Volume 9
Capítulo 2: E Então os Olhos da Criança e de Sua Mãe se Encontraram
Após vinte minutos de ônibus e mais dez de caminhada, Masachika finalmente estava diante da mansão da família Suou, um lugar que não via há vários anos.
Ah…
As memórias do passado vieram à tona com uma clareza dolorosa. Era uma casa para a qual ele achava que nunca mais voltaria; um lugar que acreditava que jamais o acolheria novamente. Ele fitou o imponente portão que levava ao grandioso jardim, junto ao interfone ao lado — e ficou parado, imóvel.
Não quero apertar isso.
Não entenda mal — ele já havia decidido entrar. Depois de ter vindo até ali, sabia que teria que fazer pelo menos isso. Mas ainda assim, não podia deixar de pensar…
Quero dizer, não preciso entrar de maneira tão escancarada pelo portão principal, né?
Mais especificamente, não seria melhor ligar secretamente para Ayano e pedir que ela o deixasse entrar escondido? Afinal, foi ela quem o convidou para a mansão Suou, então não seria pedir demais. E mais importante ainda, isso reduziria consideravelmente as chances de encontrar seu avô ou sua mãe antes de ver Yuki.
Não quero MESMO ver aqueles dois com a Alya por perto…
Ele nem sabia como deveria agir na frente deles. Também havia a possibilidade de dizer algo que chocasse Alisa, e a ideia de voltar à sua casa de infância pela primeira vez em anos com uma garota ao lado parecia só pedir por problemas.
Vou ligar para a Ayano, ir direto para o quarto da Yuki, deixar a Alya com elas e… Depois enfrento todo mundo. É, vai ser assim.
Depois de finalmente tomar uma decisão, Masachika levou a mão ao bolso para pegar o celular, mas antes que pudesse tirá-lo, uma mão pálida se estendeu ao seu lado e apertou o botão do interfone.
— Ei—
— O quê? Ficar parado aqui não vai ajudar em nada, né? — Alisa respondeu.
— É, mas eu tinha um plano—
— Masachika-sama? — uma voz soou repentinamente no interfone.
Era Natsu, a serviçal da família Suou, uma voz que Masachika não ouvia há anos, mas reconheceu imediatamente. Ele congelou por um instante antes de finalmente encontrar as palavras.
— Faz tempo, Natsu-san.
— O-Oh céus. Oh céus, oh céus, oh céus! De fato, de fato. Realmente faz muito tempo! Hum, e quem seria a jovem ao seu lado…?
— Ah… bom, é que… — Masachika ficou sem saber o que dizer. Felizmente, Alisa interveio com uma saudação educada.
— Pedimos desculpas por incomodar tão tarde. Sou Alisa Mikhailovna Kujou, colega de classe do Masachika e membro do conselho estudantil junto com Yuki. Soubemos que Yuki-san está de cama com gripe, então decidimos fazer uma visita rápida.
— Ora, que gentileza da sua parte… Muito bem, poderiam aguardar só um instante?
A voz dela, agora calma e serena — como se espera de uma serviçal da família Suou —, ecoou pelo interfone antes de silenciar. Masachika soltou um breve suspiro e olhou para Alisa ao seu lado.
— O quê?
— N-Nada. É só que você está muito calma… Quer dizer, tô impressionado com sua confiança.
— Claro. Eu não te disse já? Que estaria ao seu lado…? — explicou Alisa, desviando o olhar timidamente. Masachika suavizou a expressão ao responder.
— É, você disse… Obrigado.
— Não foi nada.
Alisa desviou ainda mais o olhar, mexendo no próprio cabelo.
— Mas, digo… não deveríamos soltar as mãos? — Masachika comentou, levantando levemente as mãos entrelaçadas.
— Hã? Ah…
Alisa olhou para suas mãos com uma expressão emburrada, por algum motivo. Então, virando ainda mais o rosto, murmurou.
— Mas eu não me importo de ficar assim…
— Hã!? Não, não, claro que você se importa! Olha, tem uma câmera de segurança bem ali! Se a gente entrar na casa da minha família de mãos dadas, vai parecer que estamos anunciando o noivado ou algo assim. Se a Natsu-san ou alguém vir isso, vão entender tudo errado!
