Volume 9
Capítulo 4: E Masachika Tomou Uma Decisão
— Papai estava certo. No fim das contas, a única coisa que alguém como eu — alguém comum — poderia alcançar era cumprir meu papel como mulher… — Seu tom já não continha tristeza ou resignação. Ela estava calma, como se apenas estivesse afirmando uma verdade universal. — Mas mesmo assim, eu queria mais do que isso. Cheguei até a me ressentir das pessoas ao meu redor… Não consegui ser uma filha bondosa, nem uma irmãzinha fofa e carinhosa.
Yumi continuou, enquanto olhava com saudade para a fotografia nas mãos de Masachika.
— Também não consegui ser uma boa esposa ou mãe… Acabei magoando muitas pessoas, inclusive você — comentou Yumi, com uma amargura que vazava em sua voz como um arrependimento antigo. Ainda assim, seu tom continuava sereno, como se ela tivesse sido forçada a aceitar e conviver com aquele arrependimento por muitos anos, preso a ela como ferrugem, corroendo lentamente.
Ela havia convivido com essa culpa esmagadora o tempo todo. Negando a si mesma repetidamente, seu desespero se solidificou em uma verdade inquestionável dentro de sua mente, a ponto de ela já não conseguir sentir emoção alguma. Atormentada constantemente, sem mais ninguém a quem pudesse pedir perdão, tudo o que lhe restava era se culpar sem fim.
Ah… Eu entendo. Entendo bem demais.
Masachika achava estranho como conseguia compreender tão profundamente o que se passava no coração de sua mãe. Tão consciente da situação de Yumi, ele sentia que não tinha o direito de culpá-la. Como poderia? Assim como Yumi não conseguia encarar seu filho brilhante, Masachika também não conseguia encarar sua irmãzinha radiante. Ambos haviam abandonado aqueles que amavam por causa de sua própria fraqueza. A única razão de seu relacionamento com Yuki não ter ruído por completo era graças aos esforços dela.
Se ao menos…
Se ao menos Masachika não tivesse desistido de ser filho de Yumi, da mesma forma que Yuki não desistiu de ser irmã dele. Mesmo que Yumi continuasse presa em seu complexo de inferioridade, se ele tivesse insistido em alcançá-la, dizendo o quanto a amava… O que teria acontecido?
É óbvio, né?
Yuki ainda conseguia manter um relacionamento amoroso de mãe e filha com Yumi. Mas Masachika não fez isso. Ele nem ao menos tentou. Emocionalmente falando, tudo o que ele havia feito foi responder à rejeição inicial de sua mãe com uma ainda mais forte. Nem sequer tentou entender o que havia motivado aquela rejeição.
Se ao menos, naquela época, quando Yumi o afastou, ele tivesse um pouco mais de fé nela — naquela mãe gentil que ele sempre conhecera…
— Me desculpe por ter sido uma mãe horrível.
Ao menos, ele não teria que ouvir algo tão doloroso assim.
— Gh…
Seu peito tremia, sua garganta se fechava e, antes que percebesse, lágrimas escorriam por seu rosto. Ele sequer conseguia explicar o motivo. Seria porque sentia pena do passado da mãe? Ou porque as implicações das palavras dela doíam demais? Ou, ainda, por se arrepender de tê-la levado a dizer algo assim? Não… Era por tudo isso ao mesmo tempo, com certeza.
Não!
Ele rejeitou com fervor as palavras da mãe dentro de sua mente. Apesar de todo o ressentimento que já sentira por ela, Masachika repudiava com força aquelas palavras de auto-negação e desculpas.
Não! Você sempre foi gentil, mãe! Não diga isso de si mesma!!
Memórias dos dias antes de sua mãe evitar seu olhar agora voltavam com força. Tudo o que conseguia lembrar era da imagem vívida daquela mãe que sempre olhava com tanto carinho para ele e sua irmã.
