Volume 1 – Arco 1
Capítulo 11: Arma secreta
São Paulo, 2017 D.C
— Então? Como foi o filme? — perguntou Esfayl.
— Violento demais... — respondeu Katarina.
— Do jeito que eu gosto — disse Ágata.
— Demais até para você, Katarina?
— O filme não, esses dois aqui que ficaram brigando o tempo todo. Acabei nem conseguindo ver o clímax direito.
— Podemos rever outro dia sem eles, mas agora que acabei de resolver as coisas, vou ter que me encontrar com a pessoa que vai tirar o Lucca da prisão. Alguém quer ir junto?
— Estou de boa — disse Wade, andando para uma loja cheia de máquinas de garra.
— Aquilo é um dragão de pelúcia?! — E Ágata foi junto.
— Eu não vou ficar de babá desse dois de novo não — disse Katarina.
— Mas deixar eles sozinhos é meio... Onde que os outros estavam?
— O Gamaliel e o Karim já vazaram para sabe se lá onde e os outros dois estavam comendo no andar de baixo.
— Vamos chamar eles então.
Jithnaris, 1340 D.M.
— ...E foi por isso que passei quatro anos vagando em busca de vingança. Experimentei todo tipo de esteroide, técnica, artefato e treino para me fortalecer. Subornei dois guardas para descobrir o destino do culpado e cometi um crime para ser preso na prisão federal e me aproximar dele.
No fim eu estava completamente arrependido de ter escutado a história do Brutamonte. Ela era tão terrível e com detalhes de violência tão gráficos que nem documentários sobre assassinos em série teriam coragem de sequer citar, mesmo censurando todos os mínimos detalhes, o que aconteceu naquela noite.
Quanto mais ele contava, mais eu me perguntava sobre como ele ainda se mantinha são depois de tudo que passou, principalmente pela riqueza em detalhes de um evento tão distante, somente possível para alguém com pesadelos constantes sobre o mesmo trauma ou uma memória fotográfica, que poderia mais se considerar uma maldição por armazenar uma cena nojenta como aquela perfeitamente.
Pelo outro lado, acho que qualquer um que escutasse a sua motivação concordaria com o que ele fez, talvez até o julgando por não ter feito mais contra os culpados.
— É, isso vai me tirar umas boas noites de sono. — Talvez por já ter sido preparado por diversas histórias traumatizantes, meu corpo lidou bem com o relato do Brutamonte. Mesmo assim, ouvir que algo desse nível aconteceu na vida real vai deixar uma enorme paranoia quando for dormir.
Mas quando me virei para ver a reação do Poeta, percebi o quão bem havia lidado com essa história horrível.
Lucca, 13XX Jithnaris
— Lembra daquele dia em que o Brutamonte contou a história dele? Escrevi um poema sobre, vê se ficou bom.
Ele suava frio, seu pé lentamente empurrava sua cadeira para longe.
Eu me senti como se estivesse caindo naquela noite, como a vítima sendo enfocada, não conseguia respirar.
Seus tremores estavam visíveis, ele ansiosamente esfregava uma mão na outra como se estivesse lavando as mãos.
Minha garganta, tão seca quanto a capital de Mantra, minha língua, sufocada pelos meus dentes, toda a minha boca era como a terra infértil do Sul, implorando por salvação.
Suas pálpebras se abriam e fechavam em um ritmo frenético.
Meu coração batia como quando fui preso pela primeira vez, em uma altura igualável aos tambores do imperador Kalos.
Os pelos de seus braços estavam completamente arrepiados, ele tossia como se tentasse tirar algo preso em sua garganta.
O mundo girava sem parar, suas palavras eram como flechas atiradas por um veterano de guerra, certeiras e envenenadas.
Em certos momentos ele tampou seus ouvidos e se virou para que não abrisse nem a oportunidade de seus olhos pregarem uma peça e lerem os lábios do narrador, que contava cenas absurdas com uma naturalidade de alguém que já visitou o último andar do inferno.
