Volume 9

Capítulo 1: E Tudo Se Tornou Coxas

No fim... eu não consegui fazer nada pela Yuki — confessou Masachika, sua voz agitando suavemente o ar frio que envolvia o parque naquela noite.

Ele não conseguiu fazê-la se sentir melhor, não conseguiu lhe dar liberdade, e não conseguiu continuar sendo o irmão confiável de que ela precisava. E o que mais doía era que, apesar de ter um irmão tão patético e instável, sua irmãzinha, que nasceu frágil e debilitada, havia crescido e se tornado uma garota forte e resiliente.

Eu fugi, sabia? Fugi de ser o irmão dela.

Ele não aguentava. Ela brilhava tanto, era tão radiante que ele não conseguia sequer encará-la diretamente.

Mas... Mesmo eu sendo um irmão patético, ela foi gentil comigo.

Yuki havia enfrentado seu irmão mais velho de frente, mesmo quando ele havia virado as costas para ela. Ela o fez assumindo o papel de irmãzinha otaku e boba, dissipando toda a culpa dele com seu riso.

Ela se agarrava a mim como uma idiota, e sempre me dava seu carinho com palavras e gestos...

Para um observador de fora, talvez parecesse que Yuki era quem dependia de Masachika, mas a realidade dizia o contrário.

E eu... eu só continuei me apoiando na bondade dela...

Na verdade, era tudo ao contrário. Quem estava sendo mimado, quem realmente estava sendo salvo... era Masachika, o tempo todo. Mimar sua irmã era o que permitia a ele se livrar da culpa. Atender aos seus caprichos o fazia parecer, mais uma vez, um irmão mais velho confiável e incrível. Mas, lá no fundo... Ele sempre soube da verdade. Ele sempre sentia o olhar frio de Masachika Suou. O olhar de seu antigo eu, antes de se perder, encarando-o com uma expressão distante. Ele conseguia ouvi-lo.

"Como você consegue sorrir tão facilmente? Você sacrificou a vida da sua irmã por isso, sabia?"

Era a voz do seu eu mais jovem, antes de mudar seu jeito de falar. E ele sempre ria disso, fingindo não perceber. Mas, por dentro, ele se odiava por isso.

Eu sou só um lixo inútil desperdiçando a própria vida... Às custas da Yukida vida da minha irmãzinha... Isso é tudo o que eu sou... Masachika Kuze.

Nenhuma desculpa que inventasse poderia distorcer essa verdade. Era um fato. E mesmo agora, quando sua irmã realmente precisava da sua ajuda, suas pernas simplesmente não se moviam...

O que ele queria dizer com "a mais querida"? Que ela era a pessoa mais importante do mundo para ele? No fim, tudo o que Masachika realmente se importava era consigo mesmo. Como ele ousava falar de amor e importância?

Ah... entendi...

Foi só então que Masachika percebeu o verdadeiro motivo pelo qual não conseguia corresponder aos sentimentos da Maria. Faltava-lhe confiança? Era porque o romance era vago, e o amor podia mudar tão facilmente? Não. Não era isso. O fato de seus pais serem divorciados era apenas uma desculpa conveniente para onde ele sempre fugia. Ele já sabia que os dois tinham um laço inquebrável, uma conexão profunda. Então, não era isso...

Eu simplesmente...

...simplesmente não conseguia acreditar na força dos próprios sentimentos.

Apesar de dizer que amava aquela garota desde a infância, seu primeiro amor, durante todo esse tempo... Ele nem mesmo a reconheceu quando se reencontraram. E, mesmo dizendo que sua irmãzinha Yuki era importante, ele a abandonou pelo próprio conforto. Comparado ao amor que ele recebeu — ao amor que lhe foi mostrado — os próprios sentimentos dele eram rasos e frágeis. Cheio de decepção e ódio por si mesmo, Masachika cobriu o rosto com as duas mãos e deixou escapar uma voz dolorida do peito apertado.

Eu não tenho nada... Nada de que eu possa me orgulhar... O que eu sou agora é só um pedaço de lixo inútil...

Ele até se sentia enjoado por estar se banhando em autopiedade. Não tinha o direito de buscar perdão, tampouco conforto. O simples ato de arrependimento já era pretensioso demais para ele.

Foi tudo um erro — afirmou com uma voz carregada de escuridão, sem qualquer cor, escorrendo suavemente até o chão. — A culpa é completamente minha. Toda. Desde o começo.

