se fosse isso, ele não teria me dito para «matar Koudai Kamiuchi» .

O que significa que existe outro alguém que pode ouvir essa conversa? Alguém que seria melhor não ouvi-la?

Além de nós, há…

— …

Olhei para o teto sem pensar. Só há o teto branco de concreto imutável não importa o quanto olhe para ele. O «verdadeiro Daiya» parecia saber sobre o que eu tinha feito. Não posso dizer com certeza, mas acho que ele está assistindo minha luta através daquela máquina de jogos mesmo agora.

Certo, resumindo… o [verdadeiro Daiya] e o [verdadeiro Koudai Kamiuchi] podem ouvir essa conversa.

O «verdadeiro Koudai Kamiuchi» não deve suspeitar das intenções do «verdadeiro Daiya» de matá-lo. As chances estariam contra o Daiya em uma luta direta… principalmente porque não há facas naquele quarto escuro.

Mas então como ele planeja matar Koudai Kamiuchi? Reconsidero tudo o que o Daiya disse. “Naturezas são assim. Todos os eventos mudam de forma, de acordo com sua natureza.”; “Agora já provei essa «esperança» em forma de ‘caixa’. Tendo provado, não tem como deixá-la ser roubada de mim.”; “Você deve saber que não fiz nada por um tempo após obter a ‘caixa’. Em outras palavras, estava apenas em posse da ‘caixa’ sem utilizá-la.”; “Você pode sobreviver se ninguém matar ninguém, durante os oito dias.”; “Já menti para você alguma vez?”; “Portanto, eu sou… seu inimigo.”

— …

Entendo. Então é assim.

— Daiya.

Ele me olha sem mudar sua expressão séria.

— Você perguntou a ele sobre aquela semana, não foi?

Ele não responde. Isso apenas confirma minha suspeita.

— …hehe…

Entendo completamente as intenções do Daiya.

— Daiya, você é um grande mentiroso.

Por isso, não consigo resistir ao impulso de provocá-lo dessa forma.

Você não me derrotou no final das contas.

Quero dizer, o plano dele iria por água a baixo se eu o expusesse agora mesmo. Você não pode chamar isso de já ter vencido.

— …Não fique se achando, Kazu! O que você pode fazer, sendo incapaz de matar a Otonashi?

Realmente. Posso ter descoberto que Koudai Kamiuchi é o ‘portador’, mas para confrontá-lo eu precisaria vencer essa rodada de [Kingdom Royale] primeiro… mesmo que não possa vencer porque não posso matar a Maria.

Mas isso não é problema no plano do Daiya. Porque ele vai destruir a ‘Game of Idleness’ antes disso. Mas…

— Então devo depender de você?

Estranho, não?

— Mesmo sendo meu inimigo? E mesmo que não façamos ideia se seu plano vai funcionar? Vou tentar pensar em uma estratégia melhor então!

— …

Daiya fecha a boca. O plano dele é vantajoso para nós dois. Na verdade, tenho consciência disso e tenho certeza que ele sabe que eu entendo. Eu seguiria imediatamente o plano dele se ele apenas se curvasse um pouco e pedisse por favor.

Mas Daiya não vai fazer isso. Ele jamais abaixaria a cabeça para mim. Daiya jamais se rebaixaria na minha frente. Não apenas porque ele quer proteger seu orgulho. Ainda não sei qual é o objetivo do Daiya, mas tenho certeza de que ele não pode abaixar a cabeça para mim pelo bem disso.

Igual a Maria que jamais se submete. Assim, Daiya apenas continua me encarando com inimizade em seus olhos, sem abaixar a cabeça. Com uma intensidade penetrante.

— …Daiya.

Serei eu a ceder, então! Se não o fizer, Daiya pode acabar morto. E não quero isso afinal de contas, já que ele sempre foi meu amigo.

— Tenho um pedido.

Não é um pedido, na verdade. É algo que Daiya é forçado a fazer. Ele precisaria fazer isso de qualquer forma.

— Quero que você convença Koudai Kamiuchi a não machucar a Maria.

