Volume 1 – Arco 1

Capitulo 4: No Olho do Caçador

No outro lado do refeitório, o grupo dos Caçadores dominava o ambiente como predadores à espreita. Misha, Ahelys, Makkolb, Tiruli, Icegren e Quinn, conversando na mesa, observavam os novatos com olhares gélidos e sorrisos maldosos.

Misha, com um sorriso irônico, fixava o olhar nas duas novatas que acabavam de entrar. Observava-as com a calma de quem já havia visto aquele cenário inúmeras vezes: duas novas garotas, ingênuas, prestes a se perderem no ambiente implacável daquela escola. Elas, assim como tantos outros antes delas, logo se encaixariam no grupo dos que falhavam, os chamados “Bambis”, incapazes de suportar a pressão de um ambiente que exigia mais do que simples sobrevivência.

Makkolb, mais focado no seu telefone do que no que acontecia ao seu redor, esboçou uma risada baixa. Ele sabia que aquelas duas não durariam. Duas, talvez três, seriam os dias que elas passariam naquele lugar antes de cederem, pedindo para ir embora, buscando a fuga de um sistema que as consumiria. 

Quinn, recostado na cadeira, parecia completamente alheio à situação. Ele não via razão para gastar energia com aquelas que já estavam fadadas ao fracasso. Elas não eram nada mais que garotas sem relevância em um espaço que já estava saturado de histórias de fracasso. O ciclo se repetia sempre, e as novatas estavam ali apenas para ocupar um espaço que logo seria vazio.

Misha, casualmente ajeitando o cabelo, parecia gostar da situação. O sofrimento alheio, para ela, era apenas parte do entretenimento, mais uma jogada de desprezo no jogo de poder que se desenrolava na escola.

Tiruli, com uma expressão vazia e distante, não viu razão para continuar com a conversa. Ele acreditava que tudo aquilo era apenas uma perda de tempo. Como sempre, as novatas desapareciam em pouco tempo. Não havia por que dar importância a algo que estava condenado a acabar rapidamente. Mais uma parte do cotidiano, mais um capítulo de uma história previsível.

Enquanto o grupo se afastava da conversa, o ambiente ao redor continuava sua dança indiferente, com pessoas consumindo outras sem remorso, sem nem mesmo perceber o que acontecia. O ciclo se repetia, como sempre.


A noite caía lentamente sobre o internato mágico, e Ártemis e Trrira se dirigiam para seus dormitórios após se despedirem de Gumer, Firefy e Glomme. O ambiente estava silencioso, com o som suave dos passos ecoando no corredor. 

Ao entrarem no dormitório, Ártemis e Trrira se depararam com duas colegas que já ocupavam o espaço. Leonarda estava deitada na parte superior da beliche do fundo, com o corpo inclinado para frente e os olhos atentos às recém-chegadas. Misha, por outro lado, encontrava-se em pé diante de um espelho portátil, alisando seus cabelos com uma chapinha ligada por magia canalizada. Ao notar a entrada das duas, Misha parou o que fazia e virou-se de forma brusca, encarando as novas companheiras de dormitório com desprezo imediato.

Ártemis e Trrira começaram a se aproximar de suas camas, mas foram interrompidas por uma postura provocativa de Misha, que se adiantou, claramente contrariada com a presença delas ali. Ela se colocou entre as duas e suas camas e com um olhar direto e impaciente, ela perguntou quem elas eram e o que faziam ali. Ártemis respondeu que aquele também era o quarto delas. Trrira, desconfortável com a situação, se manteve próxima de Ártemis, sem saber como reagir.

Misha rebateu, deixando claro que, enquanto estivesse ali, o quarto funcionaria sob suas regras. Leonarda, desconfortável com a tensão, tentou apaziguar, sugerindo que deixassem o assunto para lá — mas Misha não recuou. 

Percebendo que bater de frente não levaria a nada, Ártemis caminhou até sua cama com firmeza contida e se aconchegou, encerrando o confronto sem precisar de mais palavras. Trrira a seguiu em silêncio, aliviada por evitar um conflito direto. 

Com o clima mais controlado, Misha voltou a alisar o cabelo, satisfeita por ter deixado seu aviso claro. Leonarda permaneceu calada, ainda desconfortável com o clima. E Ártemis e Trrira se acomodaram em silêncio, cientes de que a convivência naquele quarto exigiria paciência e cuidado. 