Desde o momento em que deixou Yuki para trás e saiu da mansão Suou. Aquele foi o instante em que deu o primeiro passo por um caminho cheio de erros. E, até agora, continuava vagando, como se estivesse perdido, por essa trilha errada. Essa versão tola de si mesmo.

Masachika Kuze foi um erro.

⋆⋅☆⋅⋆

 

Eu sou só um inútil miserável, desperdiçando a própria vida às custas da Yuki… Da vida da minha irmãzinha… É só isso que eu sou… Masachika Kuze.

Como um criminoso aguardando um julgamento inevitável, Masachika manteve a cabeça baixa enquanto confessava, afundado em autopiedade e arrependimento profundo. Alisa escutava, meio atordoada.

A confissão havia começado com a revelação chocante de que Yuki era sua irmã. Para ser sincera, ela ainda estava tentando processar aquilo. Ainda assim, havia partes da história dele que faziam sentido.

Ah, então… era isso.

Masachika às vezes sorria de forma nublada, não importava o que conquistasse. Evitava elogios, fugia do reconhecimento e sempre se mantinha sutilmente distante dos holofotes. Alisa finalmente entendeu que tudo aquilo vinha de um arrependimento profundo — a crença de que sua versão atual, apagada, existia às custas da irmã mais nova.

Eu não tenho nada… Nada do que me orgulhar… Quem eu sou agora é só um pedaço de lixo inútil…

Eu nem consigo imaginar o que ele tá sentindo…

Alisa conhecia bem a dor de não conseguir validar o próprio modo de viver. A angústia de não saber se o caminho que escolheu era o certo, mas ainda assim continuar seguindo por ele, teimosa, sozinha.

Mas a dor de não conseguir evitar, negar o próprio sentido da existência…? Isso era algo que Alisa não conseguia nem começar a compreender. Ela não tinha palavras que pudessem consolá-lo diante desse tipo de sofrimento. Ela apenas se sentia… Triste.

Tudo foi um grande erro. Desde o começo.

Ver aquele garoto diante dela se torturando assim fazia seu coração gritar de dor. Era frustrante não conseguir dizer ou fazer nada por ele. Mas então—

Masachika Kuze foi um erro.

Naquele instante, algo dentro de Alisa se quebrou.

Foi mesmo um erro? — Ela perguntou.

Como uma represa que havia estourado, aquelas palavras escaparam de seus lábios antes que ela pudesse perceber.

Foi mesmo tudo um erro?

Seu peito tremia, suas palavras também. As lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas. Sem se preocupar em secá-las, ela ergueu o rosto, fitou Masachika diretamente, agarrou seus ombros e gritou.

Mas você… Você me conheceu, não conheceu!?

Por entre a visão turva pelas lágrimas, ela viu os olhos de Masachika se arregalarem de surpresa. Aqueles olhos, que momentos atrás estavam mergulhando num abismo escuro, agora estavam focados nos dela. Só isso já foi o bastante para o coração de Alisa gritar de alegria.

Talvez… mesmo em alguma linha do tempo em que Masachika tivesse permanecido um Suou, eles ainda teriam se conhecido.

Mas se isso tivesse acontecido — se a pessoa que ela conheceu naquele dia, naquela sala de aula, tivesse sido Masachika Suou, criado como o perfeito cavalheiro—

Ah. Com certeza, eu não teria me sentido tão atraída por ele.

A pessoa por quem ela havia se apaixonado, a quem ela verdadeiramente passou a adorar, era Masachika Kuze, aquele que estava diante dela agora. Ele estava longe de ser perfeito; ela podia listar inúmeros defeitos dele, mas agora, até isso ela achava encantador. Era esse Masachika que ela amava. Ouvi-lo dizer que era apenas um erro… Isso, ela simplesmente não podia aceitar.

As palavras que você disse antes. Sobre estar grato por ter me conhecido… elas… foram todas mentiras? — Alisa perguntou, forçando as palavras, com a cabeça baixa.

Ela ainda segurava os ombros de Masachika. As lágrimas não paravam; ela devia estar com uma aparência horrível. Não era isso que ela queria fazer. Ela queria dizer algo gentil a Masachika, que estava se afogando em arrependimento. Mas, em vez disso, deixou as emoções tomarem conta e disse algo tão egoísta, tão acusador.