Afinal, não vou mais me segurar se a Maria morrer por causa de um impulso de Koudai Kamiuchi. Se isso acontecer, vou matar o Daiya. E ele não pode me derrotar. Porque o plano dele não permite que ele me mate.

— …

Ele se manteve em silêncio com a testa franzida, mas isso definitivamente é um sinal de aceitação.

 

Sexto dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Kazuki Hoshino]

 

[Iroha Shindou]

Morta

 

[Yuuri Yanagi]

Morta

 

[Daiya Oomine] ->

[Maria Otonashi]

16:20~16:50

[Kazuki Hoshino] ->

[Maria Otonashi]

15:00~16:00

[Koudai Kamiuchi] ->

[Kazuki Hoshino]

16:20~16:50

[Maria Otonashi] ->

[Kazuki Hoshino]

15:00~16:00

 

Parece que Daiya teve sucesso em convencê-lo. No final, Koudai Kamiuchi não fez nada hoje. Mas era óbvio à primeira vista que ele mal conseguia se segurar. Ele já não consegue mais manter sua sede por violência dentro de si mesmo, e transborda esse sentimento. Conheço aquela atmosfera negra que quase parece ser feita de puro desejo de certa Câmara do Mestre.

 

Ainda há algo que Daiya está deixando passar. Isso é, como Maria irá se mover. O plano do Daiya só será executado se o tempo passar. O «verdadeiro Daiya» não irá agir até pouco antes de nos tornarmos múmias quando nossas porções de comida acabarem.

Sei disso. Mas Maria não sabe sobre o plano dele, é claro. Ela ainda acha que vou morrer se alcançarmos o tempo limite. É claro, ela tentará me fazer vencer em [Kingdom Royale] para que eu possa sobreviver… sabendo que minhas condições de vitória não podem ser alcançadas enquanto ela estiver viva. Em outras palavras…

Se eu não fizer algo, Maria morrerá para cumprir minhas condições de vitória. Para prevenir isso, tenho que a persuadir. Mas sei muito bem que a Maria não vai desistir tão fácil. É por isso que pedi a Daiya para pacificar Koudai Kamiuchi. Eu não posso matá-lo imediatamente. Porque, para persuadi-la, quero que Maria veja…Veja como mato Koudai Kamiuchi.

 

Olho para Maria que acaba de entrar no meu quarto. Me pergunto o porquê. Agora que descobri meu objetivo, sinto que algo está terrivelmente fora do lugar ao olhar para a Maria. A silhueta dela parece embaçada como se meus olhos tivessem perdido o foco.

— Kazuki.

Ela não se senta do meu lado no final das contas. Acho que ela ainda não admite que sou «Kazuki Hoshino». Ela não irá me reconhecer da forma que as coisas estão, embora eu tenha descoberto meu objetivo.

Parece que preciso morrer no final das contas.

Portanto, não posso impedir a tolice dela se as coisas continuarem assim.

— Senão certamente ficarei em seu caminho, Kazuki. Você também não seria capaz de vencer o [Kingdom Royale]. Mas eu, felizmente sou apenas um NPC. Não há nada para se preocupar.

Ela diz tranquilamente. Não consigo segurar um suspiro. Como pensei, não será fácil impedi-la.

— Maria, você não precisa mais se preocupar com isso.

— Por quê?

— Porque vou matar Koudai Kamiuchi.

— …

Ela fica sem palavras por um instante, mas se recupera de sua confusão rapidamente.

— Realmente não te entendo mais.

Sua expressão fica zangada.

— Então você tramou algo com o Oomine, hein. E imediatamente fez a pior escolha possível, além disso.

— Eu já decidi.

— …Entendo — ela desvia o olhar. — Sequer considero assassinato como uma opção. Usar algo assim para resolver isso é, não importa o quão efetivo seja, nada a não ser uma atrocidade. Uma vez, disse algo parecido dentro da ‘Rejecting Classroom’… mas, bem, você não se lembra, hein.

Eu estaria mentindo se dissesse que não sinto nada, confrontado com a atitude de rejeição dela. Mas não vou recuar, mesmo sendo ferido pelas palavras dela.

— É muito pior cometer suicídio.

— Se for sobre humanos, sim. Mas sou uma ‘caixa’.