Imaginando a reação da senhora, que era mais romântica do que sua neta séria, Masachika falou rápido, lançando olhares nervosos para a câmera de segurança na parede. Alisa também olhou brevemente para a câmera, depois virou o rosto de novo e apertou ainda mais a mão dele enquanto murmurava.
— Но я действительно не против, да?
(Eu realmente não me importo, sabe?)
Você não se importa!?
Mesmo com a situação em que se encontrava, Masachika gritou mentalmente com a bomba que Alisa havia jogado.
Você não se importa de ser mal interpretada? Hã!? Quer dizer que eu poderia mesmo te apresentar como minha noiva? Tipo: "Oi, pessoal, a gente vai se casar!"? A Natsu-san surtaria! Não, não, não, você tá brincando, né!?
Ele olhou intensamente para Alisa, mas não conseguiu ler sua expressão, já que ela continuava com o rosto virado. Ainda assim, mesmo sob a luz fraca, ele viu claramente as pontas das orelhas dela ficando vermelhas.
Você tá brincando… Certo?
Sentia as palmas das mãos começando a suar. Queria soltá-la agora, mas fazer isso de forma brusca seria rude. Ao mesmo tempo, Natsu talvez já tivesse avisado o avô de Masachika, que poderia abrir a porta a qualquer momento…
Calma, calma, calma. Ficar em silêncio agora é receita para desastre!
Lembrando que ainda precisava esconder sua fluência em russo, forçou-se a manter a calma.
— Não sei o que você disse, mas… por agora, podemos soltar as mãos? Sério. Sei que não expliquei bem antes, mas o chefe desta casa e eu não nos damos muito bem. Ele com certeza gritaria comigo por "estar de gracinha" se eu entrar de mãos dadas com uma garota…
Depois de ouvir a explicação rápida de Masachika, Alisa lançou um olhar descontente para ele antes de finalmente soltar sua mão. Enquanto ele suspirava aliviado, ela murmurou algo em voz baixa, ainda mexendo no cabelo.
— Вы могли бы хотя бы быть немного более осведомленными об этом...
(Você podia ao menos ter ficado um pouquinho mais consciente disso…)
…Hã? Pera, é por isso que você tá chateada? Porque eu não reagi quando a gente estava de mãos dadas? Que fofa.
Esse pensamento surgiu naturalmente, e Masachika rapidamente virou o rosto. Nesse momento, um som alto de tranca sendo destravada o tirou dos pensamentos, fazendo-o se sobressaltar levemente. Olhando para cima, ele viu que o portão à sua frente começava a se abrir automaticamente. O som que ouvira fora o do destrave. Ao perceber isso, Masachika soltou um pequeno suspiro de alívio.
Espera... Por que eu tô aliviado?
Ele estava prestes a enfrentar uma das situações mais assustadoras da sua vida. Esperava que, quando chegasse o momento, ele a encarasse com firmeza e determinação. Mas agora...
Nunca imaginei que entraria aqui assim. Com sentimentos assim...
Com um sentimento estranho de divertimento, Masachika entrou nos domínios da mansão com um leve senso de esvaziamento. Sem olhar para trás, chamou Alisa, que o seguia um passo atrás.
— Alya.
— O quê?
— Obrigado.
— Uhum.
Diante da resposta curta e costumeira dela, Masachika apenas sorriu de leve antes de continuar seu caminho até a entrada da mansão. Quando se aproximou, a porta se abriu, revelando a pessoa que ele mais temia encarar — Gensei Suou.
Chefe da família Suou, avô de Yuki e de Masachika, e o homem que, quando ele saiu de casa, ordenou que jamais se referisse a si mesmo como irmão de Yuki novamente.
……
Os mesmos olhos afiados e frios de antigamente perfuraram Masachika. No entanto, para sua surpresa, ele se sentia estranhamente calmo.
Há pouco tempo, eu achei que não saberia como reagir... Isso também é graças à Alya?
Com esse pensamento, Masachika continuou andando, encarando o olhar de Gensei de frente, parando a poucos passos de distância. Tomando a iniciativa, ele falou primeiro.
— Me desculpe por chegar tão tarde. Fiquei sabendo que minha colega de classe, Yuki-san, adoeceu, então vim visitá-la. Não quero ser indelicado.
— Uma visita. Sem aviso prévio ou sequer um presente, entendo — respondeu Gensei, lançando um olhar cortante a Masachika e Alisa.
— Minhas desculpas. Acabamos de saber pela Ayano-san e viemos correndo.
Masachika continuou a se desculpar com sinceridade, imperturbável pelas palavras frias de Gensei. Em resposta, Gensei estreitou ligeiramente os olhos, e Alisa deu um passo à frente, fazendo uma reverência ao lado de Masachika.
— É um prazer conhecê-lo. Sou Alisa Mikhailovna Kujou, também membro do conselho estudantil junto de Yuki-san. Compreendo que a hora não seja adequada, mas poderíamos cumprimentá-la?
O olhar de Gensei se voltou para Alisa.
— Sou Gensei Suou, avô da Yuki... Você diz que estão apenas visitando, mas avisaram seus responsáveis? — ele a encarou diretamente enquanto falava.
— Sim.
— Ah…
Masachika deixou escapar um som constrangido, percebendo que havia se esquecido completamente de avisar seu próprio pai, Kyotarou. Com tudo o que estava acontecendo em sua mente, e estando acostumado a viver sozinho, sequer pensara em contatar a família. Alisa, ao lado dele, também soltou um pequeno som, abrindo a boca em surpresa ao ouvir aquilo, enquanto Gensei lançava outro olhar fulminante para Masachika. Esperando o sermão da vida—
— Muito bem… Entrem.
Para sua surpresa, Gensei simplesmente virou nos calcanhares e entrou na mansão, segurando a porta aberta. Chamou por Natsu, que esperava nos fundos da entrada.
— Temos visitas. Leve-os até o quarto da Yuki.
— Entendido. Por aqui, Kuze-sama, Kujou-sama — respondeu Natsu com elegância, fazendo uma reverência a Gensei enquanto convidava Masachika e Alisa a entrarem.
Ao adentrarem o saguão de entrada, Gensei desapareceu pelo interior da casa.
……
— Por favor, usem estes.
Enquanto o observavam partir, Natsu lhes entregou um par de chinelos, que Masachika e Alisa calçaram.
— Obrigada por terem vindo hoje. Ah, Kujou-sama, obrigada pelas palavras gentis mais cedo. Sou Natsu Kimishima, avó de Ayano Kimishima e serva desta casa.
— Ah, então você é a avó da Ayano-san... Olá novamente. Sou Alisa Mikhailovna Kujou. Peço desculpas por invadir a casa a esta hora.
— Ora, de forma alguma. Tenho certeza de que Yuki-sama ficará contente. Mas por favor, usem estas máscaras para evitar que peguem a doença dela.
— Ah, muito obrigada.
— Muito obrigada.
— Não há de quê, não há de quê. Agora por aqui, por favor — disse Natsu, conduzindo-os adiante.
Após receberem as máscaras, seguiram Natsu pelos corredores da mansão. Enquanto caminhavam, ela falou sem se virar.
— Devo dizer, estou realmente surpresa. Nunca imaginei que Masachika-sama voltaria a esta casa, ainda mais acompanhado de uma jovem tão encantadora.
— Desculpa por ter aparecido sem avisar.
— Oh, não diga isso. Estou realmente feliz neste momento… Ah, acho que vou acabar chorando. Ai, quando a gente envelhece, fica mais emotiva — disse Natsu, enxugando os cantos dos olhos, deixando Masachika um pouco desconfortável. Felizmente, logo chegaram diante do quarto da Yuki, e Natsu bateu na porta três vezes. Em resposta, ela se abriu silenciosamente por dentro.
— Sim—
Quem havia atendido era Ayano, e seus olhos se arregalaram ao ver Masachika atrás de Natsu.
— Masachika-sama…
— Foi mal. Demorei — comentou Masachika. Ao ouvir suas palavras, os olhos de Ayano brilharam ligeiramente enquanto ela baixava o olhar.
— De forma alguma… Por favor, entrem.
Dizendo isso, Ayano se afastou para que Masachika e Alisa pudessem passar.
Eu devia… Eu devia ter vindo antes…
As reações emocionadas de Natsu e Ayano mexeram com Masachika, mas todos os pensamentos sentimentais desapareceram no momento em que ele viu Yuki deitada na cama.
— Ah…
Na grande cama, jazia uma figura pequena, com longos cabelos negros cuidadosamente trançados. Um leve aroma de sabão pairava no ar, e a atmosfera úmida grudava na pele de Masachika, tudo se combinando para acionar memórias do passado, fazendo-o congelar.