Haaah… Eu sou a pior…

Conforme as emoções intensas foram diminuindo, o arrependimento tomou conta. Dominada por aquela situação insuportável, ela se sentiu patética. Encolheu-se e deixou as lágrimas caírem silenciosamente no chão.

Então, uma mão gentil pousou sobre seu ombro.

Obrigado, Alya.

Ao ouvir aquelas palavras inesperadas de gratidão, Alisa ergueu levemente o rosto. Ela encontrou os olhos de Masachika e, embora ainda carregassem dor, agora havia neles um leve sorriso.

Você tem razão, Alya. Te conhecer… Trabalhar com você… Tudo isso aconteceu porque eu cometi aquele erro no passado — ele falou suavemente, como se estivesse tentando acalmar Alisa, que ainda chorava. Fechando os olhos, como se estivesse enfrentando a si mesmo, Masachika assentiu, antes de abri-los novamente.

É… Olhando por esse lado, dá pra ver que nem tudo foi um erro. De verdade — declarou Masachika, com uma convicção sincera, antes de inclinar a cabeça.

E me desculpa. Fui insensível. Não queria te machucar. E…

Ele ergueu o olhar abruptamente, encarando Alisa diretamente enquanto dizia:

Conhecer você foi uma das maiores alegrias da minha vida. Juro que não há uma única mentira nessas palavras.

Aquelas palavras fizeram o coração de Alisa apertar e perder o compasso. Seu peito, que momentos antes estava repleto de tristeza e arrependimento, agora transbordava alegria e carinho. Mas admitir isso seria simplesmente embaraçoso demais.

…я чувствую то же самое.

(…Eu sinto o mesmo.)

Murmurou, com os lábios encostados nos joelhos. Antes que Masachika pudesse fingir sua habitual ignorância e pedir uma tradução do que ela havia dito, ela rapidamente enxugou as lágrimas e se levantou. Então, estendeu a mão para Masachika, que ainda estava sentado no banco.

Vamos.

Hã?

Masachika olhou confuso, e Alisa falou diretamente com ele.

Vá ver a Yuki-san. Coloque um fim nos seus arrependimentos.

Um traço de medo passou pelos olhos de Masachika, e sua expressão se enrijeceu. Ele começou a abaixar o olhar vacilante novamente, mas antes que pudesse fazê-lo, Alisa ergueu a voz com firmeza.

Eu vou com você. Desta vez, eu é que vou te apoiar. Então... Apenas segure a minha mão!

Os ombros de Masachika estremeceram e ele voltou a erguer o olhar. Seus olhos se arregalaram de surpresa antes de suavizar a expressão e colocar a mão sobre a dela. Segurando firme sua mão, Alisa o puxou com força. Em seguida, virou-se rapidamente e começou a marchar em direção à rua, ainda segurando sua mão.

Hã? Ah, espera um pouco! A gente vai mesmo? A festa ainda tá rolando, né? Você é a estrela da noite, não pode simplesmente sair assim!

Posso deixar o resto com a Masha, a mamãe e o papai. Além disso, sempre posso pedir desculpas depois — declarou Alisa.

Mesmo assim... Pelo menos pega um casaco ou algo assim. Como é que a gente vai chegar lá?

De ônibus, táxi... O que der certo, ué! Vamos logo!

Táxi...? Mas é caro dema—

Anda logo!

Alisa avançou com firmeza, puxando Masachika sem lhe dar chance de argumentar. Sem que eles percebessem, uma figura sombria observava a cena das sombras.

Hmm~… Parece que cheguei tarde demais.

Era Nonoa. Ela havia desistido do jogo de lobisomem de propósito logo no início e saído com a desculpa de procurar Alisa, que não voltava há um bom tempo. Desde o começo, fora Nonoa quem, ao ouvir sobre Yuki por Ayano, planejou levar Masachika até a mansão Suou. Ela incentivou Ayano — que desejava que Masachika visitasse a acamada Yuki — a tomar uma atitude, e planejava ser a primeira a consolar Masachika, ganhando assim espaço no coração dele.

"Eu pelo menos posso te ouvir, tá? Seja sobre a Yuki ou o Yusho, acho que conheço melhor as circunstâncias do Kuzecchi do que os outros. Não quero me gabar, mas sou capaz de te dar alguns conselhos objetivos, viu~?"