Me dobrei, colocando minha cabeça entre meus joelhos, como um filhote indefeso.
Sua respiração acelerada era audível, seu rosto, que tanto se contorcia com caretas, se avermelhava aos poucos.
Meus olhos se desviavam, mas a minha obrigação como artista superava o meu sofrimento, minha natureza tentava me distrair, mas permaneci firme em meus ideais e voltei meu olhar a aquele que havia passado por tudo isso, em respeito a sua coragem em compartilhar algo tão doloroso de se relembrar.
Ele se segurou tanto, mas no fim desabou e vomitou no chão.
Me virei para trás para pedir um pano para os guardas, mas até eles precisavam de ajuda depois de ouvirem o que ouviram.
“Eu também deveria vomitar depois de escutar esse relato?”, tentei, mas não consegui.
— Como que você tem certeza de que quem fez esse... Era um meio humano e não um dos bárbaros que morreram para o andarilho logo depois? — perguntei.
— Eles têm um costume engraçado...
13XX Jithnaris
— Eu nunca contei para você, mas na verdade a habilidade dele não é intimidar, provocar ou atrair, igual à dos tanques comuns. Ele já nasceu com um talento inato, mas prefere escondê-lo. Isso é porque...
São Paulo, 2017 D.C
— Nas tribos dos bárbaros a feiura é uma medida de força, então era uma vergonha para ele mostrar o rostinho bonito dele — disse Esfayl.
—Uau, ele é um ator de fora?
— Qual o seu número?
— Parece que aqui ele não vai ter mais esse problema — disse Katarina.
— Argh, por que você chama ainda mais atenção sem máscara!? — gritou Henry, sendo esmagado por uma multidão crescente.
O gato soltou alguns grunhidos, incomodado com o tumulto e pulou do ombro da Esfayl, saltitando por cima de várias cabeças no caminho até fugir do shopping.
— Lírio! Volta aqui! — gritou Esfayl.
— Acho que não tem jeito, pode indo, eu fico de olho nos dois — disse Katarina, com um tom cansado.
— Desculpa! Depois te compro um presente legal! — E Esfayl mergulhou no mar de gente que bloqueava o caminho para a entrada.
Lucca Massaro Monti, sala de visitas da solitária, 1340 D.M
— ...Então ter um descendente bonito seria uma vergonha grande demais para eles terem feito isso — disse o Brutamonte.
— Faz sentido.
— Também... O meu neto que morreu pouco depois para a mesma doença, tinha alguns traços não humanos.
O Poeta que tinha acabado de se recuperar tampou sua boca com as mãos e quase vomitou novamente, mas dessa vez conseguiu se segurar. Ou melhor, conseguiu se segurar porque não tinha mais nada sobrando no estomago.
— Como vocês conseguem falar tranquilamente sobre algo assim? — perguntou o Poeta.
— O tempo cura quase tudo — respondeu o Brutamonte.
— Acho que a ilha me deixou...
No meio da minha fala, o sino tocou inúmeras vezes de forma desesperada.
— Esse é novo.
— Os demônios invadiram a prisão ou algo do tipo? — perguntou o Poeta para os guardas.
Nem eles sabiam ao certo sobre o que era aquele aviso, mas decidiram terminar a visita preventivamente e falaram para a gente se despedir logo.
— Traumas irreparáveis a parte, com esse seu relato tenho quase certeza de que seu julgamento vai terminar bem, nos vemos mais tarde — disse o Poeta.
— Até logo.
Quando eu coloquei o artefato telefone na mesa, a porta foi aberta violentamente e um novo guarda gritou:
— Os prisioneiros iniciaram uma rebelião!
A atitude tranquila dos guardas mudou drasticamente e dois deles pegaram algemas para nos prenderem.
— O que é isso? Não temos nada envolvido com isso aí! — E o Poeta murmurou em seguida: — Eu acho...
— Procedimento padrão — respondeu o guarda. — Facilitem nosso trabalho e não resistam, por favor.
— Espera!
— O que foi?
— Não tinha um guarda vigiando a saída do lado do Brutamonte?
— Esse truque não vai funcionar... — Mesmo dizendo isso, ele olhou de relance para o outro lado, deixou escapar uma expressão confusa, parou de me algemar e abriu a porta para ver o que tinha acontecido.
Então vindo de fora da porta, uma lâmina perfurou a sua barriga.
Ele caiu no chão e um homem do tamanho do Brutamonte, com grilhões quebrados e roupas especiais reservadas para criminosos da solitária, entrou na sala, passando por cima do corpo e puxando com uma mão a espada da barriga do guarda, enquanto todos observavam incrédulos.
— Hm? Interrompi sua visita?
Assim, um massacre começou.
— Desgraçado! — Um dos guardas agiu sem pensar e estourou uma pedra elemental azul, que liberou uma sequência de trovões no prisioneiro, seguido de uma investida dupla, sincronizada com outro guarda.
Virei meu rosto por causa do brilho intenso dos trovões, mas quando os choques pararam e voltei meu olhar para luta, os dois guardas estavam caídos no chão, com seus rostos desfigurados.
Mesmo estando em uma desvantagem considerável, o prisioneiro ignorou todos os golpes desarmados e os ataques mágicos como se não fossem nada e desviou perfeitamente de todos os ataques armados que vinham em sua direção.
E até nas poucas vezes em que os esforços conjuntos dos guardas eram efetivos e um deles encontrava uma abertura, a cada pequeno corte que ele recebia, ele retribuía com um braço ou uma perna decepada e a cada erro, um guarda era morto.
Vendo isso, eu e o Poeta nos rastejamos para longe da porta, desviando dos largos cortes desesperados dos guardas e dos corpos lançados pelo prisioneiro. E junto do Brutamonte, começamos a jogar tudo que estava ao nosso alcance na sala para tentar quebrar o vidro e fugir para dentro da solitária.
— SE AFASTEM! — gritou o Brutamonte, alto o suficiente para sua voz ser ouvida mesmo sem o telefone.
Ele deu quatro passos para trás, duas barreiras se formaram sobre todo seu corpo e ele se jogou no vidro, que finalmente se estilhaçou.
A luta se cessou por um instante, mas na confusão dos guardas em identificar se ele se juntaria ao outro rebelde ou não, o restante deles foram mortos com um só ataque.
— Pulem para o outro lado — disse o Brutamonte, se colocando nades nossa frente.
Eu atravessei, mas Poeta ficou olhando para os vários pedaços afiados de vidro, com medo de ir.
Quando o Brutamonte o levantou e estava prestes a jogar para o outro lado, a porta se abriu novamente.
— O que você está fazendo? — Depois de explicar que conhecia a gente, o Vibogo deu uma boa risada e o prisioneiro abaixou a sua arma. — Então ele não ia ser executado imediatamente... Parece que eu exagerei um pouco as coisas, mas agora não tem mais volta. Se pegarem a gente dessa vez, nós realmente morremos. Então sem dar corpo mole!
Por sorte, o Vibogo havia ajudado aquela máquina de matar a fugir, em troca dele nos escoltar até fora da prisão, então a luta foi encerrada antes de começar.
— Vocês são todos malucos... — disse o Poeta.
— Aliás, o nome dele é Saturno! — disse Vibogo, sobrepondo o Poeta.
— O planeta? — perguntei.
— Ah, então foi daí que aquele herói tirou esse nome? — disse Saturno, arrancando as roupas de um dos guardas caídos e usando como pano para limpar o sangue de seu rosto.
— Você vai realmente cooperar com esse psicopata sem fazer nenhuma pergunta!? — gritou o Poeta, se escondendo atrás do Brutamonte.
— Bom ponto... Saturno! Você tem alguma coisa contra nós três ou o grupo dos fujões? Pretende matar a gente? — perguntei.
