Volume 9

Capítulo 5: E Então o Ato se Tornou Realidade

Na manhã seguinte. Uma estranha tensão pairava sobre a sala de jantar da distinta mansão Suou. Sentados à extremidade da longa mesa estavam o chefe da família, Gensei Suou; sua filha, Yumi; seu ex-marido, Kyotarou; e o filho deles, Masachika, que há anos estava praticamente afastado da família. Para qualquer um que tivesse alguma noção da complicada história entre eles, aquele grupo peculiar certamente chamaria atenção. No entanto, apesar de já terem se passado cerca de dez minutos desde o início do café da manhã, tudo permanecia surpreendentemente calmo, sem sinais de tumulto — apenas trocas pacíficas de palavras.

A propósito, a reunião do mês passado transcorreu bem graças aos seus conselhos, Gensei-san. Agradeço muito — disse Kyotarou.

Entendo. O Grader estava como de costume? — respondeu Gensei.

Sim. Na verdade, ele está ainda mais enérgico desde que o neto dele nasceu.

Ainda assim, os únicos realmente engajados na conversa eram Kyotarou e Gensei, enquanto Masachika e Yumi comiam em silêncio. Natsu e Ayano, que serviam os quatro, mantinham-se reservados, cumprindo diligentemente suas funções.

Masachika-sama, gostaria de mais uma fatia de pão? — perguntou Ayano.

Não, estou satisfeito. Obrigado.

Compreendo.

A pergunta foi feita de maneira discreta e sutil, claramente tentando não interromper a conversa. Cada movimento dela era suave, eficiente e quase imperceptível. Ao vê-la agir com tamanha perfeição, Masachika achou difícil acreditar que ela havia passado toda a noite anterior revezando com Natsu para cuidar de Yuki. Com apenas quinze anos, as habilidades de Ayano como criada já haviam atingido um nível impressionante.

Mas...

♡!

Cada vez que falava com Masachika, Ayano tremia visivelmente.

Controle-se, Ayano... Está deixando sua empolgação transparecer toda.

Apesar de manter a expressão impassível de sempre, Masachika percebia claramente que ela transbordava de satisfação e alegria. Sua atitude praticamente gritava: "Não acredito que estou servindo Masachika-sama agora...!"

Ele podia sentir o brilho dela ao fundo, perdida naquela sensação de felicidade, com o olhar vagando. Para Ayano, servir Masachika da melhor forma possível era muito mais importante do que o fato de Gensei e Masachika estarem sentados à mesma mesa depois de tantos anos.

Bom, ainda bem que ela treinou essa compostura inabalável. Acho que está na hora de promovê-la de 5M para 6M, adicionando a habilidade de "manter seu próprio ritmo".

(N/SLAG: 5M refere-se a: Mukuchi (無口): Pessoa silenciosa, que fala muito pouco. Muhyujou (無表情): Pessoa com expressão vazia, raramente demonstra emoção. Muon (無音): Pessoa que fala de forma muito suave. Masochist (M): Alguém que sente prazer com humilhação ou dor. Maid: Referência a uma empregada doméstica, geralmente associada a um estilo específico de roupa e comportamento. Masachika sugere adicionar Mai Pēsu (マイペース), que significa "no meu próprio ritmo", descrevendo alguém que completa tarefas de maneira eficiente, sem se deixar influenciar por pressões externas.)

Enquanto pensava nisso, embora brevemente, Masachika acabou sorrindo de maneira marota, mas rapidamente endireitou-se.

Opa, relaxei demais. Mas, já que ninguém percebeu, tudo bem, né?

Lançando um olhar para Gensei e Kyotarou, que ainda conversavam, Masachika deu um leve encolher de ombros.

Masachika-san. Está tudo bem? — Yumi falou de repente.

Pegando Masachika desprevenido, ele arregalou os olhos e virou-se para ela. Não era o único; tanto Gensei quanto Kyotarou também interromperam a conversa por um instante. Embora tenham retomado logo em seguida, como se nada tivesse acontecido, era óbvio que as palavras de Yumi os haviam surpreendido.

Mas Masachika estava tão atordoado que nem reparou. Ficou ali, encarando Yumi intensamente, inclinando levemente a cabeça.

Hã, como assim?

É que parecia que você estava sorrindo um pouco...

As palavras dela deixaram Masachika em silêncio. Era visível que Yumi ainda hesitava em falar com ele, desviando o olhar enquanto tentava fazer contato visual. Pegando-o completamente desprevenido, Masachika só conseguiu responder com honestidade.

Não... É que achei engraçado ver a Ayano toda animada...

!?

Ele imediatamente sentiu Ayano se endireitar atrás de si, enquanto Yumi voltava seu olhar para a criada.

Ayano-san? É verdade?

S-Sim. Fiquei tão feliz por poder servir Masachika-sama novamente que... Talvez tenha deixado transparecer um pouco. Peço desculpas.

Não, não precisa se desculpar, mas... — Yumi hesitou, visivelmente sem jeito, enquanto Ayano abaixava a cabeça com seriedade.

Nesse momento, Natsu interveio com um comentário bem-humorado.

Ayano? Ser sincera é ótimo, mas acho que, em vez de pedir desculpas, seria mais apropriado ficar um pouco envergonhada, não acha?

Envergonhada... É mesmo?

Seguindo o conselho meio brincalhão de Natsu, Ayano colocou as mãos nas bochechas sem mudar a expressão. Depois de pensar um instante, ela fez uma pose tímida.

Po.

Você é a Hachishakusama agora, é? — comentou Masachika.

(N/SLAG: Hachishakusama (八尺様), que literalmente significa "oito pés", é uma yokai feminina, de aparência assustadora, com 8 pés de altura, que repete constantemente "Po" (ぽ), que é o que Ayano diz aqui.)

Hachishakusama? O que é isso?

Deixa pra lá.

??

Ayano, ainda com as mãos no rosto, fez uma expressão confusa, arrancando uma risada de Kyotarou.

Vocês dois se dão muito bem, não é?

Quer dizer, somos amigos de infância — respondeu Masachika.

Assim que falou, ele imediatamente lançou um olhar para Gensei, tentando captar sua reação. Surpreendentemente, Gensei não demonstrou desagrado algum, continuando a comer em silêncio. Aliviado por sua brincadeira não ter estragado o clima, Masachika voltou a esperar o momento certo para falar com ele.

Quando o café foi servido após a refeição, Masachika decidiu agir. O mais importante agora era ter consciência da sua posição — ou da falta dela — dentro da família. No momento, Masachika não estava ali como neto de Gensei, mas sim como amigo escolar de Yuki. Com isso em mente, escolheu cuidadosamente suas próximas palavras.

Gensei-san.

Ao ser chamado, o ambiente mudou levemente. Yumi e Natsu franziram a testa, trocando olhares, ao ouvir Masachika tratar o próprio avô apenas pelo nome. Kyotarou, porém, manteve sua expressão calma de sempre, e Gensei tampouco demonstrou alteração, apenas virou-se para Masachika.

O que foi?

Me desculpe o pedido repentino, mas... Será que poderia me conceder cerca de trinta minutos depois disso?

Muito bem.

Gensei assentiu e levantou-se sem sequer tocar o café recém-trazido.

Vamos mudar de lugar. Traga o café para o meu escritório — ordenou a Natsu.

Entendido.

Enquanto Natsu pegava a bandeja, Gensei lançou um olhar afiado para Masachika.

Siga-me.

Sem esperar resposta, virou-se e saiu caminhando. Masachika levantou-se rapidamente, tentando não parecer apressado ou rude. Ao passar atrás de Kyotarou, sentiu um leve toque em suas costas.

!

Ao olhar para baixo, viu seu pai acenando com seu sorriso gentil de sempre. Recebendo aquele silencioso incentivo, Masachika respondeu com um aceno firme e seguiu Gensei para fora da sala.

Céus, eu devia ter segurado a porta para o Natsu-san…

Só ao ouvir o leve som da bandeja sendo carregada atrás de si é que Masachika percebeu essa pequena falha de etiqueta.

Bom, pelo menos o fato de eu ter notado mostra que ainda mantenho alguma compostura.

Analisando a si mesmo com aquela estranha sensação de distanciamento, Masachika seguiu Gensei até seu escritório. Desta vez, ele fez questão de segurar a porta aberta atrás de si para ajudar Natsu a entrar.

Muito obrigada, Masachika-sama.

De nada.

Com licença.

Fazendo uma reverência final na entrada, Natsu colocou as duas xícaras de café sobre a escrivaninha de Gensei, enquanto ele se posicionava do outro lado da mesa.

Vou deixá-las aqui.

Sim, obrigado pelo trabalho.

— É um prazer.

Recebendo a breve expressão de gratidão de Gensei pelas costas, Natsu saiu da sala levando a bandeja vazia. Após alguns poucos segundos, Gensei se virou lentamente para encarar Masachika.

Então, o que você deseja? — perguntou, com os olhos irradiando um brilho frio e severo.

Não havia um traço sequer do afeto que normalmente se espera de um avô diante de seu neto. Ao mesmo tempo, também não havia qualquer sinal de hostilidade ou ressentimento contra alguém que praticamente havia abandonado sua própria família. Aliviado com esse pensamento, Masachika falou com determinação — usando palavras que moldariam seu futuro.

Vou ser direto. Desejo ser reintegrado como sucessor da família Suou.

Era algo que ele havia decidido firmemente na noite anterior, enquanto segurava sua irmãzinha chorando, acamada. Ele não podia mais permitir que o bem-estar dela fosse sacrificado. A responsabilidade que, desde o princípio, era sua — ele não a deixaria mais sobre os ombros dela.

Se isso significasse libertar sua irmã, então não teria problema algum em dedicar sua vida à família; uma vida sem paixão ou sonhos particulares.

……

Após ouvir o pedido de Masachika, a sobrancelha de Gensei se contraiu levemente, e a atmosfera ao seu redor se transformou. Ele deixou de ser apenas o avô da família Suou, entretendo o amigo da neta, e se tornou o chefe autoritário da casa.

Desde ontem, tratei você como um amigo da minha neta... Você sabe o que isso implica? — questionou Gensei. Sua voz, agora clara como um sino, carregava um tom intimidador.

Claro.

Masachika respondeu de imediato, sem ceder à pressão. Gensei deu alguns passos ameaçadores à frente, olhando para Masachika com uma aura feroz e dominante.

Então, a partir deste momento, tratarei você como o desertor que é... Entende que não teria nenhum direito de reclamar se eu o expulsasse daqui agora mesmo?

A pressão que emanava dele, a uma distância tão curta, seria suficiente para fazer até um homem adulto encolher. No entanto, Masachika não vacilou nem por um instante e encarou diretamente o olhar de Gensei. Confirmando em silêncio que ainda não havia hostilidade ou ressentimento nos olhos dele, sentiu novamente um leve alívio. A intimidação de Gensei era puramente formalidade. O homem diante de Masachika, acima de tudo, era um realista pragmático.

Não há motivo para ter medo.

Você diz isso, mas nós dois sabemos que não vai me expulsar. Aceitar minha proposta seria benéfico para o futuro da família Suou.

Olhando em silêncio para o Masachika inabalável, Gensei não respondeu de imediato. Um silêncio tenso pairou no ar por alguns segundos. Então, Gensei se virou abruptamente. Contornou a mesa e afundou pesadamente em sua cadeira, que rangeu sob seu peso. Cruzando as mãos sobre a escrivaninha, relaxou levemente sua postura intimidadora.

Muito bem. Ao menos ouvirei o que tem a dizer. Que possível benefício haveria em reintegrá-lo?

Estimulado a continuar, Masachika se aproximou da mesa e declarou, de forma direta.

É simples. A família Suou ganharia um sucessor mais capaz do que o que tem atualmente.

Diante de uma declaração tão audaciosa, Gensei estreitou os olhos enquanto se recostava na cadeira.

De fato, em termos de talento nato, Yuki não é páreo para você — começou a falar em um tom calmo e neutro. — Mas é só isso.

Ele reconhecia o brilho natural de Masachika, mas afirmava que era apenas isso que ele tinha.

Nos últimos seis anos, Yuki superou consistentemente todas as expectativas que depositei nela. E você? Desde que deixou esta casa, o que conquistou?

Gensei continuou, impiedoso, como se enxergasse cada dia preguiçoso e autocomplacente que Masachika havia vivido.

Você não estudou, não se aprimorou, não construiu nada. Deixou seu talento enferrujar e negligenciou as responsabilidades de alguém abençoado com dons tão raros. E ainda assim, ousa se declarar o melhor sucessor? Não seja tão arrogante — cuspiu as palavras com desdém. Logo em seguida, voltou a falar com um tom uniforme e calmo. — Além disso, você é alguém que abandonou esta casa. Reintegrá-lo significaria não apenas desconsiderar Yuki, a atual sucessora, como também menosprezar minha decisão como chefe da família Suou. Jamais aprovaria uma resolução que só serviria para manchar nossa reputação.

Isso é mentira. Se fosse verdade, você já teria me expulsado sem sequer me ouvir — respondeu Masachika, sucinto, às palavras decisivas de Gensei. Após refutar diretamente o argumento, prosseguiu explicando seu próprio raciocínio. — Me trazer de volta não mancharia o nome da família Suou. Afinal, esta casa é conhecida por valorizar a racionalidade absoluta e a meritocracia.

Masachika acreditava que Gensei era um racionalista de coração frio — e essa impressão não era apenas dele. Gensei — e, na verdade, toda a família Suou — era vista da mesma forma pelos altos círculos do país. Altamente capazes, mas sem um traço sequer de sentimentalismo, nem mesmo para com seus próprios familiares — um clã de sangue frio.

Masachika havia experimentado isso em primeira mão. Afinal, assim que ele deixou a família Suou, Gensei passou a tratá-lo como se ele nunca tivesse existido. Mesmo que Masachika já tivesse sido um neto muito querido, no momento em que se tornou um estranho, Gensei apagou impiedosamente sua existência, fazendo com que Masachika desaparecesse do conhecimento público. Essa frieza era a essência da família Suou. E é por isso que, mesmo que o papel de sucessor fosse agora transferido de Yuki para Masachika, isso não seria considerado fora do comum — desde que houvesse uma explicação razoável e justificável.

Você diz que eu deixei esta casa? Em vez disso, vocês — não, a família Suou — deveriam estar mais preocupados com quem é mais apto para ser seu sucessor agora — declarou Masachika.

Ainda assim, isso não muda o fato de que você é inadequado para ser o sucessor desta família. Não tenho motivo para avaliar alguém como você, que não conquistou nada — respondeu Gensei calmamente, sem confirmar nem negar as palavras de Masachika.

É verdade que, comparado a quando eu ainda fazia parte desta casa, venho levando uma vida ociosa... Mas eu não estive fazendo "nada". E, de agora em diante, vou produzir resultados que você — e todos os outros — terão de aceitar.

Dizendo isso, Masachika apoiou as mãos sobre a mesa, encarando firmemente Gensei.

Vou usar a experiência e as conexões que adquiri durante meu tempo apoiando Yuki como vice-presidente no ensino fundamental para eleger Alisa Kujou como presidente do conselho estudantil do ensino médio da Academia Seirei. Depois, derrubarei Yuki e conquistarei meu lugar no Raikokai. Esse será o resultado que mostrarei a você.

Ele nem sequer tentou apelar para as emoções. Isso jamais funcionaria com alguém como Gensei.

Depois de vencer duas eleições consecutivas com parceiros diferentes e garantir minha entrada no Raikokai, ficará claro quem é mais apto para o papel. Já Yuki, teria perdido a eleição e falhado em entrar no Raikokai, após perder meu apoio. Esse resultado deixará evidente qual de nós dois é mais adequado para a sucessão.

Masachika não fez qualquer esforço para se mostrar humilde. Afinal, essa não era a maneira que Gensei havia lhe ensinado a negociar. Assim, Masachika não baixou a cabeça. Em vez disso, olhou diretamente para Gensei e declarou mais uma vez.

Vou repetir. Se eu derrotar Yuki na próxima eleição e garantir minha entrada no Raikokai, exijo que me reintegre como sucessor da família Suou.

Gensei retribuiu o olhar de Masachika, e por um momento, um longo silêncio pairou no ar... Até que, finalmente, Gensei falou lentamente.

Muito bem.

!

Se você conseguir derrotar Yuki na próxima eleição e conquistar seu direito de entrar no Raikokai... Eu o aceitarei novamente como membro da família Suou.

Ao ouvir isso, Masachika sentiu um leve alívio. No entanto—

Mas se chegar a esse ponto, eu não o nomearei imediatamente como sucessor. Você e Yuki serão tratados como candidatos em pé de igualdade pela sucessão.

Ele rapidamente se recompôs ao ouvir as condições impostas por Gensei. Em outras palavras, vencer a eleição significaria apenas garantir um lugar na linha de partida pela corrida da sucessão. Mas isso não era um problema. Afinal, era muito provável que Yuki não tivesse interesse em ser chefe da família Suou, tampouco grande desejo de se tornar diplomata. Sem motivo para competir, ela simplesmente abriria mão, permitindo que Masachika vencesse por padrão.

Isso está bom para mim.

Dessa vez, Masachika finalmente se permitiu sentir alívio. Mas, sem deixar isso transparecer, endireitou a postura e assentiu. Contudo, a conversa ainda não havia terminado.

No entanto, não reconhecerei sua vitória se for como vice-presidente.

O quê—?

É natural. Se você afirma derrotar Yuki, então deve competir em igualdade de condições como candidato à presidência do conselho estudantil — afirmou Gensei com firmeza. Ele deixou claro que não aceitaria mais objeções, deixando Masachika sem palavras diante da condição inesperada.

Se você derrotar Yuki na eleição, liderar com sucesso o conselho estudantil como presidente por um ano e conquistar as qualificações necessárias para se tornar membro do Raikokai... Então, e somente então, eu o reconhecerei como candidato a meu sucessor.

⋆⋅☆⋅⋆

 

O tique-taque do ponteiro dos segundos do relógio marcava silenciosamente a passagem do tempo. Após terminar sua conversa com Gensei, Masachika visitou o quarto de Yuki, observando sua irmã ainda adormecida. Segundo Ayano, que estava cuidando de Yuki durante toda a noite com Natsu, a febre já havia diminuído e sua consciência parecia clara. E ela estava certa. A aparência de Yuki estava muito melhor do que no dia anterior, e sua respiração agora era estável.

Talvez o remédio tenha feito efeito...

Enquanto Masachika pensava nisso e agradecia silenciosamente a Ayano, que naquele momento tirava uma soneca, os olhos de Yuki se abriram de repente na cama.

……

Ela ficou olhando para o teto, antes de murmurar algumas palavras com os lábios secos.

Tive um sonho.

Que tipo de sonho?

Basicamente, eu era uma sacerdotisa exorcista em treinamento e alguém me entregou um bastão de bambu aparentemente comum. Mas, na verdade, ele se revelou uma lança de bambu usada para executar cristãos fugitivos — a "Lança de Longinus, a Matadora de Santos"! Ou pelo menos uma delas.

Que tipo de sonho é esse!?

Masachika retrucou, inclinando-se para a frente. Ignorando completamente a reação dele, Yuki continuou encarando fixamente o teto, sem dar sinais de parar.

Eu conheço esse teto.

Não começa a falar besteira assim que acorda!

Com sua irmãzinha já agindo como de costume, Masachika momentaneamente esqueceu a conversa que tivera com Gensei e continuou respondendo com suas réplicas habituais. De repente, Yuki sorriu de canto, jogou o cobertor para o lado e se levantou num movimento ágil, desfazendo sua trança com um gesto dramático. Seus longos cabelos negros esvoaçaram como uma capa de ébano. Com um ar de absoluta confiança, Yuki pôs as mãos na cintura, estufou o peito e firmou-se de pé.

Estou de voltaaaa!!

Você ainda tá meio selada, então calma aí.

Quem você tá chamando de Rei Demônio!?

Na verdade é uma divindade; um Deus Demônio.

Uhum, tá bom, tá bom. Ei, me traz um pouco de água, seu verme.

Não se empolga! Se continuar assim, vou te selar de novo pra valer dessa vez!

Hah, quero ver tentar!

Dito isso, Masachika rapidamente pegou o cobertor e, em menos de três segundos, enrolou Yuki, que até então o olhava de cima com um sorriso arrogante. Piscando em surpresa, Yuki começou a se debater como uma lagarta, se contorcendo toda.

Ugaaaaahhh! Maldito, maldito! Como ousa, uma criatura inferior como você, me selar duas vezes!?

Seres superiores que tratam humanos como criaturas inferiores sempre perdem nas histórias de fantasia, sabia?

Grrr... Eu não vou esquecer isso. Nunca vou esquecer essa afronta... Não importa quantos anos passem, eu definitivamente voltarei para dominar este mundo—

— Tá bom, tá bom. Já chega.

— Mubffgh.

Masachika jogou um travesseiro no rosto da irmã para interromper seu teatrinho. No entanto...

Nyooo! Ele vai me matar! Tá tentando encobrir meu assassinato fazendo parecer morte natural por sufocamentoooo! Mas não adianta! Nem vai ter herança pra você, otário!

Para de fazer drama como se estivesse em uma novela!

Masachika então puxou abruptamente o travesseiro do rosto de Yuki, que já ensaiava uma nova encenação, e soltou um grande suspiro.

Falando sério agora, você ainda não se recuperou completamente. Dá uma segurada... Sua garganta ainda dói, né?

Tsk... É, dói.

Yuki fez um biquinho e assentiu diante das palavras sinceras do irmão, suspirando resignada.

Tá bom, tá bom... Vou me comportar, então pode me soltar?

Você ia aprontar assim que eu fizesse isso. Pedido negado.

Então, posso fazer… Aqui mesmo assim?

Fazer o quê?

Dica: água benta.

Nem a pau!

Masachika puxou o cobertor enquanto Yuki rolava na cama com um exagerado "Ai, meu Deus~". Com um baque, ela caiu no chão, levantando-se logo em seguida ao lado da cama, com os braços erguidos em diagonal, como uma ginasta finalizando sua apresentação. Depois, lançou um olhar para Masachika, como quem esperava aprovação.

Não, não vou te dar ponto nenhum. Nem foi artístico.

O quê? Era pra eu ter me despido enquanto rolava e feito pose pelada, então?

Isso te desclassificaria instantaneamente em qualquer competição! Vai logo fazer o que tem que fazer!

No quarto do onii-chan?

No banheiro!!

Rindo, Yuki saiu do quarto. Observando-a ir embora, Masachika soltou um suspiro — uma mistura de exasperação e alívio. Pegou seu celular e enviou uma mensagem para Ayano, informando que Yuki havia acordado. Ele então serviu água de uma jarra no copo que havia trazido e esperou a volta da irmã. Pouco depois, Yuki retornou, aparentemente após ter lavado o rosto.

Ahhh~ que refrescante.

Toma, água.

Obrigadinha~.

Yuki pegou o copo da mão de Masachika e bebeu tudo de uma vez.

Phew... Espera aí.

Então, fitando o rosto de Masachika, piscou algumas vezes.

Onii, por que você tá aqui?

Só agora você percebeu!? A gente até conversou ontem, lembra!?

No banheiro?

No quarto! E que história é essa de banheiro!?

Tipo... Indo junto?

Isso não é coisa que se faz com um cara!

Indo junto (com segundas intenções)?

Tá bom, já entendi. Não precisa falar mais nada.

Hehe, é melhor abaixar a voz, senão alguém vai ouvir a gente.

Eu já disse, cala a boca!

— Certinho, senta aí... Hehe, você foi bem, né? Bom garoto, bom garoto.

Tô te falando—

Hehe, talvez já seja hora de parar de usar fraldas?

Ah, então era sobre treinar uma criança para usar o penico. Foi mal.

E o que você achou que era~?

Cuidados de enfermagem.

Essa desculpa aí foi forçada, bruzza.

Cala a boca. Continua assim e eu vou te amarrar de novo.

Hah! Acha mesmo que o mesmo truque vai funcionar duas vezes? Você me subestima—

Empacotamento concluído.

Tá quente aqui dentro.

Não tem nada de errado em suar um pouco de vez em quando. Você acabou de beber água também.

Entendi... Então você tá tentando provocar um "evento de limpeza" me fazendo suar.

Será que dá pra parar com esse cérebro de otaku até enquanto tá doente?

Tarde demais! Já pedi pra Ayano trazer água quente e toalhas, caso algo assim acontecesse!

Que tipo de pensamento exagerado é esse?

Assim que Masachika disse isso, alguém bateu na porta do quarto. Ele respondeu com um "Pode entrar", e Ayano entrou carregando uma bacia com água quente e uma toalha.

Aqui está, Yuki-sama.

Ayano~! Perfeita!

Sempre às ordens.

Ué, você não ia tirar um cochilo?

Sim. Mas já estou bem agora.

Não, vai descansar. Você dormiu só umas quatro horas ontem, né? Eu cuido da Yuki... — disse Masachika, pegando a bacia e a toalha das mãos da Ayano.

Ayano hesitou enquanto ele colocava as coisas ao lado da cama, desviando o olhar um pouco.

Mas…

Ayano, o onii-chan aqui disse que quer me limpar pessoalmente.

! Entendido. Nesse caso, vou voltar pro meu quarto.

Não aceita assim tão fácil não!

Ignorando a reclamação de Masachika, Ayano saiu rapidamente do quarto. Enquanto ele ainda estava parado, surpreso com a velocidade dela, sentiu alguém puxar a barra da sua camisa. Olhando para o lado, viu Yuki, sentada na cama com os joelhos juntos como uma jovem senhorita, olhando pra ele timidamente com a cabeça levemente abaixada.

Onii-sama... Pode limpar minhas costas?

Desde quando você escapou!?

Heh, é conhecimento básico: quanto mais resistência você cria, mais curto fica o tempo de contenção, né?

Em jogos, talvez. Desde quando você deixou de ser humana?

Eh? Tá dizendo que eu sou fofa demais pra ser humana?

Se fosse falando da Alya ou da Masha, até vai. Mas você ainda tá no território humano.

Hm? Agora tá falando de outras mulheres?

Falei, e daí?

Um soco nas bolas, eu acho.

Ah, puta merda—!

Recebendo um leve tapa na virilha, Masachika se curvou instintivamente e saltou para trás. Não doeu de verdade, já que não houve força, mas a sensação súbita de ter sido tocado num ponto vulnerável fez um arrepio percorrer sua espinha. Ele lançou um olhar ressentido para Yuki. Enfrentando o olhar dele, Yuki fez seus olhos brilharem com lágrimas falsas, puxou o cobertor e começou a tremer.

O que foi, onii-sama...? A Yuki tá assustada... Pode voltar a ser o onii-sama gentil de sempre?

Você fala isso depois de me dar um soco nas bolas?

Nas... Bolas? Onii-sama, do que você tá falando...? Cof, cof, a Yuki não entende…

Para de fingir que tá doente só por causa disso.

A Yuki não entende. De jeito nenhum... Cof, cof.

Enquanto Yuki continuava com sua atuação descaradamente falsa, Masachika soltou um longo suspiro, fechando os olhos com exasperação.

Vamos ver... Um personagem que no perfil tá listado só como "irmã mais nova", mas no começo da história revela ser meia-irmã — murmurou baixo.

Seu desgraçado! Eu vou te matar!!

Na mesma hora, Yuki abandonou a atuação de irmãzinha inocente e pulou em cima de Masachika. Ajoelhada na cama, ela o agarrou pela gola e o encarou com olhos arregalados e furiosos.

Escuta bem... Tá ouvindo? Meia-irmã tá ótimo como meia-irmã. Seja porque os pais casaram e vocês eram praticamente estranhos antes, seja porque ela foi adotada e criada como família, mas ainda assim poderia se casar depois — os dois têm seu charme. Mas, nesse caso, deixa bem claro desde o começo que é "meia-irmã"... Não fica enganando os outros, fazendo parecer que é irmã de sangue...! — sussurrou ela num tom ameaçador e próximo demais.

Você tá levando isso a sério demais; tá me assustando.

Hã?

Tô falando sério. Por que você tá me ameaçando?

Enquanto Yuki continuava a fuzilá-lo com o olhar, Masachika apenas a encarava de volta com um olhar vazio e entediado, mesmo com ela agarrada à sua camisa.

Monstrinho domado que começa a falar fluentemente de repente, depois que evolui ou ganha telepatia — retrucou Yuki, murmurando.

Eu vou te matar!!

Dessa vez foi Masachika que imediatamente agarrou a camisa da irmã. Ele se levantou, a olhou de cima, com os olhos bem abertos e insanos, e sussurrou num tom baixo e ameaçador.

Escuta bem... Tá ouvindo? Dragões eu entendo. Esses aí sempre acabam falando em algum momento — até podem virar humanos — então beleza. Mas bichinhos pequenos ou médios!? Especialmente os mascotes que ficam na cabeça ou no ombro do protagonista!? NEM FUDENDO. Se for pra fazer falar, tem que ser desde o começo. Não inventa de fazer começar a falar fluentemente depois de só ficar fazendo barulhinho aleatório. Humanizar tudo não melhora nada. Tem uma baita diferença entre um mascote inteligente e fofo e um companheiro monstro de confiança. Então saiba seu lugar.

Que discurso rápido e enrolado! Tô impressionada que conseguiu recitar tudo isso.

Masachika e Yuki se encararam, pisando nas minas terrestres um do outro durante a troca de palavras.

Ó minha querida irmãzinha.

O que foi, meu tão querido irmão?

Eu sei que fui eu quem começou, mas essa nossa troca de farpas não tá... Completamente sem sentido?

Acho que sim.

Após concordarem com um aceno, ambos soltaram as golas um do outro e as ajeitaram. Com longos suspiros, respiraram fundo e, como se nada tivesse acontecido, continuaram a conversa inicial.

Enfim, deixando isso de lado. Tenho que admitir, Alya-san e Masha-san estão super fofas... Quero dizer, não parece que ficaram ainda mais lindas ultimamente? Já tão quase de outro mundo.

Hã? Ficando mais lindas? Sério?

Você não tá sabendo? Tem rolado esse boato na escola.

Sério? Eu nem fazia ideia.

Não, espera um pouco.

Depois de dizer isso, Masachika parou, mergulhando em suas memórias.

Pensando bem...

Agora que refletia sobre o assunto, ele vagamente se lembrava de ter ouvido boatos sobre a Alisa estar ficando mais bonita. Mas tinha assumido que era porque ela estava mais amigável, sorrindo mais e transmitindo uma energia mais leve.

Mas é... Pensando bem, tanto a Alya quanto a Masha-san realmente parecem estar ficando mais fofas ultimamente, né?

Só que isso podia ser só uma ilusão criada pela sua própria mente. Afinal, ele tinha se tornado extremamente consciente das duas depois de perceber os sentimentos delas por ele, o que provavelmente influenciava essa impressão.

Dizem os boatos que é porque elas encontraram um homem, ou algo assim. Ou talvez... estejam apaixonadas? É o que alguns tão especulando.

!

Claro, é só uma pequena parte dos rumores, mas o que você acha disso?

Sei lá.

Masachika respondeu com uma expressão impassível, mas os olhos de Yuki se arregalaram e ela deu um tapa alto na cama.

Não se faz de bobo comigo! Já passou da hora de brincar!

Então eu vou ficar com o atum.

(N/SLAG: O trocadilho aqui é que "joke" (brincar) (ネタ) em japonês também pode significar coberturas de sushi nigiri (atum, salmão, tamago, etc...).)

Quem disse que a pescaria do dia era recheio de sushi!? Uau, essa foi uma resposta perfeita!

Ou seja, estamos perfeitamente sincronizados, né?

Ah, para com isso, você vai me fazer corar.

Que fofinha, que fofinha.

Masachika respondeu em um tom completamente plano ao ver Yuki cobrindo as bochechas com as duas mãos, se remexendo toda envergonhada. Logo em seguida, Yuki abriu um sorriso vitorioso e se levantou de repente.

Heh, isso é óbvio...! Então, essas duas tão ficando mais bonitas por causa do poder do amor? Que buff inútil! Não importa o quão fofa a Alya-san fique, ela nunca vai superar a minha fofura cuidadosamente calculada!

Acabou de admitir que é tudo calculado, né?

Isso mesmo, seu idiota. Eu morreria de medo se alguém fosse assim naturalmente!

E no entanto, bem na minha frente tem uma.

É, verdade... Os hábitos são incríveis, sabia? No começo era tudo bem calculado, mas, antes que eu percebesse, isso virou quem eu sou...

Yuki confessou, com o olhar se perdendo no horizonte, carregado de uma leve melancolia. Percebendo para quem todo aquele esforço calculado era direcionado, Masachika suavizou a expressão e torceu levemente a toalha que havia mergulhado em água quente.

Enfim, vou te limpar agora.

Yay~!

Yuki comemorou, sentando-se de costas para Masachika. Ela tirou a parte de cima do pijama, ficando com a parte superior do corpo nua. Com o braço esquerdo, cobriu o peito e, com a mão direita, levantou o cabelo, expondo a nuca. Então, olhou para ele de lado.

Oh... Que dilema avassalador~.

Se ao menos você ficasse de boca fechada... — disse Masachika num tom exasperado.

Ele começou a passar a toalha úmida pelas costas de Yuki, que endireitou as costas e estremeceu.

Fuhyaa, ouhh.

Que barulhos são esses?

Oh meu♡. Minhas costas são, ngh, tão sensíveis♡. Aaahn~.

Para de gemer.

Ahh~, não tô aguentando mais~.

Não começa a agir como um velho.

Funyaa~ Tá tão gostoso~~.

Não derrete aí.

Ei, espera. Pode, tipo, não me tocar?

Para de desviar.

D-Droga, mas... Tá tão bom...!

Não cede agora.

Ah, acho que... Você tá abrindo uma nova porta pra mim—

Então não abre.

Haha! Essa foi boa.

Sério?

Você devia ter dito, "não acha graça nisso"!

Droga, vacilei!

Masachika se desculpou enquanto Yuki o repreendia, olhando-o por cima do ombro. Em resposta ao olhar severo da irmã, ele entregou a toalha, mas Yuki rapidamente a arrancou da mão dele e começou a limpar o braço esquerdo.

Como punição, eu mesma vou limpar a frente.

Esse era o plano desde o começo, na verdade.

Opa, uma espiadinha na minha axila☆.

Dispenso.

Aliás, você tem alguma ideia sobre Alya-san e Masha-san estarem apaixonadas?

Já disse que não.

Pegando-o de surpresa, Yuki lançou a pergunta de novo. Masachika fingiu ignorância, mas não conseguiu esconder totalmente o leve nervosismo, enquanto Yuki o fitava intensamente. O coração dele deu um salto.

Bom, tanto faz no fim das contas, né?

.....

A atitude de Yuki, como se visse através de tudo, deixou Masachika incapaz até de perguntar "o que você quer dizer com isso?". Então, apressadamente, ele mudou de assunto.

Ah, é. Falando na Alya…

Hm~?

Ei, não vai tirando a calcinha casualmente.

Ué? Não dá pra me limpar sem tirar — disse Yuki com a maior naturalidade.

Depois de tirar a calcinha, ajoelhou-se para limpar as nádegas e as coxas, antes de se sentar novamente para passar a toalha nas pernas.

Passa aí.

Ela jogou a toalha usada por cima do ombro, direto para Masachika.

Não é quem recebe que deveria falar isso? — Masachika resmungou, pegando a toalha no ar e mergulhando-a novamente na bacia.

Quando olhou de volta, viu Yuki, agora de frente na cama, cobrindo o peito com os braços e sorrindo de forma travessa.

Técnica secreta: Esconde o peito, mas não a barriga.

Do que você tá falando?

Uma garota inocente e ignorante, focada em esconder o peito sem perceber que tá mostrando a barriga... É isso que realmente desperta o instinto primal dos homens!

Então sua "inocência" aqui é descaradamente sem vergonha?

Diante do comentário gelado de Masachika, Yuki bateu na cama com as duas mãos, indignada.

Quem você tá chamando de sem vergonha!?

Você mesma.

Você fala isso, mas tá aqui, dando aquela espiadinha no peito da própria irmã.

Cala a boca e se veste logo.

Certooo~ — respondeu Yuki despreocupadamente, enquanto calçava seus chinelos e ia em direção ao armário, vestindo apenas um short.

Tenha um pouco de vergonha, já — Masachika desviou o olhar, oferecendo apenas uma repreensão fraca enquanto sua irmã atravessava o quarto com confiança, sem fazer esforço para se cobrir. No entanto, Yuki, nem mesmo tentando provocá-lo desta vez, parecia completamente indiferente. Ela simplesmente tirou a última peça de roupa e começou a se trocar, completamente nua.

Sério, o senso de vergonha dela é o de uma criança de jardim de infância...

Enquanto Masachika resmungava mentalmente sobre isso, achou que reagir de forma exagerada só pioraria as coisas, então manteve o rosto virado e continuou a conversa.

Então, sobre a Alya...

Hm~? Sim? — respondeu ela.

Desculpa. Eu contei pra ela que somos irmãos.

Ah, é? Então você finalmente contou.

É... Achei que estava ficando difícil manter isso em segredo.

Bom, tanto faz, né? Ela acabaria descobrindo de qualquer jeito. Melhor cedo do que tarde — explicou Yuki num tom particularmente despreocupado.

É só isso? — perguntou Masachika, cauteloso, como se quisesse confirmar os sentimentos dela.

Hm~? Ah. Bom, na verdade, é meio chato não poder mais provocar a Alya-san como a amiga de infância que deixava pistas no ar.

Amiga de infância que deixava pistas... Você tá falando da nossa época de conselho estudantil? Não faz parecer que a gente é ex-namorado ou algo assim; é confuso. Aliás, para de provocar ela, de uma vez.

Espera aí! Não posso simplesmente virar a irmã de verdade que deixa pistas agora?

Eu disse pra desistir.

Espera, na real, segura esse pensamento. A ideia de uma irmãzinha pura e brocon ficando na frente da Alya-san pra impedir ela de te roubar também é tentadora.

Só me escuta, vai.

Whewww~♪ As possibilidades são infinitas~♪

Contanto que você esteja se divertindo, tanto faz.

Tendo terminado de se trocar e vestindo seu novo pijama, Yuki foi dançando até a cama e se jogou nela de costas, com um sorriso largo no rosto.

Pensando bem, onii-chan, você tá aqui por causa da Alya-san, né?

! Eu... É, mais ou menos...

Hm~. Entendi, entendi~. Bem, como sua irmã, fico muito feliz que você tenha encontrado uma parceira tão boa.

......

Masachika, estranhamente envergonhado pelas palavras da irmã, virou o rosto sem dizer nada. Vendo isso, Yuki lhe deu um sorriso gentil e falou num tom completamente sincero, sem nenhuma provocação.

Mas, sério, eu sou muito grata à Alya-san. Graças a ela, você voltou pra casa, onii-chan.

Para Yuki, aquelas palavras eram genuínas, transmitindo seus sentimentos puros, sem qualquer segunda intenção. Mas, para Masachika, elas perfuravam seu coração com uma sensação de culpa.

Me desculpa... Por ter te deixado sozinha esse tempo todo.

E-Ei, que papo é esse de repente?

Incapaz de segurar mais, Masachika curvou-se profundamente. Em resposta, Yuki, com um sorriso meio confuso, sentou-se na cama e voltou ao seu tom brincalhão de sempre.

Que foi? O vovô te falou alguma coisa?