"Obrigado... mas, por enquanto, estou bem."

"Você consegue aguentar?"

"Sim, vou dar o meu melhor... Obrigado."

"Hm, tá bom então."

Essa fora a conversa de Nonoa com Masachika na sala da família Kujou. Ela sabia que Masachika não era do tipo que se abria com os outros, então tinha certeza de que, se ficassem a sós, ele se abriria com ela.

Só mais um empurrãozinho e eu teria conseguido abrir o coração dele...

Afinal, Masachika sempre fora muito cauteloso com ela, então Nonoa nunca conseguira se aproximar de verdade. Aquela era a chance de tocar nas emoções mais cruas dele, mas Alisa chegou antes. Seu plano fora frustrado.

......

Mesmo observando de longe, Nonoa podia sentir as emoções cruas e fervilhantes emergindo de Masachika. Ela queria ser a pessoa a tocá-las, a alcançar as profundezas de sua alma e agarrar seu núcleo mais íntimo. Conseguindo isso, certamente poderia fazer o que quisesse com ele.

Poderia oferecer palavras doces e gentis, confinando o coração dele nas próprias mãos. Também poderia esmagá-lo com palavras cruéis, e se deliciar com a dor. Só de imaginar isso, seu coração parado por tanto tempo se agitava com uma sensação empolgante.

Ahh~ Que empolgante~! Nunca pensei que sentiria isso por alguém além da Sayacchi~!

Ainda assim, ver essa oportunidade perfeita sendo arrancada diante de seus olhos encheu o coração de Nonoa com uma frustração indescritível.

Hmm~. Mas ela tá sempre no caminho~; Que irritante. Isso é... ciúmes?

O que sentia não era apenas um simples desgosto por alguém de quem não gostava, mas uma irritação mais cortante. Fez com que sua boca se contraísse involuntariamente e provocou uma vontade ardente de pisar no chão de raiva. Mesmo assim, ela não odiava essa sensação. Afinal, era algo que jamais teria experimentado se não fosse por sua ligação com Masachika.

Mas ainda assim, ela é irritante. Com certeza irritante.

Era melhor do que sentir tédio, mas não era um sentimento no qual Nonoa quisesse se afundar por vontade própria. Afinal, Alisa realmente era um estorvo para ela.

Não quero machucar minha amiga, mas... fazer o quê. Não tem outro jeito.

Claro, isso era mentira. Nonoa sinceramente não se importava em ferir as amigas. O que a impedia eram os ensinamentos dos pais, que sempre diziam para cuidar bem das amizades. Os desejos dos pais eram lei; ela não podia ir contra. Mas...

Mas não tem outro jeito... Tudo é válido quando se trata de amor.

Sua mãe uma vez dissera que o amor é uma batalha. Tudo é válido em nome do amor. Nonoa definiu seus sentimentos por Masachika como amor; portanto, tudo era permitido.

Amigos vêm e vão, especialmente por amor~… Algo assim.

Sussurrando palavras que ouvira em alguma conversa alheia, Nonoa deu meia-volta e usou a chave emprestada por Maria para voltar ao apartamento. De volta à casa dos Kujou, entrou na sala e imediatamente encontrou o olhar de Maria, que segurava o celular.

Ah, Nonoa-chan. Desculpa por te fazer sair pra procurar ela. Acabei de receber uma ligação da Alya-chan. Parece que eles tão indo pra casa da Yuki-chan...

Ao ouvir isso, Nonoa rapidamente refletiu sobre o que deveria dizer, antes de decidir falar honestamente sobre o que vira.

Ah, então era isso~. Eu vi o Kuzecchi e a Alisa correndo juntos pra algum lugar.

Sério? Não entendi direito, mas parece que surgiu alguma urgência — disse Maria, inclinando a cabeça, confusa.

Vendo a expressão intrigada dela, Nonoa decidiu explicar casualmente.

É. Eles tavam bem apressados, sabe~? Tipo quem tá com o tempo contado? Deve ter acontecido alguma coisa~.

Ouvindo a conversa, Touya comentou em voz baixa.

Hmm... Bom, deve ser sério mesmo, se a irmãzinha Kujou tá correndo por aí.

É... Espera, a Yuki-chan não tava com algum problema urgente? — perguntou Chisaki, olhando pros outros em busca de confirmação.