— Não me venha com uma desculpa dessas! Você definitivamente sabe que não quero isso!

Ela arregala os olhos ao me ouvir gritar.

— …Você ainda está falando esse tipo de bobagem? Por que ficou tão fraco? Você deveria ser melhor do que isso! Você deveria ser capaz de priorizar seu «cotidiano» em vez de mim!

Não é você que está falando bobagem? Sou eu quem deveria dizer isso! Dou um passo à frente e toco o monitor enquanto suporto o olhar cheio de suspeita dela. Uma mensagem aparece na tela.

 

«Você quer matar [Koudai Kamiuchi] usando [Ataque Fatal]?» aparece.

 

Vou mostrar a ela, então. Vou mostrar a Maria que mudei. Essa é a única razão pela qual esperei um dia para matá-lo. E então a farei confiar no novo eu. A farei entender que não precisa morrer. Com esse propósito, estendo minha mão para as letras «MATAR?» cobrindo os olhos de Koudai Kamiuchi.

— Pa…Pare!

Maria corre em minha direção com os olhos arregalados e segura meu braço.

— …Por quê?

Honestamente, não esperava que ela fosse entrar em pânico dessa forma.

— …O que você quer dizer?

Ela pergunta de volta, desviando um pouco o olhar.

— …Por que você odeia tanto a ideia de eu ter mudado? É claro, não estou fazendo algo bom. Mas é realmente algo que você precisa me impedir de fazer a qualquer custo? Nós dois podemos ser salvos com isso, entende?

Lembro do nosso [Encontro Secreto] de ontem.

«Você se parece exatamente como Kazuki Hoshino, e isso o torna… assustador.»

— Por que você teme tanto minha mudança?

— …

Maria não pode responder essa pergunta.

— Só para você saber, não adianta me impedir de apertar o botão! Mesmo que você me impeça agora, irei apenas apertar quando você sair.

— …Eu sei.

Mas ao contrário do que diz, ela aperta meu braço com mais força.

— Fico emocional, é por isso que estou te impedindo. Certo, admito. Eu absolutamente não quero que você mude.

— …Mas é tarde demais.

Ela fixa o olhar em mim enquanto murmuro essas palavras.

— …Parece que sim.

E solta o meu braço.

— Não posso mais te impedir, posso?

Continuo olhando para ela, sem entender porque ela está tão aflita com isso. Como se para responder meu olhar, Maria abre a boca.

— Me diga, Kazuki. Qual o meu objetivo?

Ela pergunta em uma voz que soa trágica de certa maneira.

— Obter uma ‘caixa’, certo?

— Exato, estou tentando obter uma ‘caixa’. Estou em busca da ‘caixa’ para meu tornar ‘desejo’ completo. Só estou ao seu lado porque ‘O’ parece ter interesse em você. Isso é uma justa causa.

— …Sim.

— Mas sou uma ‘caixa’. Uma existência que não pode ser parte do dia-a-dia de ninguém. Portanto, não deveria estar ao lado de alguém. Não devo me envolver com ninguém mais do que o necessário porque acabaria destruindo o dia-a-dia desse alguém. Só posso ficar ao seu lado porque tenho uma justa causa.

— …

—Você começou a mudar. Não consigo mais deduzir os seus pensamentos por suas expressões. Pouco a pouco, essa certa especialidade que existia entre nós desapareceu…Bom, nossa relação era apenas um subproduto criado pelos sentimentos da Mogi, então pode ser natural que isso aconteça.

— Isso…

Quando estou para negá-la reflexivamente, Maria me impede, cobrindo minha boca.

— Não preciso de uma mentira reconfortante. Você também deve sentir que o que havia entre nós deixou de ser especial, também.

— …Uh…

— Você está prestes a matar Koudai Kamiuchi. Sei que seus valores não vão voltar a ser os mesmos quando você matar alguém, mesmo que seja um NPC. Você irá mudar mais ainda. Seu apego anormal ao seu cotidiano irá diminuir e você se tornará incapaz de dominar a ‘caixa’, igual a todo mundo. E sabe o que acontece a seguir?

Ela diz:

— ‘O’ perde o interesse.

