Volume 5
Capítulo 5: Mais Fácil Apenas Deixar Ir
14,3 km; restam 5,7 km
Aproximadamente dez anos atrás, caminhei uma distância considerável com minha irmã. Pelo que soube, iam demolir um antigo centro comunitário, e minha irmã mais velha decidiu me levar com ela para ver, empolgada com a possibilidade de usarem explosivos para derrubá-lo.
Na verdade, tenho quase certeza de que eu estava igualmente animado. Se pudesse voltar no tempo, gostaria de segurar meus próprios ombros e dizer com um sorriso: "Não há a menor chance disso acontecer." De qualquer forma, nós dois caminhamos com fervor. Mesmo quando eu estava prestes a chorar, ela me dizia.
— Vai ser incrível, com certeza!
E eu continuava avançando. Eu era uma criança persistente, não era? É claro que, no fim, usaram máquinas pesadas para auxiliar a demolição, sem explosivos à vista. Mas não lembro de ter me sentido decepcionado por isso. Acho que ver um prédio gigantesco sendo destruído, com todos aqueles estalos e rangidos, foi o suficiente para me satisfazer.
O que me lembro vividamente, no entanto, foi a caminhada brutal de volta para casa. A empolgação da ida já havia ficado para trás, e eu seguia cegamente por um caminho desconhecido, sem ideia de onde estávamos, com o estômago roncando e o sol se pondo. Enquanto eu ficava para trás, minha irmã me disse.
— Se você ficar parando enquanto anda, suas pernas vão doer ainda mais. Certifique-se de me acompanhar.
Será que consegui voltar para casa sozinho naquele dia? Não lembro.
O motivo pelo qual essa memória surgiu agora era simples: minhas pernas começaram a doer por causa da alternância entre caminhada e corrida. Especificamente, a dor surgiu na articulação da minha perna direita. Se fossem meus pés, minhas panturrilhas ou até meu baço que estivessem doendo, eu aceitaria como algo inevitável. Mas por que tinha que doer logo ali?
A descida já havia terminado.
Levantei a cabeça intencionalmente e vi uma paisagem vasta à minha frente: campos de arroz verdejantes espalhados, pontuados por algumas casas. Talvez ainda não tivessem desmontado, ou talvez simplesmente combinassem o Festival dos Meninos com o Festival do Pêssego nesta região, pois vi bandeiras de carpas tremulando ao longe. O vento dançava entre as bandeiras, criando ondas fluidas, e finalmente o senti, refrescante, soprando sobre meu corpo. O sol já havia nascido, mas não trazia um calor desconfortável. Pela primeira vez desde o início da corrida na escola, senti vontade de correr um pouco.
(N/SLAG: O Festival dos Meninos, que acontece no dia 5 de maio, é frequentemente comemorado com faixas penduradas em forma de tubos, semelhantes a carpas, que balançam ao vento.)
O momento em que realmente quis correr foi, claro, o mesmo em que não consegui mais suportar a dor na perna.
Provavelmente não era nada sério, mas, por precaução, diminuí o ritmo e parei. Ao lado da estrada, florescia uma pequena flor branca. Mesmo alguém tão insensível como eu conseguia reconhecer a beleza da natureza. Era um lírio-do-vale. Enquanto eu fitava a pequena flor sem prestar muita atenção, toquei minha articulação com a palma da mão. Apertei e depois dei um leve tapa.
— Bem, se for só isso...
A dor não diminuiu, mas pressionar a área não parecia piorá-la. Também não estava rígida. Depois de me certificar de que provavelmente ficaria bem, me preparei para correr novamente, mas uma voz áspera veio de trás.
— Que tal começar a correr de verdade, seu merda?
Levantei a cabeça, me perguntando o que havia acontecido, e vi Nanigashi, um garoto da minha classe do ano passado, passando por mim.
Eu não sabia muito sobre ele. Apesar de termos sido colegas, quase nunca conversávamos. Pensando bem, já tinha ouvido aquele mesmo tom de voz antes. Foi antes das férias de inverno, quando todos os alunos estavam limpando as instalações da escola. A lixeira havia enchido, e quando fui esvaziá-la, ele gritou comigo com uma voz carregada de desprezo: "Você não vai." Talvez ele estivesse ansioso para fazer isso sozinho, então simplesmente sai sem responder.
Se ele soubesse que eu era da Turma A, provavelmente ficaria confuso ao me ver tão atrás na corrida. O que me confundiu, no entanto, foi a severidade de seu tom. Pelo visto, ele guardava um rancor profundo contra mim. Não lembrava de ter feito nada contra ele, mas, fosse o que fosse, aparentemente o incomodava muito.
Talvez ele só estivesse irritado com toda a corrida.
Se eu começasse a correr agora, acabaria seguindo logo atrás dele, e essa ideia não me agradava nem um pouco. Minhas pernas provavelmente estavam bem, mas decidi caminhar mais um pouco mesmo assim.
Enquanto vários alunos passavam por mim, comecei a refletir sobre o ato de desgostar de algo.
Não me considero alguém que se destaca e faz inimigos, mas também não sou o tipo de pessoa que conquista o carinho dos outros. Se eu interagisse com umas cem pessoas, certamente haveria algumas que simplesmente não me suportariam. Afinal, por mais que tentassem me ver de forma positiva, eu nunca fui do tipo que se engaja ativamente em atividades em grupo. Muitas vezes, demonstrava um desinteresse flagrante pelas tarefas da turma. E, claro, mesmo recebendo olhares frios e silenciosos me julgando por não participar, como posso dizer... mesmo assim, eu simplesmente não ligava. Talvez se chamasse indiferença.
Dito isso, eu realmente não queria me aproximar das pessoas que genuinamente me odiavam. O fato de eu estar caminhando era uma prova disso. Eu era diferente do Satoshi nesse aspecto.
Aquele cara nunca fugia de situações que envolviam lidar com os outros, então ele constantemente dava as caras por aí.
Além disso, sempre oferecia ajuda. E também falava demais. Porém, dito isso, não era como se ele fosse intrometido nem nada do tipo. Em vez de ser do tipo que dizia: "Deixe tudo comigo." Ele nunca ia além de: "Deixe-me ajudar só um pouquinho." Ele jamais fazia algo irresponsável desse jeito.
Ocasionalmente, havia momentos em que suas intenções eram mal compreendidas por causa de sua constante leviandade. No entanto, no fim das contas, mesmo sabendo perfeitamente que era odiado, ele ainda assim saía e fazia o que queria. Essencialmente, ele se importava ainda menos com a opinião dos outros do que eu. Talvez isso também fosse indiferença.
Mas também existiam aqueles que estavam extremamente distantes desse tipo de indiferença. Graças aos xingamentos violentos de Nanigashi, algo de repente me veio à mente. Senti que havia ouvido uma história semelhante ontem.
Exceto que, provavelmente, os únicos que poderiam falar sobre seu conteúdo eram os dois diretamente envolvidos.
*
Havia um ponto de ônibus ao lado da estrada.
Felizmente, também havia uma pequena área de espera com um telhado. As paredes de chapa de ferro estavam salpicadas de ferrugem; a placa pregada tinha uma fonte antiga e um acabamento esmaltado brilhante. O banco era de plástico e, embora a estrutura parecesse ter sido feita para resistir a um tufão, o desgaste constante a fazia parecer um tanto frágil. Na verdade, havia uma grande rachadura se estendendo por ele. Uma parte havia desbotado, mas nenhum pedaço tinha caído. Não parecia que havia se partido recentemente.
Era o lugar perfeito para observar os alunos da Escola Secundária Kamiyama enquanto passavam. Entrei casualmente na estrutura e me encostei na parte sombreada, como se quisesse me esconder. Contanto que esperasse, conseguiria encontrar Chitanda quando ela chegasse.
Mesmo que Nanigashi tivesse sibilado para que eu corresse, acabei nem andando. Havia mais ou menos uma razão para isso.
Esta manhã, antes mesmo de cruzar a linha de partida, tive uma ideia. Ontem, havia três de nós na sala de aula de Geografia: Chitanda, Ōhinata e eu. Depois, veio Ibara, que nos disse que Ōhinata havia dito que sairia do clube. Como um resumo básico, nada disso estava incorreto.