— Guh… hic…
Ele queria negar aquilo. Queria refutar imediatamente as palavras da mãe, mas seus pulmões e sua garganta se recusavam a obedecer. Cerrando os dentes, Masachika apenas conseguia soltar soluços abafados, enquanto sua mãe, confusa, continuava se desculpando.
— Masachika-san? Me desculpe. Me desculpa, de verdade…
Sem saber da torrente de arrependimento que inundava Masachika, Yumi se culpava por suas lágrimas… E isso também era algo que ele compreendia bem demais.
Ah… O vovô estava certo.
Tomohisa, seu avô paterno, certa vez lhe disse que ele e Yumi eram parecidos. Agora, ele entendia o que aquilo queria dizer. De fato, eram semelhantes. Ambos eram suscetíveis e atormentados por sentimentos de inferioridade em relação às pessoas que amavam. Ambos tinham tendência a desviar o olhar de quem brilhava intensamente, acabando por negar a si mesmos. Tudo o que Yumi dissera, Masachika também já havia vivido.
Mas é diferente. Nós não somos iguais.
Masachika tinha talento. Por isso, as pessoas ao seu redor sempre esperavam muito dele, e ele ainda tinha a sorte de contar com um pai gentil e uma irmã carinhosa, em quem podia confiar incondicionalmente. Mas Yumi era diferente.
Ela não tinha talento. Por isso, era desprezada por quem a cercava. Perdeu sua mãe gentil e seu irmão mais velho, ambos tão confiáveis, um após o outro. Praticamente perdeu sua família. E em seu lugar, os que restaram ao seu redor só pensavam em explorar a fortuna da família Suou, tomados por uma ganância evidente. E mesmo assim, Yumi nunca fugiu.
Eu fugi… Escolhi abandonar tudo para escapar da dor. Para me proteger.
Por outro lado, Yumi, mesmo diante de sucessivas desgraças e sofrimentos, nunca fugiu. Nunca desistiu e continuou tentando fazer o melhor que podia, mesmo que isso a consumisse por completo. E mesmo assim, nunca foi recompensada. Pelo contrário — tudo só a desgastava ainda mais, até que restou apenas uma casca da mulher que fora um dia.
Não é a mesma coisa. Nem de longe…
Quantas pessoas realmente compreenderam o sofrimento de Yumi e a acolheram? Até Kyotarou havia dito que não conseguia apoiá-la. E talvez fosse verdade. Não se pode entender alguém de verdade sem ter caminhado nos seus sapatos. Quem é capaz não entende o sofrimento de quem não é. Os fortes jamais compreendem a dor dos fracos. Sendo assim… Yumi não esteve sempre sozinha?
Por isso… Eu também não consigo entender totalmente o que a mamãe passou.
Masachika era um dos que podiam.
Mas ainda assim, justamente por conseguir, mesmo que só um pouco, se identificar com os sentimentos de Yumi, ele acreditava que deveria haver algo que pudesse dizer. Assim como Alisa havia feito por ele, quando ele se afundou em arrependimentos, negando o sentido de sua própria existência.
Masachika respirou fundo, tentando recuperar o controle dos pulmões e da garganta. Limpou as lágrimas e assoou o nariz com o lenço que Yumi lhe ofereceu. Depois de tomar um gole de chá de cevada, sentiu a mente um pouco mais clara.
…
Ele ergueu os olhos e ficou olhando para o teto, tentando organizar seus pensamentos. Após um breve momento, começou a falar lentamente, ainda sem desviar o olhar do alto.
— Eu também… Sempre me arrependi de ter saído desta casa.
Sentiu o olhar de Yumi se fixar nele, mas continuou sem encará-la diretamente.
— Saí de casa impulsivamente, levado pelas emoções, e deixei todas as responsabilidades nas costas da Yuki, que sempre foi tão frágil… E então, sem propósito algum, vivi dia após dia sem rumo. Eu estava perdido. No fundo, sempre achei que não valia nada — confessou. Ele ainda sentia isso. Mesmo agora, ao olhar para trás, só conseguia ver o quanto sua vida havia sido vergonhosa.
