Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 12: O verdadeiro crime do Corvo

Enquanto isso, na sala médica. Apesar da ordem de algemar e levar os prisioneiros a uma cela subterrânea de emergência, o Corvo foi deixado onde estava, com duas escoltas, cavaleiros de sua família.

— Quem é aquele que ficou, para ganhar um tratamento especial? — perguntou uma das enfermeiras.

— Com o pronunciamento do Marquês, agora está claro. É o fracasso da família Mercosain...

Hassan Mercosain, 1320 D.M.

“O perfume dela era uma droga para mim. Nos dez dias de duração do banquete, fui completamente enfeitiçado pela sua beleza.”

Aquelas foram as melhores noites da vida dele.

Em prol de agradar aquela que ele decretou como sua alma gêmea, logo nos primeiros encontros de seus olhares, o nobre entregou tudo que ela pediu e desejou.

Assim que o tempo passou e o curto paraíso terminou, ela se despediu e partiu sem nem olhar para trás.

Ele entendeu aquilo como uma excelente atuação para evitar que alguém percebesse qualquer indício desse caso escandaloso, e a admirou ainda mais profundamente. Pois em seu lado, era impossível fingir.

Ficou na ilusão de que ela mandaria cartas e quando sua paciência se esgotou, mandou cartas ele mesmo, nenhuma respondida.

Certamente havia errado o endereço.

Provavelmente havia ocorrido algum acidente no percurso das cartas.

Talvez alguém estivesse interceptando suas cartas de chegarem.

O tempo apenas intensificou a sua agonia.

— O segundo ainda não superou aquela bruxa promíscua?

— Fale baixo! Imagine como ficará o coração daquele coitado, se descobrir que ela se aproveitou do primeiro amor do jovem mestre para usá-lo?

O líder de ambas as famílias — Fortuna e Mercosain — possuem olhos em todos os lugares. No segundo dia, quando tomaram conhecimento de tal relacionamento, eles se reuniram privadamente, para discutir o que fariam a respeito de seus filhos problemáticos.

Para Mercosain, esse evento de alguma forma se tornou vantajoso, por isso mesmo após retornarem a seu aposento, o líder da família nem tocou nesse assunto. Já o Grão-Duque, repreendeu sua filha publicamente.

Hassan ainda não havia tomado conhecimento, mas os boatos se espalharam de boca em boca entre os empregados.

— Retire o que disse! — gritou, agarrando o empregado pelo pescoço.

Eventualmente, ele acabou ouvindo de relance uma conversa. E sua frustração de meses sem resposta foi descontada desproporcionalmente nos azarados. Seu evento problemático começou a crescer.

Antes ele não era digno de nada, nem de mérito, nem de críticas.

Mas a partir desse incidente, ele se diminuiu até o nível de ser conhecido como a vergonha da família Mercosain.

Tentando reencontrar o sentimento daquela noite, ele repetidamente se envolveu com todo tipo de pessoa. Seguindo até os que só desejavam se aproveitar de sua riqueza.

Ele passou a frequentar cassinos, começou a ser encontrado e roubado frequentemente nas ruas, totalmente embriagado. Deixou de estudar e quando não estava arrumando problemas, vivia deitado em sua cama, ocioso.

Seu pai, vendo a desilusão amorosa crescer em um vício desregulado, ofereceu uma oportunidade que ele pensou que nunca mais teria:

— Se seu amor for verdadeiro, se ela é mesmo sua alma gêmea, vencer as duas concorrências não será difícil.

Em um ultimato do Grão-Duque Fortuna, na tentativa de acabar com a vida livre até demais de sua filha mais velha, ele, pela primeira vez, a forçou a tomar uma decisão verdadeira.

Suas escolhas eram:

Para não acabar tendo o efeito contrário, um de seus muitos amantes.

O filho do mais influente membro da guilda comerciante, liderada por Fortuna.

E o filho do meio da família Mercosain. Que recebeu uma oportunidade para transformar sua decadência e desgraça em algo positivo para a família.

Hassan corrigiu seus maus hábitos, focou em reconstruir sua aparência acabada, parou com seus vícios e até reingressou nos estudos acadêmicos de administração e economia, auxiliando seu irmão, que herdaria o título de Marquês.