Minhas lembranças paravam aí, no entanto, e as histórias que ouvi de Ibara e Satoshi mais tarde apenas serviram para ilustrar o quão importantes aqueles minutos depois da escola realmente foram. Dizer "Eu estava lendo um livro na hora, então não lembro de nada" não seria o suficiente. Ao perceber isso, uma memória que antes considerava sem importância e descartei ressurgiu mais uma vez.
Deixando de lado se era verdade ou não, Chitanda acreditava que Ōhinata sair do clube era culpa dela e assumiu essa responsabilidade para si. Mesmo que eu tivesse me levantado sem vergonha alguma e corrido atrás dela, dizendo: "Talvez eu possa ajudar, então, por favor, me conte toda a história." Ela provavelmente apenas balançaria a cabeça em silêncio. Era o tipo de pessoa que não cedia diante de algo assim. Eu precisava impedir Chitanda.
Para isso, eu absolutamente precisava me lembrar exatamente do que aconteceu ontem depois da escola e apresentar a ela uma única inferência. Em outras palavras, uma explicação para o motivo pelo qual Chitanda achava que era responsável pela saída de Ōhinata.
Senti que talvez soubesse o porquê.
Aproximadamente 19 horas e 30 minutos atrás
Eu não tinha percebido antes, mas ainda era muito cedo para o anoitecer lá fora. Saí da sala 2-A, no terceiro andar, e caminhei tranquilamente até a sala do Clube de Clássicos, que ficava na sala de aula de Geografia. Faltava pouco para eu terminar o livro de bolso que carregava comigo, então pensei em ir até lá para lê-lo.
Os alunos que se preparavam para ir embora iam e vinham pelo corredor. Havia um estudante colando cartazes no quadro de avisos, mas não consegui identificar de qual clube ele era. Uma estudante, carregando uma enorme caixa de papelão com ambas as mãos, movia a cabeça de um lado para o outro para ver por onde andava e passou por mim. Era a mesma cena de sempre depois da escola; eu podia ouvir as risadas agudas e o burburinho grave ao meu redor. Coloquei as mãos nos bolsos. Ainda tinha o troco do almoço e comecei a brincar com as moedas.
Para chegar ao prédio especial da escola, onde ficava nossa sala do clube, era preciso passar pelo corredor de conexão. Ele ficava no segundo andar, mas, se estivesse ensolarado, também era possível atravessar pelo telhado, acessível a partir do terceiro andar. Caminhei até aquele telhado arejado e ouvi os sons agudos dos tacos de metal do Clube de Beisebol atingindo várias bolas.
Geralmente, na Escola Secundária Kamiyama, era possível ouvir os sons ecoantes dos ensaios do Clube de Banda de Metais e do Clube de A Cappella depois das aulas, mas naquele dia estava silencioso. Vi uma garota que eu nunca tinha visto antes inclinada sobre o corrimão enferrujado, com uma expressão melancólica que parecia dizer que não existia uma única coisa feliz neste planeta. Se o sol estivesse um pouco mais baixo, poderia ter sido uma excelente pintura.
Subi as escadas até o quarto andar. Havia outro quadro de avisos no patamar entre os lances de escada, mas o período de recrutamento de novos alunos já havia terminado, então o marrom da cortiça se destacava. O único cartaz restante apresentava uma bela atriz sorridente com a legenda: "Espere aí! Há um jeito para você viver uma vida brilhante também!". Eu não fazia ideia do que aquilo queria dizer.
Este ano, os únicos dois clubes no quarto andar do prédio especial eram o Clube de Clássicos e o Clube de Astronomia. O Clube de Astronomia às vezes fazia barulho, mas naquele dia estava tão silencioso que dava para ouvir um alfinete cair. Enquanto caminhava pelo corredor vazio em direção à sala de aula de Geografia, parei de repente, quase tropeçando para frente.
A porta de uma sala vazia estava aberta. Uma pessoa estava pendurada no batente da porta acima dela.
Por mais perturbador que fosse, por um breve segundo pensei que alguém tivesse se enforcado ali. Como poderia ser tão precipitado, mesmo havendo uma maneira de viver uma vida brilhante também?!
Rapidamente percebi que esse não era o caso. A pessoa estava segurando o batente com ambas as mãos.
A pessoa pendurada era uma garota vestindo um uniforme de marinheiro, mas eu só podia ver seu perfil, pois ela estava voltada para a parte fechada da porta. No entanto, isso deveria ser o suficiente para eu perceber quem era. Olhei para os pés dela e vi que suas meias azul-marinho estavam completamente separadas do chão. Pensei em chamá-la, mas hesitei. Talvez isso fosse algo que ela não quisesse que ninguém visse, e eu deveria ser simpático e simplesmente continuar andando como se nada tivesse acontecido.
No entanto, minha consideração acabou sendo em vão. Achei que não tinha feito nenhum barulho, mas, mesmo assim, ela pareceu me notar. No instante em que percebeu minha presença, soltou um pequeno grito e largou o batente, colidindo com a porta com força excessiva e caindo de costas no chão. Rapidamente, levantou-se de maneira envergonhada e começou a agir como se nada tivesse acontecido.
— Boa tarde.
Que saudação educada.
— É... boa tarde — respondi.
— O tempo está bom, não está?
— Nem me fale.
Por que Tomoko Ōhinata estava pendurada no batente de uma porta no quarto andar do prédio especial depois da escola? Se Chitanda estivesse aqui, isso se tornaria um mistério de máxima prioridade. Sorrindo brilhantemente, Ōhinata levou as mãos para trás para sacudir casualmente a parte de trás da saia.
Provavelmente porque já sabia que eu tinha visto, sua atuação foi meio forçada. Tentei perguntar o que ela estava fazendo da maneira mais inofensiva possível, mas não consegui pensar em nada.
— Humm...
Balancei o dedo indicador no ar sem motivo aparente, e então, de repente, me ocorreu uma ideia.
— Você estava tentando isso, certo? Tentando esticar as costas?
Diante dessa tentativa absolutamente terrível de consolação, ela sorriu amargamente.
— Acho que minhas costas não se esticariam com isso. Se alguma coisa, seriam meus braços.
— Então você estava tentando esticar os braços?
— Bem, algo assim.
Com essa mentira, ela olhou para fora, além da janela. Então, olhou para mim pelo canto dos olhos e me fez uma pergunta.
— Você está indo para a sala do clube agora?
— Sim.
— Entendi.
Ela murmurou isso de maneira casual, mas pude perceber que era o contrário do que queria. Provavelmente presumiu que eu não apareceria. Bem, nunca se sabia ao certo quem iria aparecer em qualquer dia. As pessoas vinham se quisessem; isso não havia mudado, mesmo após um ano.
No final do corredor, vi que a porta da sala de Geografia estava aberta, possivelmente para ventilação.
— Parece que alguém já está lá dentro.
Enquanto olhava para a porta aberta, ela respondeu.
— É a presidente.
— Chitanda?
— Fukube-senpai aparentemente está em uma reunião do Comitê Geral. Ele veio por um momento e saiu logo depois.
Satoshi tinha a Copa Hoshigaya de amanhã para se preparar. Eu estava mais surpreso pelo fato de ele ter ido até a sala do clube em primeiro lugar.
— Ocupado como sempre, pelo visto — Ōhinata assentiu com um leve sorriso.
— Parece que sim. Até mesmo neste fim de semana, ele...
Ela parou no meio da frase. De repente, fez uma pergunta com uma expressão séria, como se estivesse tentando esconder algum segredo profundo.
— Você é amigo do Fukube-senpai, Oreki-senpai, então sabe, não é?
Embora não fosse tão ruim quanto Chitanda, percebi que Ōhinata também tinha o hábito de omitir detalhes importantes quando falava. Com Chitanda, ela frequentemente levava a conversa rápido demais e, de repente, a deixava de lado. Ōhinata, por outro lado, parecia acreditar que podia omitir certos detalhes porque a outra pessoa entenderia do que ela estava falando, já que o assunto era íntimo para ela.
Mencionei que Satoshi era uma pessoa ocupada. Ōhinata concordou e começou a falar algo sobre o fim de semana. Eu não podia dizer que conhecia os planos de Satoshi para o fim de semana, mas podia supor que era algo que o mantinha ocupado. Se pressionado, acho que havia uma coisa de que eu sabia, mas não era exatamente fácil de falar sobre isso.
— Na maioria das vezes. E você?
— Ouvi sobre isso de alguém da minha classe.
— Alguém que você conhece?