— Não.
— Então pronto, vamos cair fora daqui — disse Vibogo.
Saímos da sala e no caminho havia uma pilha guardas mortos, jogados de canto, incluindo o de chapéu dourado. O Saturno se aproximou para checar seus bolsos, mas não encontrou nada.
— Eu já peguei a chave mestra — disse Vibogo, mostrando um cartão tirado de seu bolso.
— Vou precisar disso para pegar uma coisa lá dentro — disse Saturno, pegando o cartão e entrando pela segunda porta que dava acesso as celas da solitária. — Esperem aqui.
Alguns minutos se passaram e como ele não voltou, resolvi puxar uma conversa:
— Como você conseguiu iniciar uma rebelião sozinho? — perguntei.
— Foi mais fácil do que parece — respondeu Vibogo. — Todo mundo já estava de saco cheio daquele grão-mestre matando todo mundo sem se importar com a verdade, para acabar o trabalho logo, principalmente pelo contraste com seu antecessor, que era particularmente gentil com os prisioneiros. Eu só dei um empurrãozinho, garantindo que um líder de um grupo maior fosse a vítima dessa vez, espalhei o boato de que o anterior voltaria se o atual fosse considerado incompetente para o cargo e o resto aconteceu sozinho.
— Podia ter feito algo assim das últimas vezes — disse o Poeta.
— Esqueceu da parte em que eu disse que se nós formos pegos é morte sem nem julgamento?
— Pronto, podemos ir. — E Saturno interrompeu a conversa, lambendo o sangue em seu machado duplo.
Subimos as escadas em fila indiana e nos deparamos com um breu completo. Aparentemente a biblioteca estava trancada e todas as luzes haviam caído por conta da revolta.
— E agora? Será que estão enviando reforços? — perguntou Saturno.
— Fiquem quietos, pode ter gente aqui — disse Vibogo.
— Todo mundo já deve ter fugido, não precisa...
E um fogo se acendeu na bancada central da biblioteca, seguido de uma voz:
— Quem está aí?
O Vibogo deu um leve chute no Saturno e todos se calaram na hora. No escuro, começamos a andar enquanto tateávamos as prateleiras dos livros.
“Demoramos demais lá embaixo?”
Ainda podemos quebrar a janela, mas agora sabendo que tem gente aqui, chamar atenção seria perigoso demais.
Como no clichê mais antigo dos filmes, podemos dar meia volta, ir para o banheiro e andar pelo esgoto, mas certamente teríamos que carregar o Poeta desmaiado, até o lado de fora.
“Eu já trombei em alguma coisa!?”, enquanto pensava, eu andava com uma mão nas prateleiras e uma na minha frente para não esbarrar em nada. E para meu completo terror, senti a minha mão da frente tocar em algo, sem completar nem dez passos.
Como puxei o braço imediatamente, não tinha nem um palpite sobre o que poderia ser.
“Espero que só tenha sido uma prateleira fora de lugar...”, decidi tocar de novo com a minha mão para tirar essa dúvida.
Era um objeto metálico e frio.
“Uma armadura?”
Será que ele me percebeu? Por que ele está parado? Pode ser uma cadeira de metal ou algo assim... Mas e se não for? Eu ataco primeiro, eu fujo ou fico imóvel?
Enquanto considerava o que fazer, o Poeta me deu dois toques em minhas costas e balançou minha camisa.
"Por que você parou de repente?", era provavelmente o que ele estava pensando.
Em resposta, eu comecei a andar lentamente para trás, empurrando-o para longe com cuidado. Então depois de tomar uma distância decente, eu agarrei sua mão e comecei a tentar me comunicar sem falar.
Um xis, uma seta para frente, um círculo e uma seta para trás.
“Não ande para frente, volte!”
— O que? — Mas ele tomou a pior decisão possível e expressou sua confusão em voz alta.