— Sou quem sou hoje porque sacrifiquei a Yuki. E por causa disso, não conseguia me orgulhar de nada do que fiz… Eu simplesmente não conseguia me aceitar. Mas quando contei isso para a Alya — minha parceira na campanha eleitoral…
Abaixando o olhar, Masachika encarou diretamente os olhos de Yumi e esboçou um leve sorriso.
— Ela ficou brava comigo. Disse pra eu não me negar… Pra eu não rejeitar o fato de tê-la conhecido.
Os olhos de Yumi se arregalaram diante daquela confissão. Quando foi a última vez que Masachika olhou nos olhos da mãe assim, de forma tão direta? Com esse pensamento, ele prosseguiu.
— Vivi uma vida preguiçosa e vazia, de verdade. Mas também conheci muitas pessoas por causa disso, e percebi que não posso simplesmente desprezar isso — explicou Masachika. Pausou por um instante e, com um tom de determinação, perguntou.
— Não é o mesmo com você, mãe?
Os olhos de Yumi vacilaram, mas dessa vez, ela não desviou o olhar.
— É verdade que você não conseguiu se tornar uma diplomata… — comentou Masachika. — Mas conheceu o papai justamente porque se esforçou tanto pra isso, não foi?
Em seguida, voltou a olhar para o teto, refletindo sobre seus próprios sentimentos, e falou devagar.
— Passei por muita coisa… Mas gosto de pensar que estou feliz agora. E acredito que é porque conheci pessoas incríveis.
Maa-chan, seu primeiro amor, a quem conheceu ao sair de casa. Sua amada irmã, Yuki, que lhe mostrou tantos lados diferentes. Seus dois melhores amigos da Academia Seirei, Takeshi e Hikaru. Os senpais e kouhais que conheceu no conselho estudantil durante o fundamental, e os senpais confiáveis com quem passou a contar no conselho do ensino médio, entre tantos outros. E, claro, sua preciosa parceira, Alisa.
Graças a todos eles, conseguiu viver seus dias com risos, de um jeito ou de outro. Mesmo levando uma vida preguiçosa, hedonista e vergonhosa. Droga, eles tornaram tudo divertido.
— Então, por favor, não peça mais desculpas. Eu fui quem entendeu tudo errado esse tempo todo. Me desculpa. Obrigado por ser minha mãe… Foi por causa disso que vivi tantas coisas incríveis — assegurou Masachika com a voz calma, mantendo o olhar firme nos olhos de Yumi e sorrindo de leve.
⋆⋅☆⋅⋆
— !
— Ah… foi mal.
Masachika ficou paralisado por um instante ao sair do quarto de Yumi, seus olhos encontrando os de Kyotarou, que o esperava no corredor. Rapidamente, ele se recompôs, fechou a porta atrás de si e, apesar de um certo constrangimento, falou num tom direto.
— Você veio.
— Sim, a Natsu-san me ligou.
— Entendi…
Agora que pensava nisso, fazia sentido. Ele mesmo não havia entrado em contato com ninguém de casa. Era natural que alguém ligasse para seu pai, e igualmente natural que Kyotarou viesse buscá-lo.
— Desculpa por te preocupar — disse Masachika, curvando a cabeça. Kyotarou respondeu com seu sorriso gentil de sempre.
— Está tudo bem. Acho que era algo que você precisava fazer, né, Masachika?
Diante da confiança e compreensão plena que seu pai lhe oferecia, Masachika sentiu-se um pouco desconfortável. Percebendo isso, Kyotarou apenas deu de ombros.
— Mas já tá meio tarde... Eu estava pensando em passar a noite aqui. Tudo bem pra você?