De qualquer forma que se olhasse, uma única sala de aula do primeiro ano não era grande o suficiente para que esse tipo de boato se espalhasse.
— Você é amiga da irmã mais nova do Satoshi?
— Mais ou menos. Apenas o suficiente para almoçarmos juntas.
— Não conversei muito com ela, mas ela é bem estranha, não é?
Ōhinata inclinou a cabeça, pensativa.
— Ela é certamente incomum, mas não a ponto de chamá-la de estranha. Eu diria que Fukube-senpai é mais estranho.
Com isso, ela ficou em silêncio.
Bom, então, eu me pergunto o que exatamente Ōhinata tinha ouvido da irmã um tanto peculiar de Satoshi.
Nós dois parecíamos estar observando as expressões um do outro. Eu tentava avaliar o quanto ela sabia e o quanto eu poderia dizer sem que as coisas se tornassem problemáticas, e isso criou um silêncio entre nós que dificultava a respiração.
Cansei de rodeios. Por que eu tinha que falar sobre Satoshi como se estivesse prestes a tocar uma panela quente de novo? Acabei falando de forma mais solta.
— É sobre Satoshi e Ibara, certo?
Ōhinata respirou fundo, aliviada, e suavizou sua expressão.
— Sim, é isso mesmo. Então você sabia afinal.
Ibara gostava de Satoshi há muito tempo. No mínimo, soube disso no inverno do nosso terceiro ano do ensino fundamental. Satoshi continuou evitando o assunto, mas eu, sem intenção de apoiar Ibara nem de apoiar Satoshi, não acompanhei o desenrolar da situação.
Dito isso, ouvi que, durante as férias de primavera, Satoshi finalmente parou de fugir. Desde então, parece que seus fins de semana têm sido consistentemente ocupados.
— Isso foi algo que ela me contou, mas...
Até este momento, nunca tive a oportunidade de fofocar com uma aluna sobre um boato. Tenho certeza de que qualquer um nessa posição agora estaria com uma expressão de prazer culpado. Permaneci em silêncio enquanto ela continuava.
— Desde que os dois começaram a namorar, há três dias, Fukube-senpai se tornou uma criatura lamentável que só sabe repetir "desculpa" sem parar, como se estivesse se desculpando com Ibara-senpai por algum motivo. Aconteceu alguma coisa?
Ah, qual é. Pensar que a situação de Satoshi foi descoberta por sua irmã e ainda repassada para sua veterana... que história lamentável. Pelo menos a salvação era o fato de que Ōhinata aparentemente não sabia os detalhes. Certamente, para compensar o fato de ter adiado sua resposta por mais de um ano, Satoshi provavelmente tinha muitas coisas para dizer a ela.
Dito isso, eu realmente não estava tão interessado. Preparei uma resposta breve para satisfazer Ōhinata, que me olhava esperançosa.
— Ele provavelmente só estava se desculpando por tê-la feito esperar tanto tempo quando não merecia sua paciência em primeiro lugar.
Ao dizer algo assim, meio enigmático, Ōhinata ficou boquiaberta por um segundo. Achei que ela iria me questionar mais, mas, em vez disso, sorriu inesperadamente e simplesmente disse.
— Que bonito. Gosto de como tudo soa amigável quando você fala assim.
Não soube como responder. Ōhinata continuou a me encarar e, então, parou de sorrir em silêncio. Quando tentei puxar algum papo trivial entre nós, ela me interrompeu e disse.
— Hum, senpai.
— Sim?
Parei e me virei. Chamando minha atenção, Ōhinata começou a murmurar de maneira embolada.
— Hum, bem...
Então, finalmente, pareceu desistir do que estava tentando dizer.
— Espere um segundo.
Ela então voltou até o batente da porta onde estava antes e pulou para se pendurar nele novamente.
Fiquei compreensivelmente surpreso. Como resultado, não tive forças para perguntar o que ela estava fazendo e simplesmente esperei como me foi pedido.
Observei as costas de Ōhinata enquanto ela balançava ali. Sua saia ainda tinha um pouco de poeira branca da queda anterior. Era lamentável que a limpeza geral da escola tivesse sido tão negligenciada.
— De qualquer forma, ficar pendurada assim cansa bastante.
Achei que parecia cansativo também, mas comentei.
— Mas você está pendurada aí por vontade própria.
— Sim, bem, acho que só senti vontade de fazer isso — disse ela, como se estivesse escondendo algo. Fiz uma pergunta.
— Ou talvez alguém tenha te pendurado aí.
— Acho que isso também pode ser o caso.
Pensei por um momento. Se ela estava ali por causa de outra pessoa, realmente sentia pena dela. Eu mesmo já estive em situações parecidas com minha irmã, então entendia como era.
— Se for esse o caso, por que não se puxa para cima?
Ōhinata virou a cabeça para me olhar.
— Não tenho força suficiente nos braços para isso. Espera um pouco.
Acho que não durou mais do que alguns segundos. Ōhinata soltou-se e aterrissou perfeitamente desta vez. Então, virou-se para mim com um sorriso radiante.
— Acho que é mais fácil simplesmente soltar. Desculpa por te fazer esperar.
Nesse momento, percebi que algo estava um pouco estranho. No dia do Festival dos Novatos, quando Ōhinata veio até nossa mesa e se inscreveu, achei que ela era bem alta para uma aluna do primeiro ano. Talvez até tenha pensado que seu rosto sempre sorridente, bronzeado pela neve, e sua disposição animada fossem um pouco incômodos.
No entanto, naquele momento, no dia anterior, depois da escola, no corredor do quarto andar do prédio especial, Ōhinata começou a parecer uma aluna normal do primeiro ano. Talvez até uma estudante do terceiro ano do ensino fundamental, tão pequena ela parecia.
— Bom, então, vamos indo?
Senti uma falsa confiança emanando de sua voz animada e soube que não estava longe da verdade.
Me perguntei o que Chitanda estaria fazendo sozinha, mas, quando chegamos, ela estava diligentemente revisando seus livros e dicionário, de maneira digna de uma estudante excepcionalmente séria. Quando nos viu entrar, ergueu o rosto com um largo sorriso e fechou seus livros.
— Sobre o que vocês dois estavam conversando?
Eu não estava nem um pouco surpreso. Não só a porta da sala de aula de Geografia estava aberta, mas Chitanda também tinha uma audição incrível. Mesmo que ela não tivesse conseguido captar os detalhes exatos, provavelmente estava ciente de que estávamos conversando. Eu não queria mentir para ela, então falei a verdade.
— Estávamos falando sobre como Satoshi parecia muito ocupado.
Não era toda a verdade, mas também não era uma mentira. Chitanda assentiu sem demonstrar nenhuma dúvida.
— Sim, afinal, amanhã é a Copa Hoshigaya.
Talvez fosse a primeira vez que eu ouvia alguém, além de Satoshi, chamar a Competição de Maratona de Copa Hoshigaya.
— Faz três dias desde que vi você, Ōhimata, não faz?
— Oh... é mesmo?
Ōhimata respondeu de maneira desinteressada, enquanto seus olhos vagavam pela sala. Então, lentamente, ela começou a se aproximar de Chitanda.
— Hm, tudo bem se eu me sentar ao seu lado?
Chitanda pareceu surpresa, mas respondeu com uma expressão gentil.
— Sim, fique à vontade.
Suponho que o motivo de a porta estar aberta fosse para ventilar a sala. Várias janelas voltadas para o pátio da escola também estavam abertas, e as cortinas enroladas balançavam levemente. Como já era o fim de maio, o vento que entrava não estava frio.
Coloquei uma cadeira na terceira fileira a partir do fundo e a três assentos da janela com vista para o pátio da escola. Sentei-me e tirei um livro de bolso da minha bolsa escolar.
Ouvi o som de uma cadeira sendo arrastada. Ao olhar para cima, vi que Ōhimata havia se sentado na carteira diretamente à frente da de Chitanda. Quando encontrei a página onde havia parado e comecei a seguir os caracteres no papel, percebi que Chitanda e Ōhimata estavam conversando.
Quanto tempo havia se passado, eu me pergunto.
— Sim.
Minha concentração se quebrou depois de ouvir essa única palavra.
O livro era muito interessante, mas também havia algumas cenas entediantes. Enquanto perdia o interesse em uma dessas partes, uma voz inesperada me trouxe de volta à realidade. Olhei para cima e vi Chitanda de costas para mim. Parecia que ela não havia se virado na minha direção em momento algum.