— Masachika-kun…
A voz preocupada de Alisa foi o que finalmente o trouxe de volta à realidade. Meio desajeitado, ele retomou os passos. Sentou-se na cadeira ao lado da cama, onde provavelmente Ayano estivera antes, e, hesitante, estendeu a mão em direção a Yuki.
Tocou levemente sua pequena testa, absorvendo o calor que se espalhou por sua palma, fazendo-o morder os lábios. Nesse momento, os olhos de Yuki se abriram lentamente.
— Ah…
Seus olhos vazios encararam o teto antes de desviar lentamente na direção de Masachika.
— Onii-sama…? — sussurrou ela com uma voz rouca e fraca.
— !
Ela o chamou da mesma forma que fazia quando eram pequenos. Reprimindo a onda de emoções que subia em seu peito, Masachika forçou uma resposta.
— É… Você tá bem?
No instante em que disse isso, percebeu o quão tola era a pergunta. Mas, ao ver o rosto de Yuki se contorcer, Masachika se assustou.
— Yuki…?
— U-Uwaaaaaaaahh~~. Nii-samaaaaa~~~!
Lágrimas escorriam dos cantos dos olhos agora cerrados enquanto ela chorava como uma criança, sua voz rachando e falhando em meio aos soluços incontroláveis.
— Uuuuuu~~~. Dóóóóii~~. Tá doeeendo tantooo~~~. Hic, hic. Eu não aguento maaaais~~…
A personagem refinada que ela interpretava na escola, o lado travesso que mostrava em casa — nenhum deles teria previsto a criança chorosa que agora se revelava. Os gritos comoventes de Yuki apertavam o peito de Masachika com força insuportável.
Por quê… Por que eu não vim antes…
Incapaz de se conter, lágrimas começaram a escorrer de seus próprios olhos. Esquecendo completamente que Alisa os observava atrás dele, Masachika envolveu o pequeno corpo de Yuki em seus braços, puxando-a para um abraço.
— Me desculpa, me desculpa mesmo — ele repetia entre lágrimas que escorriam pelo rosto.
Se Yuki conseguia ouvi-lo ou não, era difícil dizer. Ela continuava a expressar sua dor com uma voz fraca.
— Eu... Eu não quero mais isso... Por quê... Por que só eu tenho que passar por isso...? Dói... Me ajudaaa~...
— Me desculpa, me desculpa...! Se eu pudesse, trocaria de lugar com você...
— Uuuuuu~... hic... uuuuuuu~~...
— Me desculpa... Me desculpa...
Enquanto segurava o corpo frágil de Yuki, Masachika acariciava suas costas repetidas vezes. Através do tecido do pijama, ele sentia sua pele fina e o contorno marcante dos ossos, o que só aprofundava sua tristeza e culpa, fazendo com que suas lágrimas corressem ainda mais intensamente.
⋆⋅☆⋅⋆
Alisa observava os dois abraçados em silêncio. Um calor estranho se espalhou por seu nariz, e sua visão ficou embaçada. Piscava repetidamente, tentando manter a compostura.
Ah, entendi… É verdade…
Só agora Alisa compreendia de verdade que aqueles dois eram apenas irmãos. Como ela pôde tê-los confundido com um casal? A imagem dos dois chorando juntos, se abraçando — de qualquer ângulo que se olhasse, era evidente: eles eram família.
Ah…
Agora fazia sentido. Tudo o que ele havia dito era verdade. Não existia entre Masachika e Yuki nenhum sentimento que ultrapassasse o amor fraternal ou o afeto entre irmãos.
Ela aceitou, por fim, que Masachika não nutria por Alisa nenhum sentimento além daquele que tinha por Yuki. Yuki nunca fora sua rival no amor, mas sim alguém que Alisa jamais poderia superar. Para Masachika, Yuki era, sem dúvidas, especial; preciosa de uma forma incomparável a qualquer outra pessoa.
Quem Masachika-kun precisa agora... é da Yuki-san, não de mim...
Um vazio gélido tomou seu peito.
Por que eu estou aqui, afinal?
Esses pensamentos desconfortáveis se infiltravam no fundo de sua mente, intensificando sua solidão. Ela se odiava por sentir aquilo, por abrigar emoções tão egoístas, e baixou o olhar envergonhada.
— Alisa-san, se quiser... Por favor... — Ayano chamou-a baixinho, oferecendo uma cadeira.
Alisa piscou algumas vezes antes de negar com a cabeça.
— Obrigada, mas estou bem.
Ao levantar o olhar novamente, viu que Yuki aparentemente havia parado de chorar e adormecido outra vez. Masachika já estava deitando-a suavemente de volta na cama. Com delicadeza, ajeitou sua cabeça sobre o travesseiro, puxou o cobertor até os ombros dela e enxugou o suor e as lágrimas restantes com uma toalha úmida. Seus gestos eram cheios de ternura e compaixão.
……
O quarto mergulhou em silêncio. Tudo o que se ouvia era a respiração fraca de Yuki enquanto dormia. Masachika a observava atentamente, e Alisa e Ayano, em silêncio, olhavam para suas costas.
Não se sabia quanto tempo havia se passado quando uma batida repentina na porta quebrou o silêncio, fazendo Alisa se virar rapidamente para lá. Ayano abriu a porta com agilidade e sem emitir som, e uma mulher de meia-idade, já conhecida por Alisa, entrou no cômodo.
— Yuki-sa — ela começou a chamar, mas parou imediatamente ao ver Masachika sentado ao lado da cama de Yuki, com uma expressão visivelmente tensa.
Não é aquela… a mãe da Yuki-san?
Confirmando que se tratava mesmo de Yumi Suou, mãe de Yuki, que ela já conhecera durante o recente festival esportivo, Alisa olhou instintivamente para Masachika. Ao vê-lo encará-la com um semblante um tanto severo, voltou o olhar para Yumi. De repente, tudo se encaixou.
Ah… É claro.
Como ela não havia percebido até então? Era tão óbvio, ao parar para pensar. Se Masachika e Yuki eram irmãos, isso significava que a mãe de Yuki também era... A mãe de Masachika. Em outras palavras, as duas pessoas diante dela naquele momento... Eram mãe e filho.
Eh? E-Ehh, o que eu faço? O que eu deveria fazer...?
À medida que a tensão no ambiente aumentava — tal como acontecera no encontro anterior durante o festival —, Alisa, sem entender exatamente o porquê, sentiu uma necessidade instintiva de dizer algo. No entanto, foi interrompida por uma voz vinda de trás de Yumi: a de Natsu.
— Ora, ora, Yumi-sama, entrou sem nem lavar as mãos... Eu entendo que esteja preocupada com Yuki-sama, mas por favor, vá lavar as mãos e fazer gargarejo primeiro — comentou a empregada da família Suou.
Assustada com o tom descontraído, Yumi virou-se de forma meio constrangida.
— V-Você tem razão... Vou fazer isso — respondeu baixinho antes de deixar o quarto.
Com um pequeno suspiro de alívio, Alisa lançou um olhar para Masachika. Ele também havia voltado o olhar para ela, esboçando um sorriso um tanto sem jeito.
— Desculpa por isso...
— Ah, uhm... Não foi nada...
Enquanto Alisa hesitava em suas palavras, Masachika se levantou da cadeira e caminhou até ela, em silêncio.
— Obrigado por hoje. Foi graças a você, Alya, que finalmente tive coragem de vir até aqui. De verdade, do fundo do meu coração, eu agradeço — disse ele, segurando suas mãos e olhando diretamente em seus olhos com sinceridade.
— ! Eu não... realmente não fiz nada...
De fato, ela não havia feito nada. Na verdade, só tinha agido de forma egoísta, seguindo seus próprios desejos. Quando foi a última vez que fez algo puramente por Masachika, sem segundas intenções?
Mesmo depois de ter dito que seria eu quem o apoiaria...
Enquanto Alisa baixava o olhar, consumida pelo auto-desprezo, Masachika balançou a cabeça suavemente.
— Você já fez mais do que o suficiente por mim. Graças a você, sinto que finalmente posso voltar para o caminho certo.
— O caminho... Certo?
Masachika não respondeu diretamente à pergunta. Em vez disso, apenas sorriu levemente e curvou a cabeça.
— Obrigado, de verdade. Agora vou ficar bem. Vou encarar tudo como deve ser… Então, Alya, por favor, volte para sua família. Eles devem estar preocupados.
Compreendendo o que Masachika estava querendo dizer, Alisa hesitou por um momento antes de assentir lentamente.
— Entendi. Então... Eu vou pra casa agora.
— É. Desculpa por ter te arrastado pros meus problemas. Da próxima vez, vou te agradecer de forma apropriada... E te explicar tudo.
— Entendo. Certo, então estarei esperando ansiosamente — disse Alisa, enquanto Masachika levantava a cabeça e lhe dava um leve sorriso.
— Natsu-san, poderia levá-la até em casa? — ele pediu, virando-se para Natsu.
— Claro. Vou pedir para trazerem o carro.
— Muito obrigado.
— Perdão pelo incômodo — disse Alisa, agradecendo também.
— De forma alguma. Desculpe por não termos sido mais hospitaleiros… Por favor, venha nos visitar novamente. Faremos questão de recebê-la como deve ser.
— Ah, sim… Muito obrigada.
— Eu que agradeço. Por aqui, por favor — disse Natsu, fazendo um gesto para acompanhá-la para fora do quarto de Yuki.
Enquanto se dirigiam à entrada, Alisa cruzou olhares com Yumi, que caminhava pelo corredor na direção delas.
— Ah, você veio com… Masachika-san?
— Sim, sou Alisa Mikhailovna Kujou, colega de classe e parceira do Masachika nas eleições do conselho estudantil. Me desculpe por estar incomodando tão tarde da noite.
— Oh… Já está indo embora?
— Sim.
— Entendo… Vá com cuidado.
— Muito obrigada. Então, com licença.
Trocaram apenas essas poucas palavras antes de se distanciarem. Quando Yumi retornou ao quarto de Yuki, Alisa olhou por cima do ombro, inclinando a cabeça, intrigada.
Ela parece tão tímida... Não parece ser alguém que procuraria conflito. Então por que o Masachika age daquele jeito com ela?
Ela não compreendia aquilo. Mas tinha certeza de que, um dia, Masachika lhe contaria tudo.
— Удачи.
(...Boa sorte)
Sussurrando essas palavras ao parceiro que ficava para trás, Alisa voltou o olhar para frente e deixou a mansão Suou.
⋆⋅☆⋅⋆
Yumi entrou após bater à porta. Mesmo diante da própria mãe — alguém com quem provavelmente se dava ainda pior do que com Gensei —, Masachika conseguiu manter a calma enquanto esperava, levantando-se tranquilamente e puxando uma cadeira para ela.
Yumi também parecia ter tomado uma decisão. Parou a poucos passos dele e começou a falar lentamente.
— Faz tempo, não é, Masachika-san?
— Também acho, mãe.
Ao ouvi-lo chamá-la casualmente de "mãe", Yumi abaixou o olhar, visivelmente desconfortável. Mesmo que ela voltasse a desviar os olhos dele, Masachika, agora surpreendentemente sereno, a observava sem perder a compostura.
— Yuki está dormindo. Mas ela acordou um pouco mais cedo — disse ele, fazendo um gesto para que ela se sentasse. Em seguida, olhou para Ayano. — Desculpe, Ayano, poderia preparar algo para bebermos?
— Ah… Claro. Chá serve?
— Não, se possível, algo como chá de cevada numa jarra seria melhor.
— Entendido. Por favor, aguardem um momento.
Ayano fez uma reverência e saiu do quarto. Masachika voltou a atenção para Yumi, que olhava para Yuki com cuidado.
…Ela parece mais abatida que o normal.
Vendo sua mãe de perto pela primeira vez em anos, Masachika notou que sua expressão estava bem mais sombria do que se lembrava. Ela sempre fora uma pessoa reservada e silenciosa, mas agora parecia envolta em uma melancolia incomum. Ainda assim, o olhar que lançava a Yuki era cheio de preocupação genuína. Isso não havia mudado.
Ou será que… não é só isso?
Não, não era só isso. O carinho de Yumi por Yuki provavelmente nunca havia mudado — assim como ela provavelmente ainda amava Kyotarou. A figura gentil de sua mãe, que Masachika admirava no passado, não era uma ilusão. Na verdade, a Yumi que gritara com ele naquele dia é que…
"Chega disso já!"
……
As lembranças daquele momento voltaram de repente, e Masachika fechou os olhos por um instante, tentando se recompor.
Fique calmo. Não pense só nos momentos ruins. Houve mais do que isso, não houve?
Está tudo bem agora.
Masachika agora conseguia olhar para sua infância com uma perspectiva mais justa. Lembrou-se de que, depois de gritar com ele, a expressão de Yumi havia se obscurecido com arrependimento e culpa profundos. Exceto por aquele único momento, ela sempre fora uma mãe gentil para ele. Ele finalmente conseguia enxergar isso com clareza.
— Mãe….
— O que foi….?
Será que a culpa a impedia de encará-lo esse tempo todo? E, se sim, o que a fez parar de olhar para ele muito antes daquilo?
Eu preciso saber.
Para acabar com seus arrependimentos, para seguir em frente… era algo que ele não podia mais evitar.
— Eu quero conversar — declarou Masachika.
……
Diante da firmeza de suas palavras, Yumi lentamente voltou o olhar para ele. Talvez ela também soubesse que já não dava mais para fugir.
— Naquela época… Quando eu ainda morava aqui… — Começou Masachika, engolindo em seco.
Umedeceu os lábios com a língua, reunindo toda a coragem que tinha.
— Por que você parou de olhar nos meus olhos?
Os olhos de Yumi vacilaram enquanto ela desviava o olhar. Mas, após fechá-los por um instante, voltou a encará-lo. Sustentando o olhar dela, Masachika continuou.
— Naquela época, por que você… Me proibiu de tocar piano?
Diante dessa pergunta, Yumi baixou os olhos e permaneceu em silêncio por um tempo. Depois, levantou o rosto mais uma vez, fitando os olhos de Masachika.
— Acho que… Não importa o que eu diga, só vou te machucar — confessou, com a voz carregada de arrependimento e resignação. — Mas o que eu posso te dizer é que… não foi culpa sua. Nem do Kyotarou. A culpa foi toda minha — do meu egoísmo… Eu realmente acredito que fiz algo imperdoável com você.
Sua postura curvada, como a de alguém confessando seus pecados, fazia lembrar a figura de Masachika uma hora antes, quando se abrira com Alisa.
Ela está… parecendo uma criança pequena.
Por alguma razão, Masachika passou a enxergar sua mãe diante de si como uma igual. Como uma criança pequena, ferida e assustada, tremendo de medo.
— Quero ouvir. Tudo.
E por isso, agora ele conseguia escutar com calma. A imagem que tinha de sua mãe, moldada por memórias dolorosas — toda aquela carga negativa — já não existia mais. O que restava era apenas a figura gentil e tímida da mãe que Masachika conhecia tão bem.
— Quero saber o que você sentiu naquela época e por que fez o que fez. Acho que agora consigo lidar com isso.
As palavras sinceras de Masachika foram recebidas com o silêncio contínuo de Yumi, que mantinha os olhos abaixados. Nesse momento, houve uma leve batida na porta — a enésima do dia — e Ayano entrou no cômodo, carregando uma bandeja com dois copos e uma jarra de chá de cevada.
— Vamos mudar de lugar? — sugeriu Yumi em voz baixa, pegando a bandeja das mãos de Ayano. — Ayano-san, por favor, cuide da Yuki.
— Entendido, Yumi-sama.
Yumi deixou o quarto, trocando de lugar com Ayano, e Masachika a seguiu apressadamente.
— Desculpe. Estou contando com você.
— Deixe comigo, Masachika-sama.
Após confiar brevemente os cuidados de Yuki a Ayano, Masachika seguiu Yumi pelo corredor até o quarto dela. Ele foi convidado a se sentar no sofá próximo à janela, enquanto Yumi colocava a bandeja sobre a mesa baixa e pegava uma moldura no topo da cômoda. Sentando-se de frente para Masachika, ela lhe entregou a fotografia.
…?
Sem entender a intenção da mãe, Masachika olhou para a foto, inclinando levemente a cabeça diante do menino e da menina desconhecidos no retrato.
— Isto…
A primeira coisa que chamou sua atenção foi a garota, que à primeira vista parecia muito com Yuki. No entanto, os olhos ligeiramente caídos e a pinta no canto do olho direito indicavam que não era ela, mas sim Yumi em sua juventude. Ao lado dela, com um braço ao redor dos ombros, havia um garoto sorridente.
— Tio… Naotaka?
Puxando o nome das profundezas da memória, Masachika ergueu o olhar, vendo Yumi assentir silenciosamente.
— Sim. Onii-sama… Ele faleceu jovem.
Ao levantar os olhos, Masachika viu sua mãe lhe lançar um sorriso fraco e carregado de tristeza, antes de dizer.
— Seus olhos e os da Yuki-san… São iguais aos do onii-sama.
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