— Hã? Ah…
Quanto tempo a gente conversou? Masachika olhou o celular para ver as horas — já passava das dez da noite. Dizer que estava tarde demais para voltar talvez fosse forçado… Em parte. Se fosse umas horas antes, talvez ele insistisse em ir embora. Mas…
— Tá, tudo bem.
Depois de lançar um breve olhar à porta atrás de si, Masachika assentiu levemente para o pai. Kyotarou, entendendo a resposta do filho, também assentiu, abrindo um sorriso gentil e apontando com o olhar para a escada.
— De qualquer forma, seu quarto ainda está vago. Pode dormir lá. Eu farei o mesmo.
— Ah, ok… Vou fazer isso então.
— Certo, até daqui a pouco.
— Entendido — respondeu Masachika, entendendo que conversariam mais tarde.
Ao ouvir Kyotarou bater na porta de Yumi atrás dele, desceu as escadas sem olhar para trás, e acabou esbarrando com Natsu no andar de baixo.
— Ah, Masachika-sama.
— Natsu-san.
— Terminou sua conversa? — ela perguntou.
— Sim, mais ou menos.
— Entendo. Então, vou te acompanhar até o quarto.
Apesar de conhecer bem a casa por já ter morado ali, Masachika preferiu não dizer nada e seguiu Natsu em silêncio.
— Não precisa se preocupar com Yuki-sama. Ayano e eu cuidaremos bem dela — tranquilizou Natsu.
— Muito obrigado. Agradeço de verdade.
— Ora, não há de quê. É meu dever como criada, afinal.
Chegaram ao quarto exatamente quando a conversa terminou, e Natsu fez um gesto para que Masachika entrasse. Já fazia alguns anos desde a última vez que estivera ali, mas o ambiente estava exatamente como se lembrava — mantido com perfeição no mesmo estado de antes.
— Fique à vontade. O banho está pronto, e a troca de roupas que Kyotarou-sama trouxe para você está ali — disse ela, apontando para as roupas sobre a cama.
— Ah, obrigado…
— Não há de quê. Por favor, não se preocupe. Com licença — disse Natsu, saindo do quarto.
Agora sozinho, Masachika olhou ao redor mais uma vez.
……
O papel de parede e os móveis exibiam tons suaves. Os livros nas estantes eram materiais de estudo, em vez de mangás ou livros ilustrados. Era um quarto sem qualquer traço lúdico, sem a menor essência infantil. Na verdade, seu quarto atual parecia até mais infantil em comparação.
— O que eles estavam pensando, deixando tudo assim…
Com esse visual, o quarto poderia facilmente ter sido transformado em um quarto de hóspedes. Ainda assim, o banquinho em frente à estante — ainda cheia de livros didáticos do ensino fundamental e do ensino médio — sugeria o contrário.
— Será que pensaram que a Yuki teria filhos algum dia? — murmurou Masachika.
Era uma suposição que nem ele acreditava de verdade. Sentando-se na cama, parte dele queria apenas se jogar e dormir ali mesmo, mas algo em sua mente o impedia de relaxar completamente. Já não sentia mais que aquele era seu quarto.
Mas… isso tudo aconteceu tão do nada.
Ele foi à festa de aniversário da Alisa, conheceu os pais dela, revelou seu passado inesperadamente, visitou a mansão Suou… E, depois disso, conversou com sua mãe pela primeira vez em anos. E agora, estava dormindo ali.
— Se eu contasse isso pra mim mesmo hoje de manhã… nem eu acreditaria.
Mesmo agora, tudo ainda parecia um pouco irreal. Sua cabeça latejava com uma leve sensação de calor, e seu corpo inteiro parecia estranho, como se estivesse flutuando. Não sabia dizer se era cansaço por ter chorado ou se seu cérebro estava sobrecarregado com os acontecimentos do dia.
— Já se passaram algumas horas… Então não é de se estranhar — Rendendo-se ao cansaço acumulado, Masachika caiu de costas sobre a cama.