Vendo a bondade óbvia nos olhos da irmã, Masachika deu um sorriso triste antes de levantar a cabeça e continuar.

Não... não tem nada a ver com ele. Eu devia ter feito isso há muito tempo.

Então, Masachika se curvou profundamente mais uma vez.

Me desculpa... Por ter colocado todo esse peso em você. Eu sei que é tarde demais, mas... De agora em diante, eu é que vou carregar esse fardo.

E-Ei... Hã? Desculpa, não tô entendendo. O que você quer dizer? — Yuki inclinou a cabeça, ainda com o sorriso confuso no rosto.

Eu pedi pro vovô pra me deixar voltar pra família Suou — respondeu Masachika com uma expressão séria.

O quê?

O fardo que você carrega é algo que eu deveria estar carregando. Eu não posso continuar vivendo desse jeito, como se nada estivesse acontecendo. Não posso mais ignorar seu sofrimento.

Diante das palavras diretas de Masachika, Yuki baixou lentamente o rosto.

Sacrifício? Hã? Tá de sacanagem comigo? — murmurou ela em voz baixa.

O tom estranhamente sombrio dela fez Masachika sentir uma pontada de incerteza.

Yu—

Eu—!

Interrompendo a fala de Masachika, Yuki gritou.

Eu fiquei aqui porque eu quis! Eu escolhi, de livre e espontânea vontade, fazer o que eu podia por essa família, por essa casa!

Levantando-se na cama, ela lançou um olhar feroz para Masachika. Seu rosto estava tomado por uma raiva inconfundível.

Isso não mudou, nem agora! Sempre foi assim! E você viu isso com seus próprios olhos o tempo todo! Mas, onii-chan, você—

Sua voz se prendeu na garganta por um momento, e ela cerrou os dentes com força antes de gritar novamente.

Você me enxergou o tempo todo apenas como uma vítima patética!?

Os olhos de Masachika se arregalaram de choque diante do seu desabafo. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Yuki acertou seu ombro com o pé descalço.

Não venha com essa merda! Sai! Sai daquiiiii!! — gritou ela, enquanto o chutava repetidamente, praticamente o expulsando do quarto.

Com um estrondo furioso, ela bateu a porta. Encostada nela, respirava pesadamente.

Haa… haah… urgh, cof, cof…

Uma nova crise de tosse a atacou, provavelmente pelo esforço, e ela fez uma careta de dor.

Ugh... I-Isso dói…

Na verdade, Yuki vinha forçando um sorriso, fingindo seu habitual bom humor até poucos instantes atrás. Apesar de sua memória da noite anterior estar um pouco nebulosa, ela se lembrava vagamente de ter mostrado um lado extremamente frágil para seu irmão. E foi exatamente por isso que estava tentando agir como sempre, como se quisesse apagar aquela imagem.

Mesmo que tudo não passe de uma encenação... Ou de uma falsa alegria... Isso eventualmente se tornará real, certo?

Era isso que ela acreditava. Era para isso que ela vinha se esforçando esse tempo todo. E ainda assim... Seu irmão disse para ela desistir.

Não fique todo sério comigo... Droga — murmurou Yuki entre dentes, sentindo a raiva crescer novamente dentro de si. Ela sabia que seu irmão carregava sentimentos de culpa em relação a ela. Mas nunca imaginou que ele ainda a visse como uma vítima patética, alguém que precisava ser protegida.

Ahh~, droga. É tudo culpa dessa gripe idiota.

Pisando com força, ela voltou para a cama — mas parou de repente ao se ver no espelho de corpo inteiro.

 ...Não. Não é por causa disso, né?

O que se refletia no espelho era um corpo pequeno, magro e frágil. Um corpo que ainda carregava a marca dos dias em que ficou acamada, e o papel de irmã mais nova. Esses eram os dois principais motivos pelos quais Masachika sentia que precisava protegê-la.

Por quê... Eu tenho que ser a irmãzinha do onii-chan? Se ao menos... Tivesse nascido como a irmã mais velha. 

Se ao menos tivesse nascido um ano antes, Yuki não teria sido automaticamente colocada no papel de alguém que Masachika precisava proteger. Se fosse ela a irmã mais velha, Masachika não se sentiria tão em dívida, nem se preocuparia a ponto de negar a própria existência.

Que pensamento inútil.

Desviando o olhar do espelho, Yuki cambaleou de volta para a cama e se jogou de bruços. Ficou ali deitada por um tempo, encarando o colchão, até que de repente ouviu uma batida na porta, seguida da voz de Ayano.

Yuki-sama? Posso entrar?

 ……

Como Yuki não respondeu, Ayano pareceu assumir que ela estava dormindo. Depois de murmurar um "Com licença", entrou no quarto silenciosamente. Vendo Yuki deitada de bruços, sem cobertor, aproximou-se para cobri-la—

Yuki-sama? Está acordada?

Ao notar que Yuki encarava o colchão com os olhos abertos e furiosos, Ayano hesitou, as mãos paradas no ar.

U-Oh, o que... Aconteceu? Eu passei pelo Masachika-sama agora há pouco, e ele parecia meio atordoado, então…

Ouvir o nome de Masachika dos lábios de Ayano fez a irritação de Yuki crescer novamente. Ela se apoiou com as duas mãos na cama e lançou um olhar determinado para o vazio.

Ayano.

S-Sim, Yuki-sama?

Vamos vencer a eleição do ano que vem. Custe o que custar.

E-Eh, ah, sim. Entendido.

Ainda sem entender muito bem o porquê daquela declaração repentina, Ayano assentiu, um pouco confusa. Sem sequer olhar em sua direção, Yuki cerrou os dentes e sussurrou.

Eu vou vencer... E provar a eles. Que eu não sou mais fraca. Nem patética.

Então, dirigiu sua promessa ao irmão ausente.

Vou dar o golpe final, onii-chan.

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