Orgulhosos pela recuperação súbita, seus parentes estavam otimistas que todos esses eventos desastrosos caminhavam para um bom final.

Mas quando ele pisou na mansão da princesa, ele foi novamente desiludido.

A baronesa só tinha olhos para aquele homem.

O que havia naquele plebeu que atraia tanto seu amor?

Tomado por ciúmes, desespero e um resquício de sua vida depravada antiga.

Em uma noite oportuna, com o auxílio do Grão-Duque, que desprezava a ideia de que sua filha se casasse com a pior das opções, ele fez um movimento desesperado.

Algo tão terrível que causou a rara prisão de um nobre e a quase compensação de duas propriedades da família Mercosain, que só não ocorreu pela promessa de que Hassan guardaria o segredo da participação do Grão-Duque nesse plano hediondo.

O pai planejou deixá-lo apodrecer na prisão, mas quando recebeu a notícia de sua decaída na saúde, a sua esposa colapsou e ameaçou fazer de tudo para que seu filho fosse solto.

Com um acordo, que dessa vez foi realmente pago ao Grão-Duque: uma alta quantia para os nobres comuns, mera compensação simbólica para as duas famílias, o Marquês enviou uma mensagem, dizendo que buscaria ele no caminho para o Banquete dos Fortuna.

Não havia motivo para o Corvo se juntar a fuga, pois ele já seria solto em breve.

Lucca Massaro Monti, 1340 D.M

Uma densa fumaça fugia pelas frestas da construção, onde os que tinham afinidade com as ciências práticas trabalhavam.

Sem um pingo de cautela, o Saturno e o Vibogo partiram em direção ao perigo e abriram a porta da frente, para investigarem o que havia acontecido.

Quando pisei naquela fumaça rasteira, senti um frio intenso, que começou a subir pelo meu corpo.

— É seguro respirar isso?

— Parece que é só água — respondeu o Vibogo, colocando a mão dentro da fumaça e observando o gás se tornar líquido.

— Impossível isso ser água, o vapor seria quente e não frio.

Um conhecimento óbvio até para crianças do fundamental.

— Está com frio?

— Sim?...

— Estou quase suando de tanto calor. Que estranho.

— E vocês?

— Para mim parece quente — respondeu o Poeta.

— Morno — disse Saturno.

— Também está quente para mim — disse o Brutamonte.

“Será que por eu ser de outro mundo, o conceito de quente e frio é diferente? Não tem como ser isso...”

Caminhando pela entrada, cheguei em uma conclusão:

— Vibogo, consegue verificar se alguém usou algum tipo de magia nesse gás?

— Descobriu alguma coisa?

— Tirando o fato de eu ser de outro mundo, a única coisa de diferente em mim é que eu não sou afetado por magias. Ou isso tem alguma propriedade mágica que altera a percepção de calor ou alguém usou uma magia que é ativada no contato... Se isso sequer for possível.

O Vibogo se abaixou e ficou murmurando por um tempo, até seu olho emitir um brilho sutil.

— É seguro.

— Então era o primeiro caso?

— Não exatamente, mas o importante é que não é uma armadilha, nem maldição.

Seguimos andando até chegamos em uma sala com tubos metálicos tomando todas as paredes — nenhum visivelmente danificado ou vazando — com pequenas áreas cheias de cinzas e resquícios de explosões.

Uma mina de ouro para mim.

Sobre as mesas de pedra, havia todo tipo de líquido misterioso com sinais indicando cautela no manuseio, bisturis com resquícios duvidosos e compartimentos contendo elementos perigosos. Logo tomei um de tudo e guardei no meu bolso, adicionando a minhas outras armas secretas.

— Isso... É um corpo? — Saturno apontou para o chão, movendo seus braços para espantar a fumaça.

Meus instintos, construídos em filmes de terror, tocaram um alerta máximo e já me coloquei em uma postura, pronto para correr para saída a toda velocidade.

— Você é burro? — perguntou Vibogo. — É só um daqueles manequins estranhos para estudar o corpo humano. Olha bem, metade tem os órgãos expostos e a outra metade os ossos...

Mas aquilo se levantou.