As mãos dela não estão mais cobrindo minha boca, mas não consigo abri-la.

— Você deve ficar feliz por ‘O’ te abandonar. Na verdade, eu deveria ficar feliz por você também. Mas não posso ficar feliz do fundo do meu coração. Não porque vou perder minha pista para encontrar a ‘caixa’. Mas porque quando ‘O’ perder o interesse em você, eu…

 

Eu vou perder a justa causa que me permite ficar ao seu lado, Kazuki.

 

Dizendo isso, Maria pressiona a testa contra o meu ombro.

— Assim que ‘O’ não estiver mais atrás de você, terei que te deixar. Bom, é claro. Não tenho como alcançar meus objetivos de outra forma.

Aah, então era isso. O que Maria estava temendo por todo esse tempo desde ontem. Não, mesmo antes disso. É…

 

É… uma despedida.

— Kazuki, não vou mais te impedir.

Ela tira a cabeça do meu ombro.

— Não tenho permissão de te impedir, na verdade. Não tenho o direito, nem a necessidade disso. Mas mesmo assim, eu deveria saber.

Maria diz com um sorriso gentil e conformado.

— Que poder ficar ao seu lado era apenas um frágil sonho.

— …

Incapaz de olhar mais para ela, me viro para o monitor. Para a mensagem «Você quer matar [Koudai Kamiuchi] usando [Ataque Fatal]?». Em minha mente, adicionei a seguinte linha: «Você irá aceitar a despedida com [Maria Otonashi]?».

— …Não tem...

…como eu aceitar algo assim.

O que é isso! Assim que tento proteger a Maria, preciso me despedir dela?! Mesmo sabendo que ela continuará chorando sozinha quando nos separarmos?!

 

«Não consigo suportar sua morte. Isso parte o meu coração. Não quero isso. Eu quero ficar com você.»

 

Por que nunca posso fazer nada? Por que não posso fazer nada mesmo sabendo dos sentimentos que Maria Otonashi tem por mim…!

…Tem que haver um jeito. Sendo o «Cavaleiro», devo ser capaz de libertar a Maria presa ao matar alguém. Quem é aquele que está tentando induzir Maria a ficar sozinha? Pense. Pense, pense, pensepensepensepensepense…

— …Ah.

…Entendo.

— …Haa!

Entendo. Finalmente sei quem é meu inimigo! Por que não percebi isso antes? O inimigo sempre esteve próximo de mim. Nós até nos conhecemos! E até reconheci essa pessoa como inimigo no começo disso tudo! Livre das dúvidas, estendo a mão novamente em direção ao botão. «Você quer matar [Koudai Kamiuchi] usando [Ataque Fatal]?» lei a mensagem e decido sem hesitação nenhuma.

Sim, vou matá-lo!

Aperto o botão que aparece sobre a imagem de Koudai Kamiuchi.

— …Aah.

Maria deixa escapar um longo suspiro.

— O frágil sonho acaba de terminar, hein.

— Não!

Realmente, acabo de me tornar oficialmente um assassino e mudo. O que defino como «cotidiano» que quero proteger muda. Acho que ‘O’ vai me deixar, como Maria assim que perceber. Mas…

— A pessoa diante de mim agora é a Maria sem a ‘Flawed Bliss’.

Se tudo for como planejado, Maria será capaz de sair da ‘Game of Idleness’ sem vivenciar as [experiências indiretas]. Ela não irá se lembrar dessa conversa. Ela continuará no escuro sobre minha mudança.

— Você não é uma ‘caixa’ quando não tem a ‘Flawed Bliss’.

Maria parece não estar entendendo onde quero chegar e está me olhando com os olhos arregalados.

— Eu te disse no segundo round que «É minha função te proteger, quando você tiver perdido sua ‘caixa’». Pretendo manter minha palavra. Portanto, continuarei te protegendo das garras do demônio.

— …Garras do demônio? Você diz Kamiuchi e Oomine?

— Deles também, mas o maior inimigo de todos é outro.

Meu objetivo se torna salvar a Maria. Então, quem é que mais esteve me impedindo de alcançar esse objetivo na ‘Game of Idleness’… não, mesmo antes disso? Quem é o detestável inimigo que faz Maria pensar que ela precisa abrir mão da própria vida? O que precisa ser feito para que Maria não precise morrer?