Nonoa, a única que sabia a verdade ali, manteve-se em silêncio para não perder acesso às informações da Ayano. Um clima tenso tomou conta da sala por alguns instantes. Percebendo isso, Takeshi falou com uma voz particularmente animada.

Bom, não sei o que tá rolando, mas deve ter acontecido alguma coisa! A gente vai saber depois!

É, isso mesmo. Se o Masachika e a Alya-san estão juntos, provavelmente não precisamos nos preocupar — Hikaru respondeu de imediato, enquanto Takeshi sorria em resposta.

Pensando bem... Algo parecido aconteceu naquele festival de verão também, né? Durante os fogos.

Hm? Ah, ééééé mesmo~. Aconteceu isso sim! O Kuze-kun simplesmente pegou na mão da Alya-chan e saiu correndo! — Chisaki entregou.

O quê!? Quando foi isso? Caramba, Masachika... Eu não sabia que você faria algo saído direto de um romance adolescente!

As palavras da Chisaki despertaram grande interesse em Takeshi, e o grupo começou a relembrar aquele momento, retomando a conversa com empolgação. Mesmo sendo bastante incomum o convidado de honra de uma festa de aniversário sair no meio do evento, graças à boa índole de Alisa, ninguém no ambiente achou que fosse por maldade.

Ela é bem confiável... Vai ser difícil desfazer isso.

Observando ao redor, Nonoa analisava tudo calmamente por trás de sua expressão despreocupada habitual. Foi então que Sayaka a chamou, com um tom um tanto curioso.

Nonoa?

Hm? O que foi, Sayacchi?

Encaaarando...

Hmmmm? O que é, o que é? Assim você vai me deixar corada~ — Nonoa sorriu para Sayaka, que a encarava intensamente.

Nada... Você quer algo pra beber? — Sayaka perguntou, finalmente desviando o olhar.

Ah, quero sim, quero sim~. Uma coca, por favor~.

Aff, quantas você já tomou? Vai engordar se continuar assim.

Eu nunca engordo, então tô de boa~. Olha só, nem tô ficando mais cheinha, sabia?

Dizendo isso, Nonoa envolveu os braços ao redor do de Sayaka de um jeito que mais parecia uma criança buscando carinho do que alguém com intenções ocultas. Para qualquer observador, seu comportamento parecia longe de qualquer plano sombrio ou esquema malicioso, transmitindo apenas inocência.

⋆⋅☆⋅⋆

 

Enquanto isso, naquele exato momento, as duas pessoas que estavam no centro de toda a conversa — Alisa e Masachika — estavam sentadas em um ônibus a caminho da mansão Suou. Eles estavam lado a lado num banco para dois, em silêncio. No entanto, Alisa segurava firmemente a mão esquerda de Masachika com a sua direita, como se tentasse impedi-lo de escorregar, de se afastar.

……

Ela olhou discretamente para o garoto ao seu lado. Seu perfil não revelava nenhuma emoção, mas seus olhos, aparentemente perdidos, indicavam que ele estava mergulhado em pensamentos, lutando com seus próprios sentimentos.

Talvez eu devesse deixá-lo quieto por enquanto.

Felizmente, ele não parecia mais afogado em arrependimento, diferente de antes. Considerando isso, o melhor seria deixá-lo em paz. Apesar de já ter funcionado antes por sorte, Alisa não era exatamente boa com palavras. O que Masachika precisava agora não eram palavras de outra pessoa, então o silêncio era mesmo a melhor escolha.

Chegando a essa conclusão, Alisa desviou o olhar para a janela do ônibus e decidiu focar nos próprios pensamentos. Agora que as coisas tinham se acalmado um pouco, havia algo que ela absolutamente precisava considerar. A saber—

O que ele quis dizer com irmã?

Isso.

Agora que estava mais tranquila, tudo em que Alisa conseguia pensar era nessa pergunta incômoda. Memórias de suas interações com Yuki começaram a invadir sua mente uma após a outra.

Então aquilo foi o quê?

Dentre essas lembranças, a mais vívida era aquela em que Yuki a encurralou numa sala de aula vazia ao entardecer.

"Eu já disse, eu amo ele! Você devia dizer claramente também, Alya-san!"

