Volume 1

Capítulo 35: A GRANDE BATALHA



Matar meu pai...?

Mais importante, que tipo de magia era aquela?

Mael tinha certos palpites, mas era cedo para afirmar.

Além de que muita coisa estava estranha.

Pior, o sujeito a frente parecia ser alguém de alto nível. E devia ter certa inteligência para atacar um QG na base do inimigo daquela forma.

Mael varreu o olhar pela vasta floresta. Estava quieta. Mas não podia ser que apenas aqueles dois tinham vindo ataca-los sozinhos, podia?

– Afastem-se! – Mael ordenou. – Esse sujeito não é comum.

Ouvindo as palavras de seu General, mesmo os Púrpuros mais experientes se alarmaram.

Logo fizeram uma formação rápida.

– Oh Hoho! – Jim riu. – Então você é astuto, roxinho. É bom que reconheça pessoas fortes quando as vê. Mais importante, onde está o Neru’dian?

Mael piscou, surpreso. Mas isso não ficou claro em sua face.

Então foi como em suas suspeitas. O sujeito tinha certa noção de onde estava pisando, não era um qualquer. Então ele franziu a testa.

– Você está com ele, não é? Com o xamã.

Jim piscou. Ele começou a bater palmas freneticamente e rindo compulsivamente.

Se ele não tivesse sumido com uma centena de vitanti há alguns instantes, Mael o chamaria de patético. Ele não o era, no fim.

– Responda minha pergunta, curoh’nekedoh... – Disse Drauzio, cauteloso e ostensivo.

Jim se virou para ele, uma sobrancelha erguida.

– Me chamar disso soa bem pejorativo, lilás. No fim, o único macaco aqui é você.

Mael ficou surpreso.

Ele sabe viteni?

– Bom, eu os matei, é claro. – Ele disse, sem qualquer resquício de arrependimento aparente. Logo se virou para Mael. – Sim, roxinho, estou com o xamã. E meu mestre tem grandes planos para vocês.

Não foi a segunda afirmação que fez Mael sentir um calafrio, e sim a primeira.

Dizer que matou vários vitanti de alto nível como quem diz que acabou de fazer uma refeição... que homem perigoso.

Drauzio voltou a dar um passo a frente, irritado.

– Matou? Você tem noção da...

– Drauzio! – Mael berrou. Quando os vitanti se viraram para ele, notaram a súbita mudança de humor. – Eu disse para se afastarem, não ousem ofender esse homem... ele é perigoso.

– Senhor...

– Você compreende a razão, soldado. Recomponha-se.

O homem arregalou os olhos, em seguida baixou a cabeça.

Após um longo tempo, recobrou sua cautela e assentiu. Apenas um olhar seu fez com que os outros compreendessem.

Então entraram em formação, como uma seta, com Mael no centro.

Cada um deles empunhou uma arma.

– Quais seus planos ao vir aqui, mago? – Mael indagou.

– Oh! Não me insulte com um adjetivo desses, roxinho, assim você me magoa. – Ele sorriu. – Mas eu sei que você é esperto, assim como o cabeludo raivoso.

Mael sentiu uma pontada no coração. Ele sabia a quem o sujeito se referia. Sua expressão escureceu.

– Mas... – Jim continuou. – é melhor mostrar do que dizer, não é?

Assim que sua voz caiu, Jim abriu os braços.

Uma pressão varreu todo o raio de visão deles.

Quilômetros e quilômetros de árvores foram simplesmente desintegrados, reduzidas a pó.

Lentamente, uma cortina quase transparente começou a subir.

Mael ficou estupefato.

A cortina era maior até mesmo que a árvore da Grande Entrada.

Aos poucos, o campo atrás de Mael foi se enchendo de soldados vitanti, com os superiores gritando ordens.

Na extrema direita de Jim, Mael notou mana circulando de modo incomum.

Então enormes portais se alongaram, rugidos podendo ser ouvidos.

Entrementes, Mael notou outra coisa que o fez suar frio.

Eram milhares de monstros.

Batedores, caranguejos, goblins, Bulgus, centopeias, ratos gigantes, criaturas envoltas de musgo, orcs, ogros... Gorilas.

Então era assim mesmo... Pele-pétrea havia se unido a um xamã, e feito boa parte das espécies em Bulogg de aliadas.

Isso era problemático, mas Mael esteve preparado. Ele notou um punhado de magos atravessando os portais aqui e ali, ofuscados pelas enormes e apavorantes criaturas.

Éter começou a fluir de seu punho. Ele se virou para Jim. Uma expressão fria pintando seu rosto.

– Você trouxe a guerra até nós... É um abatedouro.

– Sim, digno de ratos como vocês.

– Então o que está esperando? Venha, vamos lutar.

Jim franziu a testa e sorriu.

– Oh. Acho que você acabou se enganando, roxinho. Não sou eu que lutarei com vocês. – Ele esticou o braço direito e um novo portal se formou, mais próximo. – São eles.

Saindo lenta e misteriosamente de dentro do portal, vários sujeitos de peles carcomidas e membros faltando, passaram.

Drauzio piscou, como se para ter certeza do que estava vendo.

– São...

– Mortos-vivos. – Mael completou. – Que feitiço podre, Jimothy.

– Ah, não é um feitiço, sabe. – Ele piscou e sorriu. – Mas não é isso que eu queria que visse, guarde sua surpresa para agora.

Nesse momento, um sujeito de pele levemente acinzentada e cheio de secreção saindo do nariz passou.

Seus cabelos eram longos e emaranhados, mas o que fez Mael suar foi as tatuagens no pescoço.

– É Erde...

Antes que ele pudesse piscar, um poderoso ataque foi lançado contra si.

Ele sentiu a dor excruciante de ter seu peito empurrado.

Seus órgãos se remexeram dentro de si e ele soltou uma respiração pesarosa.

Fora arremessado por algo muito veloz, e nem conseguiu ver o que o atingiu.

Ainda no ar, olhou para baixo, apenas para ver várias gavinhas negras prendendo os vitanti onde eles estavam, bem como uma enorme correndo negra se elevando até ele, buscando seus pés.

Por meio segundo ele entendeu tudo.

De algum modo, o xamã havia conservado as habilidades daqueles que foram mortos, e o seu peso pesado era Erde do alto clã Vildret.

Antes que pudesse ser agarrado pela corrente negra, Mael juntou ambas as mãos, cujo do centro, uma pequena bola de luz começou a se formar.

Ele envolveu a bola de luz nas mãos e, por entre as frechas dos dedos, deixou que vários faixes de luz iluminassem boa parte do campo abaixo.

– Inquisição Celestial: Luz do Amanhã. – Gritou Mael.

Seu feitiço foi em direção das correntes negras e assim que as tocou, elas se desintegraram feito pó.

Como imaginei... Mael pensou, O feitiço dele tem bem menos força e resiliência do que o original... ainda assim...

Mael se aprumou ainda no ar e, redirecionando os ventos que lhe açoitavam, pousou magistralmente no chão.

Ele havia pousado cerca de pouco mais de 10 metros.

Ignorando a dor no peito, fechou o punho esquerdo e com o direito ergueu o dedo indicador.

Logo onde os vitanti recém soltos da magia de Erde estavam, a terra começou a tremer.

Então pegando toda a área onde os vitanti estavam, a terra se desgarrou do chão e começou a vir em direção de Mael.

Não parou por aí. Mael ergueu toda a área em que os mortos-vivos estavam e lançou-os para trás.

Não viu nem sinal de Jim ou do outro sujeito com ele.

Ainda havia um grande tempo até que as criaturas se aproximassem do local onde estavam, com os mortos-vivos servindo de bucha de canhão.

Mael se ajoelhou, massageando o peito. Não havia nem sinal de cansaço por ter executado três feitiços seguidos.

Na verdade, os Púrpuros mais experientes, que conseguiam ter certo manejo na manipulação de elementos, estavam estupefatos.

O general que estava alheio aos rostos de seus companheiros, cuspiu um punhado de sangue. Sua respiração ficou pesada.

– G-general... – Drauzio se ajoelhou ao seu lado. – Que aconteceu?

Limpando o sangue no canto da boca, Mael se forçou a ficar de pé.

– Recebi um forte dano na região do peito... nem o éter reagiu a tempo.

Drauzio ficou pálido.

– Mas o senhor é conhecido por ter exímio controle de éter... É quase como se a energia funcionasse em conjunto com sua respiração.

Mael sorriu, fraco.

– E eu não sei? – O comentário deixou o Púrpuro mais velho um tanto envergonhado. – Mais importante... pra onde foi o tal Jimothy?

Drauzio olhou para ele.

– Assim que o senhor foi atingido, um portal apareceu ao lado dele, e ele entrou lá com o outro sujeito.

Era de se imaginar.

O general puxou rapidamente um pequeno dispositivo do tamanho de um dedo.

Inserindo seu polegar e éter, o objeto brilhou.

“Preparem as tropas, há uma batalha chegando.”

Disse, sem abrir a boca.

Ele olhou para o pequeno objeto em seu dedo e sorriu.

Gergin realmente havia se saído bem.

A mensagem logo soou nos dispositivos de um punhado de vitanti ao redor do campo.

Não demorou muito para que todos tomassem posições de combate.

Alguns, aqueles com menos experiência, demoraram mais tempo.

“Quais as ordens, Sr.?” Uma voz envelhecida soou na mente de Mael.

O dispositivo era ligado por uma rede de éter, com o objetivo de interligar todos num raio de longas distâncias. Eles ainda não haviam testado sua capacidade.

Ele funcionava de maneira que, ao inserir éter, todos se conectavam numa rede invisível, com um forte feitiço de telepatia implantado. O conhecimento rúnico de Mael foi muito importante na criação de tal objeto.

Mael se levantou e pressionou o botão outra vez.

Antes que pudesse mandar qualquer orientação, o éter em seu corpo o alertou de possíveis problemas.

Ele arregalou os olhos e, erguendo o braço direito, uma lâmina incolor se formou no seu punho.

SWING!

A lâmina de Mael se chocou com uma lâmina negra.

Esse choque fez Mael jogar os braços para trás.

Era um morto-vivo.

Sem perder tempo, a criatura atacou em vertical.

Drauzio se precipitou e empurrou Mael para trás.

Quase que instantaneamente, Mael formou uma espada de feita uma luz fraca, firmou seus pés no chão e desceu-a verticalmente sobre a cabeça do inimigo que acabara de lhe atacar.

A espada desceu feito faca na manteiga no sujeito até a parte da pelve.

Um grito agudo de dor e sofrimento se ouviu, junto de uma fumaça negra e fedorenta, enquanto que seu corpo partia-se em dois e virava pó.

A espada de luz se desfez e Mael olhou para Drauzio, estirado no chão.

Fora cortado desde o ombro esquerdo até o quadril. Um lado havia caído a poucos metros a direita, enquanto a parte de baixo ficou no mesmo lugar.

Morte instantânea.

Além da forte perda, outra coisa deixou Mael irritado.

O fato de um morto-vivo usar o mesmo feitiço de um vitanti.

Que raios estava acontecendo ali?

Mas não havia tempo para pensar, pois logo em seguida os mortos-vivos surgiram em outra dúzia.

Dando uma breve olhada nos vitanti que ainda estavam ao seu lado, e na outra multidão que vinha, Mael se acalmou.

– Não sejam mordidos ou pegos por essas criaturas. Espero que tenham lido o relatório feito pelo subordinado de Erde na tomada dos postos avançados.

– E-então...

– Sim... isso não é um simples feitiço. É um vírus feito pelo humano, e é bem capaz de que outros feitiços traiçoeiros tenham sido implantados nesses pobres coitados.

– Esses curoh’nekedoh...

Mael olhou para trás, enraivecido. Ele odiava esse tipo de apelido.

– Não percam o foco, há mais deles vindo aí.

“Estamos lidando com um inimigo muito poderoso... – A voz de Mael soou no dispositivo de comunicação. – Um aliado perigoso do devasso Pele-pétrea. É aqui que nossa batalha se finda, ou nós matamos essas criaturas e damos cabo desta praga que nos assola desde o início dos tempos, ou hoje há de ser o extermínio dos vitanti de muitas cores... Estão comigo?”

Um longo tempo se passou, até que um brado retumbante soou pelo campo de batalha.

Eram as vozes dos soldados seguindo seu General.

Brados de coragem, de selvageria. Brados de orgulho.

Mael sorriu.

Então ele deu um passo para a frente.

Éter começou a permear seus braços e punhos, e uma longa espada fina, feita de éter e luz, se formou. Era linda, contendo miríades incontáveis.

Mael segurou no cabo de sua espada e se colocou em pose de batalha.

Quatro mortos-vivos vinham em sua direção, desengonçados e rápidos.

Já vinham de boca aberta, mas não seriam páreos.

Com cortes limpos e secos, Mael acabou com a vida daqueles desinfelizes. Se é que havia vida.

Então ele parou, encarando o corpo de Erde, sem reação alguma.

– Parece que judiaram de você, meu amigo.

Entendendo a mensagem, Erde conjurou uma enorme espada negra, com sombras ondulando por sua lâmina.

Ambos diminuíram o espaço e suas espadas se chocaram.

Só que ao contrário de antes, o feitiço de Mael não anulou o de Erde. Isso o fez franzir a testa.

– Parece que você detém certa inteligência... Urgh... até reforçou sua magia...

A criatura sibilou.

Num rápido movimente, ele enfiou sua espada negra na própria sombra, fazendo-a desaparecer lá dentro.

Mael sentiu o ataque vindo e olhou para baixo, em direção da própria sombra.

Quase que instantaneamente, a lâmina surgiu por entre seus pés.

Sem pensar duas vezes, Mael conjurou uma bola de luz do tamanho de um crânio com a mão esquerda e lançou sombra adentro.

Antes da lâmina negra sequer encostar nele, a bola de luz atingiu Erde do outro lado bem no rosto.

Ele foi lançado para trás, seu rosto chamuscando.

Se levantou quase imediatamente, uma fumaça cinza saindo de seu rosto.

Mael franziu a testa.

O sujeito se apoiou num joelho, ainda sentado. Levou uma mão até o rosto, apalpando-o até que a fumaça cessasse.

Quando passou, ele inclinou a cabeça para o lado.

Então sombras o engoliram e, neste instante, ele surgiu na frente de Mael, vindo do chão.

Que nível de controle absurdo... É como se os limites de Erde tivessem sido desbloqueados...

Ao surgir em pé na frente de Mael, já portando sua espada negra, ambas tornaram a colidir.

Desta vez elas ficaram se riscando enquanto os dois se encaravam.

Erde inclinou levemente a cabeça para o lado, inexpressivo.

Ele abriu a boca lentamente, um fedor saindo dela.

Seus dentes eram podres e parecia ter larvas comendo sua carne aos poucos.

– Mi... Mi... Khodd... Fûmir...

Mael piscou, estupefato.

– Isso... Você está falando... viteni?

Sem perceber o tempo que passou enquanto olhava para seu saudoso amigo, uma criatura imensa se precipitou acima de sua cabeça, a bocarra cheia de dentes prestes decapitar.

Mael ergueu o olhar, suor descendo por sua testa.

Era tarde demais. Ele foi descuidado, seria uma morte indolor e feia.

SWING! PUFT! PLACK!

Mael arregalou os olhos para o que viu.

Surgindo como um tornado, um sujeito cortou a criatura desde o canto de sua boca até a parte traseira, com sangue e os órgãos caindo no chão.

Tudo pareceu estar em câmera lenta a medida que o tufão laranja cortava uma dúzia da mesma criatura, pintando o campo de batalha de tripas, sangue e chiados agudos.

Ele parou a alguns metros de Mael, um sorriso calmo no rosto.

Um enorme sorriso doentio pintou o rosto de Mael.

– Então você veio... Oren. 



Comentários