Na manhã seguinte, Gumer acordou em seu dormitório, o ambiente ainda silencioso. Ele dividia o quarto com outros três garotos que, para seu desgosto, eram insuportáveis. Revirando os olhos ao ouvir o ronco de um deles, Gumer desceu do beliche, tentando não fazer barulho. Foi até sua mala, pegou sua toalha e suas roupas, e seguiu para o lavatório.

A água quente no banho parecia aliviar a tensão que carregava, especialmente depois dos acontecimentos do ano passado. Ele lavou o cabelo com calma, a água descendo em cascata sobre o corpo de Gumer, escorrendo firme e lenta pelos ombros largos, passando pelos braços musculosos, cheios de veias pulsantes. Seu peito alto e definido que subia e descia com a respiração profunda. Sua pele morena e brilhante, o suor misturado ao vapor do banho. Suas mãos grandes passavam lentamente pelo abdômen trincado, passando para a cintura forte e os quadris firmes, até alcançar seu pênis grosso e veioso, que pulsava sob a pele úmida.

Seu pênis, grande e ereto, erguia-se com destaque, as veias saltavam discretas — reflexo de uma ansiedade que ele mal conseguia conter. A água corria escorrendo por ele, enquanto as coxas grossas e os músculos das pernas se contraíam involuntariamente. Ele passava os dedos com um toque quase reverente, sentindo a pele lisa, o calor e a dureza que só um homem de verdade pode ter.

Mas, por mais gostoso que fosse aquele corpo, Gumer sentia um peso no peito — a angústia de sentir o distanciamento dos amigos, o medo de estar se tornando invisível para aqueles que um dia fizeram parte de sua vida. Ele engoliu o choro, lágrimas se misturavam com a água, escorrendo pelo rosto, pelo pescoço, mostrando a vulnerabilidade daquele homem que era ao mesmo tempo viril e sensível.

Enquanto sua mão descia e subia devagar pelo seu pênis, Gumer deixava escapar um suspiro misto de prazer e angústia — um momento só dele, revelando um homem que sabia o que tinha, mas temia o que podia perder.


21 de Fevereiro de 2019 - Quinta-Feira

Enquanto a nave dos Therianos entravam na atmosfera de Alfhenia, os sensores das bases de vigilância planetária detectaram a movimentação rapidamente. Operadores e analistas se reuniram, suas telas preenchidas com os dados de uma nave aparentemente antiga, datada da década de 60. O fato de ser uma nave local de outra era despertou imediatamente suspeitas. Apesar de sua idade, as autoridades não hesitaram em acionar os heróis responsáveis pela defesa da região. O protocolo exigia que qualquer ameaça fosse avaliada e, se necessário, eliminada antes de causar danos.

Dois heróis foram convocados — Eldaly e Briaaron. Ele voava com facilidade e podia se tornar invisível. E ela também voava, diferente dele, ela possuía super força.

Briaaron chegou primeiro, oculto pela invisibilidade, sobrevoando a nave que cortava o céu com suavidade metálica. Através da cúpula envidraçada, seus olhos captaram o interior:  figuras alienígenas estavam espalhadas pelos compartimentos centrais. Eram seres magros, de aparência abatida, muitos com feridas visíveis e sinais de desnutrição. Nenhuma arma à vista, nenhum gesto hostil. Tudo indicava fragilidade, rendição ou exaustão. Briaaron compreendeu rapidamente que não havia perigo iminente e repassou sua avaliação aos responsáveis pela missão. 

Eldaly, porém, foi chamada para eliminar a ameaça. Não havia espaço para negociações. Como um trovão, ela surgiu do céu. Despencou sobre a nave como um cometa, e seu punho, colidiu com o casco metálico em um estrondo que cortou o céu. O impacto rasgou a estrutura da nave com facilidade brutal; aço e ligas avançadas se dobraram como papel. A embarcação alienígena se partiu ao meio em pleno voo, desabando em espirais descontroladas. Dentro, o pânico foi imediato: os gritos dos Therianos se confundiam com alarmes e estalos da fuselagem retorcida. Alguns foram lançados pelos ares, engolidos pelo vento antes mesmo de entenderem o que os atingira. O céu, por um instante, tornou-se palco de um massacre. 