Na época, abalada pela intensidade de Yuki, Alisa declarou que não abriria mão de Masachika. Foi puramente por causa do seu forte sentimento de rivalidade com Yuki, que era a suposta amiga de infância de Masachika e sua parceira de eleição no fundamental. Ela sentia que, se não dissesse aquilo claramente, Yuki poderia acabar levando Masachika embora. Mas...

Irmã dele! Irmã dele!? Peraí, calma aí!? Então isso faz de mim a doida que disse pra irmã do garoto de quem gosta que não ia abrir mão dele!? N-Não é possível... AAAAAAAAAAAAH!!

Embora se esforçasse ao máximo para não demonstrar no rosto, Alisa se contorcia de vergonha por dentro, cobrindo mentalmente o rosto com as duas mãos. Ela imaginava a cena: o crush da Maria, aquele tal de Saa-kun ou sei lá, dizendo: "Eu não vou deixar a Masha-san ir embora!"

Sem dúvidas, aquele cara seria um completo esquisitão. Totalmente vergonhoso. Ela avisaria Maria mais tarde: "Talvez você devesse repensar esse namoro aí."

E pensar que ela mesma tinha feito exatamente a mesma coisa…

Ngghhhhh!

Alya?

Só quando Masachika chamou por ela foi que Alisa voltou à realidade. Virou-se para ele e viu seu rosto com uma expressão levemente confusa.

Aconteceu alguma coisa?

Ah, hum, nada...

Tem certeza?

Sim.

Ela desviou o rosto, sinalizando que não queria continuar com o assunto. Parecendo entender o pedido silencioso, Masachika não insistiu e voltou a olhar para frente. Observando seu reflexo na janela, Alisa suspirou aliviada por dentro.

Ufa... Certo, melhor parar de pensar nisso por agora. Quanto mais eu pensar, mais fundo vou nesse buraco...

Com esse pensamento, Alisa decidiu abandonar o assunto. Era informação demais para processar naquele momento.

Afinal, estou de mãos dadas com o Masachika agora... Se eu começar a me afobar, ele vai perceber...

Mas, ao se dar conta disso, ela congelou.

E-Eu tô de mãos dadas com o Masachika!?

Um choque repentino percorreu Alisa. Não, segurar as mãos de alguém não era algo tão extraordinário. Ela já tinha feito isso com ele algumas vezes antes. Mas aquilo era diferente. Primeiro, porque agora Alisa estava consciente dos próprios sentimentos e os aceitava. Segurar a mão de alguém que você gosta é completamente diferente de segurar a mão de um simples amigo! E além disso—

Calma, vamos pensar com calma.

Eles tinham soltado as mãos depois de andarem do banco do parque até o ponto de ônibus de mãos dadas. Então, ao entrarem no ônibus, voltaram a se dar as mãos... Isso mesmo.

Fui eu quem pegou na mão dele de novo, não foi!?

Não pode ser. Ela não tinha segundas intenções. Definitivamente não tinha aproveitado a oportunidade para segurar a mão dele sorrateiramente. Só pegou para garantir que ele não fosse tentar fugir.

I-Isso, é isso. Do mesmo jeito que o Masachika segurou minha mão antes, eu só quis ser a primeira a fazer isso dessa vez... Só isso!

Mas o fato permanecia: Alisa havia tomado a iniciativa de segurar a mão de um garoto. E não era qualquer garoto — era justamente aquele por quem ela estava apaixonada. E, pior ainda, tinha feito isso de forma bem direta. Eles não estavam apenas de mãos dadas quando entraram no ônibus — ela praticamente o puxou. Para ela, aquilo era...

Eu sou praticamente uma mulher carnívora!

(N/SLAG: "肉食系女子" ou "肉食女" (literalmente "mulher carnívora"), é um termo usado para descrever mulheres que buscam ativamente status social ou autoconfiança por meio de sexo, homens, riqueza ou fama.)

Alisa bateu mentalmente a cabeça contra a parede, gritando por dentro.

Para ela, uma garota normal não conseguiria simplesmente agarrar a mão do garoto de quem gosta. Mesmo reunindo toda a coragem do mundo, isso era algo que Alisa não conseguia fazer com facilidade. O ideal seria só estender a mão discretamente e esperar que ele a segurasse. Era assim que devia ser. Mas agarrar a mão dele sem pensar duas vezes? Isso era coisa de mulher carnívora! Uma garota que corre atrás do que quer!

Modéstia! Uma dama deve ter modéstia e recato!

Sentindo como se sua virtude estivesse se esvaindo, Alisa se remexeu novamente, aflita por dentro. E daí? Ela já tinha feito coisas mais ousadas antes. Mas, para ela, aquilo era só provocar um amigo convencido e mostrar quem mandava — isso era tranquilo. Ela não estava tentando seduzir ninguém. E definitivamente não estava tentando seduzir ele agora!

Sedução é imoral! Isso com certeza não é coisa que uma dama faria!

Ela acreditava piamente nisso. E ainda assim, por que sentia aquele friozinho na barriga…? A ideia de seduzir Masachika, de romper a calma habitual dele, de fazê-lo procurá-la desesperadamente — só de imaginar isso, um arrepio subia de seu estômago até o coração. Mas ela se repreendeu imediatamente.

Idiota! O que você tá pensando numa hora dessas!? O Masachika tá tentando lidar com a própria família agora, sabia!? E você aí, cega de amor bobo!

Ela lançou um olhar de canto para Masachika, que exibia uma expressão levemente melancólica. Estava claro que ele não tinha cabeça para pensar em quem segurou a mão de quem ou como estavam de mãos dadas.

Viu? O Masachika não tem tempo pra esse tipo de bobagem agora!... Espera, bobagem talvez tenha sido pesado?

Ela se criticou mentalmente, um pouco irritada. Sabia que aquele não era o momento certo para esses pensamentos, mas o fato de ele nem perceber sua presença a deixava frustrada e ansiosa como uma garota apaixonada.

Não pode ao menos ficar um pouquinho agitado? Ou será que segurar minha mão já virou algo tão normal que nem tem mais graça? Isso não acelera seu coração? Mesmo eu estando tão consciente de você aqui...

Impulsionada pela frustração e ansiedade que rodavam em seu peito, Alisa apertou levemente a mão de Masachika. Ele piscou algumas vezes antes de virar o rosto para ela.

Hm? Alya?

Ah, hum...

O olhar de Masachika era pura curiosidade. Alisa hesitou por um momento, antes de soltar rapidamente algo que lhe pareceu apropriado.

Vai ficar tudo bem. Eu tenho certeza.

É, obrigado.

Mesmo sendo apenas uma afirmação reconfortante sem fundamento, Masachika sorriu de leve, agradeceu e voltou a olhar para frente. Mais uma vez, sem qualquer sinal de nervosismo ou constrangimento.

Hmph.

Isso só fez com que a frustração e a ansiedade de Alisa aumentassem ainda mais. Decidiu que não podia mais deixar aquela oportunidade passar sem fazer ele ao menos perceber um pouco mais sua presença.

Mas como? Mostrar o decote? Se agarrar no braço dele? Nem pensar. Isso seria insensível demais diante da situação atual — sem contar que não era o tipo de coisa a se fazer em público, com outras pessoas por perto. O que ela fosse fazer, teria que ser sutil. Algo que pudesse parecer um ato natural, sem segundas intenções.

O que eu posso fazer...?

Ela pensou por um momento, até notar de novo o estado das mãos entrelaçadas. Elas estavam frouxamente unidas, repousando no banco entre os dois, com a mão dela por cima da dele. Agora que pensava bem, o espaço ali estava meio apertado.

É isso!

Uma ideia surgiu, e ela aproveitou o momento em que o ônibus fazia uma curva. Fingindo ser empurrada pela força centrífuga, ela deslizou levemente a perna para o lado, pressionando de leve as mãos unidas com a coxa.

Ah, desculpa.

Hm? Ah, tudo bem...

Ela lançou um olhar rápido para o rosto de Masachika, confirmando que ele não havia achado nada estranho. Quando o ônibus voltou a seguir reto, Alisa — tentando parecer o mais natural possível — levantou casualmente as mãos.

Se deixasse as mãos ali, poderia acabar encostando nelas com as pernas de novo. Então, sem segundas intenções... Sim, sem nenhuma real segunda intenção aqui... Ela colocou as mãos dos dois sobre sua coxa.

Hyah!

O leve frio da mão de Masachika contra sua coxa nua fez Alisa estremecer, mas ela conteve a vontade de reagir e se virou casualmente para olhar pela janela, lançando um olhar furtivo para seu reflexo.

