Volume 2

Capítulo 88: Caminho dos Sussurros

O sol mal havia raiado, mas Colth já estava preparado para partir. Teria uma viagem desconhecida até um objetivo incerto. Se fosse em outra época, provavelmente o rapaz teria desistido e tomado o caminho mais fácil, mas não era o caso agora. Colth tinha pessoas que dependiam de sua determinação, pessoas que queria reencontrar. Tendo isso em mente, ele terminou de se aprontar ao calçar suas botas, colocar seu casaco, e conferir o pingente de Garta antes de guardá-lo no bolso.

Respirou fundo encarando o seu reflexo no espelho pendurado a parede do quarto que passou a noite. Um simples aposento, porém confortável, que Mon arrumou para ele como parte de seu agradecimento por tudo o que fez.

— Não. Eu não vou abandoná-los — disse, olhando fixo para si próprio no espelho.

Colth deu as costas para o seu reflexo e saiu pela porta do quarto sem pensar muito mais. Encontrou o corredor principal do castelo de Nox, e se surpreendeu. As pessoas que serviam à Dilin estavam todas enfileiradas, uma ao lado da outra, por todo o corredor luxuoso.

Eram soldados, homens, mulheres e crianças. Em fila dupla pelo corredor abrindo caminho para Colth que se impressionou:

— O que é isso? — sussurrou seu primeiro pensar ao ver todas aquelas pessoas.

Seus rostos, longe da plena felicidade, demonstravam sorrisos agradecidos para o rapaz. Alguns aplaudiam, assoviavam e gritavam pelo nome de Colth, enquanto outros demonstravam lágrimas nos olhos se emocionando ao vê-lo.

— Eles vieram se despedir — explicou Mon, se aproximando pelo corredor entre as filas de pessoas animadas. Também tinha o seu sorriso agradecido, mesmo que sua postura fosse a de um líder forte e altruísta.

Colth passou os olhos por vários daqueles rostos que possuíam um brilho conjunto em seus olhos. Continuava impressionado:

— Caramba... Não precisava fazer tudo isso, Mon.

— Ah, eu não fiz nada — rebateu amistoso o grandalhão parando em frente ao convidado —, eles vieram assim que souberam que você estava partindo.

— Obrigado, senhor Colth! — gritou uma das crianças em meio a fila de sorrisos e lágrimas.

— Muito obrigada!

— Não temos como retribuir!

— Você é incrível!

Os agradecimentos se amontoavam em palavras dirigidas para uma única pessoa. Colth respondeu segurando a emoção pela garganta:

— Não precisavam fazer isso.

— Nós, servos de Nox — explicava Mon —, levamos muito a sério nossas tradições e cerimônias. E é assim que tratamos um herói visitante.

O homem grande de sorriso brilhante abriu caminho para Colth, o convidando para atravessar o corredor de reconhecimento.

O rapaz sorriu complacente, avançou pela passagem ao lado de Mon, em meio aos aplausos, gritos de agradecimento e euforia que aumentavam a cada passo dado pelos guardiões.

Mon discursou sincero enquanto caminhava ao lado do “herói”:

— Obrigado por eliminar aquela corrupção de mim. Obrigado por salvar o meu povo. Obrigado por apoiar a minha irmã.

— Eu só ajudei vocês. Mas foi você e a Dilin que realmente salvaram essas pessoas. Antes mesmo de me conhecerem.

Ambos alcançaram a porta dupla principal do castelo. Elas se abriram revelando a luz do amanhecer em meio aos destroços da cidade Capital de Albores.

Os dois deixaram para trás os aplausos e caminharam para fora, descendo os poucos degraus da escada da entrada até estarem sobre o solo devastado de Tera.

A porta principal se fechou estancando o som dos aplausos e da festividade do lado de dentro.

— Não ache que eu esqueci da promessa que fez com a minha irmã — comentou Mon, encarando de forma solidária Colth. — Eu vou cumpri-la. Ajudarei você contra Lux, ou qualquer outro, assim que chegar a hora. Mas por hora, tenho que levar a ilha de Nox e meu povo para um lugar seguro. Essa coisa gigante parada aqui, no meio desse deserto de escombros, chama muito atenção.