Imediatamente ouvi passos metálicos baterem na madeira do chão da biblioteca, aumentando de velocidade em minha direção.
Correr no escuro seria a opção mais idiota, pois revelaria sua posição, dando as coordenadas perfeitas para um ataque impossível de desviar, mas foi exatamente o que ele fez.
“Como que ele sobreviveu até hoje?”
Algo afiado encostou na prateleira e começou a arranhar os livros, preparando um ataque, o Poeta começou a gritar por ajuda, piorando ainda mais sua situação. Eu parei e me abaixei para tentar dar uma rasteira e derrubar o guarda, mas os passos pararam e ele pulou por cima de mim.
“Ele consegue enxergar no escuro?”, se sim, essa era uma batalha perdida.
Eu cogitei me levantar e correr atrás dele, mas desarmado, isso só aumentaria no número de mortes. Estava nas mãos dos dois, que não tinha informação de onde estavam desde que ficaram em silêncio.
O arranhar parou e pelo som da espada, aquele ataque felizmente só cortou o vento.
Para nossa sorte, tanto a escuridão, quanto a idiotice são imparciais.
Cometendo o mesmo erro do Poeta, o guarda fez um péssimo trabalho mantendo o silêncio, soltando respirações pesadas, se recuperando da corrida e chamando o outro que havia acendido a vela, com um equipamento barulhento.
Com um som de estalo seguido de uma queda, aproveitando da chance que ele desperdiçou, alguém conseguiu finalizar ele perfeitamente.
O outro não foi tão idiota e assoprou e jogou a vela no chão, no mesmo instante em que ouviu isso, mas o cheiro era uma dica que ele esqueceu de levar em consideração.
Depois de algum tempo nesse lugar deixei de notar, mas no escuro, o aroma complexo e igual em intensidade ao perfume mais forte da Terra que exalava dos guardas, era um farol no escuro. Mesmo que o cheiro de queimado da vela distraísse, o perfume superava tudo na biblioteca.
“Finalmente essa mania de jogar 3 litros de perfume em tudo vai me servir para alguma coisa, além da dor de cabeça.”
Eu cautelosamente o segui e tentei mais uma rasteira, só para errar novamente, mas diferente do outro, ele ouviu o som das roupas balançando e revidou com um ataque descendente com sua espada.
— Droga...
Senti ela passar do lado da minha perna, mas usando os meus braços, me empurrei para trás, deslizando no chão mais longe que esperava.
“Quem limpou esse chão... Obrigado pelo bom trabalho.”
A espada destruiu o chão e pelos grunhidos de frustração do guarda, ficou presa lá. Aproveitando essa situação, um dos três bateu com o ombro em uma das estantes, que começou a cair na nossa direção.
O guarda desistiu de tentar recuperar a espada e começou a correr, mas ainda no chão, eu me arrastei e estiquei o meu braço e agarrei a perna dele, o derrubando e o prendendo comigo.
A estante caiu em nós dois. Não era pesada o suficiente para nós esmagar, como imaginava, mas daria tempo o suficiente para finalizar o guarda enquanto ele estivesse preso aqui.
— Eu também estou aqui, não vai me cortar por engano! — gritei.
O guarda balançou seus pés e começou a me chutar, mas eu me mantive firme segurando sua perna direita, com as duas mãos.
“Finalmente vou poder usar isso!”
Soltei uma das mãos e peguei um garfo do meu bolso, que encravei na perna dele.
Ele soltou um grito abafado por sua mão, então com um som de corte limpo, seguido de três batidas no chão, os movimentos dele se cessaram.
O garfo era uma das minhas três armas secretas, prática que era questão de sobrevivência na ilha e por costume acabei mantendo prisão.
Por si só não era tão impressionante, mas com ferrugem, lixo e terra, mesmo não sendo fatal imediatamente, poderia me vencer uma luta longa como essa, caso ele conseguisse fugir.
— Urgh, você está bem? — Com mais dificuldade por parte do Vibogo que do Saturno, os dois levantaram a estante e começaram a discutir entre si.
— Tirando os chutes na cara, estou inteiro. Mas por que podemos falar agora? — perguntei, já que o Vibogo que insistia tanto em ficar quieto, começou a falar em voz alta.
— Sabemos que não tem mais ninguém por conta desse item que os guardas usaram para se comunicar.
— Tipo um walkie-talkie?
— Isso mesmo... — Pela incerteza em sua voz, ele deve ter fingido que sabia para poupar tempo — Ele rastreia os outros guardas e prisioneiros próximos. Por isso estavam atentos para desviar das suas rasteiras.
— Como viu isso?
— Uma magia de enxergar no escuro.
— Você consegue usar magia?
— Luz! — E um pequeno globo de luz, um pouco mais forte que uma vela se acendeu. — Antes de entrar na prisão eles confiscaram todos meus equipamentos e limitaram minha mana natural, então só consigo usar magias básicas graças as pedras elementais que encontrei no bolso de um dos guardas.
— Vocês sabiam que ele era um mago? — perguntei.
— Ele não é um mago — respondeu o Brutamonte. — Ao menos, não oficial.
— Que diferença um pedaço de papel faz? Se eu sei usar magia, então sou um mago.
— Não é não. — E continuou insistindo, até o Vibogo apagar a luz.
— Se qualquer um consegue fazer isso, faz você.
— Você sabe o que eu realmente quis dizer. Deixa de birra.
— Agora fiquei curioso. Aquelas barreiras que você fez antes não eram feitas com magia? — perguntei para o Brutamonte.
“A segurança da solitária parece mais rígida, então acho difícil ele conseguir esconder um artefato lá.”
— Artistas marciais e magos usam da mesma energia, mas de formas diferentes. É meio complicado, mas o importante é que eu não consigo fazer o que ele faz e vice-versa — respondeu o Brutamonte. — Agora acende a luz aí.
Depois do Poeta mediar essa discussão, o Vibogo acabou cedendo e dividiu a magia de luz em cinco pedaços, menores e mais fracas. Então nos dividimos e vasculhamos toda biblioteca até o Saturno encontrar uma saída subterrânea nos fundos, que já estava aberta.
“Eles vieram por aqui e esqueceram de trancar?”, existia a chance de um dos guardas da solitária ter conseguido enviar alguma mensagem para os outros e essa fosse uma armadilha preparada caso tudo desse errado.
Mas considerando a luta contra os dois, era difícil acreditar que eles pensaram tão a frente.
— Espero que não tenha guardas no caminho... — disse o Poeta.
O Saturno foi na frente, descendo as escadas com o machado pronto para matar qualquer um que aparecesse, o Brutamonte foi em seguida, junto do Vibogo, controlando a magia de luz — que ele reuniu novamente em uma só — então eu fui o quarto, com as mãos no bolso, pronto para usar as agulhas de acupuntura que peguei no quarto do Corvo, minha segunda arma secreta. Atrás de todos, o Poeta ficou observando nós descermos todas as escadas, então vendo que era seguro, desceu também.
— Voltando ao assunto de antes, como você conseguiu aquela técnica? As duas barreiras que surgiram — perguntei para o Brutamonte. — Não lembro de ter ouvido delas no seu relato.
— Durante o tempo em que vaguei por aí procurando formas de ficar mais forte, percebi que diversas artes marciais e técnicas físicas usavam da mesma base: a escola das dez barreiras. Eu encontrei uma filial deles perto de onde estava e treinei lá por um tempo, mas acabei sendo expulso por usar métodos proibidos de ganho de músculos
Eu estava animado para aprender alguma técnica secreta que deixasse o corpo mais forte com magia ou algo do tipo, mas no fim os músculos dele eram só resultado esteroides.
No fim do túnel havia uma escada e uma porta, que nos levou a parte externa de uma das áreas de trabalho: a sala de experimentos.
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