Originalmente, ela sequer precisaria da minha ajuda para sobreviver. Com as habilidades dela, não deveria ser difícil vencer o [Kingdom Royale] quando for a jogadora. Mas Maria absolutamente não pode matar ninguém. Ela preferiria negligenciar a própria vida.

É por isso que ela definitivamente não pode derrotar a ‘Game of Idleness’. Então, o que precisa ser feito para ela conseguir vencer em [Kingdom Royale]? Eu, o «Cavaleiro», jurei uma vez. Vou salvá-la, mesmo que isso signifique trair a todos e fazer deles meus inimigos. Maria respondeu a isso. Ela esteve esperando por mim, essa tem sido sua única força.

Seja conscientemente ou não, Maria está ciente de que está sendo mantida presa. E também sabe de que não pode fazer nada sobre isso por si mesma. Por quem ela está sendo mantida como prisioneira? Quem está tentando fazê-la se tornar o «rei»? Quem preciso matar para libertá-la? Finalmente descubro.

 

— É «Aya Otonashi».

 

Esse é o nome do meu inimigo. O inimigo que vou enfrentar daqui em diante, e a quem estive enfrentando por toda uma vida.

— Vou derrotar «Aya Otonashi». Vou mostrar a ela que não há desespero que não possa ser revertido através do seu dia-a-dia e que não há necessidade de usar uma ‘caixa’.

Então não haverá despedida. Poxa vida… «Aya Otonashi», como você ousa envolver a «Maria Otonashi»! Você é a única que não pode ficar do meu lado!

— …O que isso deveria significar?

Os olhos dela estão arregalados. É justo. Durante aqueles dias repetitivos, Maria finalmente foi capaz de formar seu eu ideal, «Aya Otonashi», que ela desejou. E mesmo assim, estou dizendo que vou destruir isso.

— Isso é uma… proclamação de guerra?

Respondo com um sorriso.

— Não é!

Poderia ser uma proclamação de guerra se eu tivesse dito isso a verdadeira Maria no mundo real. E após saber como eu penso, ela iria me deixar. Mas estamos em [Kingdom Royale] agora. Isso não permanecerá na memória da Maria.

— Eu conheço a Maria da primeira “transferência escolar”.

Os olhos dela ainda estão arregalados… aparentemente ela não entende porque falei isso do nada.

— Não consigo me lembrar de quase nada daquele tempo! Mas sei que havia uma Maria que ainda não tinha se transformado completamente em «Aya Otonashi». Também lembro que ela disse isso.

Repito. Repito as palavras que ela disse diante da classe naquela vez.

 

Eu quero alguém para ficar ao meu lado.

 

Ela aperta os lábios e fixa o olhar em mim.

— Maria, você não é uma ‘caixa’ nesse momento. Então, por favor, me diga. Por favor, me diga os seus, os sentimentos de «Maria Otonashi», e não aqueles que existem do ponto de vista de «Aya Otonashi».

— …Kazuki.

Um sorriso gentil aparece em seu rosto por um segundo, mas ela imediatamente recompõe sua expressão séria. Apertando os lábios, ela vira as costas para mim.

— Entendo o que você quer que eu diga. Mas não posso dizer. Não importa quanto você fale que não sou «Aya Otonashi» nesse momento, isso não significa que posso voltar a ser como era antes. Eu sempre quis ser uma ‘caixa’ e ainda quero ser uma, mesmo agora. Dizer o que você quer que eu diga é o mesmo que negar minhas próprias intenções. Portanto…

Ela cerra os punhos.

— Então, não posso dizer isso.

O que ela diz é:

 

— Não posso dizer que quero que você salve a solitária «Maria Otonashi».

 

Aah. Isso é mais que o suficiente. Os sentimentos da Maria me alcançam. Agora tenho a resolução para derrotar «Aya Otonashi» sem hesitar.

— Não vou te deixar sozinha!

