Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 12: Serviço

Por um momento, Lucas jurou que estava morto. Eram dezenas de morcegos vindo em sua direção, tantos que a rua inteira ficou infestada deles.

Preparou a espada e uma esfera de raios na outra mão. Um arrepio o atingiu da cabeça aos pés, até reparar num morcego do enxame voando alegremente em sua direção e à frente dos demais.

Era Mila, que tinha a expressão mais feliz do mundo.

— O que…? Eu não pedi pra ela ficar longe?

A morcega parou e todos atrás dela também. Pousou no chão, deu uns passinhos curtos e olhou Lucas, esperando ser pega.

— Eu seriamente estou pensando no que você fez para aparecer dessa maneira. — Ele a tirou do chão e colocou em seu ombro. — Deve ter algo a ver com skills.

Abriu a tela de status dela.

 

Mila

Morcego das Cavernas ♀; Nível 11 (+5)

Habilidades; Ecolocalização - Visão no Escuro - Mordida Vampírica - Comandar Bando - Líder Natural.

 

Comandar Bando

Rank: E

 Permite ao usuário construir um grupo baseado em seu nível e comandá-lo.

 

Líder Nato

Rank: C

Ganha habilidades sobrenaturais de ordenar e organizar pessoas à sua volta. Persuasão, Intimidação e Enganação tem suas chances grandemente aumentadas. Requisito essencial para evoluir a ?????.

 

Os olhos de Lucas queriam cair diante das informações absurdas. Se tivesse olhado com antecedência, com certeza usaria as skills para perambular nas zonas.

Como já eram águas passadas, resolveu deixar pra lá. Estava mais interessado em saber como cada uma das novas habilidades surgiram.

Uma janela apareceria caso a invocação subisse de nível ou recebesse uma propriedade nova, ou assim imaginava ser.

Não as viu antes porque seu sangue foi sugado no meio da noite, então as janelas deviam ter desaparecido nesse ínterim. Foi direto ao manual e procurou sobre invocações.

 

O Funcionamento Básico de Invocações

Talentos de Ajudantes e Companheiros.

Evolução de Monstros

 

Clicou nas duas primeiras, fazendo duas janelas aparecerem.

 

Funcionamento Básico: Invocações surgem por meio do efeito de determinados itens, contendo seus próprios níveis e skills. Elas se fortalecem matando outros monstros e algumas possuem coeficientes secretos baseados em determinadas ações, como sugar energia vital ou absorver mana. 

As habilidades são evoluídas de maneira automática caso sejam usadas regularmente. Se uma criatura morrer, ela dropa uma essência de memória, que é um resquício de suas antigas capacidades e que pode ser embutido num corpo vazio ou consumido por outra criatura.

 

Talentos: São aspectos inatos e ocultos de outros seres, que surgem por meio de determinadas ações ou estados. Os talentos são únicos da criatura e evoluem conforme seu uso, além de que, dependendo da capacidade, ela se ramifica para outras skills.

 

— Resumindo: você ficou boladona depois de beber meu sangue.

Mila acenou com a cabeça, mesmo que não entendesse o que ele dizia.

— Certo, então vamos dar um bom uso aos seus novos poderes!

Deu as costas e seguiu para a zona anterior. Passou pelo fio e logo em seguida os demais morcegos vieram em conjunto, fazendo um tipo de turbilhão roxo ao seu redor.

— Mila, pode ordená-los a matarem os goblins e trazerem os corpos?

A morcega soltou um pio agudo, o que obrigou Lucas a tapar os ouvidos de tão insuportável que o barulho era. O enxame se desfez e repentinamente sua vista ficou limpa.

Sentou num banco ali perto e tirou um caderno da mochila. Anotou alguns pontos importantes, como a questão das zonas seguras e o funcionamento delas.

Até então, apenas sua casa era considerada uma delas, e só permitia ir para aquela dimensão durante a noite. 

 Havia outros dois lugares que eram potenciais zonas seguras: o restaurante e o arcade “Raging” no centro da cidade.

O único problema é que não sabia do estado do arcade, pois há meses não o visitava e sequer tinha certeza se naquela Terra alternativa o lugar continuava de pé.

“Eu ainda não sei como funcionaria para eu me transportar de uma área segura para este lugar também. Os dois são meio distantes a pé, não consigo pensar num jeito de chegar lá…”

Suspirou e deu uma batidinha na madeira do banco. De repente, uma barra verde surgiu ao seu lado. Ele levantou a sobrancelha e deu outra batida, a barra diminuiu um tiquinho.