Pensei que poderia ter imaginado aquilo. Não, eu tinha certeza de que ouvi alguém dizer "sim". Tinha que ter sido Chitanda. De repente, percebi outra coisa: Ōhimata devia ter saído em algum momento. Bem, não era algo tão estranho. Provavelmente, ela apenas foi para casa.
De qualquer forma, tentei chamar Chitanda por trás.
— O que foi?
Minha voz não era muito alta, mas também não era tão baixa a ponto de ela não ouvi-la. No entanto, ela não se mexeu nem um pouco. A princípio, pensei que poderia ter adormecido, mas não havia como alguém dormir com a coluna tão ereta quanto a dela. Tentei chamá-la novamente, dessa vez com um tom mais alto.
— O que foi?
O corpo de Chitanda se sobressaltou de surpresa.
Ela lentamente olhou por cima do ombro. Exibia uma expressão que eu nunca havia visto antes. Não havia um traço de luz em seus olhos súbilmente tensos. Ela sacudiu a cabeça brevemente, como se estivesse assustada com algo, e rapidamente voltou a olhar para frente. Pensei que algo pudesse ter acontecido, mas, considerando que não poderia ter ocorrido nada grave em uma sala de aula onde só nós dois estávamos, e que, se houvesse algum problema, Chitanda certamente teria me dito: "Estou curiosa", presumi que não era nada.
De repente, percebi que o vento lá fora havia ficado um pouco mais forte. Ele soprava por toda a sala de aula de Geografia. O sol ainda não havia se posto, mas a temperatura já começava a cair. Levantei-me para fechar as janelas. Chitanda permaneceu sentada, olhando fixamente para o espaço à sua frente.
Voltei ao meu assento e recomecei a ler.
Comecei a devorar as páginas, e, quando levantei a cabeça novamente, havia terminado mais um capítulo. Duvido que muito tempo tenha passado nesse intervalo.
Eu pretendia terminar o livro, mas estava começando a escurecer lá fora. Quando coloquei o livro de lado, pensando que deveria ir embora em breve, a porta se abriu de repente e Ibara entrou na sala.
— Ei, aconteceu alguma coisa?
Quando Chitanda murmurou hesitante um "não", Ibara virou-se para o corredor e falou em um tom ligeiramente contido.
— Acabei de passar por Hina-chan lá fora, e ela disse que não vai mais participar.
14,5 km percorridos; 5,5 km restantes
Alguns alunos da Escola Kamiyama passaram por mim enquanto eu me escondia na escuridão do ponto de ônibus fechado. Enquanto alguns pareciam ter acabado de sair da linha de partida no terreno da escola, outros estavam ofegantes, como se tivessem gasto suas últimas energias nas traiçoeiras subidas e descidas. Havia até aqueles que pareciam ter desistido da Copa Hoshigaya, caminhando preguiçosamente sem qualquer pressa.
Na verdade, eu queria poder olhar para o chão e pensar em paz. No entanto, se fizesse isso, quase certamente perderia Chitanda quando ela passasse.
Sentei-me no banco envelhecido e ergui o queixo, mergulhando em meus pensamentos.
Eu tinha certeza de que a razão pela qual Ōhinata decidiu sair do clube estava escondida em algum lugar nos 40 dias entre o Festival dos Novatos e ontem. Se eu mantivesse essa suspeita em mente e revisitasse minhas memórias, certamente me lembraria de vários incidentes que, de repente, começavam a parecer estranhos. A resposta que ela deu à pergunta sobre Ibara e Satoshi parecia reforçar essa possibilidade.
Mas e Chitanda? Pelo seu comportamento de ontem, parecia ter uma ideia do motivo da decisão de Ōhinata. Talvez ela acreditasse que a causa foi uma soma gradual de eventos ao longo daqueles 40 dias. Ou talvez pensasse que tudo aconteceu naquele breve período depois da escola, ontem.
Se a razão tivesse se desenvolvido ao longo daqueles 40 dias, isso significaria o seguinte:
Chitanda estava convencida de que foi ela quem encurralou Ōhinata. Talvez não tivesse sido movida por hostilidade ou má intenção, mas, pelo menos, estava ciente da situação o suficiente para imediatamente pensar: "Por causa do que fiz até esse ponto, Ōhinata vai sair do clube." Em sua mente, ela acreditava que fez algo para afastá-la.
Se a razão tivesse ocorrido naquele curto período após a escola ontem, então significava isso:
Enquanto eu estava absorto na leitura da vida incrível de um mestre espião, Chitanda fez algo que deixou Ōhinata decididamente furiosa. Por exemplo, talvez ela tenha espremido limão sobre o frango karaage sem avisar nem hesitar. Ōhinata, indignada, poderia ter dito algo como: "Eu não aguento mais conviver com uma pessoa como você!"
E então saiu furiosa para abandonar o clube. Seria um tipo de explosão de sentimentos reprimidos.
Qual dos dois, eu me perguntei?
Sem dúvida, algo estava fermentando dentro de Ōhinata nesses últimos 40 dias. Só isso explicaria por que ela criticou Chitanda de uma forma tão indireta, dizendo que "por fora, ela parecia um bodisatva."
Mas, nesse caso, isso significava que Chitanda era, na verdade, um yakṣa? Será que ela realmente pressionou mentalmente Ōhinata a ponto de levá-la a desistir?
As coisas ficavam cada vez mais claras sobre o que eu deveria focar.
Esperar era difícil. Eu não era Ōhinata, mas ficar suspenso no ar era verdadeiramente cansativo.
Isso pode parecer óbvio, mas a pior parte era a possibilidade de, sem querer, perder Chitanda enquanto minha atenção vacilava. Se isso acontecesse, eu ficaria ali no ponto de ônibus, esperando por alguém que nunca viria, continuando a esperar, esperando ainda mais, e, finalmente, seria encontrado em uma fria manhã de inverno, faminto e congelado, inspirando uma peça de teatro intitulada "Esperando Chitanda."
De qualquer forma, já não conseguia prever a distância entre nós dois.
Brinquei com uma ideia.
Se eu não voltasse para a Escola Kamiyama, a Copa Hoshigaya nunca terminaria. Mas correr ainda era um incômodo. Ou, mais precisamente, eu estava exausto. Por outro lado, eu estava em um ponto de ônibus. E ônibus eram, sem dúvida, um meio de transporte.
Se um ônibus aparecesse e me levasse de volta para a escola, seria perfeito. Eu tinha algumas moedas no bolso, que tinha guardado para comprar algo na máquina de vendas caso ficasse com muita sede.
Que ideia brilhante, não?
Se você não é bom em cálculo mental, use uma calculadora. Se não é bom em inglês, use um software de tradução. Se não é bom em correr, considere um meio de transporte alternativo adequado.
Eu já sabia disso desde o começo. Poderia isso ser considerado a manifestação da força necessária para continuar vivendo? Hoje, realmente aprendi algo valioso.
Foi enquanto eu estava perdido nesses pensamentos que Chitanda passou.
Por um momento, eu não acreditei no que vi. Parte disso se devia ao fato de que ainda não estava acostumado a vê-la com a camisa branca de manga curta e os shorts vermelho-escuros do uniforme de ginástica, mas também porque seu cabelo longo, preso para cima, lhe dava uma impressão um pouco diferente. Eu já a tinha visto com o cabelo preso antes, como quando visitamos o templo logo após o Ano-Novo. Naquela ocasião, ela fez isso para combinar com a roupa tradicional.
Mas esta era provavelmente a primeira vez que a vi amarrar o cabelo tão alto assim.
Talvez por estar tão familiarizado com sua aparência usual, quase não a reconheci quando passou correndo por mim, os lábios ligeiramente entreabertos.
Levantei-me e comecei a correr. Minha hesitação me fez reagir tarde demais, então me esforcei para apressar o passo.
A difícil subida da montanha estava logo à frente, mas eu não via nenhum sinal de cansaço na maneira como Chitanda corria. Seus braços estavam alinhados ao corpo enquanto sua cintura se movia para cima e para baixo, os pés impulsionando-se no asfalto, e seu corpo parecia em perfeito ritmo com as linhas brancas que guiavam a estrada.
A estrada seguia em linha reta entre as densas florestas e os campos recém-plantados. Talvez tivesse sido asfaltada recentemente, pois o chão negro parecia novo. Achei que ainda faltava um tempo para o meio-dia, mas ao olhar para o céu, tive que semicerrar os olhos diante do sol brilhante, já alto.