Khelos estava preso a um pedaço da nave que girava velozmente, a visão turvada pelo fogo e pela velocidade. O mundo ao redor era um borrão, enquanto Eldaly caçava os últimos Therianos como se fossem bonecos de pano. Ela os destruía um a um com golpes brutais, deixando apenas sangue e membros despedaçados desabando entre os destroços. 

Preso naquele fragmento, Khelos sentia o calor do incêndio e o vento violento, sem conseguir ver direito nada além da rotação insana. Quando finalmente se desprendeu, seu corpo despencou, atravessando as nuvens em queda livre. O vento rasgava sua pele roxa, os olhos lacrimejavam e o ar queimava em seus pulmões.

Arremessado contra o telhado do internato mágico, que se partiu em estilhaços sob o impacto colossal. O estrondo fez tremular as paredes e ecoou pelos corredores. Sem frear, ele despencou pelos quatro andares do imenso edifício, rompendo lajes e vigas de sustentação, que cederam em cascata, lançando poeira e detritos por todo lado. Pilares racharam e caíram, portas foram arrancadas de suas dobradiças, e pedaços do teto desabaram sobre os corredores vazios. O som de ossos estalando misturava-se ao barulho da destruição, enquanto o rastro de devastação avançava implacável até que, ao colidir com o solo, seu corpo não se despedaçou como esperado. Em vez disso, ele se transformou em uma névoa mágica vermelha, que se espalhou rapidamente por toda a escola. A essência de Khelos se diluiu no ar, se infiltrando em cada canto, penetrando nas sombras e nos segredos daquele lugar, um lembrete silencioso e sombrio do fim de uma raça. O que restava agora era uma força misteriosa, um legado que se misturaria à história daquele local, de maneira invisível e imprevisível.


Horas haviam se passado desde que uma cratera atravessou os quatro andares do internato mágico. O boato era estranho: diziam que um herói havia caído do céu e desaparecido antes de tocar o solo. Investigadores mágicos foram chamados à tarde e confirmaram que algo — ou alguém — realmente havia atingido a escola, mas sumiu antes do impacto final.

Sinthra-humanos especializados em reconstrução mágica chegaram logo depois. Com feitiços poderosos, restauraram os andares destruídos em questão de minutos. A estrutura voltou ao normal, mas o mistério permaneceu.

Enquanto isso, as notícias mostravam naves alienígenas destruídas e corpos espalhados em pontos diferentes da cidade. Por um tempo, esse foi o assunto de todo noticiário: os destroços, os alienígenas, a ameaça. Mas, com o passar das horas, tudo foi silenciado.

A escola seguiu sua rotina, como se nada tivesse acontecido. Ninguém sabia quem havia caído do céu — nem por quê. Mas o buraco deixado na escola parecia marcar o início de algo que ainda estava por vir. Ártemis sentia isso.


No final da tarde, quando o sol já tocava o topo das árvores ao longe, no pátio externo do internato mágico, os Bambis estavam reunidos: Ártemis, Gumer, Firefy, Trrira e Glomme. Sentados nas arquibancadas de pedras úmidas pela garoa da manhã, observavam o movimento dos outros alunos durante o intervalo. 

Ártemis olhou ao redor, pensativa, e então perguntou se alguém conhecia uma garota de laço amarelo. Firefy logo respondeu com um aceno hesitante. Sim, conhecia. Era Misha — parte de um grupo chamado “Caçadores”. Firefy contou que, no ano anterior, Misha havia jogado comida em seu cabelo e a chamado de “cenoura feia”.

Trrira, sentada ao lado, ficou visivelmente chocada com o que ouviu. Ela achou revoltante alguém fazer isso com Firefy, ainda mais sem motivo algum.

Glomme, que observava a conversa em silêncio, finalmente falou. Disse que era melhor não se envolver com os Caçadores. Mencionou Quinn, um dos membros, um garoto de cabelo azul que vivia fazendo piadas maldosas. Glomme falava devagar, olhando para baixo, e era claro que tinha sido alvo dessas piadas mais de uma vez.

Ártemis ouviu tudo em silêncio. Aquilo a incomodava. Olhou para seus amigos, todos tão diferentes, mas unidos. Sentia crescer uma vontade de protegê-los — e, ao mesmo tempo, uma firmeza em não aceitar aquele tipo de coisa.

Eles não falaram mais nada. Mas todos ali sabiam: se os Caçadores tentassem algo, os Bambis não ficariam calados.

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