Repetiu as pancadas até zerar a barra. Acabou caindo de bunda no chão, enquanto o banco se transformou em um pó transparente que logo se dissipou.

 

4x Madeira

1x Ferro

 

— Dá pra quebrar as coisas, eu esqueci disso! Cacetada, isso vai resolver meu problema!

De uma hora para outra esqueceu dos problemas, porém teve outro grave conflito. Para construir coisas, precisava da aba de construção, que estava trancada por falta de pontos.

Ao menos, tinha outra coisa para realizar durante sua farmada em inteligência. Aguardou a frota de morcegos retornarem, seu plano logo seria posto em ação.

De pouco em pouco, uma grande pilha de corpos verdes foi amontoada no asfalto. Lucas pegou cada um, coletou as Ervas da Manhã e antes que desaparecessem as investigou.

 

Goblins atuam em grupos,  são conhecidos por serem excepcionalmente fracos e usarem os piores equipamentos conhecidos. São tão inúteis que suas evoluções posteriores conseguem valer por 100 ou mais da espécie, criando uma hierarquia interna entre eles.

Eles possuem como ponto fraco a nuca, por conta do pescoço pequeno e fácil de quebrar levando em conta o peso da própria cabeça. Seus olfatos são afiados ao extremo, eles têm interesse particular por aromas suaves e não resistem a odores fortes demais.

 

“A profissão não evoluiu, mas não é problema… Espera, eu tive uma ideia! Se eu aumentar o raio de spawn dessa região, então mais goblins vão aparecer e eu posso farmar a profissão e os itens mais rápido ainda!”

— Mila, reúna todos os morcegos de novo.

A coisinha fez o mesmo barulho, e dessa vez os monstrinhos vieram enfileirados e pousaram no chão. 

— Escutem, todos vocês! — Lucas levantou e apoiou as mãos na cintura, como um tipo de comandante. — Eu preciso que destruam tudo nesse lugar, tudo mesmo! Derrubem os prédios, as casas, o que for! 

A morcega transmitiu as ordens para eles, logo cada um foi para um lado e mordiscaram as paredes de concreto. 

— Se encontrarem goblins, matem e coletem os espólios, se acharem algo dentro das construções, deixem junto separados dos goblins! — Apontou para o seu condomínio ali perto. — A única coisa que vocês não podem destruir é aquilo.

Passou um tempo olhando os morcegos trabalhando, então quando teve certeza de que tudo correria bem, deu as costas em direção ao condomínio.

Mila o seguiu, mas Lucas a impediu de ir muito longe.

— Não, não, você ficará aqui com eles. — A morceguinha fez cara de choro e por um instante ele hesitou em falar mais. — Hah… tá, escute: se você conseguir derrubar tudo o que tem nessa área e matar muitos goblins antes de eu voltar, eu deixo você sugar mais do meu sangue, ok?

De uma hora para a outra ela se encheu de alegria e voltou com toda velocidade para comandar sua legião. 

O rapaz sorriu e retornou para casa, sua cabeça estava meio tonta e o cansaço começou a pegar no seu pé. 

Abriu a porta do apartamento e entrou sorrateiramente, afundando na cama quando teve a chance. Antes de dormir, olhou o celular — era sábado, 1:02 da noite.

"Quase esqueci o negócio que combinei… Só vou ter umas poucas horas de sono. Sorte a minha que o Theo vem me buscar."

Desligou o celular e deixou no canto, então adormeceu. O dia seguinte seria longo demais para não perder a chance de descansar nem que fosse um pouco.

 

*****

 

Theo esperava com seu carro estacionado perto do tal condomínio que Lucas deu o endereço. Estava meio receoso, era a primeira vez que dava carona para alguém.

Na verdade, tinha certo medo de ser julgado por dirigir um fusquinha azul por aí. Depois de um tempo, o rapaz apareceu na porta do condomínio e olhou de um lado para o outro.

Ao avistar o carro, aproximou-se e deu um soco no ombro de Theo antes de sentar no banco. Colocou o cinto, assim deixando o silêncio fluir lá.

Os dois olharam para frente, então o grandalhão deu ignição e dirigiu pela rua. Não sabia o que falar, o que mais queria saber era o motivo de ter levado o soco sem ter dito nada.

— Ei — falou Lucas —, você sabia que esse carro é uma máquina de matar?

— Co-como assim…?

— Olha aqueles dois ali.

Theo viu dois meninos no meio de uma praça dando socos no ombro um do outro. Levantou as sobrancelhas, estranhando os garotos.

— Não entendi… É-é alguma brincadeira?

