Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 13: Vitória?

Lucas derrotou os três primeiros goblins em seu caminho com rápidas batidas na nuca, seguindo para os próximos com a mesma técnica.

— Ei, Theo, eu lido com os da frente enquanto vocês dois derrotam os de trás!

— Tudo bem, só não se aproxime! Ele é um hobgoblin, uma versão evoluída dos goblins comuns e é mais forte que uma pessoa normal!

— Falem menos e matem mais, seus patetas! — gritou Alice, esmagando a cabeça de um dos monstrinhos.

O rapaz continuou derrubando cada um dos anões verdes, porém o hobgoblin pareceu querer seu sangue. 

Desviou por centímetros de um soco que arrombou a parede, aquele bicho não saia de perto e tentava incessantemente acertá-lo.

Lucas foi atingido na barriga e seus pés se arrastaram pelo chão. Perdeu o ar por um instante, quase como se um martelo tivesse acertado seu intestino.

"Ele é forte pra caramba, mas comparado ao troll não é tanta coisa." Bateu em mais goblins no caminho com o porrete, retomando seu ritmo. "Eu pretendia usar aquilo só quando enfrentasse Amora, mas pelo visto vai ter que ser aqui e agora."

Ele sorriu e provocou o inimigo com um gesto de mão, o que funcionou. O monstro correu na sua direção, raspando o piso e erguendo o punho, dando tempo para ativar a nova arte.

Uma eletricidade correu pelo seu corpo, de repente os movimentos do hobgoblin desaceleraram. Tentou se mexer, mas estava tão lento quanto ele.

 

Postura Relâmpago ativada

O tempo passará mais devagar por um breve momento. 

 

Aquele breve momento deu a ideia de se jogar um pouco para o lado e contra-atacar com um gancho. Assim que o tempo voltou a correr, sua estratégia quase funcionou.

O  golpe do monstro pegou de raspão em seu ombro e rasgou o macacão, enquanto seu punho acertou o abdômen dele, fazendo-o gemer de dor.

“Podia ter dado errado, não levei em conta minha velocidade em consideração. Tenho que usar a arte antes, assim eu posso prever o que ele vai tentar…”

— Bora, desgraçado, você é tão franguinho assim?

Lucas mostrou o dedo do meio, o que provou funcionar na hora. O monstro voou em sua direção, então a arte foi ativada assim que levantou as unhas para o alto.

O rapaz previu que seria acertado por uma garrada, e por isso decidiu jogar seu corpo para trás num salto enquanto movia o porrete na horizontal para acertar a cabeça dele.

O timing não foi preciso. O porrete apenas varreu o ar, e no breve momento que estava recuando para trás, o hobgoblin se impulsionou para frente e o socou no meio do peito.

Voou para longe, o porrete caiu de sua mão e suas costas bateram contra a parede. Teve pouco tempo para se recuperar, esquivando-se de um ataque que fez um rombo na parede.

Pulou para retomar a postura, mas era tarde demais, o próximo golpe ia acertá-lo. Uma rocha se ergueu do solo, bloqueando por milésimos algo que poderia ter arrancado sua cabeça fora.

Lucas recuou para trás enquanto tinha a chance, vendo Theo agachado e com as mãos encostadas no chão emitindo uma aura marrom.

— Ainda tem… huff… como voltarmos de onde viemos? — disse Lucas, apoiando a mão no peito e sentindo seu coração bater aceleradamente.

— Não, o caminho ficou infestado de goblins e nossa única saída é passar por cima dele. — O rosto do grandalhão ficou sério e seus olhos se concentraram no monstro. — Alice vai segurá-los, mas não por muito tempo.

"Ele parece meio diferente… Bem, só tem um jeito de sair daqui mesmo." Lucas retomou seu fôlego e respondeu: — Theo, eu pensei em um jeito de derrubar esse desgraçado, mas preciso que você me proteja até o fim e me dê tempo.

— Certo, estarei cuidando da sua pele… Tome cuidado.

— Heh, relaxa, eu tenho certeza de que consigo derrotar ele… — Limpou o suor da testa, ajustando a base de suas pernas para a posição do boxe. — Amora ia me matar se eu não conseguisse.

Partiu para cima com os punhos erguidos e o tronco abaixado, ao mesmo tempo que o hobgoblin rugiu e começou a correr em sua direção.

Usou a Postura Relâmpago, o tempo desacelerou e seus instintos tomaram conta de seu corpo. 

Dois jabs, um pêndulo e um direto, seguido por um gancho que por um instante levantou o inimigo no ar.

No entanto ele se recuperou rápido e ia retribuir o favor, mas Theo trouxe outra barreira para impedi-lo. 

"Só mais um pouco, eu só preciso de uma abertura."

Aproveitando a chance, Lucas avançou mais uma vez e carregou uma Esfera Elétrica na mão esquerda.

A luta se desenrolou numa troca de golpes e movimentos, com o rapaz tomando a vantagem por boa parte da luta.

No entanto, aos poucos ele foi perdendo o ritmo. O ar ficou mais rarefeito e seus músculos começaram a gritar de dor.

O uso excessivo das artes também cansaram sua mente, sua consciência às vezes cedia por um breve momento, mas ele se manteve firme — só precisava de um golpe.

O hobgoblin ia dar um ataque por cima, Lucas viu lentamente ele se mover e foi naquela hora que a chance apareceu. 

"Agora!"

Desviou para o lado, inclinou o ombro para baixo e ergueu seu punho num uppercut limpo que quebrou o maxilar do inimigo.

Uma explosão elétrica fugiu de seu braço, impulsionando ainda mais o golpe e fazendo a cabeça do hobgoblin ser arrancada do corpo.

O rapaz respirou fundo e enfim relaxou. Sorriu, lentamente caindo para trás enquanto sua visão escurecia, abraçando a melhor sensação do mundo: a vitória.

"Eu consegui… hehe, Amora ficaria orgulhoso…"

 

*****

 

Lucas abriu os olhos e foi cegado pela luz do sol. Uma sombra se projetou acima de sua cabeça e sua nuca estava encostada numa superfície macia com uma ponta dura.

Aos poucos a sombra ganhou forma e rosto, fazendo-o identificar quem era.

“Não me diga que… Ah não, de novo não!”

Levantou o torso de uma vez e se afastou o mais rápido que pôde. Novamente tinha dormido no colo de uma garota sem perceber, e pra variar era o de Alice.

 Aquela ocorrência estava ficando mais comum de uma maneira preocupante. Virou a cabeça na direção dela, que encarava o chão com um rosto corado.

Lucas sentia o mesmo tipo de vergonha, mesmo que fosse algo estupidamente estranho aquilo acontecer logo após saírem do esgoto.

A garota abria e fechava a boca como se tentasse falar algo, mas não conseguia. 

Theo enfim apareceu, meio aliviado por ver seu amigo acordado, ao mesmo tempo que sua expressão indicava que passou por maus-bocados.

— Ainda be-bem que você a-acordou. — Sentou-se perto dos dois, largando o porrete. — Sério, pen-pensamos que aconteceu algo quan-quando você desmaiou.

— Não, eu… eu tô de boa. — A dor em seus músculos indicavam o contrário. — O que aconteceu lá dentro? Tá todo mundo bem? E os goblins?

— Lidamos com parte dos goblins e o pessoal tá ileso — disse Alice, enrolando os cachos entre os dedos. — Você foi realmente muito corajoso lá atrás, sa-sabe? Eu achei que não conseguia lidar com o monstro…

— Ma-mas foi bem imprudente! — Theo franziu a sobrancelha. — Você po-podia ter quebrado os ossos, perdido um braço ou até morrido! Foi sor-sorte que o macacão aguentou o bastante, só que não fa-faça isso de novo!

Lucas recebeu o sermão sem questionar, já que o bombado tinha bastante razão e com certeza ele deve ter ficado muitas horas se culpando pelo que aconteceu.

Por outro lado, Alice parecia impressionada, seus olhos chegavam a brilhar de admiração.

Theo suspirou e olhou para a entrada do esgoto, em que os velhinhos colocaram cadeados e correntes na porta de grade.

— Foi por muito pouco… A-acho que vamos ter que suspender essas ati-atividades por um tempo e chamar alguns Raider do estado para investigarem o local.

— Ué? Por que? — perguntou Lucas, com uma interrogação na cabeça.

— É porque pode ter aberto um portal lá dentro — falou Alice, sem mais o rosto vermelho e sem a mesma disposição de antes. — Hobgoblins são muito raros, quem sabe teria também outros ou até coisa pior…

— Si-sim… — Theo abaixou a cabeça, seu rosto pareceu meio sombrio. — Tive medo dos meus pais não voltarem…

Um clima pesado apareceu na conversa, Lucas se sentiu espremido por toda aquela negatividade.

Por sorte, o pai de Theo se aproximou e, percebendo o clima ruim, chamou-os para comer.

Os irmãos pareceram esquecer o que houve e se reuniram com os tios, logo o rapaz foi arrastado também.

Ele ficou meio envergonhado, mas decidiu se juntar à roda de conversa e apreciar os pedaços de bolo e suco.

Continuava meio preocupado sobre mais cedo, apenas não tocou no assunto. Quando terminaram de comer, os irmãos foram ajudar seus tios a guardarem os equipamentos.

Foi então que a mãe daqueles dois se aproximou do garoto de óculos.

— Você é o tal do Lucas, não é?

— Hã? Eu? — Ele levantou a sobrancelha e apontou para si. — Sim, sou eu mesmo.

— Rapazinho, eu quero te agradecer… — Um sorriso surgiu no rosto murcho da senhorinha. — Se não fosse por você, não sei o que aconteceria àquelas crianças. 

— Ah, isso não foi nada… Eu só fiz o que precisava ser feito, moça.

— Não, você na verdade deve ter sido bem corajoso pra enfrentar o perigo de frente assim. Por favor, aceite os agradecimentos desta velhinha…

Ele acenou com a cabeça e não questionou. Por algum motivo, sentia-se bem por receber tanta gratidão assim, mesmo que considerasse como nada demais o que fez.

Era só ele fazendo o que uma pessoa normal faria.

Enfim todos se separaram e Lucas recebeu uma carona para voltar para casa. Continuava exausto, o cochilo nem serviu para tirar o cansaço mental e a tensão nos músculos.

Apoiou a cabeça perto da janela e esperou pacientemente Theo dirigir pela cidade. Assim que estacionaram, deu um aperto de mão no grandalhão. 

— Te vejo na próxima. 

— Cla-claro… obri-brigado de novo por ter feito aquilo pela gente, eu juro que vou te-te recompensar!

— Não precisa se preocupar com isso, cara, já passou. — Coçou a nuca e em seguida encarou Alice no banco de trás. — Tudo deu certo, então bola pra frente. Se precisarem de alguém pra isso, não se importem de me chamar.

A garota corou de novo e tentou rir para disfarçar, socando o ombro do idiota de óculos antes dele sair do carro. 

Lucas acenou uma última vez enquanto eles iam embora, então seguiu de volta para casa, onde relaxaria pelo restante do final de semana.

Abriu a porta, lá dentro Amora estava sentado em cima da mesa com alguns papéis à frente e um cômico óculos no rosto. 

Riu por um momento, atraindo a atenção do gato que fez uma carranca feia.

— Finalmente você chegou, garoto! — Ele chamou com uma mexida da pata. — Senta aqui, preciso conversar a sério contigo.

Lucas ficou receoso, era a primeira vez que seu mestre parecia meio aflito. Pegou uma cadeira e olhou a papelada, até reparar naquele nome familiar — Scarlet Witch Bazar.

— O-o que é isso?

— Oh, então você reparou. Que bom, isso vai acelerar um pouco as coisas.

Amora foi breve em dizer o que ocorreu enquanto o garoto estava fora, e que dois integrantes da empresa vieram com o intuito de recrutá-lo.

O gato naquela hora estava analisando as cláusulas do contrato, mas não havia problema no rapaz escolher não se juntar se assim desejasse.

— E por que exatamente eles me querem lá?

— Aparentemente, eles acham que você tem uma habilidade de teleporte.É uma meia verdade, já que eu também lhe vi sumindo de uma maneira estranha…

— Espera, você me viu?!?

— Eu sou o guardião desta casa, óbvio que notei suas saidinhas e sumidas diárias. Achou que ia passar despercebido?

Lucas mordeu o lábio e por um momento pensou ser um grande idiota. Como diabos esqueceu que Amora era praticamente um tipo de cão de guarda, por mais irônico que fosse?

Suspirou, foi pego no meio de suas tramoias, agora precisava explicar isso de alguma forma. Porém, antes de pensar nisso, seu celular tocou. 

Agarrou-o e olhou para a tela, era seu irmão mais novo.

— Um momento, Amora. — Atendeu a ligação. — Alô, Levi? Precisa de alguma coisa?

— Alô, alô? — A voz do outro lado era de uma mulher, o barulho no fundo parecia uma baderna. — Aqui é a Natália, namorada do Levi, eu tô ligando pra saber se ele tá aí com vocês da família.

— Não… Por que a pergunta? Aconteceu algo?

— Ele… ele sumiu! Procurei por toda parte, ele não está em lugar nenhum!

Aquilo fez o semblante de Lucas mudar e um desespero tomar conta de seu coração. Seu irmão, Levi, tinha sumido. 

 

*****

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