Terminou o guardião de Nox de forma leve, mas preocupado verdadeiramente com a ilha apontada por ele.

— Só de o castelo estar apontado para cima, já me deixa mais tranquilo.

— Ah! — sorriu Mon. — Foi a única coisa boa dessa confusão toda. A Dilin odiava olhar para o céu... que besteira.

O homem pareceu soturno repentinamente olhando para o céu azul sem nuvens. Colth tentou intervir incomodado:

— Dilin era uma boa pessoa.

— É. Ela era a melhor. — Mon recolheu seus olhos após um segundo pensativo remoendo a perda. Voltou-se à Colth mudando o rumo da conversa: — Tem espaço de sobra para você aqui. Sabe disso, não é?

— Eu agradeço. Mas tem gente que precisa de mim.

— Queria poder ajudá-lo mais — lamentou Mon.

— Não se preocupe, as informações que Lúcia me deu, já são uma ajuda e tanto — rebateu Colth.

— Quer mesmo ir atrás desse tal Bernard? Mesmo depois do que Lúcia disse?

— Se ele é tão forte quanto a Dilin, então sim. Vai ser um aliado fundamental contra Lux.

— Ele não parece ser do tipo que se alia a outros — recobrou Mon.

— Eu tenho algo que pode convencer ele.

— O outro guardião? Hui?

— Ele também, mas tem outra coisa, ou outro alguém que pode fazer a diferença também — Colth disse certo de sua convicção. E mudou de tom como se escondesse o motivo daquilo: — Bom, hora de ir.

— Espero que esteja correto em suas decisões, meu amigo — concluiu Mon, esticando a mão para o rapaz em despedida.

Colth alcançou o cumprimento e ambos sorriram enquanto o aperto de mão amigável os unia.

— Espero vê-lo logo.

— Eu também.

Colth iniciou sua caminhada pelos destroços da Capital, se afastando do castelo e incorporando a quase solidão completa.

Poucos minutos depois, sentiu o chão tremer, olhou para trás e enxergou a ilha descolando do chão e ganhando altitude, levantando o castelo por completo e finalmente flutuando.

Aquela visão era inacreditável, mesmo após já ter entrado e visto aquela construção no céu de perto, observar o castelo enorme ascendendo aos céus, era uma imagem única e que enchia os olhos de qualquer um.

Colth ficou boquiaberto enquanto a terra e o ar tremiam. Não se importou em atrasar em alguns minutos sua viagem para assistir aquela magnificência. Sussurrou sozinho:

— É impressionante.

“É o castelo de uma deusa, o que você esperava?” Disse a voz assertiva na mente de Colth.

— Você ainda está aí, não é? — perguntou o rapaz.

Deu as costas ao castelo e voltou para o seu caminho solitário em direção ao seu objetivo, ou talvez, nem tão solitário.

“É claro que eu estou aqui. Onde mais estaria? Estou presa aqui, esqueceu? Não, você não esqueceu. Se tivesse esquecido, não cantaria vantagem contra o Bernard, não é?”

— Você entendeu rápido.

“Então eu sou a ‘outra alguém que pode fazer a diferença’, que honra.” Disse a voz em tom sarcástico. Continuou descontente: “Deveria desistir daqueles seus amiguinhos, eu deveria ser a prioridade.”

Colth nem deu atenção a provocação:

— Não, eu falei que não vou abandoná-los. Mas você tem razão, eu estou contando com você, Lashir.

“Eu não disse nada disso. Nem sei para onde você está indo.” Rebateu ela, irritada no interior da mente do guardião de Anima.

Colth sorriu com o canto da boca enquanto continuava a caminhar só, em meio ao deserto de construções em ruínas, em direção ao seu objetivo certo.

                                               ***

— Droga! Deixamos a Garta para trás! — exclamou Iara em meio a corrida guiada por Goro.

— Não pare! Eles continuam atrás de nós!

Rebateu o rapaz a frente, abrindo caminho pelas vielas entre os diversos pequenos prédios comerciais abandonados da cidade de Tekai. Lembrou-se de quando esteve ali nos dias áureos, o lugar era cheio das pessoas mais diversas e o movimento era intenso durante o cair da noite, mas agora era um silencioso ermo.

Tirou esse pensamento breve da frente, e prosseguiu rápido tentando se afastar dos perseguidores. Chegou a um cruzamento de vielas e reduziu o passo observando as opções, dobrou a esquerda.

— O que vamos fazer? — perguntou Iara, contestando a escolha do rapaz pela fuga. — Vamos voltar!

— Você viu quanto daqueles homens de preto tinham? — negou Goro, do seu jeito esnobe. Ofegante, ele continuava avançando pelas vielas apertadas.

O labirinto de vielas se desdobrava diante deles, um emaranhado confuso entre os pequenos prédios comerciais, cada qual ostentando dizeres distintos em suas fachadas desgastadas pelo tempo.

— Aonde era? — sussurrou o rapaz, seus olhos vasculhando freneticamente o entorno enquanto corria.

— Cuidado! — Iara o alertou, surpreendida por algo que surgira abruptamente no caminho.

Goro direcionou sua atenção à frente, deparando-se com um dos homens vestidos integralmente de preto, uma adaga alongada mirando-o. A lâmina cortou o ar em sua direção, tentando surpreender o fugitivo.

Com olhos arregalados, Goro tentou parar sua corrida desenfreada. Corria na iminência de sua própria morte, sem tempo ou espaço para deter o ímpeto. Ajoelhou-se, dobrando os joelhos, indiferente às consequências.

Escapou por um triz da lâmina, mas não sem antes perder o equilíbrio. Seu ombro direito raspou no calçamento da viela, uma dor aguda marcando o impacto.

Antes que pudesse saborear a dor, encontrou-se alvo de um segundo movimento do inimigo. A adaga girou na mão dele, pronta para estocar o rapaz caído. O homem iniciou o movimento, levantando o braço e descendo a lâmina em direção a Goro. Mas então, parou. Travou o seu golpe ao sentir um impacto repentino nas costas.

— Argh! — tremeu em dor.

Goro, ainda no chão, observou perplexo enquanto o homem respirava com dificuldade. Não teve muito tempo para processar o ocorrido, pois o inimigo, furioso, estava prestes a retomar seu ataque.

— Não fica aí parado! — Iara gritou, desviando-se em corrida dos dois na estreita viela, ela esperou pela reação de Goro.

Sacudindo a cabeça para afastar a confusão, Goro levantou-se rapidamente e correu na mesma direção que antes, seguindo a voz corajosa de Iara.

— Vocês estão ferrados! — berrou o homem de preto, deixado para trás em fúria.

Ele levou a mão direita sobre o ombro esquerdo, até as costas, e puxou algo pendurado ali. Rugiu como um animal:

— Ahhh!

Quando trouxe a mão de volta, segurava uma flecha ensanguentada.

— Agora você deixou ele bem nervoso — comentou Goro enquanto corria pela viela, olhando para trás, afastando-se do inimigo.

— Eu só acertei uma flecha para detê-lo. Talvez devesse ter mirado na cabeça — respondeu Iara realmente pensando a respeito. Avançando ao lado do amigo, ela carregava o arco com mais uma flecha pronta para o disparo.

— Fofa e homicida...

— Cala a boca!

Os dois adentraram uma viela paralela, com Goro continuando a observar os prédios que passavam rapidamente.

À medida que Goro e Iara continuavam sua corrida pela intrincada rede de vielas, o silêncio opressivo era interrompido apenas pelo som amortecido de seus passos rápidos. Ainda sob o rastro dos homens de preto, cada esquina se tornava uma ameaça potencial.

De repente, ao dobrarem em uma viela mais larga, deparam-se com mais dois dos enigmáticos inimigos vestidos de preto da cabeça aos pés, eles emergiram das sombras como espectros ameaçadores, ambos com rifles cheirando a pólvora fresca apontados para os fugitivos e apenas com seus olhos à mostra.

— Fim da linha — evidenciou um dos homens colocando os olhos sobre a alça de mira em direção à Goro.

No mesmo instante, Iara parou e esticou a corda de seu arco com uma flecha apontada para a dupla de preto. Goro também já havia feito o mesmo, mas com o seu revólver de Sathsai, pronto para o disparo. Ou seja, os quatro estavam apontando suas armas uns contra os outros em meio as sombras da viela.

— Meu revólver dispara na velocidade da luz, sabe disso, né? — perguntou Goro, em tom provocativo para o homem de preto que o tinha na mira.

— São duas armas contra uma, idiota — rebateu o homem do rifle.

— Ei! — Goro vociferou em irritação. — Não está vendo que a garota fofinha tem uma flecha apontada para a cabeça do seu amigo?

Iara revirou os olhos antes de reclamar:

— Por que continua com isso, em?

— Exatamente, seus merdas! — Goro levantou a voz e o nariz. — Por que continuam com isso? Desistam agora mesmo.

— Não eles, Goro. Você — corrigiu Iara, virando o rosto com uma expressão rude para o amigo, mas manteve a flecha apontada para o alvo de preto.

— O que tem eu?

— Para de me chamar por apelido. É irritante.

Os homens de preto, confusos, observavam a discussão surreal diante deles. O primeiro perguntou com os olhos sobre o que fariam diante daqueles dois para o seu aliado ao seu lado.

Goro e Iara eram como duas crianças brigando, já não seria tão normal, mas estavam diante da mira de armas e da negociação de suas vidas, mesmo assim, pareciam lidar com a situação como se não fosse nada.

O segundo homem de preto deu de ombros sem saber como responder ao primeiro, concordou com o “tanto faz” daquela expressão. Voltaram a se concentrar na discussão, prestes a puxar o gatilho de seus rifles.

— Você está preocupada com o seu apelido? — perguntou Goro se mostrando irritado. Mantinha sua arma em direção aos inimigos, mas sua atenção estava na garota — Tem dois homens apontando armas para nós, e você está preocupada em como eu lhe chamo? Quer tanto assim que eu mude o seu apelido?

— Eu não quero que mude. Eu quero que pare com apelidos, babaca! — reclamou Iara com o rosto rosado de raiva. — E não são dois, são três, esqueceu?

— Claro que eu não esqueci. — respondeu ele, com um levantar rápido de suas sobrancelhas. — Direita ou esquerda?

— Fico com o da direita.

No momento exato em que a resposta foi dada, Goro pressionou o gatilho do revólver, e Iara soltou-se ao chão, esticando o dedo anelar e indicador enquanto em queda.

O rastro de luz partiu de imediato do cano reluzente da arma de Goro. Prosseguiu cortando a viela escura, como se a dividisse em duas.

Os inimigos haviam vacilado e subestimados aqueles dois. Foi um erro fatal.

Quando o da esquerda ouviu o barulho do revólver de Sathsai ecoar pelas paredes próximas da viela, já era tarde demais, o seu peito queimou com um pequeno furo chamuscando a sua roupa preta. O rastro de luz passou por ele, causando um ferimento irreversível.

O segundo homem se atentou a luz que brilhou diante de seus olhos. Pressionou o gatilho de seu rifle, mas Iara já havia soltado a corda de seu arco instantes antes.

A flecha atirada por ela acertou o abdômen do homem, no mesmo instante que a arma dele estourou a pólvora no barril do rifle.

O artefato de chumbo saiu do cano da arma em direção à Iara, mas a garota estava próxima do chão. O disparou passou assoviando sobre a cabeça dela e se perdeu.

— Não vão fugir de mim! — gritou o terceiro homem que finalmente os alcançou.

Aquele tinha uma adaga em mãos e o próprio sangue escorrendo pelas costas.

Ele girou a lâmina em direção à Goro, mas o rapaz, dessa vez, havia sido antecipadamente alertado por Iara. Deu um passo para trás, desviando do corte lento. Era notório que aquele inimigo não estava em suas melhores condições, mas Goro não podia menospreza-lo.

O rapaz avançou o seu passo de volta, agarrou o braço do homem que segurava a adaga e, surpreendendo-o, tentou aplicar uma rasteira entrelaçando a sua perna ao do inimigo em conjunto com um agarrão para derrubá-lo.

O homem de preto estava debilitado, mas não era novato. Ele soltou a sua adaga e a deixou cair, mas no movimento seguinte, a buscou com a outra mão preparando um contra-ataque.

Goro, incapaz de deter sua ofensiva, encontrava-se em um equilíbrio precário, prestes a cair ao chão com o homem de preto. Apesar disso, o adversário puxou a adaga em direção ao rosto do rapaz. Rápido, Goro levantou o cotovelo, acertando o punho do homem armado e impedindo-o de concluir o movimento. No entanto, a lâmina ainda pairava perigosamente a poucos milímetros de seus olhos.

O homem persistia, forçando a adaga e diminuindo a distância entre eles. E em questão de segundos, ameaçava arrancar o olho de Goro. O jovem percebeu a situação e soltou o peso de sua perna não entrelaçada, retirando o último ponto de apoio seguro. A queda era inevitável, uma manobra arriscada, pois Goro cairia sobre o homem, ficando vulnerável aos braços do veterano. Contudo, isso também era a vantagem que contava a seu favor.

Os dois colidiram com o chão, mas foi o inimigo quem absorveu o impacto. Suas costas chocaram-se com força contra o calçamento da viela. Ele até tentou agarrar Goro e manter a lâmina de sua adaga próximo ao pescoço do rapaz, mas a dor foi insuportável, muito mais intensa do que imaginava. Fora agravada pelo ferimento da flecha acertada por Iara em suas costas mais cedo.

Não resistiu, o inimigo perdeu forças nos braços, consumido pela dor que o percorria. Goro se aproveitou desse momento, se levantou rápido se libertando do inimigo e de sua lâmina.

O homem ainda reclamava, provocado pela ardência enquanto remoendo a dor tremulante por todo o seu corpo. Quando voltou a ter noção sobre si, viu o punho de Goro se aproximando rápido.

Apenas um golpe. Um único soco de Goro foi suficiente. O punho atingiu com força a testa do homem encapuzado, sua nuca encontrou o chão, e ali permaneceu, inconsciente.

— Ufa — respirou fundo o rapaz.

Lembrou que não estava sozinho. Se preocupou de imediato com a garota e virou-se a procurando pela viela:

— Iara...

Quando colocou os olhos nela, viu a garota de pé sobre os corpos desacordados dos os outros dois homens.

— O que foi? — perguntou ela, levando os seus olhos inertes até ele.

— Não é nada não... — respondeu ameno, impressionado, mas sem externar. Ficou aliviado e, em seguida mudou o tom ao perceber algo familiar em um dos prédios na continuidade da viela, empolgou-se: — Ali! Esse é o lugar.

Iara olhou para o prédio apontado pelos olhos brilhantes de Goro. Viu um prédio velho com uma única porta de madeira sob uma placa que também era a faixada comercial do lugar.

Ela leu e enojou-se:

— Espera, era isso que você estava procurando?

— Sim! Finalmente eu achei! — respondeu Goro animado, enquanto seus olhos brilhavam de empolgação, mesmo diante da entrada trancada por um cadeado enferrujado na maçaneta. Determinado, ele já cogitava maneiras de abri-la.

— Cara, Garta tinha razão, você é mesmo um babaca completo — lastimou Iara, exibindo nos olhos uma expressão de superioridade julgadora sobre o rapaz entusiasmado.

Ignorando a reclamação dela, Goro desferiu um belo chute na porta, fazendo-a ceder diante da podridão da madeira.

— Vamos logo! — disse ele, adentrando o lugar escuro. — Por aqui tem um caminho mais curto para o prédio da Defesa.

— É mesmo? E como sabe disso?

— Já estive aqui. — finalizou o rapaz apressando o passo e sendo encoberto pelas sombras do interior do prédio comercial.

Iara balançou a cabeça negativamente, lançando outro olhar para a fachada do pequeno prédio para confirmar o que havia lido. Sim, era exatamente o que estava pensando. Respirou fundo e seguiu os passos de Goro de maneira desagradada para o interior do local denominado, conforme a faixada, de "Caminho dos Sussurros Sedutores".



Comentários