Apesar de parecer um relicário congelado da infância, era evidente que o quarto era limpo regularmente — não havia nem uma partícula de poeira no ar. O edredom macio e o colchão firme ofereciam um conforto perfeito para seu corpo.
……
Os lençóis estavam frescos, e a sensação deles roçando seu pescoço era estranhamente reconfortante. Imerso nessa sensação, ele olhou para o teto tão familiar de sua infância.
— Eu realmente… voltei, né?
O cheiro familiar. O cenário familiar. O toque familiar. Sentindo tudo isso percorrer seu corpo, a realidade da situação começou a se consolidar em sua mente.
Não pôde deixar de pensar em como o dia havia mudado completamente em apenas algumas horas.
Mas…
Nunca foi o tempo ou o esforço que o impediram de se redimir. Ele só precisava reunir coragem para dar o primeiro passo. Mesmo que Masachika tivesse achado que jamais conseguiria consertar sua relação com a mãe, tudo o que teve que fazer foi tentar. E no fim, bastou menos de meio dia para reconstruí-la — quase por completo.
— Não… Dizer que está "resolvido" talvez seja forçar um pouco a barra.
Nem mesmo Masachika havia superado totalmente o ressentimento que sentia por Yumi. Suas palavras de perdão — a gratidão que expressara mais cedo — não eram mentiras… Ou pelo menos, ele achava que não eram. Mas, só porque ele havia tomado a decisão consciente de perdoar sua mãe, não significava que seu coração fosse acompanhá-lo instantaneamente. As impressões negativas que tinha dela haviam se acumulado em várias camadas sólidas ao longo do tempo, e não podiam ser simplesmente raspadas.
Da mesma forma, Yumi provavelmente também levaria tempo até sentir algo diferente de culpa esmagadora ao olhar para ele. Na verdade, ela provavelmente não era o tipo de pessoa que conseguia agir normalmente só porque alguém disse que ela não precisava mais se desculpar. Pelo contrário, era do tipo que pensaria: "Como eu pude tratar meu filho assim?" Porque, no fim das contas, Masachika não era diferente.
Acho que vou deixar isso pro papai…
Pensando que seus pais provavelmente estavam conversando naquele momento, Masachika fechou os olhos.
⋆⋅☆⋅⋆
— Entendo… Então foi isso que Masachika fez… — disse Kyotarou, assentindo lentamente após Yumi resumir a conversa que teve com o filho. Sentada à sua frente, Yumi mantinha a cabeça baixa, falando em um tom autodepreciativo.
— Ele é mesmo gentil e sábio… É graças a você, Kyotarou-san. Você realmente o criou bem, ao que parece…
— Haha, não sei não… Você me conhece, não é? Sabe como eu sempre tive uma abordagem mais laissez-faire com a paternidade — disse Kyotarou, rindo de forma leve, em contraste com o tom sombrio de Yumi.
— Pra mim, o papel de um pai é apenas observar o filho e apoiá-lo. A única obrigação real de um pai é assumir responsabilidade quando causa problemas. Pelo menos, esse é o tipo de pessoa que eu sou. O Masachika ter se tornado uma boa pessoa é mérito só dele. E das pessoas que ele conheceu pelo caminho…
— É… é mesmo? Não, talvez você tenha razão… A Yuki-san também é assim…
Cortando suas palavras ali, Yumi levantou a cabeça e olhou pela janela.
— Sério… Por que eu não consegui simplesmente acreditar na mamãe… — sussurrou ela, olhando para o passado distante, repleto de arrependimento.
— Fui abençoada com filhos tão maravilhosos… Bastava me orgulhar de ser mãe deles e celebrar seu crescimento — isso era tudo que eu precisava, então por quê…
E com isso, ela se calou.
— Mesmo assim, ainda não é tarde demais — declarou Kyotarou.
Ele falou com clareza, com convicção, para a ainda silenciosa Yumi.
— Será mesmo?
