Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 1

Capítulo 15: Resgate

Era tarde da noite, as ruas do lado de fora daquele armazém estavam silenciosas. A porta permaneceu aberta à espera do visitante.

Silhuetas andavam nos andares acima e se escondiam entre as caixas. Uma grande criatura vermelha e musculosa ficou parada na frente da entrada.

Junto dele havia uma pessoa de máscara cinza e capuz cuidando de um rapaz, preso por correntes de metal numa barra de metal fincada ao chão.

— Ele está demorando… — disse o gigante, batendo o pé no chão. — A chefe disse para que ele aparecesse nesse horário e nesse lugar! Não quero esperar mais!

— Não se afobe, ele com certeza não deixaria seu irmão de lado, mas, em todo caso… — O mascarado retirou uma pistola do casaco e conferiu as balas no pente, para em seguida guardá-la. — Só precisa de um disparo para arruinar qualquer coisa.

O ogro riu junto das demais sombras. Os minutos foram passando e enfim alguém apareceu na entrada. Era um rapaz  com uma mochila pendurada por cima de um dos ombros.

Ele tinha a mesma aparência fraca descrita pela chefe, no entanto foram avisados com clareza para não subestimar o garoto.

Assim que o rapaz deu um passo para dentro do armazém, o de máscara se colocou a postos e mirou a arma na cabeça de Levi.

— Vá com calma… — disse, com a mão no gatilho. — Jogue a bolsa para longe. 

Lucas arremessou a bolsa, caindo perto da parede na qual o mascarado ficou escorado. 

— Agora sim, podemos começar… — Uma risada esquisita saiu. — Garoto, explicarei de maneira simples e rápida: a chefe pediu para que você derrote nós dois, se conseguir, tem seu irmãozinho de volta. Se no final você não aguentar, ele morre. Fácil de entender?

O rapaz acenou com a cabeça.

— Ótimo. Cobalt será o primeiro, eu irei em seguida. Ah, e se tentar qualquer gracinha, nossos outros amigos vão lidar contigo rapidinho.

Lucas suspirou, enquanto o grandalhão alongou seus braços musculosos e sorriu, mais do que satisfeito por ter a chance de afundar aquele nerd contra o chão.

Os dois ficaram numa distância mediana um do outro. O jovem levantou os punhos e fechou a cara, expressando toda sua raiva e nenhum medo do inimigo.

Ele partiu para cima num salto rápido, fazendo o inimigo hesitar, porém com tempo de reação o suficiente para tentar contra-atacar com um soco.

Uma pena que atingiu somente o vento, pois num piscar de olhos Lucas passou por baixo e desferiu um soco que o atingiu bem na barriga e o empurrou para trás.

Seu abdômen foi marcado por uma mancha escura, enquanto a mão do garoto lançava faíscas no ar.

— Você tem uns truques na manga, não é, seu filha da puta?

— E você tem algo enfiado na bunda pra tá falante assim? — Ele suspirou, balançando os dedos para chamá-lo para a briga. — Vê se fecha o bico e vem pra cima, não tô com saco pra escutar mimimi de um merda que nem você. 

O gigante cerrou os dentes e exibiu um sorriso malicioso, que expôs uma forte sede de sangue semelhante a de um tigre olhando para a presa.

A mera pressão fez as pernas do rapaz tremularem um pouco, mas depois do que falou não tinha a menor intenção de dar um passo atrás.

A pele do monstro ficou escarlate, seus olhos se tornaram totalmente brancos e seus músculos ganharam diversas veias e uma aura flamejante o encobriu.

— Você tá morto, pivete… — Ele estralou os ossos das mãos.

O inimigo desapareceu de vista. Lucas se assustou ao vê-lo repentinamente na sua frente, com um dos braços no meio do caminho para socá-lo.

O mascarado imaginou que a luta estava ganha, que aquela fração de segundo era a lápide do rapaz, no entanto sua convicção o traiu.

Nada do que imaginava aconteceu, muito pelo contrário, apenas serviu para causar uma confusão e certo medo nele, pois o braço de seu amigo lentamente caiu no piso.

O rapaz permaneceu na mesma posição, porém agora segurava uma katana nas mãos que emitia uma eletricidade fortíssima. 

— Você é mesmo só da boca pra fora… — disse, sorrindo enquanto via seu oponente tremer enquanto agarrava a parte decepada. “Assim como eu pensei, era o combo perfeito.”

 

Corte Relâmpago e Postura Relâmpago sinergizam entre si, criando um novo efeito.

As duas artes foram fundidas em uma nova: Ataque Elétrico Instantâneo.

 

O ogro recuou com um salto para trás, futilmente tentando conter o rio de sangue que descia de sua ferida. 

— Maldito… vai pagar… vai pagar por isso!

— Vou? Hah… olha, meu mestre é mais ameaçador que você. A única coisa que tu tem é tamanho, porque de resto é pura decepção.

— Grrr… Já chega, se é morte que você quer, então darei meu mais poderoso ataque!

Uma bola flamejante surgiu na boca do monstro, crescendo em poder conforme os segundos demoraram. 

Lucas permaneceu parado, sua ideia era jogar uma esfera elétrica forte o bastante para fazê-lo mirar errado ou acabar explodindo em si mesmo.

Porém logo percebeu que era uma ideia ruim, se fizesse, seu irmão podia ser pego no meio do fogo cruzado. 

Nessa hora houve uma epifania na sua cabeça, bastava sua recém-adquirida nova técnica. Ele respirou fundo e num piscar de olhos apareceu na frente do ogro.

Sua lâmina subiu de baixo para cima, acertando o queixo do grandalhão e fazendo sua boca se projetar para cima, o que fez o disparo de sua boca atravessar as janelas e atingir um prédio metros atrás.

Insatisfeito, Lucas bateu no pomo da espada, empurrando-a para perfurar a mandíbula e atravessar o crânio, enquanto descarregava uma descarga elétrica que torrou os miolos dele.

O corpo do ogro caiu no chão, enquanto a expressão do rapaz parecia de uma criatura possuída por um demônio. 

— Só preciso derrotar você agora, não é? — Ele apontou a espada para frente.

O mascarado tremeu da cabeça aos pés, seus instintos imediatamente gritaram para sair dali. Sacou a arma em seu casaco e mirou na cabeça de Levi, que estava ao seu lado.

— Não… não se mexe ou eu explodo a cabeça dele!

Lucas parou de andar, travando seu pé onde estava. O inimigo suspirou de alívio, mas por dentro se remoía de ódio — a situação era completamente diferente do previsto.

A chefe havia dito que o rapaz devia ser só um garoto normal da cidade, nada acostumado com morte e que apenas deviam sequestrá-lo quando ele chegasse.

Só que, surpreendendo a todos, ocorreu o completo oposto.

“E onde estão os outros? Por que tá tudo tão quieto? Eles já deviam ter decido aqui…”

Diversas barras de metal caíram do teto, causando um estrondo gigantesco dentro do armazém. 

A pistola logo escapou das mãos do mascarado, seguido por uma pancada na cabeça que fez sua consciência desvanecer.

Amora enfim surgiu em meio às sombras em sua forma humanoide. Ele lambuzou a pata e mostrou um sorrisinho, enquanto encarava seu pupilo.

— Não precisa manter a técnica do Fluxo ativada por mais tempo. Você vai quebrar se continuar assim.

Lucas tomou um grande fôlego e desfez sua expressão raivosa. Sentiu como se sua cabeça estivesse sendo furado por uma agulha.

A habilidade ainda exigia uma energia mental absurda, talvez mais do que todas as suas outras artes combinadas, especialmente a que adquiriu no combate contra o ogro.

O rapaz levantou a cabeça e viu o rosto de seu irmão. Os dois olhos inchados, um dos dentes faltando e diversos hematomas roxos. 

Sua mente implorava para retribuir o favor ao seu inimigo inconsciente, para fazê-lo sofrer toda a dor que pudesse, mas tinha que seguir o plano.

Instantes depois entraram outras pessoas, dentre estas estava uma mulher ruiva de blazer, Bianca Scarlet. 

— Obrigada por me contatar, Lucas… — Ela revirou os olhos para a criatura sangrando no chão e o rosto vermelho do garoto. — Bem, eu não esperava isso… mas deixe-me assumir por aqui.

— Fez o que te pedi? — perguntou, enquanto tirava as correntes com a ajuda de Amora.

— Sim, já coloquei alguns dos nossos raiders para proteger sua mãe enquanto conversamos. Que tal negociarmos mais sobre sua proposta após interrogar esse seu amigo aí?

O rapaz acenou com a cabeça, e de um em um o restante dos capangas — que eram um bando de gnomos de pele cinza — foram presos dentro de jaulas.

Amora e Lucas acompanharam Bianca numa limusine, acompanhados de uma comitiva de outros carros que vinham atrás. 

Seria realmente uma noite muito longa.

 

*****

 

O interrogatório começou. Lucas ficou ao lado de Bianca, atrás de um vidro fosco que dava vista para uma sala pouco iluminada em que havia um agente e o mascarado.

Os minutos foram passados a fio e a conversa foi totalmente gravada, inclusive a ruiva tirou algumas dúvidas com o rapaz e quis saber como aquilo chegou a esse ponto.

A raiva de Lucas acabou se dispersou e deu lugar a um nervosismo, ele até teve dificuldade de relatar as coisas. No final, a mulher entendeu em parte aquilo.

— Só não faz sentido isso ser de repente… Tem certeza que não ofendeu algum político ou um criminoso?

— Tenho. O máximo que fiz foi ir ao trabalho… não tem motivo pra isso acontecer. 

— Que curioso, então pode acontecer que você precisa mesmo dos nossos serviços. — Ela tirou o celular do bolso e mandou uma mensagem para alguém. — Digo que você me assustou ao ligar, falando tantas coisas junto de seu familiar… mas agora que seremos parceiros de negócios, eu espero que nosso futuro seja brilhante.

Ela ofereceu a mão para um aperto, mas a mente dele estava em outra dimensão, tentando conectar as peças daquilo. Assim que viu a palma estendida, apertou-a.

— É… pode ser. 

As luzes repentinamente piscaram seguido pelo som de uma pancada forte. Lucas sentiu uma pressão abismal sobre os ombros, então as lâmpadas acenderam de novo.

A sala estava manchada de vermelho. O corpo do agente residia no chão, já o mascarado apareceu no canto da sala, uma luz roxa brilhava em seu queixo.

Os dois que observavam se assustaram, a tensão aumentou conforme os passos dele se aproximavam da janela fosca. 

— Me desculpe por me apresentar desse jeito — falou, sua voz era totalmente diferente de antes. — Pode me chamar de "A Soberana", e como pode ver estou usando esse monstro como meio para falar com você.

Lucas deu um passo para trás, aqueles olhos vermelhos e energia pareciam sugar o ar no ambiente.

— O que… o que você quer de mim?

Silêncio pairou no ambiente, até a chocada Bianca permaneceu no mesmo lugar, com medo de discar qualquer coisa em seu celular. Passado alguns segundos, o monstro bateu de novo no vidro

— Não tenha pressa, é um choque mesmo. Estarei esperando sua resposta.

Logo ele percebeu o que estava errado, tinha que falar pelo microfone. Bateu na própria cara e respirou fundo, para em seguida apertar o botão do aparelho.

— O que você quer de mim?

— Ah, não é nada demais… — O monstro estendeu a mão para o lado, dali surgiu uma janela flutuante azulada. — Eu sei que o usa, esse sistema… Lhe observei por um tempo, então quis entender como você ficou tão forte num espaço curto de tempo.

Ele riu, dando de ombros e sentando-se na mesa do interrogatório, aproveitando para chutar a cabeça decapitada do agente. 

— Eu aparecerei a cada mês para ver seu progresso. Não se preocupe, também trarei alguns amigos meus para testar sua força… 

Uma rachadura no ar apareceu atrás do mascarado, lentamente se quebrando e dando origem a um vórtice esverdeado que lançava energia pela sala.

— Espero vê-lo em breve, caro Lucas. Aproveite meu presente até lá, e pode ter certeza que não encostarei em ninguém que é especial a você até lá… exceto, é claro, se não satisfazer a demanda, hehehe.

O monstro foi sugado pelo portal e desapareceu, deixando nada além de sua própria máscara no chão. A rachadura se desfez, a pressão desapareceu, e Lucas caiu contra a parede.

Estava arfando, seu coração mais uma vez acelerou a mil. Aquila pressão não era normal, era dezenas de vezes maior que a do troll ou até de Amora. Foi como se tivesse visto um demônio nos olhos.

 

*****

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