— G-guardas... — Sua voz robótica falhava toda vez que uma faísca elétrica saía de sua boca.

— Guardas?

— Atrás de v-vocês.

Uma lança passou raspando pelo ouvido do Saturno, que conseguiu desviar a tempo e pulou para cima do guarda sem chapéu.

— Em cima herói! — gritou o Poeta.

Outro, sem armas, saltou para cima de mim, me derrubando e segurando meus braços.

Comecei a me debater, aproveitando que a umidade deixada pelo gás fazia meu corpo mais escorregadio e quando ele soltou por um momento o meu braço, peguei o bisturi de antes e com um leve corte no dedo dele, ele recuou e me deu a oportunidade de bater no chão, me levantando bruscamente, desequilibrando e tirando ele das minhas costas.

Parei para recuperar o fôlego, olhei para baixo, mirando o lançamento do bisturi, mas ele desapareceu no meio da fumaça, saltando e agarrando minha perna, pelo meu ponto cego.

Enquanto caia, coloquei minha mão em cima da mesa, agarrei o instrumento que parecia ser mais útil e usei ele para derrubar tudo que consegui.

Os diversos instrumentos de vidro se estilhaçaram e distraíram o guarda. O que me abriu a chance de dar diversos golpes com a base de ferro na cabeça dele.

— Já é o suficiente — disse Saturno, lavando o sangue dos outros cinco guardas que se juntaram ao primeiro, no chuveiro de emergência.

Empurrei o guarda inconsciente para longe e sai, com cuidado para não pisar nos cacos de vidro.

— Todos estão bem?

 

— Graças a ele, sim — disse o Poeta, apontando para o Brutamonte, que se juntou ao Saturno, para lavar as mãos.

— De onde que todos esses guardas surgiram?

— Parece que da tubulação.

— Será que tem mais alguma passagem secreta por ali?

— Até agora pouco, o laboratório estava trancado. — De uma das portas laterais, uma nova voz surgiu, revelando um homem de cabelos marrons, com o braço enfaixado e diversas seringas vazias em seu cinto. — Fui eu que avisei deles para vocês, pelo golem caído.

— Então aquilo era um golem...

— Quem é você?

— Prisioneiro, como todos vocês. Funcionário de meio período, me chamam de Bernardo.

— O que aconteceu aqui? Essa fumaceira toda... — perguntou o Poeta.

O Bernardo olhou para os guardas, analisou o estado da sala e observou cada um de nós antes de responder, batendo suas mãos e se curvando:

— Por favor, resgatem os meus colegas de trabalho!

— Do nada?...

— Antes de decidirmos, explica essa situação direito — disse o Brutamonte.

— A maior parte da minha equipe de pesquisa, que nem demonstrou interesse em escapar ou se juntar a essa rebelião, foi ameaçada pelo Grão-mestre ao ponto de serem forçados a usarem um experimento instável.

— Está pedindo para lutarmos contra ele?

— Não... Ele fugiu.

“A gente não deveria ter entrado nesse lugar.”, comecei a pensar em desculpas para recusar o pedido de ajuda dele.

O Saturno é incrivelmente forte, mas nunca que valeria a pena lutar contra alguém que fez um grão-mestre fugir.

— O motivo dele ter fugido... Não me diga que é por causa desse gás — disse o Poeta.

— É parte do motivo. Isso diminui a capacidade de qualquer coisa que tenha o mesmo elemento da pedra elemental usada para alimentar a máquina, e para o azar dele, o elemento que ele masterizou é o mesmo tipo dos experimentos que fugiram.

— Como que deram permissão para armazenar algo tão perigoso? Para começo de conversa.

— Tenho que admitir que parte da culpa é do meu grupo de pesquisas... Mas só estávamos idealizando esse experimento como algo impossível, quem negociou com um dos supervisores que se interessou mais do que esperávamos nisso tudo é o Corvo que andava com vocês.

— O que aquele imbecil fez? — perguntou o Brutamonte.

— Talvez tenha relação com aquele rumor antigo que ouvi antes de ser preso... Em troca das seringas de amplificação de força, banidas há alguns anos, por culpa daquele acidente nos laboratórios centrais, o Corvo pediu para desenvolvermos o coquetel de remédios necessários para curar a doença venérea dele.

— Mas isso não se opõe a história de antes Vibogo? — De acordo com ele, era do setor de agricultura e floricultura e não do laboratório de pesquisas, e a caixa tinha o símbolo da família dele. — Ah, qual era mesmo o rumor?

 — Eu imaginei que ele quis manter o segredo dessa doença por conta do caso que teve com a filha do Grão-Duque... Apesar dele só ter adquirido anos depois de conhecer ela, poderia ser problemático.

— Não, não, não... Aquele desgraçado não estava tentando fazer o que eu estou pensando... — O Brutamonte cerrou seu punho e começou a marchar em direção a entrada. — Eu estava certo... Alguém como ele não merece viver!

— Se acalma! — gritou Vibogo, o agarrando pelo braço.

“Por que o Brutamonte se irritou de repente? Ele não admitiu que estava errado e que o criminoso que cometeu aquela atrocidade com a sua filha era outro? Ou suas suspeitas retornaram porque a doença crônica se tornou mais incômoda?”

Com ajuda do Saturno, o Brutamonte foi detido e amarrado em uma cadeira, com os equipamentos dos guardas inconscientes. Mas ele continuou berrando por um bom tempo.

— Tem mais algum detalhe que vocês não me contaram? — perguntei para o Poeta.

— Você ainda não fez a conexão?

— O que tem para conectar?

— É verdade... Você não sabe qual é o rumor, né? Resumidamente, se tudo isso for verdade, fica difícil defender que a intenção do Corvo não era... — E o Poeta cochichou o resto no meu ouvido, para não reacender a raiva do Brutamonte.

— O que faria dele exatamente igual aquele criminoso...

— Exatamente.

Se aquele pouco de similaridade era o suficiente para o Brutamonte tomar essa atitude drástica, agora mesmo não sendo o criminoso, os crimes seriam parecidos o suficiente para ser impossível convencer o Brutamonte que não são.

Ou pior, até aceitando que o Corvo não era o mesmo culpado daquele incidente, é capaz dele ainda querer fazer justiça contra qualquer tipo de pessoa parecida.

“E sinceramente, se ele planeja fazer isso mesmo, me dá vontade até de soltar o Brutamonte dessa cadeira e ver de perto o resultado.”

— O Corvo está devendo uma bela de uma explicação... — disse o Poeta.

— Lidamos com isso depois — disse Vibogo. — Temos um assunto mais urgente agora. Vamos parar para ajudar ele e correr o risco de sermos pegos ou continuamos com a nossa fuga?

— Quantos outros casos como o dele terão no caminho? — disse Saturno. — Pretende ajudar todos que precisarem? Parar agora e ignorar os outros é pior que não ajudar ninguém.

— Não necessariamente — respondi. — Bernardo, o que você oferece em troca da nossa ajuda?

— Eu posso... Pagar em créditos! Tenho guardado uma boa quantidade em meu cartão.

— Se fugirmos, isso não vale de nada — disse Vibogo.

— Tem mais desses amplificadores de força? — perguntou Saturno.

— É muito perigoso!

— Em que sentido?

— Nós modificamos o experimento original com um monstro afetado pela maldição para aumentarmos os efeitos. E o problema é que isso foi efetivo demais. Ainda não comprovamos, mas é quase certeza que, se estabilizado, pode tornar os humanos imunes a maldição.

— Ou seja, os que tomaram o atual experimento instável, se tornaram monstros?

O final mais comum para o arquétipo de cientista maluco.

— Exatamente... Mas é apenas temporário! Só peço para que segurem eles até o efeito acabar.

— Quanto tempo?

— Ainda não testamos, então pode variar de vinte minutos, a duração do experimento antes de ser alterado, até quarenta minutos.

Nos reunimos em outra sala para discutirmos o que iriamos escolher.

E a decisão foi unânime.

— Desculpe, vai demorar demais e é arriscado demais para aceitarmos.

— Pelo jeito aquele que te julgou estava correto... Que tipo de herói ignora quem pede por ajuda?

— Está dizendo que eu deveria aceitar qualquer pessoa que viesse me pedir ajuda? Independente do pedido ou das minhas condições atuais? Digamos que um ladrão venha me pedir para que eu assalte um nobre, para que ele possa alimentar sua família, sou obrigado a ajudar ele? O dever de um herói supera a lei e o senso comum?

— Se esse fosse o caso até entenderia... Mas meu pedido é tão absurdo assim?

— Da minha perspectiva parece, e mesmo que não fosse, como você ofereceu nenhuma recompensa de valor para mim, eu tenho o direito de recusar.

— Você só se move se for pago? Qual a diferença entre um herói e mercenário, então?

 

— É minha obrigação limpar a bagunça que vocês mesmos fizeram? Quando escolheram seguir em frente nisso, apesar das possíveis consequências, quando julgaram que era uma decisão melhor usar um experimento tão perigoso ao invés de lidar com o supervisor da prisão, esperavam que não haveria consequências?

— Não é obrigação de um herói julgar se eu estava certo ou errado antes, mas sim olhar o presente, onde sete pessoas podem morrer se você não ajudar! Isso deveria ser o suficiente para alguém com seu título agir!

— Eles estão mesmo em risco de vida? A fumaça, junto daquela porta blindada deve ser o suficiente para isolar eles até dar o tempo dessa coisa.

— É exponencial... Quando o efeito atingir o seu ápice, nenhuma porta vai ser o suficiente para manter eles presos e o grão-mestre sabe disso. Em breve ele deve vir junto de um dos agentes especiais ou até um general para matar eles. Mas você, que tem o poder de um herói, só você pode arrumar um jeito de impedir uma tragédia de ambos os lados! Se eles escaparem daqui, se a duração do efeito for maior que o esperado, milhares de pessoas podem se ferir!

Diferente das expectativas monstruosas que ele colocou em mim, a verdade é que minha inata não faz nada, sou incapaz de usar mana, fisicamente estou longe desses dois e minhas armas atuais não vão fazer nem cosquinha em um lobisomem mutante ou sei lá o que está atrás daquela porta.

— Vai continuar tentando me persuadir por meio da culpa? Se não tem nenhuma oferta melhor, estamos indo.

— Espere! Me desculpe se a forma que tentei usar para te convencer soou incômoda... Meus amigos podem realmente morrer hoje e eu... É difícil pensar racionalmente em uma situação dessas. Eu imploro... Por favor, me ajude. Eu prometo que ofereço qualquer pagamento que for necessário depois que tudo se acalmar.

— Não conheço você o suficiente para saber se vai cumprir suas promessas.

Desamarramos o Brutamonte e nos preparamos para sair do laboratório.

Confesso que agi de forma excessivamente insensível, mas se rejeitasse ele em um tom mais suave ele continuaria insistindo nisso para sempre.

— Ei, não precisa fazer isso... — Me virei com essa fala do Poeta e vi o Bernardo segurando uma seringa cheia do lado do pescoço dele.

— Vai tentar ameaçar a gente agora? — perguntou Vibogo.

— Não precisa irritar ele mais ainda...

— Deixa ele fazer o showzinho dele sozinho, vamos — disse Saturno.

Encarei os olhos dele e o que vi não parecia um blefe.

Peguei a primeira coisa que alcancei no meu bolso e arremessei na direção da seringa, mas errei. O que foi o suficiente para ele injetar aquele experimento.

— Por que você fez isso!? — gritou Saturno.

— Independente do que fiz, ele tomaria a mesma decisão.

— Baseado no que?

Apontei para meu olho e sussurrei o comando que ativava o sistema.

— Tenho uma habilidade que mede o nível de hostilidade e perigo. — Uma completa mentira. — Estava indicando o alerta mais alto.

— Se é uma habilidade de herói, então não tem o que duvidar... — Ele comprou essa com mais facilidade que esperava. — Mas agora vamos perder ainda mais tempo.

E a transformação começou, em um ritmo estranhamente lento.

Suas unhas pareciam crescer? Seu olho começou a apresentar uma vermelhidão como quando entra um cisco, seus músculos se tornaram mais aparentes e sua altura passou a aumentar cerca de um centímetro a cada dez segundos.

Ele correu na minha direção, em uma velocidade um pouco mais lenta que a de um adulto saudável e desferiu um golpe extremamente óbvio e desajeitado.

Parei o ataque com a minha mão esquerda e empurrei ele com a minha direita.

Nem coloquei tanta força assim e ele caiu de barriga para cima.

— Deveríamos ter aceitado a proposta?

— É porque ainda está no início da transformação... Certamente ele vai ficar mais forte.

O Saturno andou na direção dele, chutou para dentro do laboratório, fechou a porta e saiu.

— Certo, querem ir para onde agora? — disse batendo as mãos.

— Você trancou a porta? — perguntou o Poeta.

— Eu nem tinha a chave.

O Bernardo recobrou a consciência e abriu a porta, então correu na direção do Poeta, que fugiu enquanto gritava.

Novamente, ele foi rapidamente contido pelo Saturno.

— Não tem aquela corda de antes?

Amarramos ele, jogamos dentro do laboratório e colocamos uma pilha de lixo na frente da porta para impedir ele de fugir, mas enquanto ainda estávamos formando a barricada, ouvimos duas batidas na porta.

As batidas começaram a aumentar de força e frequência, até que ele conseguiu escapar.

Com um único gancho no queixo, o Bernardo apagou novamente, porém olhando com mais calma para seu corpo, os traços de lobisomem estavam começando a tomar conta.

— O que a gente faz com ele? Não podemos simplesmente ir procurar um guarda e entregar esse problema nas mãos dele. Só que desse jeito não vamos conseguir ir para lugar nenhum.

O Saturno levantou seu braço e segurou o cabo de seu machado, mas foi impedido pelo Poeta.

— Isso também já é demais.

— Está com medo das consequências?

— Estou agindo como qualquer outro ser humano deveria. Guarde isso para a última...

Os olhos do Bernardo se abriram de repente e ele imediatamente saltou no Saturno, cravando seus dentes no pescoço dele.

O Saturno grunhiu e enforcou o Bernardo até sua mordida se afrouxar, então jogou ele no chão, chutou e pisou nele.

— O discurso do Poeta te convenceu? Bate com mais vontade! — gritou Vibogo, vendo que diferente das últimas vezes, seus golpes pareciam inúteis.

— Quer vir lidar com ele no meu lugar!?

Nessa pausa que o Saturno desviou seu olhar, o Bernardo tentou uma mordida no pé do Saturno, que por pouco conseguiu puxar seu pé.

— O machado! Usa o machado! — gritou o Poeta, escondido atrás de uma pedra.

Ele desamarrou o machado de suas costas, deu meia volta e atacou como um lenhador. Mas o lobisomem se levantou e segurou o machado com os dentes.

Saturno tentou puxar o machado, mas patinou no chão e não conseguiu mover um milímetro.

Então Bernardo começou a colocar mais força em sua mordida, fazendo trincas começarem a se espalharem pelo machado.

Que se quebrou em três.

— Cuidado!

Quando o lobisomem estava prestes a agarrar o braço do Saturno, o Brutamonte se jogou no meio dos dois e ativou sua barreira, que comprou tempo para o Saturno fugir.

— Droga, algum de vocês tem álcool? — Uma quantidade preocupante de sangue começou a escorrer do pescoço do Saturno.

— Voltar para o laboratório seria suicídio, o mais perto agora... Temos que ir para o cassino — disse Vibogo.

— Está falando sério?

— O lugar com mais brigas tem que ter mais assistência médica.

— Me ajudem aqui! — gritou o Brutamonte, começando a ser empurrado para trás.

O Vibogo passou meio minuto murmurando em uma velocidade que fazia as palavras perderem o sentido, então uma bolha borbulhando se formou e foi lançada na direção do Bernardo, que gritou e recuou.

— Vapor realmente é a fraqueza deles — disse o Poeta.

— Mas aquilo não era vapor — respondeu Vibogo.

— Funcionou, isso que importa. Vou lembrar disso para um poema futuro.

Corremos sem parar até o Cassino, onde dois guardas tentaram nos impedir de entrar.

— Deviam se preocupar com o que está atrás de nós!

— Atrás de vocês? ...AHHHH!

Todos os outros guardas próximos ouviram isso e partiram para suprimir ele, então conseguimos passar despercebidos para dentro do cassino.

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