Enquanto media a distância entre Chitanda e eu, continuei correndo.
Pensei em simplesmente acelerar e alcançá-la de uma vez. Embora seja verdade que, quando se está correndo, raramente se presta atenção nos outros, havia muitos colegas à frente e atrás de nós. Além disso, seria estranho apenas segui-la desse jeito.
Eu queria correr rápido, mas, ao mesmo tempo, alcançá-la de uma maneira natural.
Seguindo esse pensamento, fui diminuindo a distância aos poucos. Não precisava estar perto o suficiente para tocá-la, apenas o bastante para que minha voz chegasse até ela.
Mesmo assim, ainda estava longe.
Minha voz ficou presa na garganta. Minhas pernas pesavam. Até a dor nas articulações parecia ter voltado. Minha respiração se tornou subitamente pesada.
— Isso é ruim...
O sussurro mal saiu da minha boca.
Eu não sentia vontade de alcançá-la.
Não sentia vontade porque simplesmente não queria. No instante em que a alcançasse, teria que despejar sobre ela todo o meu raciocínio e minhas deduções. Assim que esse pensamento me ocorreu, minhas pernas pareceram instantaneamente mais pesadas. Sim, devia ser esse o motivo.
Mesmo assim, eu não podia desistir.
Havia 50 metros entre nós? Ou 100? Talvez até mais. Mantinha-me sempre a uma distância fixa de Chitanda; não conseguia nem diminuí-la nem aumentá-la. Não podia continuar assim, correndo enquanto via seu rabo de cavalo balançar de um lado para o outro.
Cerrei os dentes. Ou ia agora, ou nunca mais.
No exato momento em que tomei essa decisão, algo inacreditável aconteceu. Chitanda torceu a parte superior do corpo enquanto corria e olhou para trás.
Nossos olhos se encontraram.
Não havia mais escolha. Acelerei o passo.
Embora tivesse olhado para trás, Chitanda provavelmente não fazia ideia de que eu estava ali. Seus olhos se arregalaram, e ela rapidamente voltou a encarar a frente. Não importa como se olhasse, era perigoso correr olhando para trás.
Chitanda, naturalmente, levava a Copa Hoshigaya a sério como parte da educação física da escola e, por isso, não diminuiu o ritmo. Mas também não fez nenhum esforço especial para me despistar. Se eu ao menos tivesse a determinação de alcançá-la, conseguiria.
No meio da brisa de final de maio, corri ao lado de Chitanda. Ela nunca quebrou o ritmo. Vi pelo canto dos olhos que ela me observava e, tentando manter uma expressão calma, comecei a falar.
— Desculpa. Pensei em te chamar antes, mas…
Mesmo considerando o quão estranho era apenas segui-la sem dizer nada, acabou acontecendo exatamente assim.
Ela não pareceu muito interessada na minha desculpa, mas, ainda assim, notei sua expressão tensa suavizar um pouco, como se a dúvida começasse a se instalar em sua mente. Talvez para economizar fôlego, foi direto ao ponto.
— Por que você está aqui?
Ela provavelmente já tinha percebido que, a essa altura, eu deveria estar bem mais à frente. Respondi sem hesitar.
— Quero falar sobre Ōhinata.
…
— Para isso, quero ouvir o seu lado da história.
Naquele momento, a respiração de Chitanda ficou um pouco mais curta. Seu ritmo, no entanto, permaneceu inalterado.
Continuamos correndo, separados por alguns centímetros, enquanto eu esperava sua resposta.
Finalmente, Chitanda respondeu, com um olhar carregado de pesar.
— Foi culpa minha.
— O que aconteceu ontem, certo?
— Isso é entre mim e Ōhinata.
Ela fez uma breve pausa para recuperar o fôlego e continuou.
— Agradeço por ter se esforçado tanto, mas… não posso te envolver nisso.
Seus olhos brilhavam levemente, talvez por estarem secos demais, mas, mesmo assim, Chitanda continuou olhando para a frente, sem dizer mais nada.
Eu já esperava que ela tentasse assumir toda a responsabilidade, mas agora estava claro que nem sequer pretendia parar para me contar sua versão da história.
Mesmo assim, eu não queria desistir sem antes jogar minha última cartada. Então, insisti.
— Quero que me conte o que aconteceu ontem. Ōhinata pode estar entendendo tudo errado.
— Eu aprecio sua preocupação. De verdade. Mas…
Chitanda virou levemente o rosto e me lançou um sorriso suave.
— Isso não é culpa de mais ninguém.
Se não estivesse correndo, provavelmente teria suspirado. Ela estava absolutamente convencida de que era assim. Mesmo sabendo de algo que poderia dizer a ela… Eu queria segurar seu ombro e fazê-la parar, mas não havia como fazer isso. Coloquei toda a força que pude na voz, rezando para que minhas palavras a alcançassem.
— Você está errada.
Tentei argumentar com aquele perfil determinado.
— Não foi isso que aconteceu. Ōhinata não ficou com raiva de você por ter espiado o celular dela. Não foi nada disso.
Pela primeira vez, a respiração ritmada e infalível de Chitanda começou a se desmanchar.
*
O percurso seguia ao longo da borda da floresta, mas parecia menos uma floresta e mais uma espécie de bosque ao redor do santuário local. A rua em frente ao Santuário Mizunashi levava também até a beira do rio.
Não havia sinais de que alguém estivesse no terreno do santuário. Não sabia exatamente que tipo de som era, mas consegui ouvir o canto de um pássaro à distância. Havia uma fonte de água, daquelas que não despejam água em um recipiente, então Chitanda ficou ali, coletando a água que escorria pelo bico de bambu cortado na diagonal com o ladinho do santuário e a levou até a boca.
— Eu sou bem habilidosa em correr longas distâncias.
Chitanda continuou, com seu uniforme de ginástica impecavelmente ajustado ao corpo.
— Estava pensando em tentar percorrer todo o percurso sem caminhar uma única vez.
— Desculpa.
— A água aqui é bem fria e deliciosa. Você devia experimentar.
Ela se moveu de lado enquanto dizia isso, então eu lavei as mãos e também peguei um pouco de água. A água clara parecia tão gelada que quase brilhava, então imaginei que faria mal ao meu estômago se bebesse tudo de uma vez. Bebi apenas um pouco e deixei-a escorrer devagar pela minha garganta.
Ao olhar além do torii do santuário, era possível ver a linha de estudantes do Colegio Kamiyama correndo pelo percurso. Nenhum deles olhou por aquele torii ou subiu as escadas de pedra para notar que estávamos ali, no entanto. Chitanda sugeriu que entrássemos no Santuário Mizunashi porque "não era o tipo de história que dava para contar enquanto corríamos pela rua". De fato, o local estava bem tranquilo, e provavelmente facilitava contar uma história com calma.
A cabeça de Chitanda caiu levemente, e ela ficou ali, segurando seu braço esquerdo com a mão direita. Observando-me enquanto eu tomava a água lentamente, ela me fez uma pergunta com a voz serena.
— Você viu, né? O que eu fiz…
— Não, não vi. Por isso quero que me conte tudo.
— Você não... viu?
Mesmo murmurando isso, Chitanda não me pressionou a continuar. Lavei as mãos mais uma vez debaixo do fluxo de água. A sensação gelada era boa.
— Eu só vi suas costas. Isso, e também ouvi você dizer "Sim". Eu quase posso adivinhar o que aconteceu.
— Será que eu realmente falei algo assim?
— Acho que você fez isso sem perceber — Eu lhe mostrei um sorriso torto.
Quando revirei minhas memórias de ontem, lembrei de uma única voz dizendo "Sim". Achei que fosse algo repentino, mas como Chitanda não comentou nada a respeito, achei que não fosse algo tão importante e acabei esquecendo. No entanto, quando aquela única palavra me trouxe de volta à realidade do livro que estava lendo, Chitanda e eu éramos as únicas pessoas na sala de aula de Geografia. Pensando que talvez Chitanda estivesse tentando me chamar, eu respondi com a resposta típica: "O que aconteceu?"
O que foi aquilo, então? Hipoteticamente, mesmo que eu tivesse confundido o som do vento com a voz dela, ela deveria ter reagido instantaneamente quando a chamei. E, ainda assim, na primeira vez que a chamei, ela não se virou nem um pouco, e na segunda vez ela apenas virou brevemente na cadeira.
Eu deveria ter percebido o que aquilo significava ali mesmo. Basicamente, Chitanda não tinha me dirigido uma única palavra. E quanto ao motivo...
Não era como se ela não gostasse de mim o suficiente para de repente começar a falar comigo ou algo assim.
— Aquela palavra "Sim" foi o som que você faz ao atender um telefone.
— É... isso mesmo?
— Eu acertei ao dizer que você estava atendendo um telefone?
— Sim, eu certamente estava atendendo um telefone. Mas não lembro direito se eu disse "Sim" ou "Olá" na hora.
Não era uma história impossível. As pessoas raramente dizem essas formalidades conscientemente. Hipoteticamente, se eu tivesse ouvido ela dizer "Olá?" em vez de "Sim", eu provavelmente saberia que ela estava ao telefone.
— Mesmo quando te chamei, tudo o que você fez foi virar um pouco sem dizer nada.
— Eu lembro disso. Mas, quer dizer…
— Você não conseguiu me ouvir porque estava no telefone — Chitanda assentiu.
Claro, Chitanda não foi quem fez a ligação, ela apenas a recebeu. Se fosse esse o caso, provavelmente não teria começado com um simples "Sim".
No entanto, Chitanda não possuía um celular. Eu não sabia se havia algum motivo por trás disso, mas ela não tinha um de qualquer forma. Então, de quem era o celular?
Talvez fosse de algum dos alunos que tinha aula na sala de Geografia naquele dia. Era possível que tivesse começado a tocar depois que as aulas terminassem.
Porém, após refletir mais, isso parecia improvável.
— Se aquele celular foi deixado por alguém em um lugar difícil de ver, eu esperaria que a única maneira de você ter percebido seria se tivesse feito barulho ao receber uma ligação ou mensagem. No entanto, eu não ouvi nada.
Tocar ou bipar em voz alta era uma coisa, mas até mesmo alguém como eu, que não tinha celular, sabia que eles faziam aquele som abafado de "bzzz" quando vibravam contra uma superfície dura. Se eu tivesse ouvido esse som, teria me dado conta logo, ao ser tirado do livro. Afinal, foi exatamente isso que aconteceu quando ouvi o pequeno "Sim".
Isso significava que não houve som algum, ou que o som era tão baixo que não conseguiu me alcançar. Por que isso?
— Se o celular fosse de Ōhinata, tudo faria sentido.
— O celular da Ōhinata-san estava em silêncio?
— Não, não é isso. Tente lembrar; onde estava o celular da Ōhinata? — Chitanda respondeu rapidamente.
— Estava em cima da mesa. A Ōhinata-san o colocou lá depois que se sentou.
Pensando bem, algo parecido aconteceu quando estávamos com os doces artesanais de Kagoshima espalhados pela mesa. A Ōhinata também colocou o celular em cima da mesa naquela vez. Não me lembro dela ter feito algo assim quando estava com roupas casuais, então talvez seja um costume só do uniforme de marinheiro.
— E ontem, você tinha um livro e anotações em cima da mesa. Se você colocar um celular em uma superfície macia como essas, o som da vibração teria sido mais baixo e eu não teria conseguido ouvi-lo.
Se você estivesse na casa de outra pessoa e o celular começasse a tocar, o que faria se não houvesse ninguém para atendê-lo? Ignorá-lo e esperar ele parar de tocar seria uma opção. Porém, a outra opção seria atender o celular e informar à outra pessoa que "não havia ninguém em casa no momento." Na verdade, quando fomos ao Blend mais cedo como clientes de teste, Chitanda acabou se atrasando justamente porque parou para atender o telefone na casa de outra pessoa. Quando percebeu que o celular estava vibrando ontem, ela provavelmente o atendeu para passar qualquer mensagem.
No entanto, as boas intenções dela não terminaram de forma feliz.
— Quando você atendeu o telefone ontem, a Ōhinata estava ausente, é claro. Não é que ela tenha ido para casa, no entanto. Ela provavelmente só foi ao banheiro ou algo assim. Por isso, ela voltou rapidamente. E foi então que ela te viu usando o celular dela.
Chitanda assentiu levemente.
Ontem, depois de ouvir aquele único "Sim", o vento forte que soprava pela sala de aula começou a me dar calafrios, então fui fechar as janelas. O motivo de o vento estar circulando tanto provavelmente se devia ao fato de que a porta da sala de Geografia estava aberta. Quando Ibara chegou mais tarde, no entanto, eu me lembrava claramente de que ela tinha aberto a porta para entrar.
Isso significava que alguém precisou ter fechado aquela porta em algum momento.
Provavelmente foi a Ōhinata. Ela provavelmente tinha saído brevemente, voltado e depois ido embora para casa. Ela fechou a porta atrás de si naquele momento, viu Ibara e então lhe disse que ia desistir.
— O celular da Ōhinata começou a vibrar em cima do meu dicionário — Chitanda começou a falar.
— A Ōhinata-san foi lavar as mãos, então não estava por perto. Eu achei que poderia ser ruim se eu atendesse sozinha, mas e se fosse algo realmente importante… Enfim, eu atendi. Acho que apertei um botão estranho e ele parou de vibrar de repente. Não lembro bem, mas se eu disse "sim", então devia achar que a ligação tinha sido completada. No entanto, não consegui ouvir nenhuma voz do outro lado.
— Como não era meu celular e eu não sabia como lidar com ele, tentei segurá-lo na palma da mão para ver se conseguia ouvir algo. De qualquer forma, estava desesperada pensando em como não quebrá-lo… Lembro de você ter me chamado. Pensando bem, na verdade, eu deveria ter pedido sua ajuda.
Se ela achava que a ligação havia sido completada, acho que não tinha como evitar.
— Você colocou na palma da mão, e depois disso a pessoa do outro lado não disse nada.
— Isso mesmo.
Eu temia que Chitanda nunca tivesse usado um celular antes.
Eu já vi o Satoshi usar o celular várias vezes no passado, então até eu poderia arriscar um palpite sobre como usá-lo. O celular da Ōhinata não vibrou porque recebeu uma ligação. Na verdade, provavelmente só recebeu uma mensagem. Chitanda provavelmente não apertou nenhum botão estranho. O celular vibrou por um número predeterminado de segundos e parou sozinho. Ou talvez tenha sido uma ligação mesmo, mas o tempo predeterminado de toque tenha expirado, enviando a ligação para a caixa postal. De qualquer forma, Chitanda segurou o celular na palma da mão e a ligação não foi completada.
No entanto, a Ōhinata não sabia disso.
— A Ōhinata-san voltou para a sala. Eu nunca tinha visto ela me olhar com aquele tipo de olhar antes, então nem consegui falar… Ela pegou o celular da minha mão e disse "Adeus," com uma voz tão fria que parecia que ela ia desaparecer para sempre, e então saiu imediatamente. Eu sou idiota, não sou? Foi então que finalmente percebi o quanto eu estraguei tudo.
— Era só um celular.
— Para mim era só um celular, mas… — Chitanda forçou um sorriso amargo.
— Todos nós temos algo que prezamos.
A voz dela estava quase em um sussurro.
— Como eu não tenho um, era impossível para mim saber o quanto a Ōhinata-san prezava o celular dela. Agora eu sei. Para quem tem um, sua importância deve ser parecida com a de um diário. Não, talvez até mais do que isso. Se seu amigo espiassse seu diário sem te avisar, isso não seria motivo suficiente para cortar laços com ele? Todo mundo tem segredos, e eu pensava que sabia disso… Faz todo o sentido que a Ōhinata-san esteja brava comigo.
Eu podia entender o lado dela. Certamente, coisas assim aconteciam de vez em quando.
— E agora, o que você vai fazer?
— Eu planejava ir até ela para pedir desculpas assim que voltássemos para a escola. Afinal, eu não consegui fazer nem isso ontem.
Do ponto de vista de Chitanda, essa provavelmente era a resposta óbvia. Se ela tentasse se desculpar de coração, talvez a Ōhinata pudesse perdoá-la. Isso, claro, se o celular fosse o único problema.
O que aconteceu ontem não foi tudo o que aconteceu entre elas. A Ōhinata provavelmente ficou brava quando viu Chitanda tocando no celular dela. Talvez isso tenha sido a gota d'água, mas certamente não foi o problema todo. Eu respondi.
— Você provavelmente deveria desistir disso. Não vai adiantar.
— Sim.
Chitanda deu um leve aceno com a cabeça.
— Oreki-san, você disse que não era por causa do celular, não foi? Se for verdade, então provavelmente não vai adiantar mesmo. Mas, se for o caso, então…
Ela ficou quieta e começou a pensar por um momento. Para alguém que normalmente é lenta para entender as coisas, Chitanda sempre parecia ser sensível em momentos como esse. De repente, ela levantou a cabeça para me olhar e começou a falar, com a voz embargada pela solidão.
— Eu provavelmente machuquei ela sem perceber, não foi? As coisas acabaram assim.
Ontem, antes de entrar no clube, a Ōhinata fez algo bem peculiar. Ela estava pendurada no batente da porta, com um ar como se quisesse fazer algo. Na realidade, provavelmente não era que ela quisesse fazer algo. A porta da sala de Geografia estava aberta, então era possível ver lá dentro. Sabendo que Chitanda estava sozinha, Ōhinata hesitou. Assim como eu hesitei quando estava atrás da Chitanda mais cedo.
Quando eu era chamado para a sala de Orientação Estudantil, ao ficar em frente à porta, sem saber por que fui chamado, eu dava tapas nas minhas bochechas para encontrar a resolução de entrar. Sempre que recebia uma carta da minha irmã e imaginava que seria algo desagradável novamente, olhava para o céu e suspirava antes de cortar o selo. Esses rituais meus de reforçar minha determinação eram provavelmente semelhantes ao "pendurar" dela.
Ou seja, a Ōhinata foi até a sala de aula ontem com a determinação de quem estava pronta para resolver tudo de uma vez. Ela planejou desde o começo resolver as coisas com a Chitanda. Isso também pode explicar por que ela parecia tão desapontada quando eu apareci.
Chitanda juntou as duas mãos à frente e olhou para baixo, com os olhos melancólicos. Então ela murmurou algo, quase como se fosse um suspiro.
— Eu não vou te pedir para acreditar em mim.
— Acreditar em quê?
— Que tudo o que eu fiz para ela não foi minha intenção. Que, embora pareça que eu não fui uma boa senpai para a Ōhinata, eu não queria que fosse assim. Que eu não sei o que fiz de errado. Eu não vou te pedir para acreditar nisso.
Como ela podia dizer isso tão tarde? Eu não fazia ideia do que a tinha feito falar isso. Às vezes, o que Chitanda dizia não fazia sentido algum.
— Já é tarde demais para isso agora.
— Sim, eu sei.
— Se você realmente achasse que fez algo para magoá-la, não teria jeito de você fazer algo como parar no meio da maratona. Você não faria isso de propósito, não em um dia cansativo como este.
A cabeça de Chitanda se ergueu, surpresa. Desta vez, fui eu quem desviei o olhar.
Isso era, acima de tudo, uma aposta. Será que Chitanda fez isso de propósito? Ela realmente manteve uma aparência radiante enquanto secretamente machucava a Ōhinata, forçando-a a sair do clube?
Nenhuma das evidências negava isso.
Se fosse o "eu" de um ano atrás, provavelmente teria chegado a essa conclusão. Com minha subjetividade de lado, muita informação parecia apontar para a possibilidade de que Chitanda realmente tenha pressionado a Ōhinata. Não havia nada que pudesse negar decisivamente isso.
Mas este último ano aconteceu. Mesmo que não fosse tudo sobre ela, e até mesmo que fosse nada mais do que os menores fragmentos possíveis, eu havia começado a entender a Chitanda. Eu soubera sobre a história do tio dela. Fui levado para a pré-estreia de um filme. Fiquei em uma pousada com águas termais. Vendi as antologias no festival cultural. Tive discussões sem sentido após a escola. Fui preso no galpão. Segurei um guarda-chuva para uma boneca.
Foi por isso que eu neguei.
Embora Chitanda pudesse parecer diferente das outras pessoas devido à extraordinária tranquilidade que a envolvia, eu não sentia que ela teria afastado uma nova recruta.
Foi uma aposta feita a partir de uma premissa extremamente irracional cheia de "eu não senti que", e o que eu acabei apostando parecia mais ou menos assim: "A Ōhinata se sentiu pressionada pela Chitanda nos 40 e poucos dias que passou conosco, mas não só Chitanda não teve a intenção de que isso acontecesse, como ela nem conseguiu pensar em algo além de um simples mal-entendido que poderia ter feito a Ōhinata ficar brava com ela." E, de alguma forma, parecia que eu havia ganhado.
O Santuário Mizunashi estava cercado por grandes cedros. Os pássaros ao nosso redor cantavam sem parar. Olhei para Chitanda pelo canto do olho, e, enquanto ela estava ali, banhada pela luz do sol que passava pelos galhos acima, pensei que ela parecia um pouco como uma criança perdida que finalmente foi encontrada.
— Oreki-san, eu...
Infelizmente, porém, eu não tinha tempo a perder. O grupo de Chitanda foi o último dos segundos anos a começar. Eu precisava saber de tudo antes que Ōhinata alcançasse a gente.
— Então, sobre o que vocês conversaram ontem?
Chitanda parecia querer dizer algo, mas acabou respondendo com um aceno resoluto.
— Entendo. Vou te contar tudo o que aconteceu.
Logo após dizer isso, no entanto, ouvi ela murmurar algo baixinho.
— Mas, por mais que eu olhe para isso, foi sua conversa normal de todos os dias depois da escola...
14,6 km; 5,4 km restantes
Ontem, eu estava revisando o material da aula de inglês.
Eu percebi que alguém estava no corredor. Como estava bem silencioso ontem, eu conseguia ouvir claramente o som dos passos. Não sabia exatamente quem era, porém, até te ver entrar na sala. Também percebi, nesse momento, que a pessoa com quem você estava conversando era a Ōhinata.
Eu realmente senti que havia algum tipo de muro entre a Ōhinata e eu. Era como se ela estivesse sempre sendo excessivamente educada quando me cumprimentava. Por isso, fiquei muito feliz quando ela começou a falar comigo por vontade própria ontem.
Primeiro, começamos a conversar sobre o livro que estava em cima da minha mesa. Falamos sobre como ela não era muito boa em inglês, sobre como provavelmente matemática seria mais útil de qualquer forma, e sobre as matérias que eu mesmo era boa. Eu achei que a conversa fosse muito típica.
Depois, passamos para o assunto do tempo. Como a Copa Hoshigaya aconteceria no dia seguinte, a Ōhinata me disse que estava torcendo para que chovesse. Como eu imaginava que ela fosse do tipo atlética, acho que comentei que achei inesperado ela falar isso. Ela riu e então disse.
— Correr uma maratona porque eu gosto e correr na escola são duas coisas completamente diferentes.
No entanto, parecia que essa conversa toda já estava pré-determinada. Pensando bem agora, talvez a Ōhinata já tivesse decidido exatamente o que ia dizer. Ela se interrompeu de repente, parecia querer dizer algo mais. Eu não incentivei que ela falasse, mas também não fiz nada para impedir que ela me contasse. Porém, ela acabou respirando fundo e disse isso com sua voz sempre animada.
— A Ibara-senpai não está aqui hoje, né?
Eu não sabia se a Mayaka-san viria ou não, então apenas concordei.
— Acho que sim. Talvez ela tenha ido para o Clube de Pesquisa de Mangá?
Mas assim que falei isso, percebi que cometi um erro e fui corrigir.
— Ah, é verdade, ela já saiu.
Eu me lembrei disso assim que falei, e a Ōhinata começou a se inclinar, curiosa.
— O quê? A Ibara-senpai estava no Clube de Mangá?
— Isso mesmo. Ela é muito boa em desenhar. Acho que ela tinha alguns amigos no clube, mas provavelmente foi melhor que ela tenha saído.
Enquanto eu dizia isso, a Ōhinata pareceu ficar um pouco tensa.
— A Ibara-senpai entrou para o Clube de Mangá porque gostava de mangás, certo? Se ela tinha alguns amigos lá também, por que sair seria "melhor"?
Eu fiquei um pouco sem palavras. Afinal, eu sabia que a Mayaka-san tinha passado por muitas coisas dolorosas enquanto estava nesse clube. A Mayaka-san provavelmente nunca teria contado nada sobre essas experiências dolorosas para a Ōhinata-san, então fiquei me perguntando se eu poderia falar sobre isso sem pedir permissão a ela primeiro.
Foi por isso que falei de forma bem ampla, tomando cuidado para não dar detalhes.
— Bem, eu acho que a Mayaka-san ainda tem um certo carinho pelo clube, mas... parece que havia muitas pessoas no Clube de Mangá com opiniões diferentes das dela. Claro, ainda deve ter havido maneiras de todos concordarem em algumas coisas. No ano passado, acredito que ela tenha aguentado bastante.
— No entanto, tentar chegar a um acordo enquanto todos continuam com suas opiniões diferentes pode ser bem difícil. Embora ela tenha algumas mágoas, eu realmente acho que ela tomou a decisão certa no final.
A Ōhinata-san me ouviu com uma atenção incomum enquanto eu falava. Parecia que ela estava tentando olhar diretamente nos meus olhos, e então, ela abaixou a cabeça educadamente, enquanto eu permanecia ali, pensativa, e disse.
— Mesmo assim, você não deveria apenas abandoná-los, certo?
"Abandonar" era uma palavra bem forte para ela ter escolhido.
Tenho certeza de que você também percebeu isso, Oreki-san, mas a Mayaka-san se alienou ativamente da facção dominante no Clube de Mangá. Mas, quando se fala apenas de seus apoiadores dentro do clube, acho que pode-se argumentar que ela abandonou aqueles que a viam como exemplo ao sair. Pensando que essa fosse a preocupação da Ōhinata-san, eu respondi.
— Pode ter sido doloroso, mas a Mayaka-san também precisou pensar em si mesma. Mesmo que ela tenha sido ferida em todo o conflito, ninguém do Clube de Mangá a ajudou.
— Na verdade, não havia razão para que a Mayaka-san tivesse introduzido o conflito no Clube de Mangá. Provavelmente teria sido melhor se ela tivesse permanecido alheia, parecendo se preocupar apenas com o aspecto do mangá. Mas, na verdade, já era tarde demais para isso, e a Mayaka-san não é o tipo de pessoa que faria isso de qualquer forma.
— Se ela fosse mesmo sair em algum momento, você não concorda que foi uma boa ideia ela ter saído no começo do novo ano letivo?
A Ōhinata-san ficou pensativa. Fiquei um pouco feliz de ver que ela estava pensando na Mayaka-san até esse ponto.
Depois de um tempo, a Ōhinata-san me deu um sorriso que até eu sabia que era falso e se levantou da cadeira, dizendo.
— Acho que ela não escolheu um momento ruim, né?
Ela então acrescentou.
— Com licença por um segundo.
E saiu da sala.
Oreki-san, eu não entendo nada disso! Eu não disse nada de estranho ontem depois da escola!
14,6 km; 5,4 km restantes
Eu entendi o que Chitanda estava dizendo. Com certeza, se você tivesse ouvido apenas isso, toda a história dela seria apenas "Chitanda estava preocupada com a Ibara e apoiou sua decisão." De estranho ou não, nada disso dizia respeito a Ōhinata desde o começo.
No entanto, eu também havia ouvido várias outras histórias. Comecei a entender a verdadeira natureza da parede invisível atrás da qual Ōhinata havia se isolado. Conhecendo essas informações enquanto ouvia a história de Chitanda, senti que entendia um pouco do que estava brotando de dentro de Ōhinata.
Ōhinata achava que Chitanda era uma senpai assustadora. Chitanda achava que havia pressionado Ōhinata a ponto de ela abandonar o clube. Antes mesmo da Copa Hoshigaya começar, eu já havia percebido que algo estava errado.
Satoshi havia dito desde o começo. Ele achou surpreendente eu ter conseguido recrutar uma nova aluna para o clube. Eu, por outro lado, não estava nem aí para tudo isso. Afinal, não fazíamos nada no clube. Se Ōhinata tivesse entrado ou saído, não faria diferença para mim.
No entanto, eu não queria que ficassem mal-entendidos não resolvidos. Se eu fosse a pessoa que estava sendo mal interpretada, talvez não me importasse, mas não era esse o caso.
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber?
Não deveria haver mais nada que eu precisasse saber. No entanto, havia algo que eu tinha decidido perguntar à Chitanda antes mesmo da corrida começar.
Quando revivi minhas memórias antes de chegar ao Santuário Mizunashi, percebi que havia uma última coisa que eu só poderia confirmar com Chitanda. Eu pensei que seria estranho perguntar sobre isso quando foi mencionado pela primeira vez, mas agora eu entendi o motivo.
— Sim, tem. Eu quero te fazer uma última pergunta.
— Pode perguntar.
— É sobre o dia em que todos nós fomos ao café da parente da Ōhinata. Antes de sairmos, a Ōhinata te fez uma pergunta. Era sobre se você conhecia uma certa aluna do primeiro ano.
Como eu esperava, Chitanda imediatamente se lembrou.
— Sim, era a Agawa-san.
— Quem é ela?
Naquele dia, se eu me lembro bem, Chitanda foi capaz de responder de imediato quando Ōhinata perguntou se ela a conhecia. Eu naturalmente assumi que ela tivesse algum tipo de relação com Chitanda.
— Bem… Eu realmente não sei nada sobre ela.
— Sério?
— Tudo o que sei é que ela é uma aluna do primeiro ano da Classe A.
— Mesmo sem conhecê-la, você sabe em qual classe ela está?
— Até você deveria saber, Oreki-san.
Deveria?
Chitanda tinha uma habilidade incrível para lembrar rostos e nomes. Afinal, no ano passado, ela foi capaz de lembrar o meu nome depois de nos encontrarmos apenas uma vez em uma aula de música, na qual nós dois ficamos pouco tempo. Por isso, não achei estranho ela ter visto o nome de Sachi Agawa em algum lugar. Mas eu não sou capaz de fazer isso.
Não deveria ter muitas oportunidades para nós aprendermos o nome de uma aluna mais nova. Olhei para baixo enquanto pensava.
Primeiro ano. Classe A. Sachi Agawa.
— Alguém que eu deveria conhecer… Agawa… Agawa…
— Vamos lá.
Chitanda falou de repente. Ela provavelmente não disse isso para me provocar. Ao mesmo tempo, no entanto, de repente me ocorreu.
Agawa da Classe A.
Era provável que, entre todos os números de assentos das garotas, ela fosse a que estava no mais óbvio. Isso era representativo de quem teve as melhores notas antes de entrar na escola.
— Ela foi a representante de turma durante a cerimônia de abertura?
— Isso mesmo.
Chitanda acenou com a cabeça.
— O melhor aluno da Classe A, Naoya Aikura-san, e a melhor aluna da mesma classe, Sachi Agawa-san, foram os que disseram o juramento durante a cerimônia. Claro, eu achei que a pergunta fosse abrupta e um tanto estranha, mas apenas imaginei que ela estava tentando testar minha memória.
Isso não era tudo. Não havia como aquilo ser apenas um teste simples.
— Você sabe mais alguma coisa sobre ela?
— Ela tinha o cabelo extremamente longo. Como só a via de costas, foi só isso que eu soube. Provavelmente Ōhinata não sabia disso, no entanto.
Com isso, eu tinha perguntado tudo o que queria saber. O que restava era conversar com Ōhinata.
Não posso dizer que não estava ansioso. Estava suficiente para me fazer querer seguir o exemplo de Ōhinata e tentar ficar pendurado em algum batente de porta por aí.
— Ok, isso é suficiente. Eu devo conseguir cuidar do resto, então você deve voltar para o percurso.
Enquanto dizia isso, levantei a cabeça.
Os olhos de Chitanda estavam enormes bem na minha frente. Quando eu me encolhi de volta, ela disse.
— Desculpe, Oreki-san. Vou deixar o resto com você. A Ōhinata provavelmente não vai ouvir mais nada do que eu tenha a dizer. Mas…
— Se a Ōhinata-san está realmente sofrendo por algo, você poderia, por favor, ajudá-la? Se houve algum tipo de mal-entendido infeliz, você poderia desvendá-lo? Não vou pedir para você trazê-la de volta para o Clube de Clássicos, mas poderia pelo menos fazer isso?
Esse era o meu objetivo. Esse sempre foi o meu objetivo desde o começo. Eu acenei com a cabeça, entendendo, e Chitanda abaixou a cabeça levemente, se virando e correndo de volta para a estrada mais uma vez.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios