Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 60: Atributos

A mente de Lucas era meio complicada com coisas emocionais. Ele não sabia direito como revelar o que sentia, nem como consertar seu problema.

Seu investimento em coisas que trouxessem uma grande quantia de dopamina no cérebro ocasionaram nisso, só para serem intensificadas quando ele começou a farmar.

“Eu preciso ir ao psiquiatra…”

 

O atributo Agilidade aumentou

 

“Ou será que não?”

Ele estava teoricamente bem, logo, não precisava de acompanhamento psicológico por agora. Uma pena que realmente seria bom, pois ajudaria e muito sua cabeça.

Sua cabeça girou algumas vezes para apagar o pensamento de ir a terapia, focando-se em socar o vento como sempre fazia no treino pela manhã. 

Lucas dava bastante atenção aos seus atributos aumentando, e ver seus números crescerem causava aquecia seu estômago de ansiedade para aumentar ainda mais.

Nunca houve uma exata razão para saber de cada um tão profundamente, mas durante a intensa sessão de treino, ele acabou reparando nas funções individuais de cada atributo conforme fazia determinadas atividades.

O guia geral na aba do sistema também colaborou para descobrir como cada um agia. 

 

Força: Um medidor de quanto impacto o movimento físico pode causar, o quanto de peso pode se levantar e a quantidade de força mental do usuário.

Agilidade: Reduzia o tempo de reação para agir e aumentava destreza com ações minuciosos e que exigiam menor movimento muscular.

Velocidade: Compreendia a velocidade base de seu corpo, isto é, a velocidade de corrida, do quanto de impulso é possível adquirir, de movimentos que exigiam maior deslocamento.

Resistência: Aumentava o vigor e energia da pessoa, além de acrescentar suavemente um tipo de proteção contra outros danos, sejam físicos ou de outras fontes.

Inteligência: Refletia o conhecimento atual da pessoa. Quanto mais ela tinha, mais sua percepção e pensamento das coisas mudava. Esse atributo se mantinha estático mesmo depois de um reset.

Técnico: Um conjunto de atributos que demonstram o conhecimento prático do indivíduo em relação a alguma coisa, como artes marciais e magias. Quanto mais pontos, mais automático, eficiente e poderoso uma ação relacionada se tornava. 

 

“Se bem que existem outros atributos que eu não consigo ver, como mana, que só dá pra sentir.”

Esse era outro fator estranho. Estamina e mana não podiam ser visualizados numa barra verde e azul ou entendidos por meio de números, eles só eram sentidos.

Quando Lucas estava muito cansado, sua estamina estava baixa, quando tinha a impressão de estar vazio por dentro, a mana estava baixa. 

Isso não diminuía nem um pouco a esquisitice, pelo contrário, aumentava. Ele terminou a sessão de shadowboxing e tomou um gole d'água da garrafa térmica afundada na neve.

Alongou os braços molengas e as pernas tensas, seu corpo ainda não havia se acostumado a longa sessão mesmo após duas semanas.

Algumas vezes Lucas queria desistir do treino porque era intenso demais. Todo esse tempo passou e ainda tinha dificuldade monstruosa em algumas sessões.

Se não fosse pelo suplemento ganho da poção, talvez teria sido impossível continuar. Ele também estava muito entediado, como se não bastasse.

Multiplicando oito horas de treino e uma de meditação por 14 dias, tinha-se por volta de 126 horas de puro grind, o que com certeza teria feito jogadores veteranos enlouquecerem.

Lucas não endoidou — ou acreditava não ter endoidado — porque dava uma sensação gostosa ficar mais forte, porém havia um limite.

Ele ainda gostava de jogar videogame, de conversar um tempinho com sua mãe, de olhar shorts no Supertube e, mesmo não querendo admitir, de receber visitas de outras pessoas.

O último ponto jamais confessaria, pois seria uma humilhação para um introvertido do seu nível dizer que gostava de pessoas vindo perguntar como estava e como foi o seu dia.

Por isso, uma determinada elfa acabou tomando bastante de sua atenção. 

Ela veio no dia anterior e chorou horrores, mas apareceu naquele exato momento, após acabar a sessão de shadowboxing.

Seus olhinhos encantados e os fios descabelados representavam bem seu fascínio, Lucas tentava muito entender o que fazia que era tão incrível assim.

— Ei, por quanto tempo vai ficar aí como uma stalker? — perguntou, inclinando a cabeça para o lugar em que ela se escondia. — É sinistro, seria bom que você evitasse.

— Stalker? — Solein levantou as sobrancelhas, sem entender direito. — O que significa “stalker”? Nunca ouvi essa palavra na minha vida.

— Hã… é uma pessoa que persegue outras por atração ou por curiosidade. É uma gente muito estranha que tenta se aproximar de você forçadamente, invade seu espaço pessoal… sabe?

A elfa acenou positivamente e estufou o peito, muito feliz por não compartilhar de nenhuma dessas características. 

Era apenas uma piada inocente porque estava escondida no meio das árvores, observando silenciosamente, sem mexer um músculo, como se fosse pegar uma presa indefesa.

Lucas não exatamente era um ser indefeso, mas na pior das hipóteses, poderia muito bem se tornar uma presa fácil.

— Então, Solein, apareceu porque dessa vez?

— Eu queria agradecer por ontem, foi realmente muito legal da sua parte me acolher.

— Ah, sei… — A memória dele mesmo chorando manchou seu cérebro e suas bochechas coraram. — Só ve-veio pra isso mesmo? O velho ou alguém precisa de minha ajuda?

— Não precisam mais. Você já resolveu o problema, certo? Só vim pra cá te observar e agradecer… pra falar a verdade, também fiquei muito entediada já que não tinha nada para fazer. Já que você fica treinando por aqui, eu não achei que faria mal assistir.

“Ainda é meio bizarro ter uma mina me vigiando quando eu deveria tá sozinho”, pensou Lucas, sem saber direito como reagir a forma que Solein explicava. — Agora é meu descanso, então acho que você vai voltar a ficar no tédio.

— É melhor do que ficar entediada na vila, ainda assim. 

Outro comportamento estranho. A forma como Solein era extremamente simpática ou tranquila quando por perto era algo a se suspeitar.

Lucas, sendo um bom paranóico, queria ler sua cabeça e desvendar o que diabos passava ali dentro. 

Ele não fazia mais ideia de como progredir a conversa, então apenas se sentou na neve fofa e logo a elfa veio lhe fazer companhia.

Os dois silenciosamente observaram o campo nevado e o vento soprar o capim ralo que captava um pouco da luz do sol.

O céu estava nublado como sempre, a aparência monótona de certa forma entediava Lucas também, porque era tudo sempre do mesmo jeito.

No entanto, era supostamente o clima ideal para elfos de gelo viverem, logo, não poderia amaldiçoar e desejar mudar tal lugar.

O máximo que fez era adicionar postes com bulbos de luz que se acionavam durante a noite, alguns bancos de enfeite e caminhos cavados na neve.

Seria bom se houvessem mais construções, mas não tinha nenhuma razão para construí-las. Foi aí que caiu a ficha, Lucas estava gostando de ser arquiteto.

“Por que me dá tanta vontade de colocar coisas nesse lugar vazio? Não é como se tivesse motivo, só parece legal mesmo… Aquela casa para o Hurrto parece muito boa.” Perdido em pensamentos, ele perguntou para si mesmo: — Será que seria possível trazer mais pessoas para cá…?

— O que está falando, Lucas? Como você traria mais gente se está preso conosco aqui?

— Preso? Não, não, eu não estou preso. Meio que eu posso retornar ao meu mundo livremente e acessar outros… Ah, desculpa, não te contei sobre isso, né?

O queixo de Solein caiu, ela colocou uma mão para empurrá-lo de volta ao lugar e respondeu: — Vo-você… você tá brincando, né?

— Tô não, ou você acha que faria sentido um humano, um anão e um gato monstro estarem presos junto com vocês? Nós teríamos morrido de fome em poucos dias!

Ela demorou um pouco para perceber, mas fazia bastante sentido agora que pensava como eles se sustentaram sem nenhum monstro ou animal na região.

Lucas manteve um semblante pensativo. Como será que novas pessoas viriam para cá? Primeiramente, era uma péssima ideia trazer gente do seu mundo para dentro das zonas.

Se morresse, tudo seria resetado e quaisquer lembranças geradas aqui dentro seriam perdidas, o que só ocasionaria mais confusão ao longo do tempo.

No entanto, se este local iria permanecer estático mais tarde e Hurrto junto dos elfos permaneceriam lá dentro, não era possível que houvesse outras pessoas semelhantes nas masmorras do sistema?

Uma epifania repentina cruzou seu cérebro. Ele se levantou e rapidamente correu na direção da cabana, deixando uma solitária Solein para trás.

No entanto, não demorou para retornar, mas dessa vez com um estranho cajado nas mãos. Havia uma flor na ponta e o cabo era feito de uma madeira clara.

 

Cajado da Floresta

Raridade: Raro

 

Permite conjurar um conjunto de magias básicas que os druídas e elfos usaram por muito tempo.

Magias disponíveis: Muro de Pedra, Cura Média, Vinhas e Invocar Inseto Menor.

 

— O que é isso, Lucas? — questionou, com os olhos correndo ao longo do cajado.

— É um cajado que eu guardei e não vi utilidade até agora. Se importa de usá-lo por um tempinho? Quero testar uma coisa.

— Hã… tá bom. — Ela pegou o cajado e o balançou como se estivesse chacoalhando uma caixa de suco. — Ele é bastante leve. 

Lucas guardou o item há bastante tempo por causa das magias embutidas nele e porque pretendia usá-lo cedo ou tarde.

O momento tinha chegado um pouco mais cedo do que imaginava, as magias eram úteis demais para meramente deixar passar.

— Solein, você sabe usar algo chamado mana?

— Mana? Sei desde que me conheço por gente, ora. É até ofensivo perguntar isso para mim…

— Pode tentar usar esse cajado, então?

— Hah, brincadeira de criança!

Ela apontou o cajado na direção de uma árvore, a flor na ponta brilhou e vinhas emergiram do solo, segurando o pinheiro.

Em seguida, ela usou Muro de Pedra, erguendo uma parede enorme para o alto. Como aquilo chamava muita atenção, ela manteve o feitiço por pouco tempo.

Lucas coçou o queixo igual um velho barbudo e rebobinou a epifania. Será que seria possível levar Solein numa masmorra para completarem juntos?

Era perigoso, tinha medo de colocá-la em risco necessário. Ela podia ter cometido coisas horríveis, mas ainda precisava tratar igual uma pessoa normal.

— Ei, sei que vai soar estranho… Quer ir comigo num desses mundos que consigo acessar?

— Eu posso?! — Os olhos dela se estufaram e ganharam um enorme brilho.

— Po-pode. — Ele se assustou quando ela repentinamente avançou em sua direção. — Nossa, você ficou bastante entusiasmada.

— É porque eu já não aguento mais esse lugar! Todo dia a mesma coisa, todo dia as mesmas pessoas! Não tem nada acontecendo, ninguém briga, ninguém faz nada de divertido!

Pelo visto ele não era o único entediado naquele lugar. Pensando no tempo, talvez teria cerca de duas horas até o retorno de Amora.

Ele abriu a janela que daria acesso às masmorras. Havia a Caverna Fungicida e então o Lago Congelado, porém existiam mais opções.

Dentre elas, optou por escolher uma masmorra que não fosse tão absurda quanto o Lago, para não repetir o que aconteceu igual da primeira vez.

Levando Solein consigo, seria imprudente ir a um lugar em que ela poderia morrer na mesma hora.

Ele enfim escolheu uma, um portão coberto de vinhas e videiras se materializou atrás dele, abrindo ambas as portas de madeira.

— Uou! — Ela deu um pulo de susto, querendo entender de onde aquela coisa veio. — Que incrível! Essa coisa vai nos levar para outro lugar?

— Sim, vai. Quando estivermos lá dentro, não saia do meu lado e não enlouqueça por nada, tá bem? Pode ser perigoso. 

Solein acenou em concordância e ficou alguns passinhos atrás de Lucas, enquanto ele passava pelo arco de raízes e se deparava com um ambiente cheio de flores e com um perfume forte no ar.

Era um lugar extremamente calmo e agradável, os olhos da elfa inflaram de felicidade, mas o de Lucas se encolheram numa careta ao reparar na tela flutuante diante de seus olhos.

“Ah, merda, tinha que ser alguma coisa realmente séria para aparecer entre as masmorras disponíveis!”

 

Masmorra Bosque Arbóreo

Uma energia negativa corrompe o ambiente, os ventos trazem destruição e caos.



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