Olha só isso…

Quanto ao reflexo de Masachika na janela… Bem, ele estava praticamente igual ao de um minuto atrás, apenas encarando à frente. Nem parecia se importar com o fato de que sua mão esquerda agora descansava sobre a coxa dela.

……

Ao ver isso, o ânimo de Alisa murchou, sendo substituído por uma onda de vergonha indescritível. O que ela estava fazendo, afinal? Sério mesmo.

Eu sou uma idiota…? Não, com certeza sou uma idiota. Fazer uma coisa dessas… justo agora…? E, pra completar, ele nem sequer percebeu nada…! Que ridículo…

Sentindo-se completamente envergonhada e arrependida de sua tolice, o que dominava a mente de Alisa agora era um misto de vergonha e desespero. Tudo o que ela queria naquele momento era devolver as mãos para a posição original e fingir que nada daquilo havia acontecido. Mas, se recuasse agora, soaria tão artificial que acabaria destruindo toda a tentativa de agir naturalmente. O que restava a ela era apenas aceitar que aquele momento seria eternizado em sua "história sombria". Não havia outra escolha.

Aaargh… Eu quero desaparecer… Por favor, que a gente chegue logo…

Tentando com todas as forças manter uma expressão neutra — apesar de estar à beira das lágrimas — Alisa orava silenciosamente. Enquanto isso, sentado ao seu lado, Masachika também estava perdido em seus próprios pensamentos.

Eu preciso encarar o passado… E depois, o quê? Não, antes de tudo, o que eu realmente… Quero fazer? Além disso, a Yuki agora deve estar… Sentindo coxas… Com gripe. Coxas macias… S-Saias… Meias 7/8… Coxas!

Acontece que o plano de Alisa havia funcionado brilhantemente. Os pensamentos de Masachika estavam sendo completamente afogados por coxas. Grande parte de sua atenção estava sendo usada só pra tentar manter a expressão composta.

Masachika lutava para tirar o foco de sua mão esquerda. Mas, claro, era impossível. Além disso, seu olhar insistia em escorregar em direção à coxa de Alisa, confirmando onde exatamente o dorso de sua mão estava repousando.

Ugh…!

Ao ver de relance com o canto do olho, Masachika engoliu em seco, discretamente. Foi nesse momento que, involuntariamente, começou a recitar mentalmente um monólogo apaixonado que uma vez leu na internet, de um otaku declarado fã de meias 7/8:

"O mais importante é a área acima das meias 7/8! Você me entende, né!? Aquela parte da coxa que fica levemente espremida por elas! É perfeição absoluta! O jeito como a meia aperta, e a carne da coxa dá aquela leve saliência… I-Isso é simplesmente irresistível!"

E agora, a mão de Masachika estava tocando exatamente aquele território sagrado e absoluto — o espaço entre a saia e as meias 7/8, o místico vão onde ambas dão lugar à pele exposta.

(N/SLAG: Zettai ryōiki (絶対領域), literalmente "território absoluto", é um termo criado pela cultura otaku para se referir à área de pele exposta entre a saia e as meias 7/8 (meias que vão até as coxas).)

Gah!

Seu dedo indicador roçou o tecido áspero da saia, enquanto o mindinho sentia a textura suave das meias. E entre o dedo médio e o anelar, ele sentia a carne macia e delicada da pele nua de Alisa. Se ao menos fosse a palma da mão, em vez do dorso… O que será que poderia…

E-Espera aí! Que porra eu tô pensando!? Que tipo de pensamento nojento é esse!? Morre! Só morre, seu tarado! Como é que você pode estar excitado numa hora dessas!?

Instantes antes, ele estava refletindo seriamente sobre o que fazer a seguir. Mas, no segundo em que se deparou com essa "sorte pervertida", todos os pensamentos racionais sumiram. E ele se odiava por ter deixado aquelas ideias safadas invadirem sua mente.

Olha! A Alya tá agindo normalmente, não tá? Provavelmente ela nem quis dizer nada com isso! Ela não tá sorrindo, nem demonstrando aquele flerte de sempre! Ela só mudou a posição da mão pra algo mais confortável… Aaarghh. Morre! Morre, seu idiota tarado!!

Masachika cerrou os dentes em segredo, lutando para manter a compostura. Enquanto isso…

Eu sou… Mesmo um caso perdido…?

Alisa se encolhia por dentro, arrasada, tentando ao máximo manter uma expressão neutra.

Ainda faltavam sete paradas.

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