— Sim, é. Afinal, o Masachika já te perdoou. Além disso, está bem claro que a Yuki te ama muito, não é?
— Mas…
Yumi hesitou, lançando um olhar ao rosto de Kyotarou. Percebendo exatamente o que ela queria dizer, Kyotarou sorriu de forma gentil.
— Nunca senti rancor de você, Yumi-san — tranquilizou-a.
Então, segurando a mão dela que repousava sobre o colo, ele a olhou nos olhos e continuou.
— Aliás, você sempre fala de mim como se eu fosse uma pessoa incrível, Yumi-san… Mas isso não é verdade. Eu era só um cara que era um pouco melhor nos estudos do que a maioria — e só. Eu só me esforcei pra me tornar um homem digno de você… Só isso.
— Digno de mim? Como assim… Minha família pode até ser famosa, mas eu nunca fui nada de especial… — respondeu Yumi, de forma autodepreciativa.
— Haha, só você pensava assim, Yumi-san. Naquela época, todos os garotos da escola queriam se aproximar de você.
— Isso era só porque eu era a única herdeira da família Suou…
— Havia apenas um punhado de garotos que pensavam assim. Você só não percebia, Yumi-san, mas para a maioria de nós, você era como uma flor inacessível, inalcançável.
Pelo menos, era assim para Kyotarou. Ele conheceu uma garota na sala de música, chorando enquanto tocava piano, e ficou imediatamente encantado à primeira vista. Mas, após perguntar sobre ela, logo descobriu que ela estava completamente fora de seu alcance.
Ela era filha da família Suou — uma família conhecida por seu prestígio imenso. Possuía uma postura graciosa e refinada, condizente com seu nome, e sua elegância cultivada era evidente em tudo o que fazia. Suas formas femininas e beleza melancólica eram irresistivelmente cativantes, despertando sentimentos intensos de proteção e possessividade nos muitos garotos que a viam. E entre todos eles, Kyotarou era, de longe, o que menos tinha a oferecer.
— Eu era só um sujeito comum de uma família de classe média. Não tinha nada além de boas notas… Sem status, sem dinheiro, não era exatamente bonito, e nem sequer era atlético. Não tinha nenhum talento especial para me orgulhar; estava muito longe de ser um par adequado para você, Yumi-san. Foi por isso que me tornei diplomata — pra tentar me tornar um homem digno de você…
Na verdade, ele até havia sonhado em entrar para o Raikokai, como Gensei fez, mas esse objetivo nunca foi alcançado. Por isso, tornar-se diplomata foi o mínimo que pôde fazer para estar ao lado de Yumi.
— Por isso, Yumi-san, você não precisa se sentir culpada por nada. Porque tudo que eu fiz, foi pra me casar com você — garantiu ele.
— K-Kyotarou-san…
Os olhos de Yumi se arregalaram e ela ficou paralisada. À sua frente, Kyotarou ajoelhou-se. Então, sob a luz do luar, olhou diretamente para Yumi e falou.
— Yumi-san, eu—
⋆⋅☆⋅⋆
Toque, toque, toque
— !
Assustado com o som das batidas na porta, Masachika abriu os olhos, percebendo que havia adormecido sem querer. Sentindo uma vergonha difícil de descrever por ter cochilado daquele jeito, ele se sentou rapidamente.
— Quem é?
— Tô entrando.
Com essas palavras, Kyotarou entrou no quarto. Ele olhou para Masachika, que estava sentado de maneira desconfortável à beira da cama, e então voltou o olhar para os lençóis bagunçados, deixando claro que alguém havia dormido ali. Sem comentar nada sobre isso, Kyotarou sentou-se na cadeira ao lado da escrivaninha.
— A Yumi-san me contou tudo. Obrigado por ter perdoado ela.
— Não foi nada — respondeu Masachika de forma seca, pensando por um instante antes de continuar.