— Ué, nunca deu um soco em alguém por ver um fusca azul?

— Não? Por-por que eu iria fazer isso? Não tem sentido

— Você é estranho, cara. — Ele riu, dando de ombros.

O confuso grandalhão decidiu esquecer aquela conversa estranha e seguiu até o tal ponto de encontro. 

Ambos desceram assim que estacionaram, permitindo que Lucas visualizasse o que era o serviço.

Estavam abaixo de um viaduto, numa rua menos movimentada e cercados por mato, além de algumas pilhas de lixo.

Na lateral de uma das pilastras do viaduto tinha uma porta de grades de metal, e na calçada havia cinco pessoas esperando.

Antes de irem até eles, Theo abriu o porta-malas e tirou algumas bolsas de dentro. Quando chegaram perto, Lucas reparou em certas coisas.

Eram dois casais de velhos e uma garota de cabelo curto. 

— Finalmente você chegou! — disse um senhorzinho baixo e de barba, que se aproximou e encarou o rapaz de óculos. — Esse é o amigo que ia chamar?

— Sim, e-ele é o Lucas. — O bombado acenou com a cabeça.

— Ótimo, espero que possamos nos dar bem, garoto. — Ele ofereceu a mão para um aperto. — É sempre bom ter uma ajudinha dos mais jovens.

— Cla-claro, é um prazer… — Retribuiu o gesto. — Ehhh, só pra saber, o que a gente vai fazer mesmo?

— Matar goblins — respondeu Theo, entregando uma das mochilas nas mãos do amigo. — Eles ocasionalmente montam ninhos nos esgotos e começam a se mul-multiplicar, então temos que realizar uma limpeza pra evitar que aca-acabem atacando alguém com seus números altos.

— Is-isso não é perigoso? 

— Não, de jeito nenhum. — Tirou da sua bolsa um tipo de macacão branco e um porrete. — Até u-uma criança consegue matar, porém uma pessoa pode ficar em perigo con-contra muitos.

"Ué, então o que aquela mulher era mentira? Só pode ser sacanagem, né?" Lucas vestiu o macacão e em seguida disse: — Bom, já que vamos matar esses bichos, como faremos?

O velho que o cumprimentou mais cedo explicou que se separariam em dois grupos, um com os quatro idosos e outro com os três jovens.

Como um deles possuía uma habilidade de cura, os mais velhos não precisariam se preocupar em se machucarem e terem que lidar com os ferimentos.

Por isso o outro grupo seria feito deles três, já que não possuíam os mesmos problemas que os de idade mais avançada.

Cada um foi para o seu lado quando entraram nos esgotos. Lucas continuava pensando no que Theo disse.

Aquilo era no mínimo frustrante, até uma criança podia fazer o que ele levou dias para alcançar. 

Suspirou, era melhor não pensar demais, já era revoltante saber que mentiram para ele de um jeito tão descarado.

— Ei, Theo, quem eram aqueles senhores lá? 

— Meus pais e meus tios. Por que-que a pergunta?

— Pera, seus pais? — Ficou surpreso, inclinando a cabeça para o lado. — Caramba, com aquela idade?

— Na-na verdade, eu e Alice somos adotados. — Parou para observar outro corredor ao lado. — É normal as pessoas estranharem, po-pode ficar tranquilo. Alice é mi-minha irmã atrás da gen-gente, aliás.

— Não lembro de você ser tão conversador — retrucou a garota, dando uma cutucada com o bastão na cabeça do grandalhão.

— Lucas é-é um cara legal, por que eu nã-não conversaria com ele?

— Não sei, você que me diga. Você nunca tem amigos de qualquer jeito.

Vendo a briga que provocou por acidente, Lucas preferiu não se enfiar na discussão dos irmãos e se voltou para o caminho. 

Estreitou os olhos, era meio difícil de observar com a película de plástico e os óculos na frente. 

Algo estava parado no caminho, de cor verde… só que era alto, do tamanho de uma pessoa normal.

— Ei, o que é aquilo?

— Merda — xingou Alice, recuando alguns passos para trás e sussurrando: — Recua devagar para trás, não faça barulho e tente não falar alto, ok?

No primeiro passo de Lucas, a criatura se alertou. Ela soltou um grunhido estranho e goblins começaram a emergir de todos os lugares.

O rapaz revirou os olhos, mais problemas vieram atazanar sua vida, mas por algum motivo permanecia relaxado como se aquilo não fosse nada demais.

Segurou o bastão em uma mão e respirou fundo, então partindo para o que fazia por instinto: matar goblins.

 

*****

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