Repentinamente, me surge uma nova ideia. Eu conheço a Maria da primeira “transferência escolar”. Mas mesmo naquela época, ela pode não ter se transformado completamente em «Aya Otonashi» ainda, mas já era uma ‘portadora’. Ela já tinha uma determinação de ferro naquela época.

Mas era assim que «Maria Otonashi» era originalmente? Acho que não. Originalmente ela deve ter sido mais como uma garota normal. Então, não conheço Maria Otonashi de quando ela ainda era apenas uma garota um ano mais nova do que eu.

Não conheço a Maria da repetição zero, que ainda não tinha realizado sequer uma “transferência escolar” ainda. Tenho certeza que aquela garota está dentro da Maria mesmo agora, chorando. Ela está chorando no fundo daquele oceano dentro do peito da Maria. Está chorando sozinha. Vou encontrá-la então.

 

— Eu vou encontrar a zerésima Maria.

 

Vou encontrá-la, trazê-la comigo, abraçá-la e ficar ao lado dela. Acredito que dessa forma Maria pode ser verdadeiramente feliz, portanto vou fazer isso.

Maria para de cerrar os punhos em algum momento. Não consigo ler as emoções de sua expressão baixa e rosto sombrio. Propositalmente sem qualquer expressão, Maria cambaleia em minha direção e pressiona a cabeça em meu peito.

— …Eu vou me tornar uma ‘caixa’. Vou viver pelo bem dos outros… então, por favor, pare. Por favor, não tente mais me proteger.

Ela diz essas coisas tolas com uma voz frágil que nunca ouvi antes. Portanto, respondo a ela.

— Entendi. Definitivamente vou encontrá-la!

— …Ei …você não entendeu nada. Não quero deixar você sofrer. Não quero que você se torne triste por se envolver demais comigo. Você deveria se afastar de mim assim que possível.

— Não se preocupe, vou ficar do seu lado!

— Por favor vá… por favor, me deixe…

Não tem como eu obedecer. Afinal, essas são as palavras do inimigo, não são? Portanto, desafio esse pedido abraçando a Maria. O corpo dela é tão magro — ele definitivamente não pode ser chamado de forte — que, embora eu já a tenha abraçado diversas vezes, não posso evitar em me surpreender com o quão indefesa ela é.

Mas não vou me surpreender da próxima vez. Porque tenho certeza de que essa é a impressão certa. «Maria Otonashi» é apenas uma jovem garota, então essa impressão de garota indefesa tem que estar certa.

— Maria.

Ela não responde mais aos meus chamados. Está apenas tentando esconder sua expressão apertando seu rosto em meu peito. Estou confiante de que nesse momento ela está com uma expressão que jamais mostraria na realidade. Uma expressão que ela baniu quando jurou jamais depender de ninguém.

Acho que ela pode fazer essa expressão apenas porque não tem sua ‘caixa’ agora. Apenas porque estamos em [Kingdom Royale], ela está me mostrando uma pequena parte de seu verdadeiro eu, algo que ela jamais me mostraria na realidade. Se for agora, minhas palavras podem alcançar «Maria Otonashi». Podem alcançá-las honestamente sem serem barradas por «Aya Otonashi». Estou para abrir minha boca, quando…

— Kazuki.

Ela diz. A garota que está me abraçando com os braços trêmulos diz.

— Mesmo assim, isso é apenas um sonho frágil.

Eu sei. Portanto, vou mudar esse destino

 

Sexto dia <C> [Encontro Secreto] com [Koudai Kamiuchi], Quarto de [Kazuki Hoshino]

Mesmo assim, Maria não irá mais se tornar «Aya Otonashi» nesse jogo. Portanto, ela não irá morrer por conta própria. Fiz tudo que precisava ser feito. Esse [Encontro Secreto] não é nada além de uma distração.

«O [Ataque Fatal] decidido – será executado – mesmo que o – [Cavaleiro] morra!»

De acordo com as regras, [Ataque Fatal] é executado cinco minutos antes do fim do bloco <C>. Portanto, Koudai Kamiuchi continua vivo por hora. Mas ele não tem meios de sobreviver. Após receber essa confirmação do Noitan, Koudai Kamiuchi joga sua faca em cima da mesa com um sorriso torto.

— É inútil te matar, hein. Uwaa… Parece que estou acabado.

Ele diz despreocupadamente como se fosse sobre outra pessoa, e coçando a cabeça. Koudai Kamiuchi não faz nenhuma reclamação mesmo que a pessoa que deu início a sua morte esteja diante de seus olhos. Ele sequer está emocional sobre isso. Provavelmente apenas acha que foi uma falha seguir o Daiya.

Mesmo que ele esteja para morrer. Olho para a faca que ele jogou fora. A ‘Game of Idleness’, criado apenas para acabar com o tédio, hein. Até agora, eu era incapaz de entender a forma de pensar extremamente momentânea dele. Isso não mudou. Mas quando ficou claro que ele é o ‘portador’ da ‘Game of Idleness’ e percebo que essa atmosfera pertence à Koudai Kamiuchi, tem algumas coisas que posso perceber.

Koudai Kamiuchi não consegue obter o sentimento de estar vivendo na realidade. Tudo o que acontece ao seu redor parece fazer parte de um game, ele não se sente diretamente afetado. Já que é assim, não acho que o [Kingdom Royale] seja tão especial para ele. Esse também é o motivo pelo qual o seu “desejo” pode se tornar uma caixa do «tipo externo» apesar de ser tão surreal.

Por causa dessa natureza, ele também não tem qualquer senso de perigo ao ser ameaçado de morte. E também não possui sentimentos de culpa, afinal de contas, não parece real para ele mesmo quando ele mata alguém. Posso entender que ele queira começar a viver pelo momento e buscar prazeres momentâneos.

Isso não é algo incomum, apesar de raramente chegar a esse extremo. Mesmo eu não posso dizer que me pareceu real quando eu soube que iria morrer se perdesse esse jogo.

Nesse ponto eu paro de pensar. Quero dizer, entendê-lo é inútil. Pego a faca na mesa.

— Oh? No que você está pensando? Ah, talvez você esteja irritado por eu ter matado a Kaichou, então quer me matar com suas próprias mãos?

Chacoalho minha cabeça.

— Nem um pouco! Não tenho intenção de enfrentar você. Pelo que parece será outra pessoa que fará isso.

Koudai Kamiuchi me observa confuso.

— Noitan.

«O que – foi?»

O urso verde, que ainda está aparecendo na tela, responde.

— Eu acho que você é a figura simbólica que representa a ‘Game of Idleness’, Noitan. Acho que se usássemos a natureza de alguém que só teve interesse em passar o tempo e fizéssemos um mascote disso, se tornaria algo como você.

«Mhh?»

— Tem algo que sempre quis te dizer.

Então movo a faca com força em direção ao centro do monitor e finco ela com toda minha força. A faca travou no centro verde.

— Você é nojento.

Uma fenda aparece no meio da testa do Noitan.

«…A?»

O urso verde se dispersa no monitor. Se transforma em centenas de peças como um quebra-cabeças desmontado. Noitan ainda está me xingando «O que você está fazendo, maldito!» mas seus olhos arregalados que aparecem normalmente não estão mais sendo exibidos no monitor quebrado. Apenas fragmentos vermelhos daqueles olhos irados e sua boca ainda estão piscando.

Quase parece como se ele estivesse sangrando. Mas Noitan continua me insultando, incapaz de sentir qualquer dor dessa cena desastrosa. Como se ele não percebesse a situação em que está.

É deprimente. Não perceber isso, é deprimente. Noitan então se torna incapaz de manter até mesmo sua forma de inúmeras peças verdes e vermelhas. Ele para de piscar, perdeu o brilho e eventualmente desapareceu.

— …Teve algum sentido em fazer isso? Você apenas destruiu o monitor, isso é tudo.

Koudai Kamiuchi diz friamente.

— Então, o que você considera uma ação significativa?

— Hah…?

Ele abre a boca como um idiota.

— Aah, bem, talvez isso não exista, hein. Afinal de contas, todo mundo morre eventualmente.

Ele me responde como eu esperava.

—Koudai Kamiuchi. Vamos assumir que exista uma pessoa que não consiga encontrar sentido em outra coisa se não passar o tempo.

— O que é isso, do nada? E ei, você não omitiu um «-kun» agora?

Continuo, ignorando ele.

— Como se pode derrotar esse tipo de pessoa?

— Caramba… do que você está falando? E de qualquer forma, esse exemplo sou eu, certo? Posso perceber esse tanto! Mas nesse caso, acho que é impossível derrotar esse cara, não?

— Por quê?

— Para fazê-lo perder, veja bem, ele precisaria subir no ringue em que você está, certo? Se você jogar coisas em um espectador fora do ringue, então isso é apenas violência bruta.

Entendo. Realmente, ele está certo.

— Entendo.

Eu digo.

— Então só preciso fazer você perceber que está no ringue.

Quando digo isso, o queixo de Koudai Kamiuchi caiu. Mas ele ainda não percebe. Ele não percebe que todos nós estamos nesse ringue, o tempo todo. E ele sem dúvidas perdeu agora, estando destinado a morrer.

Uma desculpa do tipo «não me lembro de ter lutado, então não perdi» não vai servir agora. Mas não estou com vontade de fazê-lo admitir isso agora. Continuo apenas dizendo o que penso.

— Você disse que não existe nada significativo, certo?

— …Sim.

— Não sei o que tem significado e o que não tem. Portanto, eu penso assim: Então encontrarei um sentido. Encontrarei um sentido até mesmo nesse passatempo de alguém.

Descobri meu objetivo dentro da ‘Game of Idleness’. Acho que isso tem bastante significado. Encontrei um sentido nessa ‘caixa’, no ‘Game of Idleness’ que deveria ser fútil. Me pergunto se posso dizer o seguinte então?

 

Eu nego a ‘Game of Idleness’.

 

Mas ele é incapaz de fazer isso, portanto ele continuou perdendo, desviando seus olhos da realidade, e ele continuará perdendo, até que eventualmente se quebre em pedaços como Noitan. Mas como disse, não sou eu que vou mostrar isso a ele.

Aquele que irá derrotar Koudai Kamiuchi é Daiya Oomine.

Contudo…

 

Décimo dia <B> Sala de Reunião

Contudo, um certo pensamento persiste dentro de mim.

— Eu teria feito melhor.

As porções de comida da Yuuri-san e dos outros acabaram, apenas duas porções restaram no total. As entrego a Daiya e Maria, então já estou sem comida. Finalmente é hora do «verdadeiro Daiya» entrar em ação.

Do nada, penso, Daiya só foi capaz de tramar tudo isso porque a vez dele veio antes da minha. Se tivesse ido primeiro, teria sido eu confrontando Koudai Kamiuchi. Nesse caso, não precisaria ter enfrentado uma luta tão difícil. No melhor caso, sequer precisaríamos ter jogado [Kingdom Royale]. Yuuri-san e Iroha-san não teriam que ter sofrido tanto, no final, e tenho certeza de que não haveria a necessidade de matar Koudai Kamiuchi.

Penso, enquanto observo o relógio azul que Daiya me devolveu. Acho que Daiya esteve desejando por esse terrível final. Então ele é meu inimigo, no final das contas. Mas ele não deveria realmente estar querendo tudo aquilo. Ele pode não estar ciente, mas ele deve ter desejado ver um final em que todos possam sorrir.

— É isso o que você ganha quando pensa na ‘caixa’ como uma esperança!

Daiya não reage as minhas palavras e apenas continua tocando seu piercing direito. Certo, deixo o resto com você, Daiya. Mais uma coisa, adeus! Não quero mais te encontrar.

Afinal, se nos encontrarmos novamente, você terá usado sua ‘caixa’. Mesmo sendo incapaz de dominá-la completamente de qualquer forma. Quando essa hora chegar, vou destruir sua ‘caixa’ com certeza. E nesse momento nós vamos ser inimigos de verdade.

Portanto, não quero mais te encontrar.


Nota:

1 – Isso se chama Yubitsume que se traduz literalmente como “encurtamento do dedo” é um ritual usado tanto como punição ou para demonstrar sinceridade num pedido de desculpas através da amputação de partes do dedo mindinho. É algo quase exclusivamente feito pela Yakuza, famosa máfia Japonesa.



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