— Quer dizer… depois de conversar com ela, eu percebi que… A mãe é meio parecida comigo? Uma pessoa comum, ou algo assim. Eu sei que soa estranho, mas…
Ele olhou para o teto, recordando os dias que passara naquela casa, e estreitou os olhos.
— As pessoas realmente conseguem se entender se simplesmente conversarem, não importa quem sejam… Eu devia saber disso.
Era um princípio que Gensei lhe ensinara com o objetivo de um dia se tornar diplomata. Então por que pensou que isso não se aplicava à própria mãe?
Não… Acho que, desde o início, eu só não queria me reconciliar, e descartei qualquer possibilidade de diálogo.
Mas pensando desse jeito… E o Gensei? Seguindo essa lógica, mesmo com o avô — que, ao menos na visão de Masachika, parecia o tipo racional e teimoso — talvez ainda houvesse espaço para uma conversa apropriada.
Mas só ter a chance de conversar não é suficiente…
Afinal, Masachika não pensava apenas em ter uma simples conversa. Ele queria negociar com Gensei, queria que ele cedesse em algumas coisas.
— Pai.
— Hm?
— Que tipo de pessoa… o vovô é pra você? — perguntou Masachika. Apesar da pergunta repentina, Kyotarou não pediu que ele explicasse melhor.
— Um homem de convicções, eu diria — respondeu com clareza após uma breve pausa. E então continuou devagar, como se confirmasse cada palavra. — Para seu avô, a prosperidade e continuidade desta família são o mais importante… Acima de tudo. Ele caminha por esse caminho com total determinação, e vê isso como sua única missão.
Aquela explicação fazia sentido para Masachika — ou melhor, combinava com a impressão que ele já tinha do avô. Ainda assim, para Masachika, havia uma forma menos lisonjeira de descrever Gensei.
Um racionalista frio que prioriza a manutenção de suas convicções acima de qualquer outra coisa—
— Não me entenda mal… Seu avô não é totalmente desprovido de amor pela família, sabia? Ele só pensa na gente do jeito dele. Caso contrário, não teria deixado a Yuki vir tanto ao nosso apartamento, não acha? — disse Kyotarou, franzindo as sobrancelhas, como se tivesse lido os pensamentos do filho.
……
Masachika já havia pensado nisso também. Mesmo que Gensei tivesse proibido Masachika de se declarar irmão de Yuki em público, ele ignorava completamente o fato de Yuki agir como se fosse sua irmã. Aquilo, por si só, já era uma tolerância incomum — ao menos para alguém como Gensei.
Mas…
Será que aquilo não era só uma espécie de estratégia de "cenoura e vara" para manter a Yuki motivada? Masachika considerou essa ideia cínica de forma instintiva, mas a descartou rapidamente. Afinal, era seu pai quem estava dizendo aquilo, então achou que, no mínimo, deveria deixar de lado seus preconceitos e confiar no julgamento dele por ora.
— Mas, tipo… No fim das contas, pra ele, o futuro da família não vem sempre em primeiro lugar?
— É, isso é verdade. Não dá pra negar.
— Entendi.
Masachika assentiu com a afirmação de Kyotarou, mas não se sentiu desapontado — muito pelo contrário. Para o Masachika de agora, era até conveniente que as prioridades de Gensei estivessem voltadas para isso.
— Pai.
— Hm?
— Eu—
Masachika se preparou, transmitindo ao pai suas intenções: o que planejava fazer a partir de agora e o que queria conquistar. Ele detalhou uma decisão crucial que influenciaria profundamente o rumo de sua vida. Naturalmente, Kyotarou escutou atentamente até o fim.
— O que acha?
Depois de explicar seu plano, Masachika observou ansiosamente o rosto do pai, tomado por incerteza e apreensão. E, em resposta…
— É, parece bom pra mim. Não se preocupe com esse seu velho pai aqui — apenas siga o que você acredita ser o melhor.
Ele assentiu com seu sorriso gentil de sempre.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios