A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 2: Fator B

Capítulo 17: Encontro Marcado

Paranoid, conhecido nos tempos atuais como Doença do Homem Louco, nada mais era que um dos mais poderosos Fatores que surgiram durante o 1° Colapso. Isso, claro, era o que repercutia pelas lendas.

Normalmente, nada impediria que aquela força lendária das histórias fosse apenas balela, mas Lucas já havia experimentado o suficiente para ter certeza de que era realmente um fato verídico.

Seu corpo estava paralisado, os olhos cravados em Isaac, e sua mente não tinha mais palavras para continuar a conversa.

O rapaz percebeu isso. — Não se preocupe, essa criatura não vai te machucar.

Tal ainda rastejava por todos os cantos observáveis, como um réptil gigante que apenas aguardava a oportunidade perfeita para dar o bote.

Nenhum alívio foi visto na face ainda dura do fugitivo. Esforçava-se para relaxar, mas a tarefa se tornava difícil conforme mais tentáculos subiam a partir de suas pernas.

— Certo, acho que você já entendeu. — Num estalar de dedos, o Paranoico ordenou para que a criatura fosse embora.

A atmosfera logo perdeu aquela sufocante densidade, permitindo ao ex-açougueiro respirar novamente.

— Eu te trouxe por quê quero te ajudar, Lucas. Imagino que você não tem motivos pra recusar.

Estava certo. Isaac demonstrou não ser uma ameaça a si — apenas ao resto da humanidade —, sem contar que era de longe o ponto mais seguro para se ficar no momento. E, de um jeito ou de outro, ficar ali era a real intenção desde o início, então o próprio dono da casa lhe convidar era o maior lucro que poderia ter!

Seu olhar foi até a janela outra vez. A rua continuava desértica, preenchida apenas pela luz do sol e o raro cantar de alguns pássaros.

Depois de tudo que lhe foi mostrado, fazia sentido aquele tipo de cenário, mas ainda não tirava o fato daquela solidão ser algo impressionante.

Com sua mera existência, um exército era afastado. Uma pessoa, não… Uma criatura que ultrapassava a barreira do catastrófico, isso que aquele rapaz era!

Lucas engoliu seco, encarando Isaac em seguida.

— Eu quero fugir da cidade. Meu objetivo é chegar na fronteira, onde vou descobrir a verdadeira razão delas terem sido fechadas!

O cenho do interrogado caiu em preocupação. — Fronteira? Sabe o que vai acontecer se for até lá?

— É-é claro…! Não tem como voltar pra casa, mas eu estou disposto a correr esse risco!

Pela primeira vez, Lucas viu o seu semelhante hesitar. Entretanto, sua expectativa positiva foi rapidamente correspondida.

— Certo, eu te resgatei com a intenção de ajudar, então vou fazer o possível até onde eu conseguir te acompanhar.

Finalmente, o alívio surgiu no rosto de Lucas; junto também de uma grande felicidade.

Então, ao colocar as mãos sobre a mesa, Isaac decidiu a data do grande momento.

— Certo! Faremos a fuga no Dia do Tarche! A multidão da festa vai nos ajudar a evitar muitos olhares, além de que a maioria dos guardas vão sair dos limites da cidade pra acompanhar o desenrolar das festas. Eu acho.

Independente da confiança palpável que aquele rapaz exalasse, os instintos de sobrevivência de Lucas insistiam em causar-lhe o medo necessário para se trancar dentro de qualquer casa que o abrigasse.

“Não tem outro jeito, é a única maneira de conseguir o que quero!”

E lutando contra sua própria natureza, ele cerrou os punhos. — Vamos fazer isso!

Com isso definido, só restaria ao rapaz treinar sua habilidade o máximo possível, pois era fato que fugir de um país cujas fronteiras estavam fechadas não seria como um passeio qualquer.

Para uma operação de tal calibre, um plano infalível também se mostraria mais que necessário, já que assim como o jovem fugitivo esperava, ela não era o único com grandes planejamentos para o feriado.

 

***

 

Enquanto Lucas comemorava o seu sucesso, o lado oposto da situação lidava com a derrota que teve de arcar.

Reunidos dentro de um dos veículos blindados e já à caminho da base principal, Romanov rangia os dentes enfurecido.

— Não precisa de tanto drama, Roman — disse um dos soldados ao seu lado. — Esse resultado já era esperado.

O agente murmurou: — O que exatamente você quer dizer com isso?

!! O soldado gesticulou rapidamente. — Fo-foi mal! Não era essa a minha intenção!

Romanov passou alguns segundos em silêncio e apenas suspirou, "que seja", disse como forma de calar o outro.

O resto da curta viagem seguiu no total silêncio, esse que só foi quebrado pelo som de metal se movendo.

Para todos no carro blindado, aquele barulho foi um aviso de que eles haviam chegado na base.

Descendo do carro, nada além daquele mesmo cenário que chegava a ser clichê.

O ambiente era escuro, sendo impossível enxergar quaisquer paredes ou teto, tudo que se tinha ali era um notável caminho de concreto, cujo era iluminado por leds no chão.

Parecia mais uma pista de avião do que qualquer outra coisa, e talvez realmente fosse, pois a pessoa que surgiu ali parecia movida por turbinas de tão rápida que estava.

— VOCÊS VOLTA- AHH!

O som da roupa raspando no chão ecoou por todo o lugar, mas estava surpreendentemente intacta quando o atrapalhado se levantou.

— E aí, como foi a missão!??

Ele vestia o jaleco branco e a gravata amarela característica, além de esconder o rosto com uma máscara de gás.

— Senhor! — Um soldado bateu continência. — Infelizmente, não tivemos sucesso na captura do homem intangível! O agente Romanov dará os detalhes!

A postura do rapaz elétrico caiu um pouco, mas não completamente.

— Be-bem, isso acontece às vezes mesmo! Roman, venha comigo pra sala de reuniões!

Os soldados abriram caminho na mesma hora. O agente recebeu continência de cada um, mas sabia que algo diferente estava escondido debaixo dos capacetes escuros.

Não havia tempo para se incomodar, na verdade sequer motivo tinha. Em sua frente estava uma pessoa cuja vida valia mais que qualquer uma das outras ali, inclusive a sua própria.

Eles logo adentraram os corredores metálicos da instalação, e eeguindo o líder até o local citado, Romanov viu-se intrometido no lugar que mais temia.

— Agente Roman? No fim das contas, você realmente sobreviveu, ein… — cumprimentou Xeps, no mesmo tom amargo de sempre.

"General…!" Deu um passo para trás.

Xeps conteve um riso. Aquele homem traiçoeiro! Cada célula de Romanov tremia só de olhá-lo. Quem teve a ideia mirabolante de transformar aquele comandante maluco num General!?

— Você é bem criativo, rapaz, sempre inventando uma aparência nova.

Quem se pronunciou dessa vez fora uma mulher. Tenente Alpina, uma mulher tão traiçoeira quanto o General, sempre atuando nas sombras.

“O que é isso? Por acaso eles se reuniram só pra ver minha cara depois do fracasso??”

Cercado por essas e várias outras das figuras de mais alta patente da instalação, sentou-se em uma das cadeiras dispostas naquela grande mesa oval. Contando consigo, um total de vinte figuras estavam ali reunidas.

Assim como esperava, aquele que começou a falar antes de qualquer um foi o líder.

— Muito bem, eu sei que infelizmente falhamos em capturar o garoto intangível, mas isso não significa muita coisa, de qualquer forma!

Todos o encararam com descaso. Tão despreocupado como sempre. já nem surpreendia mais a maneira leve como ele tratava até a mais tensa das situações.

— Senhor, — interveio Alpina — eu acho que deveríamos ver esse cenário todo com um pouco mais de seriedade.

Xeps complementou: — Concordo. Não só apenas um novo usuário de Fator B apareceu, como também o agente de campo se deparou com o usuário atual da Paranoid!

"E lá vão eles…" Romanov suspirou, ouvindo tudo de cabeça baixa.

Aquela maldita dupla estava sempre lá para lembrar cada mínimo detalhe da missão, principalmente se sua pessoa estivesse envolvida, "sem contar a pouca ação do demônio das ruas, o que ele anda fazendo, afinal de contas?", acrescentou o General numa finalização de relatório.

— Demônio das ruas? — murmurou o agente — Pelo jeito não sou o único criativo aqui.

Todos na mesa fingiram de besta pelas mais diversas razões. Uma discussão como a que Romanov tentava impor era tão banal no momento quanto o dinheiro que ganhava no inicio do mês.

O assunto mal havia começado e todos os olhares já caiam sobre si. Tinha algo em seu rosto? Na verdade, até tinha, mas era algo que apenas aquelas pessoas pareciam enxergar.

— Não vamos nos precipitar, galera! Só o fato de descobrirmos a existência de… — Pegou um papel e leu rapidamente. — Isaac Mon d'arc! Saber que ele está lá já é algo ótimo.

Dessa vez, todos concordaram sem qualquer questionamento. A voz da razão havia decretado o caminho a ser seguido.

— Vamos apenas vigiá-lo, imagino. — Xeps ponderou, ansioso. — Não consigo nem pensar na possibilidade dele ser capturado.

— Sim, mas só se for apenas você e o resto do pessoal na missão. Eu provavelmente daria conta de pegar ele sozinha. — Com os pés sobre a mesa, Alpina empinou o nariz.

O General e a Tenente se encararam numa intensidade que afastou aqueles sentados ao lado. E como o esperado, o líder acalmou-os com uma simples e falsificada tosse.

Quando ganhou o silêncio, prosseguiu:

— Capturar Isaac ou não já está fora de questão. Precisamos decidir o que fazer pra chegar no objetivo principal. — Encarou um dos homens mais pra lateral. — Qual a situação do Informante?

O mestre das comunicações se levantou, bateu continência e respondeu: — Ele parece estar perto do Estreito de Berenguer! Calculamos que levará mais dois dias até atravessá-lo, mas esse tempo é apenas uma suposição!

Satisfeito com o que ouviu, permitiu o rapaz se sentar.

Ótimo, simplesmente ótimo! Sua curta comemoração gerou aplausos de cada uma daquelas pessoas. Eles provavelmente não estavam entendendo muita coisa, já que o assunto era confidencial, mas se o chefe estava feliz, então eles também estavam.

Romanov se pronunciou: — O Informante sabe da localização daquilo?

A reação geral foi imediata, com todos os olhares caindo sobre si. Apesar de isso ser normal, a intenção assassina era evidente dessa vez.

— Mais ou menos — respondeu o líder. — Ninguém sabe a localização exata, ele só vai nos dizer uma maneira de encontrá-la mais facilmente.

O agente assentiu, mas sua compreenssão de toda a situação foi mandada embora pelos gritos de Xeps.

— SENHOR! Por que esse assunto não pode ser compartilhado conosco?

Alpina acrescentou: — Eu tenho que concordar. Um agente de campo sabe dos detalhes, mas generais e tenentes não?

Aquela mulher se unir ao General era algo raro, independente do quão tensa fosse a ocasião. Combinados, os olhares da dupla eram mais fortes que os da maioria naquela mesa.

Rapidamente, o líder interveio. — Ok, então que tal vocês participarem também?

.   .   .

Hã? Participar do quê?

Nunca naquela instalação os pensamentos ecoaram num uníssono tão perfeito, e o motivo não podia ser outro.

— Eu tava pensando e cheguei em uma conclusão. Lucas provavelmente vai esperar o Dia do Tarche pra fugir da cidade, e não duvido que Isaac estará acompanhando ele. Portanto, temos que aproveitar a oportunidade pra observar e, se der certo, capturar um dos dois!

Por mais empolgante que fosse seu tom de voz e a mímica heroica que o acompanhava, tudo que ganhou da plateia foi um breve silêncio.

— Líder… — Alpina suspirou profundamente. — POR FAVOR, PARE DE FICAR PENSANDO NAS COISAS SOZINHO!! Ninguém aqui lê mentes!

— Certo! Então está decidido!

— VOCÊ TÁ ME OUVINDO!??

O líder subiu na mesa sem nem perceber, apontou para cima numa pose decisiva e, com a maior das empolgações, deu o veredito daquela sessão!

— Romanov, Xeps e Alpina, os três estão responsáveis pela guarnição da grande festa do Dia do Tarche!

O trio congelou na mesma hora, mas não tanto quanto os que ouviram a declaração. E-esses três? Ju-juntos numa missão? O que o líder estava querendo, proteger a cidade ou destruí-la?

Ele continuou sem hesitar: — O objetivo é encontrar, vigiar e talvez capturar Isaac Mon d'arc, assim como aquele que possivelmente estará o acompanhando, Lucas Silva!

Vendo que não tinha mais jeito, os três encarregados da missão se levantaram e prestaram continência. A troca de olhares ocorreu em seguida, cada um expelindo uma determinação mais eletrizante que o outro.

— O feriado é uma data para ser aproveitada, e vocês estão responsáveis para garantir que essa tradição não seja quebrada. Contamos com vocês!!

— Sim, senhor!! — O trio gritou em uníssono, misturando a raiva e a determinação de cada um.

Estava enfim decidido, o outro lado também havia terminado os preparativos!

O grande feriado, o Dia do Tarche se aproxima. Para os cidadãos, nada seria além de outra incrível comemoração de todos os anos, mas para outros, se tornaria uma data histórica, onde o maior encontro de Paradise iria ocorrer!!



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